Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Uma pausa para reflexão

segunda-feira, 26 de maio de 2014



Semana passada ao caminhar pelo bosque Vaca Brava resolvi sentar num banco de madeira sombreado por uma gigantesca árvore centenária. Dei uma pequena pausa para refletir e depois, olhei para o lago e vi sobre suas águas cintilantes raios de sol que pareciam brincar com as sombras dos prédios que também sobre ele se refletiam. Pessoas passavam caminhando pelo calçadão, crianças brincavam com seus cachorrinhos sobre a grama e as mães carregavam em seus carrinhos com o semblante feliz. De repente, um garotinho de cabelos loiros, lindo, de aproximadamente dois anos de idade, se aproximou de mim com um sorriso nos lábios e estendendo a mão disse: Bom dia! Segurei-lhe a mão e respondi: Bom dia! Com o semblante feliz Hugo quis continuar ali, mas sua babá o chamou e ele se foi acenando com as mãos e eu disse: Então tchau!

Ao ver aquelas cenas e o ato espontâneo daquela criança, senti-me mergulhando naquelas águas mansas, certo de que elas queriam me mostrar alguma coisa, e num repente, meu corpo imergia, emergia, reagindo às intempéries impostas por aquela manhã quente. O vento passava veloz e fazia desprender das árvores e das flores as folhas e pétalas envelhecidas que saíam voando cambaleantes, como se fossem dançarinas de um show sem palco e improvisado, para pousar mais adiante sobre a relva. Caracterizado pelo espelho d’água, eu visualizava em vívidos detalhes, cenas mostradas dias anteriores pela mídia: famílias destruídas, exposição em outdoors de propagandas imorais, contra os bons costumes; realização casamento de homossexuais pela igreja católica, pessoas injustiçadas, oprimidas, mulheres agredidas, negros discriminados, trabalhadores explorados, agricultores em desespero, pessoas sem teto ou um pedaço de chão para morar e plantar; guerras, catástrofes, criminalidades, ditaduras espalhadas pelo mundo, corrupção, repressões e tantas outras imbecilidades continuaram fluindo sobre o espelho das águas deixando-me pensativo, atônito e sem forças para combater tantas injustiças. A angústia me oprimia naquele momento de reflexão, e aí perguntei a mim mesmo: Quantos anzóis ou redes serão precisos para que possamos pescar toda essa gente sofrida, combalidas pelo câncer ou outras doenças infecciosas? Veio à minha memória o triste desenrolar da vida de minha mãe Carolina, de minha tia Dulce, dos amigos Antônio Souto e senhor Francisco Marinho, da dona Honorata, do menino Adrian e tantos outros que foram para outra dimensão. Mas, enquanto o vento acariciava o meu rosto, lembrei-me também de minha irmã Clotildes, do amigo Waldir, do Ildeu Dornelas, este que, na semana passada, teve que ser internado às pressas no Hospital Araujo Jorge. Veio também à minha memória a situação das minhas amigas Erenita Soares, Andréia Teles, Maria de Lourdes Primo, esta também teve que ir a São Paulo para tratar de câncer de mama. Gente, há tantas outras sofrendo do mesmo mal. Pessoas que lutam pela vida e são possuidoras de uma fé imensurável que são exemplos para todos nós.

Deus é isto: a beleza que se ouve e se manifesta no silêncio. É foi aí que entendi a razão daqueles minúsculos espelhos d’água insistir em querer me mostrar que eu estava vivendo num mundo desigual. No mundo do absurdo, mas era verdade. Mas, o mundo tão belo e rico que se estampava diante de meus olhos é claro que me mostraria seus contrastes, como, essas doenças malditas e outros tipos, de certo modo incuráveis que deixam pessoas desnorteadas, incapazes e com deficiência física. Naquele instante queria que fossem apenas cenas represadas no meu subconsciente, mas não eram, pois a televisão reprisa e mostram fatos novos todos os dias: crianças e mulheres que se prostituem para sobreviverem; crimes de pedofilia, chacinas, roubos seqüestros, corrupção, abuso do poder econômico que oprimem os menos favorecidos. Isto realmente não é irreal ou utopia, é pura realidade, uma realidade que se alastra como se fosse uma coisa natural característica da própria espécie humana.

Diante daquelas cenas captadas através da janela de minha alma, entendi que era necessário resgatar da memória do tempo os bons fluídos, as riquezas e criatividades produzidas por muitas pessoas cristãs, criteriosas, que pode fecundar esses momentos de reflexão e ajudar a delinear e modelar novos conceitos de vida em face do processo atual, uma vez que, às vezes, encontramos preceitos e normas de comportamento que estão fora de época. O mundo se globalizou então é importante que se recupere a moral dos homens e lhes dêem condições de acompanhar as rupturas que a história maleficamente lhes impôs durante milênios. De outra parte, entendemos que cada pessoa deve se tornar sujeito de sua própria história, de sua própria libertação, transformando a sua realidade com a finalidade de efetivar a justa liberdade coletiva, ainda que de maneira deficitária.

Hoje, ao ver a situação dessas queridas pessoas, de ver uma multidão perdida na escuridão da vida sem a presença de Deus, preocupei-me sobremaneira, pois sei que muitos deles perderem a sua ligação com a igreja na qual foram batizados. Outros, sentindo-se excluídos pela sociedade, violentados moralmente e impossibilitados de terem acesso aos bens necessários para a sua sobrevivência, ficam frustrados e se deixam tomar pelo desânimo, deturpam-se as mentes e deturpadas, partem para as formas mais fáceis de ganhar dinheiro, exemplificado no tráfico de drogas, que tem levado muitos jovens ao crime e à morte prematura. Alguns, sem a orientação eficaz, mudam de religião como se estivessem trocando de roupa ou desesperançosos, tornam-se indiferente a tudo, fato que a igreja deve procurar saber para obter uma resposta mais adequada para combater os desafios aqui constatados.

Dando uma pequena pausa para oração naquele local aprazível, conversava e pedia a Deus por todas essas pessoas e me senti fortalecido, então, restou-me dizer a todos eles e aos que lerem esta crônica, que vivam intensamente e agitem-se ao vento, voem e encontre no infinito o amor e a paz, se é que ainda existe. Com o coração em paz, deixei o banco sabendo que teria um longo dia, e certo que naquele instante Deus estava comigo e ouviu no meu silêncio, pois senti subir as cortinas do tempo onde ELE me mostrava um mundo renovado que não descia mais pelos desfiladeiros insensatez. Não obstante isso, incapaz de merecer sua presença ou de LHE pedir alguma coisa, pois ELE já fez e tem feito muito por mim, e assim, deixei-me dominar pelas asas da imaginação que levaram  junto comigo, como poeira ao vento, os  meus   desejos,  esperanças e fé, onde, a cada dia, sei que deverei fazer um ensaio dramático para a realização de uma última encenação no teatro da vida, para, quem sabe, em outra dimensão, Deus possa entender  o porquê do pedido que fiz no tocante a recuperação da saúde destas pessoas que sofrem desse mal do século – o câncer e procurar entender também o porquê da morte destes entes queridos, de forma que, todos possam conhecer também minhas angústias e lamentações.

Empilhada em cantos escuros de minha alma, a soberba reflexão incorreta sobre quem sou, hão de entender possivelmente, pois, minhas abstrações se limitam a nada definir com profundidade, no entanto, como essas pessoas sofridas, eu e você, sabemos que amanhã tudo voltará à velha rotina: morte e vida; encontros e desencontros, tempestades e calmarias; lua e sol. Vozes sussurrando palavras doces e mentirosas impregnando em nossos ouvidos desacostumados com a realidade e padrões duros impostos por uma sociedade consumista. Nesse vetor, o tempo dita suas regras que são acopl
adas pelos pólos magnéticos que se chocam em um espaço sem gravidade. 

Por fim, mesmo sentindo amparado pelas mãos de Deus, restou-me ir embora para ficar fora do campo daquela visão que me angustiava. E na certeza de que Ele escutava as minhas orações silenciosas, optei por voar nas asas da imaginação porque sabia que Deus voava comigo para resguardar aquela força espiritual, a beleza do lago, o verde das árvores centenárias, os cânticos dos pássaros; resguardar o sorriso angelical daquela criança que se aproximou de mim e das outras que brincavam sobre a grama; resguardar as palavras dos caminhantes soltas no ar, assim como, a presença do improvável, do surreal e da imagem de todas as pessoas amigas que se refletiam sobre as águas que, doravante, cristalizarei eternamente em minha retina.

É bom reprisar o que é bom: Durante muitos anos venho escrevendo artigos e crônicas com o objetivo de levar mensagens de otimismo, perseverança e fé. Coisas simples que bastam apenas uma atitude. Atitude que não devemos deixar para amanhã, e nesse caso, o amanhã não se fez hoje. Eu ainda não aprendi tocar instrumentos musicais, nem nadar, mas, felizmente, através da escrita, posso usar as asas de minha imaginação e aí, viajo para onde quero, vou até o infinito, mesmo sabendo não ter fim.  E no mundo da imaginação, nado, mergulho e chego às profundezas, dedilho instrumentos que sempre sonhei tocar, canto nos palcos da vida e sonho... Perdoem-me se avancei demais em algumas frases ou palavras, talvez, elas podem parecer sem nexo, mas, para que este texto não, pois quis mostrar a realidade em que vivemos e as usei dessa forma para tornar esta crônica mais leve e interessante.

O crack que não driblou a morte.

terça-feira, 20 de maio de 2014



É assustador! Diariamente vemos cenas chocantes mostradas na televisão. O apresentador, sem pedir licença, entre em nossos lares e vai mostrando os crimes que campeiam em nossas cidades. Nas calçadas pouco iluminadas, monte de jovens esquálidos, sem rosto, segue rumos incertos, mais parecendo espectros animalescos possuídos pelo demônio. Estas cenas horripilantes, ora mostradas num beco, ora numa rua ou avenida, mais perecem filmes de ficção e nesse palco de horror, alguns se arrastam pelas calçadas como se fossem répteis, e dominados pelo vício, depredam tudo que vêem pela frente, destroem lares, famílias, roubam e matam seus entes queridos para adquirir a maldita droga. Estes personagens que perambulam pelas calçadas, abandonados pela Administração Pública e até pela própria família que não consegue ajuda ao Poder Público, se tornam esqueléticos, sujos, maltrapilhos e em seus rostos movimentam apenas um infinito de esgares, como se a câmara do olhar estivesse fora de foco para mostrá-los nas tevês, como meros seres anônimos, mortos-vivos, pesos-mortos, às vezes cobertos por míseros cobertores de lã e ficam encolhidos nos cimentos frios. As imagens focadas não mostram esses infelizes colocando um pedaço de pão ou um copo de leite na boca, mas, cachimbos infectos e até latinhas de refrigerantes que eles adaptam para “fumar” a famigerada droga. Essa maldita planta, que não cria, não dá só tira e mata!

Lembro-me de um garoto extremamente alegre, que mesmo nos campos de futebol de chão batido, fazia a bola rolar com maestria, cadenciava as jogadas para municiar os companheiros e possuía um chute desconcertante, certeiro. Era o artilheiro do time. Menino humilde e mesmo com os pés descalços, sonhava um dia calçar chuteiras coloridas e se tornar um Cristiano Ronaldo, um Lionel Messi, um Neymar... Empreitada difícil considerando esta comparação porque ele não teve berço e nem fora preparado pela sociedade como foram esses atletas e tantos outros; nunca lhe foi exigido assiduidade na escola ou mesmo recebido apoio da família e uma educação religiosa. Ninguém o acompanhava em suas perambulações pelos campinhos poeirentos que se espalhavam pelas periferias da cidade. Faltava-lha o amor, diálogo. Em muitas daquelas praças esportivas as drogas “rolavam” livres e nos becos e lotes baldios garotos e garotas se prostituíam e o pior, as drogas se espalhavam e junto com elas, as mais letais, mais baratas, piores que a naftalina das baratas cascudas, piores do que tomar água suja no leito das calçadas de via pública. Ela se multiplica e transformam esses incautos, não mais apenas pobres, mas todos somente em lixos urbanos, homens-descartáveis, não-recicláveis. Num País como o nosso, onde certas coisas parecem não ter qualquer importância: a dignidade é apenas uma delas. É um confronto difícil e violento sair todo dia às ruas, pior ainda quando se vive numa grande cidade, como a nossa, e pouco se pode fazer. Você dá de cara com crianças vivazes obrigadas a mendigar a pedido dos próprios pais alcoólatras ou viciados. Dá de cara com gente velha, com fome, doente, com feridas pelo corpo, alguns carregando faixas de publicidade no pescoço, outras mutiladas advindas de uma guerra quixotesca. Damos de cara com pais perversos, padrastos e madrastas, violentas e criminosas e quando não damos de frente com elas, a televisão mostra. Nas esquinas, nas pontes e postes, dentro de caixas, atrás de muros, junto com os ratos de esgoto, ficam ali jogados os pacotes de lixo-gente. Muitos deles aprendem e sobrevivem com seus vira-latas como se estivessem sendo empurrados pela mão invisível do destino.

Mas agora vamos voltar falar do crack, essa droga maldita que, por ser estimulante, ocasiona dependência física e, posteriormente, a morte por sua terrível ação sobre o sistema nervoso central que gera, em razão disso, aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremores, excitação, maior aptidão física e mental. Os efeitos psicológicos são euforia, sensação de poder e aumento da auto-estima. E ela foi o grande mal daquele menino craque de bola que passou a ser usuário de droga; que não conseguiu ver a vida florescer e retirar dela os galhos podres para poder, pelos menos, conseguir driblar a morte. Infelizmente não conseguiu. Foi visto agonizando num beco escuro sob o efeito da droga, só que, naquele dia, além de uma overdose, recebera um tiro no peito, porque simplesmente não conseguiu pagar uma dívida inerente a umas pequenas “pedras” de crack que comprara de um traficante. 

Ao ver aquela cena questionei: O que as autoridades constituídas têm que fazer? E sem pensar, respondia com ar de revolta: Em primeiro plano, a vontade política em resolver tal situação, não obstante constatemos que, enquanto existir no Congresso Nacional os conchavos, as negociatas que fazem surgir os famigerados “mensaleiros”, os corruptos e corruptores que se perpetuam no poder; enquanto existir a política burra e populista que está aumentando a natalidade com bolsas família, em nome de um socialismo de fachada que gasta milhões em propaganda para fazer você acreditar no que não vê; enquanto não existir uma base mínima de um trabalho coordenado, completo, que una saúde pública, assistência social, caridade, segurança e perspectiva, inclusive emocional, em nada resultará. Em segundo plano, neste momento cruciante, todos precisam apoiar todos; todos por qualquer um. A liberdade individual, a possibilidade de escolha, existe, mas ambas têm, sim, limites.

Não adianta pegar esses infelizes e levá-los a abrigos, dar-lhes banho, lavar suas roupas, secá-las, botar para coar, enfiar comida em suas bocas, porque eles preferem as ruas. Dar entrevistas bombásticas, com o fito emocional, também de nada adianta. Dois minutos depois, em abstinência, eles voltam. Não adianta a sociedade empurrá-los de lá para cá: agora estão cada vez mais perto de nós, onde são mais danosos que pode soar como um alerta: os traficantes estão chegando aos montões a Goiás e alimentando os usuários de crack e cocaína, principalmente a Goiânia. Vemos na televisão que eles estão transformando o Brasil num teatro de horror, cujos personagens parecem ter saído de filmes de terror que protagonizam cenas inenarráveis que estão lotando de infelizes os gramados da vida mundana. Se a sociedade organizada não tomar providências urgentes; se os olhos por mais embaçados que forem, marejados e míopes não verem, se seus ouvidos não escutar o clamor que vem das ruas; se todos os responsáveis continuarem empurrando com a barriga pode, de um lado, esta dependência química se proliferar de uma maneira assustadora, incontrolável e fazer fortunas para muitos, entretanto, do outro lado, vir destruir vidas, famílias e criar lixos humanos.

À espera de um novo amanhã.

sábado, 10 de maio de 2014


Estupefato diante da televisão, meus olhos só captavam gente sendo mortas de forma covarde, bárbara e estúpida, outras feridas por agressões inexplicáveis. Enquanto as câmaras giravam nervosamente, outras cenas horripilantes iam aparecendo mostrando enxurrada a entulhar esperanças; ouvia gritos alucinados frente à enxurrada de mazelas, e sentado no sofá, inquieto, vivo, nem poder fazer nada, pensei: Estar vivo no mundo de hoje já é milagre e se dermos uma pequena saída do nosso habitat, ficamos sujeitos a assaltos e até perder a vida caso haja reação de nossa parte. Há casos de indivíduos que mal atravessa a porta são contaminados por vírus trazidos pelo vento poluído, outros, recebem uma bala perdida que não sabem de onde veio, e na primeira esquina, sofre um acidente de trânsito, fica deficiente ou perde a própria vida. Pode ser um acaso, uma situação inesperada ou o relógio do destino que parou naquela manhã antes de se recompor naquela manhã.
 
Renascer a cada manhã todos quer. Temer a morte, a segregação do aconchego, o retorno às cavernas uterinas de mães zelosas todos desejam para que possam recomeçar tudo de novo. Mas antes do amanhecer pode ser que o sono venha apagar os sentidos, a consciência, o manuseio das mãos e dificultar ver os olhares afetuosos daqueles que nos cercam. Confiante de que haveremos de acordar no dia seguinte, nem nos preocupamos, pois sabemos que vamos receber o mesmo sol. Todos querem despertar nesse novo amanhã com uma nova visão sobre a vida, na esperança de que sono não traga traumas. Também dessa letargia que nos acossa, desse propósito de inconsistência que nos assalta, dessa lúgubre angústia de um quase-andarilho que, além de quase perder o mapa da vida, quase se perdeu no próprio mapa. Mas, com relação a mim sei que minhas ranhuras brotam delicados sons de um violino tocando músicas de Mozart e Chopin.  Não sou dado ao absinto e sei que a vida nada mais é que uma aposta, por isso, todas as minhas fichas foram postas no tabuleiro dos jogos inúteis dos perdedores. Jogo ao lado deles mesmo sabendo que não é isto que me interessa e também para não contrariá-los, pois sei que ao faminto só o pão lhe interessa. De que valem todos os poderes do mundo se não conseguem encher um prato de comida? De que valem todos os reinos se não plenificam a alma que está sem nenhum gosto? Sendo ambientalista e amante da natureza, não engaiolo os pássaros e nem a sua dor porque os quero vivos, quero vê-los voando em ziguezagues, enrugando ventos, saltitantes entre a plantação de flores que cultivo em meu jardim íntimo. Quero-os gorjeando melodias matutinas em variados sons e cheguem adocicados aos meus ouvidos cansados de ouvir melodias inúteis. Quero-os despertando-me com seu canto, contudo, sem me provocarem a vertigem das alturas.

Quero, a cada manhã, renascer para a vida, desmontar a cidadania inelutável, quero desmitificar a teimosia dos inconformados; extirpar a ociosidade intemporal dos mendigos; orientar as mulheres condenadas a bordar dores incolores, na despossuída humilhação dos que clamam por um pedaço de terra e daqueles que vão às ruas pedir apenas uma casa popular para morar, ou de um direito adquirido gravado na Constituição. Quero que todos tenham acesso à vida e ela seja distribuída fartamente como pão amanteigado, o leite e o café quente da manhã, sem jamais temer as intermitências da morte. Quero um tempo para saborear os livros como saboreamos uma pipoca ao assistirmos a um filme na TV ou num cinema qualquer; quero o meu corpo saciado de apetites, a mente livre de despautérios, o espírito matriculado num corpo de baile palaciano, ao som dos mistérios mais profundo e lá fora, os pássaros orquestrados pela aurora e os cintilantes raios de sol que debruçam sobre os rios desnudados pela transparência das águas, assim como, os pulmões estejam exultantes de ar puro, a boca cheia salivada para saborear a mesa farta de manjares feitos por mãos mágicas de uma deusa vinda de outros mares.

Reparto o meu renascer e a minha manhã com os criadores ou criadoras do amanhã, que nada mais são que dançarinos trôpegos de incertezas, duendes que povoam alucinados meu imaginário, que nada mais são que musas incorrigíveis de meu crochê literário, ou anjos protetores de minha débil fé e magos que revelam o pior de mim mesmo. Neste mundo desencantado, mas não redimido, nele combalido a minha redenção como os antípodas que, diante do espelho da vida, se banqueteavam na tentativa de não continuarem sendo opostos, para, num globo qualquer, esperar esse novo amanhã.

Olhando o mundo. Só olhando e meditando...

sábado, 3 de maio de 2014


Tem dia que a gente levanta diferente, com vontade de ver o mundo de outra forma. Tem dia que a gente olha, olha... E nada se vê. Damos um, dois ou mais passos à frente, para tentar enxergar um mundo diferente para que possamos entrar nele sem atropelos, sem medo da própria pessoa humana, de poder achar um lugar onde a gente nunca esteve antes, um lugar diferente mesmo! E sem olharmos para trás, convencer-nos de que seria realmente melhor deixarmos os malogros, as decepções, as incertezas, as tristezas e tudo aquilo que nos foram maléficos, e sentir o prazer de levar os frutos de tudo aquilo que nos levaram à vitória e plantá-los nesse lugar, em terreno fértil, sagrado.

Mas como se esquecer dos crimes bárbaros, das pessoas que matam apenas para ouvir o gemido do desafeto? Como se esquecer dos estupros, dos crimes de pedofilias que se espalham por todo o País? Como se esquecer de pais matando filhos e filhos matando pais? Como se esquecer dos políticos corruptos e dos corruptores? Como se esquecer da impunidade que impera no Brasil? Como? Diga-me? Então, depois destes questionamentos resta-me meditar: Será que o nobre leitor vai entender porque resolvi ficar hoje observando o mundo e olhar somente com o fito de encontrar um tesouro escondido num ponto qualquer para saciar minha sede de viver que talvez nem exista?

Daqui a pouco devo sair para uma leve caminhada no calçadão, mas ainda sinto aquela sensação estranha que – não sei por que razão – me atacou hoje. Questiono-me: Serão apenas lembranças remotas e estranhas que me faz parar e ficar observando o mundo? É realmente estranho porque não tenho nenhum motivo para dizer: estou só. Paro, reflito e antes de sair, me acomodo diante do computador e começo a escrever esta crônica porque sei que do outro lado têm pessoas que se sentem do mesmo jeito, entretanto, só estou a pensar na melhor maneira de como transmitir-lhes esta mensagem, nada mais. Mas, preocupo-me porque têm pessoas sensíveis do outro lado, sofrendo em seu canto, magoadas, iludidas, desiludidas, chorando, jovens e adultos, que fazem de tudo para sobreviver neste mundo nosso que deveria ser de todos, ora expressando amor, ora ódio, algumas com sede de viver e outras não. E aí está o perigo! Há também as que sonham. Há as que se sentem incompreendidas, com vontade de gritar dentro de seu próprio mundo porque sequer são ouvidas e ninguém presta atenção. Elas se calam, mesmo sabendo que o seu silêncio muitas vezes tiraria a vontade de alguém ouvir uma palavra que, dependendo da situação do momento, poderia doer mais do que o seu próprio silêncio.

Do vão quadriculado da janela, com as mãos segurando óculos de grau, fico olhando o pôr-do-sol e constato, por mais belo que ele for não bastará para dar sentido às essas vidas, ou no caso, também à minha, porque mesmo escrevendo de forma pensada, não posso falar por elas ou em nome delas. Mas, confiando no que a janela de minha alma me mostra, viro o rosto e meus olhos miram o horizonte poente no intuito de me mostrar um caminho renovado, cheio de fé e esperança. E fico só olhando e nem vejo os transeuntes que passam na calçada e os arranha-céus que me cercam. Olho fixamente para ponto qualquer do universo, pois só olhando com os olhos da alma e meditando posso responder as expectativas, exigências e também às críticas que porventura venha receber de cidadãos que compartilham comigo o mesmo desiderato. O importante é quando meu olhar se depara diante dos deles e fixando o olhar, enxergo a esperança e paz, aí então, para mim já é gratificante.

Devemos parar de ficar só olhando o improvável, o impossível, o incerto. Devemos tentar chegar até nossos semelhantes com táticas mais eficazes, pois é muito difícil perceber o que fazer somente olhando, usando somente a janela da alma e não vislumbrar que vale a pena esperar um novo amanhã para que possamos interiorizar mais e mais profundamente em nossa alma e encontrarmos o que estamos procurando, e se acharmos, não ser apenas uma ilusão e dizermos: Estamos apenas olhando... Olhando para frente com o fito de unir o trilho de nossas vidas, sem incomodar ninguém.

Com relação à política brasileira, esta me incomoda também, no entanto - e não estou só neste sentimento - que os cidadãos do Brasil não tenham conseguido decidir sobre tão importante mudanças através de Lei ou não que pudessem mudar todos esses atos humanos animalescos e politicalhas que enojam a nação brasileira. Sei que não estou só neste momento, pois além dos bons e justos que felizmente ainda são muitos, o Pai Celestial está comigo. Então, mesmo sendo uma só pessoa olhando ou um milhão, resta-me continuar olhando, mesmo absortamente, para o fato de que nós podemos mudar o Brasil através de manifestações conscientes e sem exageros, repudiando tudo que vem ocorrendo de errado em nosso País. Como disse Martin Luther King Jr.: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons”.

 
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