Sabemos
que a música é uma forma de o ser humano expressar suas emoções,
sentimentos e a sua própria história, como a beleza, a harmonia e o equilíbrio.
No caso do canto lírico, este pode ser representado através de várias formas,
se em canto solo ou capela, o cantor não se importa se for acompanhado de uma
orquestra, de um violino ou apenas um simples teclado. O cantor lírico surgiu
desde os tempos idos, há milhares de anos, que foi se evoluindo ocupando um
importantíssimo espaço na sociedade, haja vista que em algumas apresentações
teatrais eram indispensáveis o acompanhamento de uma orquestra capaz de nos
deixar boquiabertos diante de belas vozes e sons mágicos que nos traziam pura
magia, deixando atônitos e encantados juntamente com a platéia. É um jeito
especial ou teatral que o artista usa, tanto as mãos como a voz para expressar
o que imagina do mundo real ou surreal.
Dias atrás nem precisou
apagar as luzes. O palco montado para um ato solene de posse do Instituto
Cultural Movimento Santuário da Arte, que antes aspirava e inspirava vozes que
se confundiam no fechado espaço, logo se transformou em palmas e depois em
silêncio profundo para ouvir a cantora lírica Goiana Vieira da Anunciação.
Subia ao palco uma figura humana fantástica que fora convidada pelo Instituto e
sem pestanejar, soltou a voz que ecoou naquele auditório, rompendo o silêncio
isolado encravado no obscuro de cada alma e como a um rouxinol, parecia
anunciar que aquela noite era ainda primaveril. Quem a ouviu se purgou em
lágrimas, e às vezes, cantava para si mesmo, impregnava-se e desprendia-se da
personagem à sua frente, esvaziava-se de suas emoções, e atento a cada
encenação, cantava, cantava! Dia seguinte, noutro evento ocorrido no Palácio
das Esmeraldas não titubeei, fiz-lhe um convite para cantar após minha palestra
no Teatro Juquinha Diniz, em Morrinhos e ela, sempre gentil e generosa,
aceitou.
Prezados leitores, quão
traumático é não saber cantar, quando se precisa cantar, mas em relação a ela
bastava ouvir, divertir quando ela se pranteava, versejava ou nos abraçava pensando em parar cantar. No palco a sua
figura nem parecia que estava lá, dada a delicadeza de seus gestos e a doçura de
voz. Teu canto era realmente lírico, porque cantava suas emoções e sentimentos
íntimos. Não sei se ela era poeta cultora da poesia lírica ou se o próprio lirismo
é que a cultuava quando soltava sua adocicada voz. Suas filigranas vocais e
suas frágeis e delicadas mãos gesticulavam para o leigo o decifrável, e para os
entendidos, uma bela canção, que se transformava e criava asas imaginárias e
voava em nossa direção com suavidade e depois, ia para além de mais além. Não a
conhecia pessoalmente, mas naquela noite senti que o seu talento, elegância e
voz de soprano já derramavam em minha mente em forma de cascata a suavidade de sons
e o cantar dos rouxinóis na amplidão do silêncio que pairava em meu coração.
Sua voz era um néctar
que alimentava nossa alma, era a pureza que uniam sentimentos; era o vento
suave cortando campinas verdejante; era uma estrela cintilante que, a cada
cena, apenas nos restavam pedir bis. Sabemos que a arte de cantar trabalha com
outros elementos que não a razão. Ela quer agradar e busca o agrado; ela busca
um sentimento que nos tire do chão, que nos leve para um lugar onde não
freqüentamos nos nossos dias comuns. A voz de Goiana Vieira da Anunciação desde
pequena emocionou muita gente e entortou cabeça de gentes ilustres, musicistas,
maestros e autoridades políticas de várias partes do mundo, como entortou as de
Juscelino Kubitschek, de Pedro Ludovico Teixeira, do Secretário Norte Americano
Henry Kissinger, do primeiro ministro da França Leonel Jospin, fazendo vibrar seus
corações, fazendo-os pensar, e às vezes, até duvidar de daquilo que ouviam ou presenciavam
a olho nu. A vida, comum, não é o suficiente, deve-se procurar algo além dela,
pois se ficarmos parados, mesmo que metaforicamente, é o primeiro passo rumo à
morte, mas em relação à Goiana Vieira, tenho absoluta certeza que ela não
almeja isso. Se ela optar apenas pela sobrevivência e não pela expressão máxima
do que é o prazer pela própria vida de nada adiantaria ter uma bela voz se a
vida não for bem vivida, e isto ela faz bem. O seu canto lírico, seja de que forma vir a fazer ou interpretar, nos
moverá, nos elevará e nos transportará a um mundo surreal e nos fará viajar
pelo mundo da imaginação, e é graças teus gestos, seu fino trato e voz doce,
nos possibilita a viajar em busca do improvável e isto nos deixa encantados e
fascinados pela vida. Fantasiar que aquelas apresentações foi um surto, um
acaso, uma alucinação e que ninguém sentiu nada ou fingiu que não sentiu... É
uma inverdade!
Fantástica
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