Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Simplesmente recomeçar...

segunda-feira, 28 de março de 2016


Será que existirá tempo para recomeçar, ir à busca do novo? O tempo por mais que a gente queira, não vai parar, e a cada momento vamos recordar e lembrar-se de oportunidades que perdemos. Podem ter sido momentos únicos que ficamos frente a frente com algumas oportunidades que jamais voltará, e é por isso que precisamos aproveitar o tempo que temos para que o nosso esforço possa valer a pena no amanhã. O que não devemos é deixar esse tempo passar sem atentar para tais fatos, pois poderá ser tarde demais, e possivelmente, aos longos dos anos, se não houver um recomeço, algumas coisas poderão se tornar mais difíceis de conquistá-las. Nunca é tarde para aprender, acreditar, e se puderem, simplesmente recomeçar. Quando passamos a acreditar nisso e viver com emoção, alegria e superação, essa crença fará com que consigamos forças para lutar e fé para termos a certeza de que nunca será tarde para realizar tudo aquilo que nos deixa realmente feliz.

Dias atrás ao ficar sabendo da ida do Padre Luiz Augusto ao Instituto Neurológico por duas vezes para confortar minha família e orar pelo meu amigo e compadre Emival José de Rezende que fora desenganado pelos médicos e hoje se encontra em outra dimensão, ao lado de nosso Pai Celestial, me deu uma imensa vontade de recomeçar, ou simplesmente de voltar a acreditar no amanhã e que eu posso recomeçar, de viver tudo o que ainda não vivi e o suficiente para entender certas coisas. Então, sem pressa alguma de degustar o doce sabor que a vida me deu, senti que devia dar uma basta... Acabar de vez com algum vazio que ainda possa existir em mim. De voltar a viver a vida intensamente, de procurar emoções verdadeiras, sorrisos que fluam com sinceridade e não mais sorrisos que afogam meus pensamentos em mares revoltos impregnados na região recôndita de meu cérebro. Recomeçar é começar tudo de novo é começar do começo. É salutar que façamos isso, pois se não fizermos é jogar fora tudo aquilo que construímos com amor, é destruir tudo que foi bom, que valeu a pena ter sido concretizado e de maneira correta. Se ainda nos restou alguma coisa que peguemos estes restos e recomecemos. Recomeçar é fazer novos alicerces e levantar paredes no lugar daquelas em que os erros cometidos encheram-nas de buracos e fissuras.

Todavia, caro leitor, para recomeçar, é preciso ter em mente que tudo aquilo que é bom pode ser refeito, removido e revivido. Devemos construir nosso lar sobre rochas, assentar nele portas seguras e janelas confiáveis sobre tijolos enlaçados com a verdade e rebocados de justiça. No teto de sua vida deves assentar uma laje em que possa se abrigar das tempestades que a vida fatalmente trará. No chão, um piso seguro e sólido, feito de companheirismo e compromisso, o qual será a base para você caminhar com firmeza. Afinal, com a vida não se pode brincar. É bom lembrar também que em certos momentos os olhos falarão mais do que as palavras, onde será preciso tomar o outro pela mão, apoiar e quiçá, trabalhar juntos. É recomeçar do zero e usar o único material que jamais se esgotará: O amor.

Se for escritor, cronista ou está lendo um livro ou texto de outro autor, não basta simplesmente virar a página e parar, é preciso começar de novo, reler quantas vezes puder, e às vezes, tentar interpretar e conhecer bem os personagens... Em algumas leituras deixamos escapar de nossa memória tudo que havíamos lido e isso não é bom, pois a vida com sua sabedoria nos ensinam que não é esse o melhor caminho. Todavia, a sabedoria fala no silêncio, na ausência, e ouvi-la, requer sensibilidade de espírito. Não basta a gente somente desviarmos das pedras é necessário remove-las para um lugar seguro, para que não tropecemos novamente. Você não encontrará facilmente a felicidade se não a procurar, mas quando é buscada incessantemente ela trará à sua vida um valor enorme. E são esses instantes que realmente valem à pena! Portanto, se ao teu corpo faltar forças e os anos não permitirem que corra atrás da tão almejada felicidade, serão tuas lembranças que te transportará ao ponto “g” do seu coração, onde há muito tempo está guardada a tão propalada felicidade.

Vivendo num mundo surreal, enigmático e ambíguo.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Tem dia que tudo acontece de forma inesperada. A gente vai até a janela e o céu parece menos azul, o sol teima em queimar o rosto das pessoas, enquanto os pássaros passam emudecidos, alçam vôos rasantes e desaparecem no meio da mata. O vento passa efêmero sem trazer nenhum cheiro de lá. Deixo a janela e ligo o computador. Como num passe de mágica aparecem na telinha do monitor lindas imagens acompanhadas de várias mensagens acalentadoras: montanhas, lagos, rios, cachoeiras, castelos medievais construídos no topo das colinas, adornados de pedras preciosas; depois, fotos pitorescas de várias partes do mundo que mais pareciam obra de arte. Em algumas imagens, sem clareza, pareciam ter mais de um sentido, pessoas sentadas num banco, ao lado de um banco, enquanto outras passeavam alegres, com olhares enigmáticos, cheias de dúvidas e passos imprecisos. Casais a poucos metros dali, de forma estranha, trocavam beijos à beira do lago, enquanto os canoeiros nem se importavam com os “trejeitos” deles e continuavam remando, apreciando o pôr do sol. Pássaros, aos montões, continuavam passando rasantes, numa cantoria sintonizada, como se estivesse sob a batuta do maestro Frederick Chopin.

Fecham-se aquelas cenas, clico noutro link e outras se abrem. Imagens começaram a aparecer novamente, mas, desta vez, contrastando com as anteriores, então percebi que nelas existiam outros protagonistas, um pouco sem clareza, encenando num outro palco da vida. Pessoas estiradas nas calçadas, crianças esqueléticas, desnutridas, sujas, maltrapilhas, bêbados, viciados em drogas, jovens se agredindo, disputando um cachimbo recheado de crack. Imagens de meninos e meninas de rua peregrinando, sem rumo, pés descalços, em busca de um lugar melhor na sociedade. Crianças e adolescentes em casas abandonadas, em terrenos baldios, debaixo de pontes onde fazem delas suas moradias ou para se protegerem do sol escaldante e do frio da noite, enquanto outras se deparam com a violência das ruas e muitas vezes quedam-se diante dos olhares sisudos da lei e são presas, maltratadas e ao serem julgadas pela justiça dos homens não têm ninguém que possa defendê-las, compreendê-las e ampará-las de verdade.

Elas ou eles são como todos nós somos apenas passageiros de um trem qualquer, que segue num comboio cheio de vaidades, enquanto nosso subconsciente vai traçando uma visão idílica de um mundo que muitas vezes é cheio de desventura. Ao ver essas pessoas amontoadas nas calçadas, debaixo das marquises, cobertas apenas pelo manto negro da noite, cheirando cola para enganar a fome, sem perspectivas de vida, me fazem pensar como passageiro desse trem da agonia, qual será o destino de cada um, então, só me resta aguardar a próxima estação e imaginar, se ao desembarcar, haverá recepção com bandas marciais, bandeiras a acenar e também se, na última estação, todos os sonhos deles e nossos irão se concretizar, ou talvez, possamos perceber que não haverá estação como também não haverá lugar a chegar.

Precisamos repensar e refletir sobre tudo o que vem acontecendo com o nosso País, com pessoa humana e parar de contar os quilômetros percorridos de uma estação a outra e apreciar a viagem que muitas vezes fantasiamos em nosso subconsciente e não conseguimos enxergar que as coisas da vida são simples, cheia de essência e o detalhe é não perdê-la, para depois, termos a certeza que a última estação chegará, trazendo as responsabilidades em relação ao futuro e os pesos que a vida pode trazer. E quando forem abertas novamente as cortinas do tempo possamos constatar que estamos assistindo, diariamente, cenas de belezas de um lado, horripilantes de outro, ora sem clareza, ora duvidosas, ora com mais de um sentido, que nada mais é do que cenas extraídas de um mundo surreal, enigmático e às vezes, ambíguo.



Elitismo: Entre tantas outras palavras criadas, esta nada mais é do que uma hipocrisia petista.

terça-feira, 15 de março de 2016


Todo dia vemos nos meios de comunicação políticos mentir e não aceitarem verdades. Todo dia vemos burgueses, gente graúda e miúda do PT e de outros partidos a ele coligados dizendo que somos elitistas e usam sistematicamente esse termo como meio de defesa de seus próprios atos nefastos. E por falar em gente “miúda”, ou manipulada, sei lá, no dia 13 de março, quando retornava de um funeral na cidade de Mineiros, ao passar pela BR-364, entre os barracos de lona e cabanas de papelão construídas à beira da rodovia, vimos muitos veículos estacionados e entre eles, até camionetas de luxo, todos em excelente estado de conservação. Um sobrinho que estava no banco traseiro me perguntou: Tio, como pode invasores ter tantos veículos, mas morar à beira da estrada? Quem tem camioneta como aquela pode comprar, pelo menos, uma pequena casa? De onde vêm tantos veículos ou dinheiro? Dei um sorriso maroto e disse-lhe: Zé, o pior é que essa gente é instruída e monitorada por seus mantenedores (governo) para invadir terras e chamar-nos de elite. E olha que o PT já está há treze anos no poder e eles continuam lá. Quanto à palavra elite é uma forma que eles acharam para ocultarem ou falsear a realidade deles próprios ou de quem os comanda, através de uma máscara de aparência. Todavia é bom entrar no mérito da coisa. Vou te responder incluindo na história a minha própria vida, ou quiçá, a sua também e de tantas outras pessoas de bem que batalham arduamente e com honestidade para sobreviver. Pois bem. Que atire a primeira pedra quem não deseja um dia ser elite? Eu, com o maior prazer caro sobrinho, digo que sou elite e repito: Sim, eu sou. Sabe por que digo isso? A minha saudosa mãe que você conheceu bem me fez alcançar isso. Sim, minha mãe Carolina Maria, mais uma de tantas mulheres que, sozinhas, criaram seus filhos sem Cheque Moradia ou Bolsa Qualquer Coisa; lavando roupa pra fora com água tirada de poço artesiano, depois as passava com ferro a brasa sob a luz de uma lamparina porque o barracão não possuía energia elétrica. Sim, minha querida mãe, que sequer teve tempo para estudar ou fazer qualquer curso, tornando-se analfabeta, mas de uma pureza de alma e sensibilidade incrível.

Eu sei o que é passar fome; fome, fome, fome... Naquela época você nem tinha nascido. Na nossa casa não havia sacos de arroz e feijão e nem existia Cartão Bolsa Família. No entanto, minha mãe me ensinou, assim como aos meus oito irmãos que, o que traz felicidade não é a fartura de dinheiro e nem uma despensa farta. Dizia com maior clareza que, o que dignifica o homem não é o que ele tem, mas as escolhas que ele faz e a forma honesta com que as realiza. Minha mãe, na sua simplicidade, dizia que não há investimento melhor na vida, senão a educação dos filhos, o trabalho digno e que se um dia achássemos que a educação é cara, então que investíssemos na ignorância... Ela não deu conta de custear os nossos estudos (à época nem tinha Bolsa Escola), mas ensinou-nos a trabalhar e ir atrás do dinheiro suado.

Mãe de nove filhos, uns diplomados, como eu, e outros não, mas todos bem posicionados na vida, labutando dia e noite para que um dia a gente fizesse parte da elite. Minha mãe nem teve casa e sempre morou de favores com a ajuda de uma tia, (à época nem tinha Cheque Moradia). Conseguiu com muito sacrifício comprar um lote e nele construiu um barracão. (à época nem existia Minha Casa Minha Vida).

Hoje eu sou parte dessa elite de trabalhadores com diplomas de faculdade particular porque eu que realizei, e não o governo que me ajudou realizar; faço parte dessa elite de trabalhadores que mora em bairro nobre; que pode dar ao luxo de mandar os filhos para Universidades particulares, e ainda, que sempre paguei e pago em dia as minhas obrigações e tenho nome limpo na praça. E, se quiser, se a consciência moral permitir, até usar uma bolsa dinheiro do próprio bolso.
Sou elite e você sobrinho é um testemunho de tudo isso porque sabe que começo o meu expediente às sete horas da manhã e só termino onze horas depois; sou elite sim, porque a minha mãe me ensinou o valor de se ter um nome respeitado, limpo e não mentir, como muitos que se dizem líderes mentem por aí.

Chegando à minha casa resolvi passar a limpo a nossa conversa ou resposta sobre o termo elite usada pelos integrantes do PT, mas antes, por coincidência assisti ao programa “Conexão Repórter” de Roberto Cabrini e qual foi minha surpresa: o apresentador falava justamente sobre invasão ilegal de áreas e prédios em São Paulo e Brasília. Ao ver aquelas cenas, lembrei-me novamente de minha saudosa mãe e a cada pessoa entrevistada pelo repórter, me fez acrescentar neste texto o reconhecimento da labuta e esforço diário dela, e dizer a todos que me sinto feliz em saber que o meu nome é elite, como também afirmar que hoje tenho o imenso prazer de conviver com ilustres personagens que fazem história em Goiás, tanto no meio político, empresarial, sindical, como no mundo da literatura e artes; sou um homem honrado e íntegro que nunca tirou férias regulares só para não ver meus entes em dificuldades, e por trabalhar arduamente, concretizei o meu sonho de possuir entre outros bens, um “apartamentinho” num bairro nobre, com uma varanda que me facilita ver a lua e o sol nascer e se pôr no horizonte...

Hoje eu sou elite não por ter nascido rico, mas por ter experimentado a infância, pobre de verdade, mas rica em valores integrais. Alcancei essa elite hoje pela designação moral de minha escolha pelo caminho mais estreito. Sou elite porque procurei o caminho da retidão e honestidade, procurei ser um trabalhador cumpridor de seus deveres, mas sempre ciente de que isso não é virtude, é obrigação. E que ser leal e cumpridor de regras não pode ser oferenda de sacrifícios e sim, compromisso espiritual para com o meio... Sou elite sim, porque a minha base é o caráter; o meu alicerce é o sonho de construir um mundo melhor para ajudar as pessoas, criar meus filhos e netos; a minha pedra fundamental foi construída a partir da fusão do trabalho, da honestidade, da honradez, da verdade, e consciência limpa... E é por isso e muito mais, que o meu telhado não é de vidro, mas se por um acaso um dia vir a quebrar podem ter a certeza de que foi Deus que o quebrou e com as mãos estendidas me ofereceu às estrelas.

Vai graxa doutor?

segunda-feira, 14 de março de 2016

Tem pessoas que quando acordam para ir ao trabalho precisam de tempo para recuperar o prazer de se sentirem vivas. Antes de levantar espreguiçam-se na cama estalando os ossos impregnados na carne e em nervos adormecidos, deixando ao relógio a tarefa de eliminar os resíduos de mau humor ocorridos no dia anterior. Todo o corpo está em dissonância, até a respiração fica ofegante precisando resgatar mentalmente alguma situação agradável para que o ato de levantar não se transforme numa tortura. Algumas vezes sinto isso, principalmente quando me sinto massacrado pela volúpia trazida pelo tempo quente e seco. Nestes dias de verão, ao abrir a janela e olhar o céu azul, não consegui receber lufada de perfume antes trazido pelo vento, e ao aspirá-lo senti foi o cheiro de fumaça oriunda dos veículos, chaminés e de capim queimado vindo dos lotes baldios. Tudo isso dificulta transformar o meu humor azedo num sorriso e ainda deixa-me em desconforto e sem vontade de experimentar o gosto de mais um solstício de verão.

Certo dia, nem sei o porquê lembrei-me quando era engraxate. Vi-me andando pelas ruas poeirentas de Goiânia carregando um caixa de engraxar sapatos sobre os ombros, sorrindo para o mundo, enquanto o vento acariciava meu rosto me deixando pra lá de feliz. Lembranças que me trouxe disposição, motivos para acolher o melhor e treinar meus olhos para as delicadezas que o mundo me oferecia. Olhei no espelho e fiz um exame diário de meu semblante, na tentativa de encontrar cicatrizes, pés de galinhas e olheiras que muitas vezes me impedia de ficar bem com a vida. De um constante observar, este exercício facial resultava na descoberta de falhas de comportamento, mas que podiam ser evitadas desde que reagisse com lucidez. Essa reação diária de lucidez eu sei que é fruto das meditações que faço para escrever minhas crônicas, assim como, de não reagir à violência com violência, seja ela de ordem física ou psíquica. Sinto-me mal toda vez que entro em conflito com alguém. Tenho horror a qualquer embate onde a agressividade seja a nota que conduz a discussão.

Ninguém está imune à inveja, mas não jogo cartas com ela. Não me interessa desafiá-la. Apenas a encaro, como a um inimigo mais fraco do que eu. Já vi pessoas próximas se sucumbirem, mesmo sendo ricas interiormente, porque acreditavam que outras não mereciam o que tinham. Estas ficavam paralisadas diante de um falso fulgor alheio e nem percebiam que estavam sentadas sobre uma mina de ouro. Invejar é uma maneira de vestir a vaidade de modéstia.  Por isso, acordar neste verão e sentir o gosto das manhãs chuvosas sempre foi para mim salutar; saborear o mamão, beber leite com café e mastigar um amanteigado pãozinho francês com gergelim também faz parte do meu cardápio; saber olhar o mundo com humildade e reverenciá-lo; entender que um dia a mais é um dia a menos na contagem de tempo de nossa existência; entender que devemos aproveitar cada minuto como uma criança que se delicia com uma  balinha de hortelã em sua boca sem se importar com o passar do tempo. Precisamos voltar a ser essa criança, nascendo quantas vezes for preciso e espreguiçar entre os lençóis embebidos por carinhos de nossa mãe.

Mas aquele dia parecia que seria diferente. Quando sai do elevador e pus os pés sobre a calçada senti um bafejo quente próprio de um planeta ameaçado. Nas calçadas pessoas estranhas cheias de dogmas se cruzavam, outras, paralisadas, como se fossem espectros humanos, com os olhos voltados rumo ao céu. Com o pensamento alhures tinha que continuar, seguir o meu trajeto, com expectativas, é claro, de encontrar um mundo melhor e mais humano ou, ser surpreendido por alguma coisa real ou surreal, um fenômeno qualquer, talvez vindo de outra dimensão ou do infinito universo de forma que pudesse servir de alerta aos seres humanos.

De soslaio, já na calçada, em pleno meio dia, também olhei para o céu coberto de nuvens enfumaçadas e foi difícil entender o segredo do universo. O sol, importunado pela imensidão de nuvens em suspensão na atmosfera, formava ao seu redor uma auréola multicolorida e parecia dizer: estou de olho nessa terra de desmandos! Não sei se foi num momento de puro cansaço, parei e comecei ver a vida passar, ou vidas passarem. Fiquei pasmo esperando o “acontecer naturalmente”, mas como demorou, cansei. Esperei os minutos passarem e nem contabilizei quantos, quem sabe se com eles não passariam também as dores, ansiedades, tristezas e mágoas. Em um desses momentos que só acontece comigo, me senti criança, pés descalços, andando pela calçada sem rumo e nada por acontecer, talvez perdido, todavia, quis o destino que um garoto com semblante triste, debruçado sobre sua caixa de engraxar e sem pedir licença, chamou-me à atenção e com uma cutucada nos ombros perguntou: Vai graxa doutor? E não é que o danado do engraxate me fez voltar à realidade!


Simplesmente mulher...

segunda-feira, 7 de março de 2016


A gente se encanta com tão pouco, com seu jeito tão simples, tão carinhoso, tão especial, tão encantadora, tão suave, tão sedutora. Há tempos aceitamos que elas, sem maquiagem, ficam também lindas. Não é verdade? E quando estão com os cabelos molhados, principalmente pela chuva? Dá uma sensação gostosa não? Sejam soltos ou presos, mas quando vemos enxugados pelo vento que passa veloz ficamos boquiabertos e aí nos encantamos com seu ar juvenil, é como se elas voltassem a ser crianças de uma delicadeza natural, sem igual, afinal, elas são genuinamente bonitas por natureza e disso nenhum homem discorda.

Algumas mulheres são tão preocupadas com a estética que às vezes nos assusta, todavia, gostamos também de apreciar uma boa produção, não tanto exagerada, mas apreciamos. E quem não gosta de desfilar com uma mulher bonita nos corredores de um shopping, cheirosa, maquiada, com o cabelo arrumado, um belo vestido ou uma roupa adequada como aquela que se usa para ir a uma festa, a um jantar ou cinema? Não há ego masculino que resista aos requintes da sedução feminina, muito embora a preparação não seja apenas para atrair apenas o homem desejado. Há muito mais entre uma calça jeans que ela usa ou um vestido comprido cobrindo todo o corpo. E os cílios postiços e lábios pintados, então? Será que a vã filosofia masculina é capaz de entender? De certa forma não, porque somos eternamente tolos e em certos momentos ficamos até abestalhados.

A mulher demora a se arrumar porque ela se arruma pra ela, pra sua auto-estima, para o seu bem estar e não pra gente. Mas ela está certa. Mesmo não sendo, quer se mostrar mais magra, até mais do que está e nem importa o que venham dizer. Mas fiquem atentos, pois ela se importa sim, principalmente com o que seu amado pode pensar e dos que outros homens também poderão pensar e admirar nela. Se dissermos que ela está assim, assim, assaz, não acreditem, desconsiderem a opinião e nem queiram saber. Cria-se uma relação de amor e ódio com o espelho, pois quer agradá-lo diariamente. Olha, olha, passa as mãos no cabelo, solta um leve sorriso e pergunta: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?” Ainda bem que espelho não ouve e nem fala. O pior é se perguntar pra o espelho não tão bonzinho se ela está gorda e ele responder, será que a resposta será sempre não? E presta atenção no que eu disse, sempre! Se for sim, no dia seguinte tenho a absoluta certeza de que fará matrícula numa academia e começará a tomar produtos para emagrecimento.

O fato da mulher querer estar linda o tempo todo é obvio e tem certo propósito: marcar território. E como aquele cachorrinho que anda pelas calçadas e quando sente cheirinho deixado por outro, vai ao local e faz xixi, o que quer dizer: “não faça mais aqui, pois este espaço tem dono”. Interpretando no caso da mulher: trata-se de uma alerta para as “periguetes” que tem a intenção de “dar em cima” de seu homem e até porque a oponente se acha mais do que é. Como diz o velho Pantaleão: Não é verdade Terta?! Pode-se afirmar também que é uma mútua antipatia espontânea, mas eu prefiro pensar que o cerne da questão ainda somos nós, meros e humildes seres masculinos.

Se você quer agradar uma mulher, não mande flores, apenas. Algumas nem gostam, mas sabemos que em tudo exceção. Na verdade fingem que não gostam para não parecerem frágeis. Sabe o que mais encanta mais a uma mulher é ganhar sapatos novos, um belo vestido, uma jóia, ou em último caso, se o marido ou namorado tiver disposição, cozinhar e ainda lavar os pratos. Mulheres não se permitem fraquezas, a menos quando querem chamar à atenção. Elas suportam uma dor por alguns segundos do que agüentaríamos a vida inteira, mas reclamam de um desconforto nas costas, apenas para ganhar colo, ou uma boa massagem com gel de arnica e um cheirinho no cangote. Mulheres é assim, uma ebulição de hormônios e, até nisso, os culpados somos nós.

Conviver com uma mulher é a arte da compreensão, ou vice-versa, porque não somos fáceis também de lidar. Não somos fáceis mesmo, mas às vezes só queremos ficar ali, esparramados no sofá, assistindo a um joguinho de futebol, passando de um canal a outro. Sabemos que elas precisam de atenção, mas justamente na hora em que nosso time joga e o meu, o Vasco da Gama é que está jogando, aí demais, então como devemos fazer? Sabemos realmente que precisam da gente e aí olhamos pra elas enquanto falam, esperneiam. Quanto a mim que continuo vidrado no jogo não interajo, mas como interagir se ela está manuseando o tal WhatsApp? Nem o larga. Enfim, que continue com esse famigerado celular, exclusivo dela, porque enquanto ela estiver usando-o assisto sossegado ao jogo.

Por fim, 08 de março, dia internacional da mulher, eu não poderia deixar parabenizá-las, assim como, de citar algumas frases da música “Mulher” de Martinho da Vila: “A mulher pode ser loira, morena, branca, ruiva, confusa, desequilibrada, carente, atrevida, acanhada, de guerra ou de paz,” Mas essas mulheres tão exaltadas pelo sambista esperam de fato é serem cuidadas, cativadas, conquistadas, amadas, e continuarem lindas, usando ou não seus vestidos de grife, moletons, calças jeans, ruges e batons.


Caminhando sem lenço, grana ou documento.

sábado, 5 de março de 2016

Não adianta mais gritar. Hoje ninguém pára pra ouvir. Apenas fazem mímicas, movem os lábios em busca da atenção das pessoas mesmo estando ao lado. Mas se a pessoa é cega e ainda pobre, pois se rico, tem ajudante, cadeira de rodas e até mordomo. É interessante o que eu quero dizer não acha? Dizer algo que você nem ouve ou tem interesse de ouvir. Será que assim é melhor? Não incomoda as pessoas que estão ao seu redor, ou não quer que elas ouçam. Pois é. Goiânia é uma bela cidade em que muita gente fica incomodada com tudo, mas tem que se incomodar, pois todos os dias assistem noticiários falando sobre assassinatos, roubos, assaltos à mão armada e como conseqüência, a morte de inocentes. Dias atrás uma jovem foi assassinada covardemente por não entregar o seu celular ao bandido. Ela não era pobre, mas isto não importa, o que importa é que a criminalidade está crescendo e realmente incomodando. Assaltam até cegos, mas vejam o que a sociedade encontra: pessoas maltrapilhas pedindo esmola para matar a fome, situação que deixa a gente com o estômago embrulhado. Certo dia eu escutei uma pessoa dizer a outra que teve câncer depois de comer alguma coisa estragada, fornecida por um empregado de restaurante de periferia.

Muito preocupante isso. Ter que me deparar com essa situação logo após meu café-da-manhã. Nem mesmo o mamão se sentiu bem no meu estômago depois que ouvi isso. É muito triste mesmo ver certas cenas logo de manhã. Impressiona também é a falta de sensibilidade que alguns governantes em relação a estes problemas. Se pelo menos não enxergássemos tanta pobreza como o cego... Deveriam, pelo menos, inventar óculos escuros anti-pobreza. Felizes são os cegos que não enxergam a pobreza, mas piores são aqueles que enxergam ou fingem que nada vê.

Enquanto meus olhos tentam se acostumar com tanta luminosidade, o corpo aquieta diante do ventilador que ameniza o calor. As pontas dos dedos eu as esquento manuseando o mouse ou digitando o teclado do computador que chega a ser inquietante ter que descrever tanta gente circulando freneticamente como se fossem cegos e outros fingindo não ver: os de terno que caminham em passos firmes, enquanto os descalços esticam as mãos, suplicando por alguns trocados.

Os cheiros de flores, de mofo, café fresco, sabonete barato, xixi e cocô de cachorro nas calçadas, perfume francês usada por uma transeunte, se misturam. No bosque, uma cigana me interpela e promete me entregar o nome de duas amigas falsas em troca de uns trocados. Mas não carregava dinheiro, estava sem lenço e documento. Todavia, fiquei encabulado e exclamei: Que amigas falsas, se eu não tenho!? Ao seu lado, numa pequena banca, improvisada com isopor, vejo muitas bugigangas, cartas de tarô e outros utensílios para mim desconhecidos, mas que me despertam para a realidade.

O relógio despertador toca sem parar, um barulho estranho para um simples relógio. Fujo daquele mundo estranho, insípido, inodoro e incolor, pois era hora de continuar com a caminhada matinal e estar desperto para aquelas coisas. Os olhos que se arregalavam, tentando decifrar o intento da cigana, o seu vai-e-vem de quem sabe o que quer, para onde quer ir ou chegar. Tudo se movimenta muito rápido e demoro a apressar o passo. As pessoas no calçadão vejam só, se mexem tal qual números, os números que tento acompanhar por mais ou menos uma hora tempo que dura a minha caminhada. Alguns delas são loiras, morenas, e outras nem cor têm talvez tomadas pela palidez de uma grande e cansativa caminhada.

Alheia a tudo isso, ainda se vê uma menina caminhando de mãos dadas com seu avô, de mais ou menos três anos, faz graça querendo andar na ponta dos pés, atravancando a passagem dos apressados. Ouvem-se resmungos, alguns avançam pela calçada. É a intolerância dos que precisam correr, não pelo exercício físico matinal, mas para pegar o ônibus, engolir a comida a quilo ou simplesmente voltar a trabalhar numa das empresas que os recebem com um relógio de ponto. Enquanto o corpo se aquece e os olhos se acostumam com o visual, faço a trajetória inversa. É hora de voltar. Uma senhora com cara de índia, sentada frente a um prédio, segura uma criança adormecida nos braços. Um cachorro magro de dar dó faz xixi na calçada e nem se dá conta do aviso que proíbe fazer o mesmo sobre a grama. Nessa hora, cruzo com um colega do trabalho que está saindo de uma farmácia e com um sorriso sarcástico e uma expressão de um gozador, me avisa: Caro amigo escritor: "O Lula acaba de ser preso pela Polícia Federal, a Dilma foi cassada pelo TSE e a as passagens de ônibus baixaram”. Continuei caminhando e só ouvia “panelaços” e “buzinaços”. Eram pessoas comemorando a ação da PF, todavia, a passagem não tinha baixado e nem a Dilma sido cassada ainda.




 
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