Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

As mãos mágicas de Elifas.

terça-feira, 30 de julho de 2013



Elifas era um menino pobre, de família humilde, mas, certamente, um sonhador. Foi eletricista, encanador e num certo dia, no exercício dessa profissão, conheceu o ceramista Divino Jorge e no seu local de trabalho deparou com uma escultura feita por aquele mestre, e atônito, diante de tanta beleza, encantou-se com aquela arte. Sentia que estava diante de seu próprio sonho. Via aquele indivíduo fazer da argila e do barro bruto um verdadeiro milagre e criar figuras indescritíveis. Era como se elas já fizessem parte do seu mundo real. E a partir daquele dia começou a sonhar... Meteu a mão na massa e produzia as suas próprias esculturas, algumas surreais. Tempo depois conheceu a obra do mestre Antônio Poteiro e passou a sonhar ainda mais... Sonhou alto, e nesse espaço de tempo diante de uma sociedade que insistia em não reconhecer sua arte, viu ocorrer alguns pesadelos e atropelos... A partir de então fez seu próprio estilo, passou a afundar as mãos no barro, nem sentia a meleca que saía da terra e nem o calor causticante do sol que lhe queimava as costas franzinas, e o forno que trazia calor infernal, ruborizava o seu rosto barbudo. Fazia potes, cerâmicas diversas e aprendeu queimar as substâncias que sabia vir gerar o que sonhava. Quando o tempo era frio, sentia os dedos adormecerem, mas, mesmo assim, se inebriava com os cheiros vindos dos quintais, das gotas de chuva que caiam mansas sobre as pequenas esculturas em forma de duendes, era uma forma que achava de hostilizar a sociedade à época, depois, começou a esculpir corpos de mulher, retratados de várias formas, que refletiam a força dela simbolizada por sua amada Helena.
No afã de mostrar a sociedade o seu talento, contemplava cada estação do ano como se fossem uma só, e o mesmo fazia em relação ao sol e a chuva, enquanto sua esposa já o ajudava no manuseio dos barros vis colhidos sobre o chão batido que circundava o galpão. Massageava as pequenas esculturas de anjos e figuras sacras em placas de argila, modelava-as sem horas apropriadas. Conversava com elas como se fossem humanas; suas mãos eram pura magia e bastava encostar os dedos para nascerem vistosas. E pacientemente, usando os seus dedos mágicos, parecia esperar a lenta maturação da vida... E ser escultor passou a ser seu sonho.
Sem dúvida que ele seria um bom oleiro, se não fosse escultor. Ao manusear o barro, a cada toque de suas espátulas mãos, nasciam figuras de raras forças e belezas, algumas de olhos estatelados, corpos humanos deformados, que pareciam vindos de um mundo diferente, de outra dimensão. Suas mãos além de pintar com agilidade sabiam massagear o barro e cavoucar a terra boa para formar o precioso barro; sabia aproveitar as ervas naturais que se erguiam do solo e produziam botões de diferentes cores e tonalidades, mas, também, entendia que se não fossem regadas diariamente, murchariam, secariam, e os caules dobrariam sobre o chão seco, inertes.
Como bom observador, sinto a voluptuosidade com que o mestre Elifas Modesto busca o céu azul, a luz solar, o forno e o ar livre, para não deixar se curvar sobre o chão o seu sonho, que cedo ou tarde, haverá de romper a superfície da arte e se reerguer para a vida.
Elifas molha o barro com as lágrimas, modela com o olhar, acalenta as esculturas com a voz, com o deslumbramento da alma, pois, prendê-las em seu próprio habitat, simplesmente seria uma forma de condená-las à morte. 
Finalmente, quero sublinhar em forma de palavras leigas ao nobre Elifas que ora cria a Instituto Santuário das Artes: Massageie o barro bruto, modele-o, transfigure-o para o imaginário, porque sua obra será sempre bela; ela será como a luz que brilha e jamais se apagará.  Ela, onde estiver exposta, não será como a noite ou o dia, que se revelam e se escondem; ela não será como as estrelas que aparecem e desaparecem com o nascer e o pôr do sol, ou, ela não será como você que manuseia o barro para estimular a busca do invisível e nutrir um amor fiel e persistente de um escultor. 

Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 30 de julho de 2013

A segurança além das grades

terça-feira, 23 de julho de 2013



Os atos de violência que vem acontecendo são mais perniciosos que as catástrofes naturais, como os furacões e terremotos, porque ao contrário das vítimas de um desastre natural as de uma violência se sentem intencionalmente escolhidas como alvos de uma maldade. Este fato despedaça as crenças sobre a confiabilidade das pessoas e a segurança do mundo entre elas, crenças que as catástrofes naturais deixam intactas. O mundo social torna-se um lugar perigoso, onde os seres humanos são ameaças potenciais à sua própria segurança. Todos os dias a gente vê estampados nos jornais crueldades indescritíveis praticadas pelo homem e na memória do tempo, ficarão gravadas as sua vítimas e quando fatais, as próprias famílias, como se fossem cenas de um filme de terror que nos faz encarar o medo como qualquer coisa semelhante ao próprio ataque traiçoeiro do mal que vem afligindo o mundo.
 
A sociedade organizada e a polícia instalam câmeras de segurança com capacidade de desenvolver capturas faciais adequadas para o reconhecimento automatizado do indivíduo para que os delitos sejam esclarecidos num curto espaço de tempo, que são caras e onerosas. Não obstante essa assertiva de policiamento via câmeras, entende-se que outros instrumentos de apoio à investigação precisam ser empregados para permitir a captura ou descrição dos dados biométricos dos envolvidos em delitos criminais, auxiliando de forma efetiva e rápida a identificação positiva dos indivíduos em arquivos criminais de porte. O retrato falado situa-se como um destes instrumentos, importante na elucidação de crimes porque além da televisão, temos a internet para divulgar essas fotos. Entretanto, além da confecção, que depende de razoável precisão biométrica, tem-se que abrir uma divulgação intensiva para interação com fontes de informações públicas e pesquisas que transforme o produto gráfico em identificação positiva do suspeito em arquivos fotos criminais.

Não me lembro de nos últimos tempos ter tido um ano com tantos crimes violentos e macabros. Pais e mães que matam filhos, filhos que matam pais, amigos que matam amigos, maridos violentam suas mulheres, mulheres que esquartejam maridos, pais que estupram as próprias filhas, menores que roubam e matam porque sabem que não cumprirão penas e ainda sorriem diante das câmeras de TV. Contabilizo estas perdas aos amigos que foram assinados covardemente e que durante décadas eu cultivei suas amizades em meu coração. Restou-me orar por essas vítimas e momentaneamente, até sonhar que um dia uma borboleta ia pousar na minha mão, e o que poderia ter se tornado apenas um desejo, se materializou, se tornou real, pois quando li o jornal na coluna policial, tive que curvar-me inerte sobre a poltrona e dias depois, felizmente, sentir um alívio quando noticiava que a polícia tinha localizado o criminoso.

 O interessante é quando vemos lençóis e vestimentas desses criminosos penduradas nas grades das celas não enxergamos nenhuma peça que pertençam aos criminosos de “colarinho branco”; nenhuma peça daqueles que praticam o peculato de toda a espécie; que praticam a corrupção ativa e passiva, o desvio de verbas ou a errada aplicação de recursos, fraudes em concorrências, as prevaricações, os desmandos administrativos, as nomeações ilegais, a concussão, o cerceamento à liberdade, os homicídios e tantas outras mazelas. Na realidade, a maior parte destes crimes não vem à tona e os que surgem são abafados pelos próprios mecanismos estatais ou por influência política. De outra parte, o banditismo, armado de armas de grosso calibre, metralhadoras e granadas, explodem caixas de bancos e outros, às vezes, matam somente para ouvir o gemido do desafeto; saem às ruas e deixa a população em polvorosa, intimidada e ela se tranca dentro de sua própria casa, não podendo sequer sair às ruas, enquanto a polícia persegue pessoas incautas que são jogadas nas prisões ao lado dos piores marginais. Tudo o que se vê é fruto de uma política criminal errada, injusta, implantada através de uma legislação esdrúxula, defasada, irresponsável e que precisa ser modificada urgentemente pelo Congresso Nacional. O juízo jurídico colocado em prática pelo legislador funciona como um juízo de valor, não se limita a comprovar a existência das causas, mas, valora-as, para fins de repressão, o que pode ocorrer, em muitos casos, em vez de extinguir ou reduzir o crime, venha estimular ou eliminar um e criar outro. Daí urge, para amenizar um pouco esta situação, além da prática da religiosidade entre os presos, também o trabalho prisional intramuros, com incentivo especial à formação de mão de obra especializada, por maiores de cursos profissionalizantes, em parcerias com escolas técnicas públicas e privadas e ainda, a construção de presídios mais humanizados com o objetivo de desafogar a lotação excedente, cujo ambiente atual deteriora mais ainda a mente humana. Em fazendo isso, acredito que trará mais socialização aos presos e segurança aos cárceres.   

Nestas minhas andanças pelas periferias da região metropolitana de Goiânia sempre me preocupei com o ser humano, apesar de que, algumas vezes, sentia-me incapaz de solucionar algumas situações encontradas e, quando isso acontecia, recorria e recorro a amigos, porque é meu jeito de ser, de uma pessoa temente a Deus e que sempre carrego e carregarei comigo o princípio básico de fazer o bem sem olhar a quem, frase que sempre norteou a minha caminhada

A saúde além do ato médico.

segunda-feira, 15 de julho de 2013


Meus olhos que pareciam auxiliados por uma poderosa lupa, foram vasculhando todas as colunas de jornais na ânsia de alcançar um fato qualquer que pudesse definir melhor a situação da saúde pública no Brasil e que até certo ponto parece impossível. Todavia, ao manusear o Diário da Manhã deparei-me com um artigo do meu amigo e médico Rui Gilberto Ferreira, Presidente da Associação Médica do Estado de Goiás. Nas primeiras entrelinhas já o senti incisivo em defesa de sua classe quando disse: “Se a saúde pública brasileira fosse paciente da Presidente Dilma Rousseff, certamente estaria em estado terminal. São diagnósticos e mais diagnósticos errôneos, com tratamentos prescritos de maneira irresponsável e aleatória que não alcançam a realidade do Brasil e colocam em risco milhares de vidas. Não faltam médicos no Brasil (...) o que falta são políticas públicas voltadas para o fortalecimento do SUS, que estimulam a migração e a fixação dos médicos nos vazios assistenciais no interior e na rede pública”. Quando terminei de ler o texto do nobre amigo me lembrei de várias pessoas doentes, desesperadas, quase desfalecidas, que perambulavam pelos corredores dos hospitais públicos à espera de atendimento, situações que pareciam imperceptíveis, diante dos olhares absortos e atônitos de outros pacientes que se aglomeravam nas macas esparramadas pelos corredores sem um atendimento digno e à espera de cirurgias; muitos olhares pareciam desinteressados ou acostumados com aquela cena humilhante. Para mim que sou leigo, mas não marinheiro de primeira viagem em se tratando de ser atendido em hospital público, era como se estivesse apertando uma tecla do invisível para mostrar que saúde está um caos e nem há espaço para ela em UTI.
A Presidente Dilma disse que o preenchimento de vagas por estrangeiros trata-se de uma medida emergencial para garantir a essa parcela de brasileiros seja atendida o mais rápido possível, e ironicamente, enfatizou que a vinda desses médicos não vai tirar emprego dos profissionais brasileiros e nem significa arriscar a saúde da população. Não obstante esse discurso presidencial fora da realidade há de se entender que além da falta de condições dignas de trabalho e de material médico, não existe uma política que mantenha os médicos no interior do país. Se derem essas condições e uma carreira, os médicos vão suprir a carência onde ela exista. Feito isso e constatada insuficiência de médicos, então que contratem estrangeiros, mas desde que sejam avaliadas suas competências, revalidação dos diplomas para verificação da origem de sua formação profissional.
Na minha parca opinião entendo que a alegação de falta de médicos no Brasil é equivocada. O que falta mesmo é melhor remuneração, motivação, condições para exercer com dignidade a profissão, melhor distribuição, plano de carreira para uma melhor segurança trabalhista, em fazendo isso, podem ter a certeza de que o medico irá para o interior e ocupar os espaços vazios conforme diz o médico Rui Gilberto Ferreira, Presidente da Associação Médica do Estado de Goiás.
A população brasileira é que “paga o pato” com toda essa turbulência e incompetência do governo federal e sem decisão convincente, o povo continua morrendo nos corredores dos hospitais. O governo assustou com a movimentação das ruas, mas não entendeu o recado do povo e quiçá, nada daquilo do que realmente está acontecendo.  Ao elaborar o famigerado “Ato Médico” penaliza o estudante de medicina aplicando-lhe mais dois anos de curso que nada mais é do que um projeto de escravidão, ainda mais em se tratando de prestar trabalho obrigatório junto ao SUS, onde receberá uma mísera bolsa do Governo Federal. Por que não exigir um estágio num hospital particular de qualidade incontestável? Como o poder público vai colocar esses formandos por dois anos em uma cidade do interior sem nenhuma estrutura hospitalar, equipe médica, medicamentos, condições de diagnósticos e terapêuticos para que ele possa exercer com profissionalismo o seu trabalho, além disso, tem que ter condições adequadas de trabalho e um profissional com mais experiência para supervisioná-lo com o fito de torná-lo um bom médico?
Quando pensava em finalizar este texto o odontólogo e ortodontista Vinicius Rezende me enviou uma mensagem e nela questionava sobre o porquê a sua profissão não participou de nenhum movimento de rua. Esta é a mensagem: “Diante de tantas greves, paralisações, revoltas, não vejo nenhum movimento do Conselho Regional de Odontologia CRO - Goiás ou do nosso sindicato. Será que nem representatividade nós Cirurgiões dentistas temos, ou a Odontologia é a "Ilhas Canárias" das profissões brasileiras? Dentistas são queimados em seu local de trabalho, planos de Saúde nos sugam; CAIS com consultórios odontológicos fechados, falta de material na rede pública, empregos insalubres, profissão desvalorizada, sem plano de carreira e sem igualdade de trabalho e salarial com outras profissões. Clínicas populares fazendo verdadeiras atrocidades iatrogênicas e cobrando preços absurdos para o custeio da clínica. Gostaria de uma explicação, se alguém puder me ajudar?” E aí resolvi inserir sua mensagem como forma de ajudar.
Por fim, finalizo dizendo que a Constituição Federal de 1988 assegura a todos os cidadãos o pleno direito à vida e à segurança, o direito à saúde ganha status de garantia fundamental, sendo dever de o Estado prover nos termos dos artigos. 196 a 200 e de acordo com as demais normas legais. Afirmo mais ser o direito à vida o mais fundamental de todos os direitos, se é que existe hierarquia entre eles, posto que seja essencial para a existência e exercício dos demais. Tal conceituação abarca o pleno exercício da maternidade, de forma responsável e segura, do que depende uma adequada atenção à mulher durante a gestação e no momento do parto.
Ademais, de acordo com o Código Civil em vigor, é sujeito de direitos todo cidadão desde a sua concepção, ou seja, o dispositivo constitucional é garantia também ao nascituro, cabendo ao Estado dispensar medidas de proteção tanto à gestante quanto ao concepto. Para tanto, é mister que se desconstitua o mito de que o direito à saúde tem como substância apenas no acesso único e exclusivo à assistência médica, excluindo daí as demais políticas de prevenção, a disponibilidade de recursos, a prestação na realização de exames e a qualificação do corpo profissional, por exemplo.

Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 17 de março de 2013

O ensino além do quadro negro

terça-feira, 9 de julho de 2013


                                    
Tempos idos o processo de aprendizado era de certo modo arcaico. Sou do tempo em que estava sendo aposentada a palmatória, uma espécie de colher de pau que tinha uns furinhos na ponta. Mas, de qualquer forma os professores continuaram rígidos e por simples deslize, o aluno ficava de castigo e dependendo da “arte” era suspenso ou expulso da escola. Essa rigidez nunca me afetou, pois sempre fui um aluno comportado e prestava bastante atenção às aulas. O saudoso professor padre Otávio, de quem carrego boas lembranças, não usava a palmatória, mas, um sininho que ficava em cima de sua mesa. Coitado do aluno indisciplinado! Quando menos esperava aquela peça barulhenta era recebida pela cabeça ou lombo do aluno, doía e não adiantava resmungar. O padre usava essa ferramenta dentro da sala de aula e quando desfilávamos no pátio, uma varinha verde, e o aluno que desobedecia a marcha, recebia uma varada nas pernas e esta doía muito mais!
    Naquele tempo, na sala de aula, em muitos casos, saia-se da palmatória para o vácuo total de autoridade. O modelo de ensino – alunos massacrados por professores tiranos que usavam a régua para espancar quem errava a tabuada – tornou-se tão anacrônico quanto às polainas. E não podia ser diferente. O problema é que o oposto desse modelo, o não reconhecimento da autoridade do professor, tornou-se comum no Brasil, tanto na escola pública quanto na particular – onde o aluno aprendeu a ver o educador como um prestador de serviços, um funcionário que pode ser confrontado, questionado e até injuriado, inclusive, quando faz corretamente seu trabalho, reprovando e cobrando desempenho. Um professor ameaçado fisicamente pode chamar a polícia ou abrir um processo, mas, hoje, há outras situações inusitadas que vêm ocorrendo no Brasil. Os pequenos desrespeitos cotidianos – como vemos na TV, alunos atirando em colegas dentro da escola, outros portando armas de fogo e facas; alunas sacando da bolsa o esmalte e a acetona para fazer as unhas durante a aula... – são os mais assustadores. Não apenas porque mostram que os alunos, nossos futuros juízes, médicos, professores... não têm a mínima noção do que estão fazendo ali, mas porque uma instituição de ensino que permite que isso aconteça está mais perdida ainda do que os alunos. No meu tempo de aluno, definitivamente não era assim, pois o sininho, a varinha verde, o cascudo e a régua caíam frouxos sobre nosso corpo.
    Felizmente, hoje, mesmo com a falta de estrutura física para lecionar com dignidade e de material, de um salário irrisório e do total abandono da escola pelo poder público, entendemos que, em razão da garra de muitos abnegados professores, o ambiente educacional está deixando um pouco de lado o quadro negro e eles, para não deixar a “peteca cair”, estão a aplicando novas metodologias com o auxílio da ciência e tecnologia, porque com ela, sabem que pode promover sua própria capacitação e a do educando, para adaptarem-se continuamente a novos conhecimentos; resolver problemas de forma criativa, processar e disseminar informações, dominar e utilizar essas tecnologias, e, desenvolver novos tipos de relacionamento com seus pares a partir do trabalho cooperativo. Como o Brasil está passando por momento de mudança é salutar que se engaje em prol do desenvolvimento educacional, cuja metodologia tecnológica vem se tornando, de forma crescente, em importantes instrumentos de nossa cultura, e a sua utilização, um meio concreto de inclusão e interação no mundo.
      E, quando se fala em integração dos alunos “especiais”, apesar de estar aparentemente se falando do direito de igualdade, na realidade está se atribuindo quase que exclusivamente a pessoa com qualquer deficiência de aprendizado a responsabilidade por sua segregação. Por consequência, fala-se, ainda, da necessidade de se alterar, ajustar, mudar a pessoa com deficiência, para que ela possa, então, conviver com os demais de forma integrada, o que por si só, caracteriza a desigualdade social. Igualmente, há de se considera que um aluno apresenta necessidade educacional especial quando tem dificuldades maiores que o resto dos alunos para atingir as aprendizagens determinadas no currículo correspondente a sua idade e necessita para compensar estas dificuldades, de adaptações curriculares em uma ou várias áreas desse currículo, na utilização de recursos específicos, mudanças na estratégia de ensino e alterações arquitetônicas, garantindo, desta maneira o seu acesso à escola. E aí é que entra a intuição do professor e quiçá da própria direção da escola, pois lidar com as diferenças e com o processo de inclusão significa que a escola modifica-se para receber e manter o aluno no processo educativo, apesar da diversidade.
   Ora, sabemos que os usos dessa deficiência foram submetidos à estrutura de poder que a utilizavam para garantirem vantagens políticas. Toda a ajuda que lhes era oferecida infelizmente tinha um interesse político por traz. Sua identidade enquanto sujeito histórico foi construído mediante disputas de poder e luta contra a discriminação. Estão dentro do contexto a que me proponho comentar, usando a frase “ir além do quadro negro”, assim como, do giz, do apagador, do lápis, do papel, do compasso, da régua, etc., que são recursos que devem ser acoplados, entendo também que devem ser articulados com as novas tecnologias de informação e comunicação – a internet, os softwares, o computador, as lousas digitais, os projetores multimídia, os laptops, etc., pois estão dentro de um plano de trabalho ou até mesmo de um projeto ambicioso que venha garantir uma aprendizagem significativa e com autonomia dos alunos e dos professores mediadores desse processo. 
    A escola deve proporcionar ao aluno a utilização de métodos que resolveriam os problemas de maneira mais prática e segura, favorecendo a verificação dos resultados. Enfim, todos unidos em prol de uma educação moderna e eficaz, podem contribuir significativamente para a formação integral do indivíduo, fazendo com que o mesmo transporte para a realidade o que aprendeu nas suas experiências. Embora a escola  esteja abandonada pelo poder público, desmistificar é importante para que todos os educadores possam enxergar o ensino além do quadro negro, uma vez que a respeito dessa temática encontra-se muita resistência e embora faça parte do cotidiano escolar, pouco se sabe a respeito. 

Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 10 de julho de 2013

 
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