Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

O ano de 2016 se foi e eu sobrevivi...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Quando nasci, de forma irônica, a parteira que me ajudou a vir ao mundo, devia ser uma distraída, mas, de certo modo, possuidora de um espírito crítico iluminado, pois disse no momento que nasci que eu era bonitão. Nascia mais um aquariano. Cresci sem bolo, sem vela de aniversário, sem pedidos, sem brinquedos e durante muito tempo o travesseiro foi meu melhor amigo. Ele parecia triste também. Aprendi a conversar com ele e dizer a verdade. Mentir não é coisa minha. Sem sono passei muitas noites contando carneirinhos e no mundo dos sonhos me tornei um dos maiores produtores desses animais, que guardava com carinho nos currais da vida que construía a cada sonho. Tinha certas noites que contava de três em três dada à quantidade que se acumulava nas minhas insônias. Quando conseguia dormir, doía, assim como a vida. Demorei a gostar de viver e tinha uma tristeza que me visitava até mesmo nos dias de alegria. Por conta disso, aprendi a sorrir com economia, mas quando me permitia sorrir, sorria com vontade. Era pequeno demais para entender a vida e compreensível os fantasmas não me perseguirem e não quererem me adotar.

Ainda pequeno já morando em Goiânia, saía para trabalhar com uma caixa de engraxar sapatos. Morava no Setor Ferroviário e quantas vezes eu passei por caminhos rodeados por imensos matagais onde até fazia necessidades fisiológicas. Toda vez que passava pelo colchete de arame de minha casa ou na roleta da Estação da Estrada de Ferro, nem percebia a tristeza fazer sombra no meu sol. Ele, antes de entregar a noite à lua, me ensinava o valor da liberdade, da honradez e honestidade. Desde pequeno, era viciado em livros infantis, gibi, revistas em quadrinhos e em certos momentos eu parecia fugir das galés. Cada remada nas páginas da vida, mais gibis, mais livros, mais revistas. Em cada um ou uma, descobria continentes, astros, ídolos, atores, autores, heróis, gentes diferentes, importantes que me faziam sonhar. Aprendi a conhecer os oceanos, a amar o mundo e achar atalhos para o coração sem me tornar moleque ou escravo de ninguém. No meu primeiro livro hoje já corroído pelas intempéries do tempo, tentei construir nele um sonho, sem saber que tinha, em seguida, outros, que por mais singelos que foram, sei que ensinaram pessoas a gostarem de leitura e poesia. Eu gostava e gosto de escrever, divulgar e botar fogo no pavio para incendiar mentes preguiçosas. E escrevendo achei a fórmula de sonhar, de voltar a sorrir no lugar que me fazia chorar. Tem dia que tudo é poesia. Engraçado, de tanto escrever e tentar levar mensagens a cada um, indistintamente, acabo fazendo essas pessoas felizes. Certo dia estava sorrindo distraidamente e uma pessoa me perguntou por quê? Naquele dia fiquei sem entender, agora eu sei. O amor de minha mulher, dos filhos, noras, genro, netos e netas me deixam feliz. Dificilmente a gente se dá conta do sorriso de uma criança, do voo bisonho de uma garça ou da graça de uma borboleta, do perfume de uma flor, do canto de um pássaro, ou do doce de uma fruta qualquer; não percebemos a perfeição, o espírito revolucionário e aventureiro da juventude, quando todas as utopias eram possíveis assim como maravilhosas.
Poucos dias atrás, com uma caixa de engraxate pendurada no ombro, um jovem cruzou a rua e veio em minha direção dizendo:
- Não sei se o doutor lembra-se de mim, mas quando estive lá perto de sua casa e ouviram umas pessoas me chamarem “Ô da graxa, ô engravatado!”, para diferenciar de outro menino que não se vestia alinhado assim como eu, mesmo sendo também engraxate.

O engraxate era moreno, alto e forte. Para ser sincero, lembrava dele sim e como não se lembrar de sua forma alinhada de se vestir, pelo menos ficava claro de onde eu o conhecia. Lembrava também que o tinha tirado da prisão com um simples habeas corpus e pagamento de uma pequena fiança. Era réu primário. Na saída da Delegacia de Polícia um policial veio com um sorriso sisudo, lhe entregou uma caixa de engraxar como presente, mas o repreendeu, mas de forma carinhosa. E como valeu a repreensão!

Para refrescar a memória dele perguntei: Já visitou a cadeia novamente? Ele respondeu:
- Deus me livre, agora sou trabalhador com muito orgulho e graças ao senhor e aquele policial.
- E dá para viver engraxando sapato?
- Sim. Saio de casa bem de manhã e só retorno à noite e tenho muitos fregueses. Dá para tirar uma boa grana. Acho que depois que comecei a vestir assim e usando gravata o povo pega mais confiança. Ganho o suficiente para ajudar minha mãe nas despesas de casa e pagar o aluguel de um barraco no Setor Perim. Juquinha, com a caixa de engraxar pendurado nos ombros disse ainda percorria de dez a quinze quilômetros por dia no encalço da clientela:
- Procuro passar em lugar que tem homem parado: ponto de táxi, porta de bar, restaurante com fila de espera, praça com aglomeração de aposentado. Cobro de acordo com a aparência do cidadão.

 Pelo que fiquei sabendo, Juquinha foi aluno comportado até aos dez anos, mas infelizmente perdeu seu pai e aí tudo se desabou. Passou a distribuir panfletas nas ruas e avenidas de Goiânia, e foi aí que pegou gosto pelo dinheiro, mas também se “enrolar” com meliantes que infestavam as ruas da cidade, conhecendo a maconha, para desgosto da mãe que prestava serviços domésticos em residências. Um dia, o primo decidiu mudar de ramo e disse a Juquinha que não se conformava com aquela ninharia que ganhava com a distribuição de panfletos; tinha nascido para uma vida melhor. Levantou a camisa e exibiu o revólver no cinto. "Vem comigo, é apontar a arma e pegar o dinheiro."

Juquinha não tinha coragem, pois dois de seus amigos de infância que também eram engraxates haviam acabado de morrer num tiroteio na Vila Nova. Mas, outro menino mais velho insistiu:
- Eu enquadro as vítimas e você recolhe o dinheiro e os objetos de valor. É só ficar de cabisbaixo pra ninguém te reconhecer mais tarde. Não requer prática nem tampouco habilidade.
Na primeira vez, quando assaltaram uma loja na periferia da cidade, tudo se passou como o primo previra. Na partilha, couberam R$ 500 reais para cada um. Juquinha nunca tinha visto tanto dinheiro junto. O bolso inchou de notas. Comprou uma calça jeans, uma camisa gola pólo, e para sua mãe uma blusa. Num dia torrou todo o dinheiro roubado. Aos 12 anos foi capturado e lavado para a FEBEM. Fugiu, todavia, mais esperto e com novas amizades. Juntou-se ao inseparável primo e formaram uma quadrilha. Meses mais tarde, o primo foi morto por justiceiros a serviço dos comerciantes da Vila Concórdia.

Certa noite, Juquinha e dois comparsas assaltaram uma loja no centro da cidade e saíram em desabalada carreira, mas poucas horas depois foram cercados por duas viaturas de polícia. Os policiais gritaram para que jogassem as armas no chão e saíssem com as mãos na cabeça. Pensaram em reagir, mas prevaleceu o bom senso do finado primo Anselmo, mais conhecido como cabeção. Era o mais experiente da turma. Disse que se eles atirassem morriam no ato: eram três jovens contra oito policiais. Preso em flagrante Juquinha, que era menor de idade, foi levado para a Delegacia de Menores, mas acabou solto graças a minha experiência como advogado e que me responsabilizaria por ele. Nada mal para quem havia praticado mais de trinta assaltos, entretanto, na cadeia, adotou uma atitude humilde, estratégia à qual atribui a tal sobrevivência e o querer mudar de vida. Os outros que tinham fama de bandidos perigosos, sangue nos olhos, só um está vivo.

Com disso acima quando Juquinha foi libertado o policial lhe entregou a caixa de engraxar sapatos, senti que sua fisionomia realmente mudou para o bem e jurou pra mim nunca mais por os pés naquela Delegacia. Assim, dias depois, naquele encontro casual perto de minha residência perguntei-lhe se era mais feliz engraxando sapatos, e ele, com jeito maroto de quem sobreviveu ao mundo do crime, respondeu com um sorriso:
- Não tem nem comparação, doutor. Sabe o que é viver com medo? Hoje vivo sem ele. Qualquer veiculo policial imagino serem os justiceiros chegando! Imagino-me também entrando numa padaria para pedir uma média com pão e manteiga e não ter vergonha de sentar no banquinho e encarar as atendentes. Imagina-me doutor, agora de camisa branca e gravata. Estás diante de um campeão de vendas de uma loja de calçados... Posso dizer que eu venci e sobrevivi e sei também que o senhor foi engraxate como eu e venceu e sobreviveu a muitas batalhas durante sua existência... Olhei fixamente no rosto do elegante Juquinha cujos olhos já lacrimejavam, disse-lhe: Verdade, o ano de 2017 chegou e posso lhe afirmar que você me surpreendeu, tornou-se um vencedor como eu e sobreviveu aos percalços que a vida nos impôs.


Mundo desigual

domingo, 18 de dezembro de 2016


Voltar ao passado depois de viver décadas à procura do saber, de entender as pessoas é como decifrar sinais sem ter tido a sapiência necessária para, pelo menos, tentar saber o que querem da vida e o que pretendem enxergar no futuro. Voltar a ser de repente tão frágil como a uma criança seria como forçar a barra diante de Deus. Impossível! E é isso o que eu sinto neste momento de reflexão... E refletindo vou me enredando, conspirando, intrigando, juntando, ligando, maquinando, prendendo, tramando, unindo, urdindo diante do meu próprio universo. Em certos momentos, ao trazer de volta alguns pensamentos arquivados num mundo incógnito comecei a refletir: “Deus é isto. Deus é beleza que se ouve e se manifesta no silêncio”. E eu ali debruçado na janela pensando: Quanto mais desciam águas pelo vão quadriculado entendia o motivo daqueles minúsculos espelhos d’água se debater sobre ela. Tudo ali parecia orquestrado pela natureza que tentava me convencer que eu vivia num mundo desigual. Que vivia no planeta do absurdo, e o pior que é verdade. Mas o mundo tão belo e rico que se estampava diante de meus olhos era clarividente a desigualdade, infelizmente. Ele mostrava seu contraste longe ali, lá e acolá ou até onde meus olhos alcançava

Mundo desigual mesmo. Doenças que se alastram e algumas incuráveis, que deixam as pessoas desnorteadas tornando-as deficientes ou incapazes para o trabalho. Mas ali do alto da janela meus olhos desfrutavam de tanta beleza que jamais imaginaria outras coisas a nós impostas, e às vezes, achava serem apenas cenas represadas no meu subconsciente, mas não eram. Como contestar isso se os meios de comunicação mostram fatos novos todos os dias como: crianças e mulheres que se prostituem para sobreviverem; crimes de pedofilia, chacinas, roubos sequestros, corrupção, abuso do poder econômico que oprimem os menos favorecidos. Isto realmente não é irreal ou utopia, é pura realidade, uma realidade que se alastra como se fosse uma coisa natural característica da própria espécie humana. E é aí que tento refletir sobre isso, mas às vezes sinto os meus passos regredirem quando muitos outros avançam; vejo pássaros adentrarem em ninhos como o sangue faz em nossas veias, mas este, sempre com o rumo certo: o coração. Até mesmo as rédeas que nos amarra podem estar unindo também nossos destinos. É como se a gente fosse um diamante bem lapidado brilhando em almas serenas.

Como pode a gente ter sentimentos e não ter a capacidade de discernimento, nem o mais claro proceder ou amplitude do que pensamos de nós mesmos. Nem o mais claro proceder, nem o pensamento mais amplo é capaz de se firmar, tudo muda quando trata-se de mero assistente e não condescendente. Geralmente nos distanciamos dos rancores e da violência, pois acreditamos que só o amor como a ciência nos tornam tão inocentes. O amor é turbilhão de pureza original, assim como o animal que mesmo feroz sussurra adocicado. Deu um tempo raça humana! Liberta-te dos jugos, das arrogâncias, dos fingimentos e insensatez! Ainda há tempo de amar, usar suas dedicatórias para Deus e voltar a ser menino. Ainda há tempo... Sim, a ampla janela aberta, talvez como se fosse pura magia, Deus entrará por ela com o seu manto o protegerá das manhãs frias e das incertezas de um novo amanhã..

Ao ver a multidão perdida na escuridão da vida e sem a presença de Deus, preocupei-me sobremaneira de ver muitos deles perderem a sua ligação com a igreja na qual foram batizados. Outros, sentindo-se excluídos pela sociedade, violentados moralmente e impossibilitados de terem acesso aos bens necessários para a sua sobrevivência, ficam frustrados e se deixam tomar pelo desânimo, deturpam-se as mentes e deturpadas, partem para as formas mais fáceis de ganhar dinheiro, exemplificado no tráfico de drogas, que tem levado muitos jovens ao crime e à morte prematura. Alguns, sem a orientação eficaz, mudam de religião como se estivessem trocando de roupa ou sem esperança, tornam-se indiferente a tudo, fato que a igreja deve procurar saber para obter uma resposta mais adequada para combater os desafios aqui constatados.

Neste momento de reflexão, mesmo usufruindo das benesses de uma sombra e o sopro do vento que vem de um céu coberto por nuvens, comecei a entender realmente que não só a sociedade brasileira está na UTI, mas todo o planeta Terra. A doença do egoísmo e da maldade domina todo o sistema, onde, de forma excludente, não se consegue realçar a solidariedade como valor extremamente capaz de forjar um mundo mais humano e fraterno. È necessário que a perda progressiva do seu senso ético e o próprio individualismo como se fosse uma doença incurável, possa ser retirada com a inserção do bisturi do amor, juntamente com a raiz da justiça, que está sendo vilipendiada dia a dia possa se recuperar diante da opinião pública, deixar bons exemplos para que o povo sofrido, o indefeso, os mais fracos e os menos favorecidos possam enxergar uma luz no fim do túnel e quiçá, um dia, o mundo deixe de ser desigual.


Augusto Matraca e o Reino da Utopia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Não sei se é minha imaginação criativa ou vivo num mundo que parece não ter existência real, ou qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade. Será que vivo realmente no Reino da Utopia? Parece que sim, pois de repente vejo que tudo vai ficando tão complicado que me assusta. Assusta porque o povo vai perdendo as necessidades; vai reduzindo a bagagem e aí vem à desesperança e a falta de dinheiro nem se fala. Escutamos as opiniões dos outros, mas não combinam com as nossas, são realmente dos outros, e mesmo que seja sobre a gente, não damos a mínima importância. O Reino vai se despedaçando e nós vamos abrindo mão das certezas, pois já não temos certeza de nada. E isso faz falta e muito, principalmente quando paramos de lutar por ele, quando não sabemos o que é certo e o que é errado ou se realmente existe a palavra certa ou errada. Será que é esta vida que cada um escolheu para experimentar neste Reino da utopia ou fantasioso. Todavia, entendemos que tudo o que importa é lutar por dias melhores, vivermos paz, sem medo de expressar a verdade, de lutar por aquilo que sonhamos, de fazer aquilo que é certo e que nos alegra, de realizar tudo aquilo que nos faz bem e que nos deixa feliz.
 
Ao lerem esta crônica peço para não confundirem o nome Augusto Matraca com personagem de um filme brasileiro “A hora e a vez de Augusto Matraga” que passou nas telas de cinema há décadas, ou mesmo com um instrumento de percussão formado por tabuinhas movediças, ou argolas de ferro que, ao serem agitadas, percutem a prancheta em que se acham presas e produzem uma séria de estalos secos; não confundir também com aquela ave passeriforme da família formicarídeos que tem o seu maior habitat nas regiões tropicais. Esta crônica também não foi escrita para falar sobre a matraca, aquele instrumento muito usado na roça para o plantio de sementes, entretanto, esta peça de quem falo foi usado por várias gerações, e hoje, o povo o usa como forma pejorativa e até cômica como meio de separar as pessoas educadas, responsáveis e éticas, das tagarelas, das falantes, mais conhecidas como “matracas”.

A história que vou contar, de forma ficcional parece fantasiosa, utópica, mas foi extraída de fatos reais que pessoas vêem e lêem diariamente nos jornais, rádio e televisão; notícias que mostram e falam de coisas espalhafatosas, escabrosas, horripilantes; notícias que falam de crimes do colarinho branco, seqüestros, pedofilias, assaltos, roubos, malversação do dinheiro público, peculato e ainda, sobre a corrupção generalizada e tantos outros males que infestam o nosso Reino, que, se tivesse que descrevê-los um a um, o editor do jornal teria que me ceder uma página inteira ou duas páginas para concluir esta crônica.

Bem caro leitor, o Augusto, personagem desta história, representa aquelas pessoas que diziam ou se dizem respeitados, venerados, magníficos, magnânimos, os maiores dos maiores... Pessoas que se achavam ou ainda se acham intocáveis e ninguém os deve contrariar ou subjugá-los porque se isso vir a acontecer, esse alguém poderia considerar-se “perdido”... Mas, perdidos estão eles, e sozinhos...

Certo dia, com o sol bastante escaldante no Reino da Utopia, eu adentrei num restaurante central, perto da Casa Legislativa, para degustar uma saborosa pizza quando ouvi um grupo de pequenos agricultores comentando sobre a corrupção que assola o Reino. Falavam também sobre a falta de segurança, a precariedade da saúde pública e tantos outros crimes e mazelas praticadas por autoridades públicas, alguns sequer tinham sido eleitos pelo povo, mas tinham lá seus padrinhos políticos.

Ajeitei uma mesa e fiquei atento naquele debate popular, até certo ponto caloroso, pois notei que tinham opiniões diferentes, todavia, como cronista não poderia passar para o papel os erros de pronúncia daqueles matutos agricultores, então resolvi usar as regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia ou uso correto das palavras e o fiz para que a conversa entre eles ficasse entendível. Então segue parte da prosa:

- Compadre Zeca, eu já não agüento mais ouvir falar em política. Logo de manhã ligo a televisão e só escuto falação, é gente graúda querendo se livrar da prisão iminente, pois dizem que em razão de uma delação premiada e Acordo de Leniência firmada por membros de uma grande empreiteira com a justiça, dizem que quase duzentas autoridades públicas estarão “enroladas” com a dita delação. Vi, não só um, mas vários políticos tentando safar-se de suas próprias falcatruas aprovando na calada da noite uma mudança na Lei Anticorrupção para se beneficiarem, e o pior, é que participaram daquela discussão na Casa de Leis até Ministro do Supremo Tribunal Federal concordando com a alteração da mencionada, cujo ato se aprovado pelo Senado representará ao Reino um retrocesso em relação às conquistas obtidas por toda a sociedade e que vão contra a própria iniciativa popular, cuja propositura foi assinada por mais de dois milhões de pessoas. Logo ele, um Ministro, que devia dar bons exemplos para as novas gerações parecia concordar com as alterações. Na alteração dos dispositivos da lei anticorrupção se destacou o Presidente do Senado, Romão Galheiros, que no mesmo dia da primeira votação tornou-se réu no Supremo Tribunal de nosso Reino. Comenta-se também o alcance dela em relação a um ex-presidente do Reino, Senhor Gula Pietro Brás da Silva, indiciado no processo denominado Operação Lava-Rato, indivíduo que poderia ter se tornado um estadista respeitado e o seu nome gravado de forma honrosa na memória do povo, mas o único legado que deixou foi extremamente negativo: um Reino endividado, empresas falidas e com o patamar de mais de vinte milhões de desempregados e uma inflação galopante. Coisa de louco!

- Compadre, o tal ex-presidente ainda se acha santo e o mais honesto do Reino. Ainda bem que moramos no Reino da Utopia que nada mais é do que uma ideia de civilização ideal, fantástica, imaginária. Um sistema ou plano que parece irrealizável, uma fantasia, um devaneio, uma ilusão, um sonho. O tal ex-presidente quando discursava parecia que o povo é que era o culpado, e hoje, continua acusando todo mundo pela situação caótica em que vive o nosso Reino. Ele esbraveja contra tudo e contra todos, renega os companheiros presos, acusa imprensa, o governo atual e até a própria justiça. Ligo a TV vêm mais notícias... A “coisa” está preta, fora do prumo, compadre Neca! Ontem à noite quando eu voltava do trabalho assisti a um noticiário televisivo apresentado pelo jornalista Jota Luz da Pena onde mostrava assaltos, assassinatos, prisões de traficantes, crimes de pedofilia, mortes de policiais ocorridos em várias partes do Reino, tudo de forma repetitiva e cansativa. Mudo de canal e me aparece o barbudo que vocês todos conhecem, suando igual gambá, falando baboseiras desconexas e um grupinho de gente aplaudindo o discurso de uma pessoa com ares de esclerosada. Passo para outro canal e sabe o que me aparece? Um pica-pau inquieto, enjoado, de voz fina que há tempos vem dando trabalho para o seu dublador, o qual deve sofrer com suas espertezas. - Finalizou.

- É compadre Joaquim, depois de te ouvir chego à conclusão que o nosso Reino está fora do prumo mesmo! Além de tudo isso, tem muito político falando demais, mas tudo pra esconder as suas “maracutaias”. Esses sim são denominados de “matracas” que falam até escumar o canto da boca, não enxerga o próprio umbigo e nada produzem para o nosso Reino. Não apresentam propostas concretas para estabelecer a ordem social, muito pelo contrário... Tem administrador público e ou mesmo políticos que os apóiam não querem que projetos de interesse do povo sejam aprovados no Legislativo, mas se for, tem que ser do jeito que eles planejam, ou seja, desde que em beneficio próprio. Mas ultimamente as carapuças estão se enfiando, mesmo devagar, nas cabeças daqueles que se acham maior que a lei e acima da vontade popular.

- Concordo com você Toninho! Carapuça neles! Muitos desses que já nem ligam em usar a carapuça, continuam aproveitando da pobreza para angariar votos, dando-lhes míseras ajuda, mas esqueceram que todos querem é dignidade, emprego decente para sustentar a família.

- Toninho, você tem razão. Esses caras enganadores têm que ser punidos pela justiça ou serem excluídos através do voto – é a única arma que povo tem. Um dia eles vão cair na real, como já aconteceu com muitos que foram derrotados nas últimas eleições, vão ter que respeitar o povo e não continuarem dizendo de forma acintosa e desrespeitosa: “Estou me lixando para a imprensa e para o que o povo pensa”. Complementou Joaquim.

Enquanto eles discutiam, imagens e situações vividas no mundo político vinham à minha mente e de algum modo ao ver a maneira simples e até caipira de se dialogarem senti que tinham razão. Olhei para o lado, talvez aqueles pequenos agricultores nem tivessem percebido, estava bem pertinho de nós um dos nossos maiores personagens: O Augusto Matraca. Ele fazia parte dos esquemas, era um político astuto, corrupto ao extremo, que se considerava um ser superior, o maior de todos, “manda chuva”, mas, naquele momento estava cabisbaixo, com o olhar absorto, pensativo. Observei que ele se escondia atrás de óculos escuros e um boné enfiado no couro cabeludo, mas ouvia atentamente o bate papo daqueles humildes trabalhadores e ele parecia reconhecer de que havia muita filosofia de vida, conhecimento e discernimento político em seus comentários por mais que o português não fosse pronunciado corretamente.

Com certo receio de ser reconhecido, pediu a conta, pagou com cheque, talvez em formato de bumerangue e saiu de mansinho. Com o semblante preocupado aquele dito personagem, que eu o denominei de Augusto, passou rente à mesa de cabeça baixa e foi fácil observar que naquele momento as palavras dos trabalhadores tinham lhe tocado a consciência e talvez, colocado sobre sua cabeça, uma imensa carapuça, afinal, até pouco tempo detinha o poder, mas, agora, estava ali, sozinho numa mesa de bar, com receio de ser reconhecido ou até ser expulso de lá como vem acontecendo com outros políticos corruptos em restaurantes e aeroportos do Reino. Eu tinha a absoluta certeza de que o que lhe doía e muito era falta de atenção e os despercebidos olhares daqueles que o elegeu, que outrora o bajulava, os quais, muitas vezes, através de suas ações, boas ou ruins, dependiam da falta de escrúpulos e astúcia dele.

Flashes da vida em preto e branco

domingo, 27 de novembro de 2016


Se fosse descrever a minha vida ou mesmo tentar incluir a de vocês, eu diria que já vivemos momentos terríveis, alguns deles, têm-se a absoluta certeza de que foram fotografadas pela máquina do tempo em preto e branco, e na maioria das vezes, estas partículas ásperas retiradas da memória, revelaram alegrias, tristezas, encantos e desencantos insolúveis que foram repaginados para o futuro, em tons sépia com envelhecimento que se entranharam em nossa vida, às vezes, feitas realmente em preto e branco, porém, em razão da real situação momentânea que levamos, momentos estes retratados como se fossem uma coisa normal para quem não busca ou não consegue sair dessa anormalidade e quiçá, soltar as rédeas desse tempo e sair à procura do pincel da vida para colori-la de uma forma diferente, com amor, respeito, carinho e paz interior.

Em nossas vidas não existem tantas pedras preciosas. Existem pedras que são obstáculos naturais que se fazem retirar ou foram eternas imagens de alegria, onde a maioria procura receber tons alegres de lutas sucedidas de vitórias, realização de sonhos, símbolos muito difíceis, mas que angariam valores pelo resultado alcançado por cada um de nós. Toda pessoa sonha com um futuro melhor, ser bem sucedida em alguma coisa e isso é bom, pois todos vão alimentando de esperança o amanhã. Imagine o que seria de nossa existência sem ter com o que sonhar. Certamente ela não teria o mesmo sentido, visto que, às vezes, os sonhos nos levam a alcançar aquilo que parece impossível.

É certo que existem pessoas que vivem em preto e branco, desesperançado, desiludido. Todavia se pudessem ter um olhar mais simples sobre o seu modo de viver, poderia ser mais interessante, ou em ultimo estágio, procurar no Altar do Senhor Jesus o milagre tão esperado e o anjo da guarda para continuar enfrentando as labutas do dia a dia. Lendo a Bíblia, seja por inteiro ou não, sempre encontraremos palavras dizendo que Deus em sua infinita bondade, atribuiu a cada homem um Anjo, que acompanha todas as suas ações e passos; anjos que os protege contra os perigos do corpo e da alma, mas, infelizmente, a maioria deles parece que não se beneficia devidamente desse celeste protetor porque sequer se lembra que ele existe ou mesmo acredita nele. Os crédulos podem dizer que têm mais de um anjo. Quantas pessoas amigas nos protegem diariamente, sem contar aqueles que nos deixaram e se foram para outra dimensão, pelos quais oramos pra eles todos os dias. Podemos afirmar então que não temos anjos somente no mundo espiritual e ou mesmo no da imaginação, possuímos aqui na terra também, podem até serem poucos, mas valem quando vemos suas mãos estendidas quando mais precisamos.

Neste momento que escrevo, apago da minha memória o preto e branco para viver o colorido da vida. Sinto cair sobre mim um desejo ardente de agradecimento e até certo ponto inenarrável. Ao manusear o teclado do computador e passar para o monitor esta crônica, tive que me segurar o máximo para conter as lágrimas que ameaçavam sair de meus olhos, mas, como sempre faço nestes momentos, levanto a cabeça, olho pelo vão da janela e vejo o céu nublado com prenúncio de chuvas abundantes e aí respiro fundo tentando me controlar, afinal, eu não queria me parecer um fraco ou vitimizado perante essas pessoas que encheram minha vida de esperança e fé em dias melhores, haja vista que está longe o meu desejo que alguém fique decepcionado ou até sinta pena de mim. Quando ao papel de anjo que acho todos carregam dentro si, não posso nominá-los aqui, pois posso ferir alguém. Quantas pessoas especiais estão com a gente nos acompanhando de perto, diariamente, nos desejando muita alegria, saúde e paz? Quantas pessoas que nem precisam vestir-se de branco para ser nossos anjos da guarda? Quantas pessoas perambulam usando a máquina do tempo, sem os percalços impostos pelas curvas do destino? São seres sublimes que por meio de seus atos de bondade conseguem inserir em nossos corações durante toda a nossa existência a bondade, a perseverança, a dignidade e o amor ao próximo, fazendo com que seus exemplos nos façam agir também como anjos, todavia, para ajudar ou auxiliar alguém em um momento de necessidade, não precisamos ter asas, nem sermos anjos, basta apenas que tomemos a iniciativa de querer e poder ajudar. Pessoas amigas de verdade são raras, podem até não ter asas, mas se pedirmos para que sejam nossos anjos, elas reagem positivamente, deixam os flashes feitos em preto em branco, nos protegem e nos abrigam nas suas imaginárias e doces asas para que voltemos a viver o colorido da vida.


Bodas de "cabra macho".

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Diante do espelho de uma antiga penteadeira cuja moldura já estava corroída pelas traças Dona Francisca Cabribó observava seus cabelos compridos já grisalhos, às vezes os soltava ou os prendia no coque alto; rosto carcomido pelas intempéries do tempo, olhos cansados envoltos pela pele vincada por pequenas rugas; boca amarga travada para baixo, num desdém pelos sorrisos que já dera na vida, então pergunta a si mesmo se toda a sua vida é uma ilusão ou se é a corrosão de sua alma, do abandono de seus sonhos, do esquecimento de seus ideais ou de sua desistência da paixão? Evitava olhar no espelho e não mais importava ver como estava sua face que, talvez, quisesse esconder dela mesmo. Mas sabia ser difícil. Ela se lembrava sim, pois tudo fora diferente um dia e não tinha como esconder. Era cheia de energia, inquieta, transbordante, vivaz. Cabelos sempre bem penteados e por mais que ela vivesse em terra seca, árida e cercada por imensa caatinga, as maçãs do rosto estavam sempre coradas; os passos ágeis e os olhos arregalados, também estavam sempre prontos para absorver o mundo na sua totalidade. Num piscar de olhos vinha à sua mente aquela menina deslumbrada com a vida, correndo pela terra poeirenta de sol ardente como se estivesse carregando a tiracolo uma alma de criança. Sempre sonhou em morar numa cidade grande e viver de tear, confeccionar cobertas de puro algodão, bordar, tricotar, cujo ofício aprendera com a avó na Fazenda Serra do Cipó; casar-se com um príncipe encantado de cabelos loiros e montados num cavalo branco fossem para uma cidade grande e juntos, freqüentarem museus e ver obras maravilhosas, gente diferente e comerem guloseimas nos cafés oferecidos nos quiosques esparramados pela cidade, e à noite, se amarem no chão com loucura, sobre os tapetes bordados por suas mãos e pelas mãos angelicais de sua avó Ambrosina.

Quem não traz consigo um sonho não realizado? Quem não traz lembranças agradáveis de tempos de criança? Quem não se lembraria das brincadeiras de roda, amarelinha, passa anel, peteca, pata-choca, pular corda e tantas outras invenções, pois naquele tempo elas não tinham as dificuldades encontradas nos dias de hoje, pois tudo está colocado à disposição, mas havia outras opções para se divertirem? Pode ser saudosismo de dona Francisca, mas é importante voltar um pouco no tempo e recordar as horas em que se divertiam, inclusive, jogando conversa fora ou combinando traquinagem com as amigas.

Mas tudo tem o seu tempo e certo dia, contrariando todo um sonho, conheceu um jovem peão boiadeiro e logo se encantou com ele. Começaram a namorar. No começo mais parecia empolgação, depois se tornou sério e em pouco tempo, veio à aprovação da família. E, quando ela se deu conta já estava “amarrada” ao gajo, sentindo-se, talvez, que não era aquela vida que queria para si, mas de nada adiantava, pois já estava tudo consumado. Noivou-se. Sua família já olhava o casal com expectativa. Enquanto os sinos badalavam Francisca pensou em desistir e andou pela nave da igreja como o coração apertado. O jovem peão a esperava sorrindo e ela não resistiu ao seu encanto e se entregou. Casou. Teve doze filhos, netos e bisnetos. Grandes alegrias tiverem. Algumas tristezas também. Um amor ora era quente, ora morno. Rotinas de dona de casa eram o normal. Suas telas que foram trabalhadas pacientemente no tear iam se apinhando nas paredes da sala. Linhas de várias cores iam formando os desenhos imaginados e desenhados numa folha de papel. Os anos se passaram e certo dia, festivo, passou frente ao espelho ainda cheirando coisa nova, moldura mantendo resistência ao tempo, deu uma olhada de soslaio e se preparou para descer ao salão já ornamentado, onde encontraria toda a sua família e o marido, exceto a outra, a concubina, dia em que iria comemorar suas bodas de diamante, que ele insistia e até se vangloriava em chamar de “bodas de cabra macho.” Talvez fosse normal naquela região nordestina o homem convivesse com uma ou mais mulheres, cuja razão se desconhece.

Ele estava completando sessenta anos de casamento com Francisca Cabribó e noutra região não muito longe, a sua concubina Saturnina Fricó e seus doze filhos, mesmo sem sua presença, comemoravam também as bodas de diamante. Francisca Cabribó ficou sabendo da concubinagem poucos dias depois do seu casamento, mas mesmo assim, independentemente dessa famigerada convivência conjugal dupla de seu marido, procurou manter-se sóbria, feliz e suspirava todos os dias, pensando de como seria sua vida se tivesse feito outra escolha. Antes de descer a pequena escada do casarão feito de assoalho de tábuas e paredes de puro adobe olhou para um dos seus quadros pendurados na parede onde se via bordado uma paisagem primaveril, que ela extraíra de uma região que jamais conhecera e de outro lado, outro quadro, com uma foto, um peão, mas sem o cavalo branco, estava junto com um homem de olhos azuis, calvo, sentados num banco de madeira olhando os filhos brincar ao entardecer. Na foto tirada há décadas por um lambe-lambe, não era o tão sonhado príncipe encantado. Era o seu marido Manoel Justino. Todavia, como o amor falou mais alto, olhou mais uma vez e sua boca travou-se na emoção e no amargor que não vinha do café com açúcar que costumava adoçar todas as manhãs. Deu um leve sorriso e prosseguiu...

Sentado num confortável banco de madeira Manoel Justino jogava conversa fora com os filhos e amigos, mas os seus olhos não deixavam de contemplar o cair da tarde no pequeno sítio Mandruvá no interior do Ceará. Pela ribanceira um filete de água cristalina descia serpenteando entre os declives da mata nativa, cercada de pedregulhos, brejal e coqueiros, dando vida ao local e pouco adiante, cair em cachoeira, e por onde passava ia transformando em campos verdejantes, fazendo os ventos brincarem de montanha-russa e roçar os pés de mandioca e milho que se alastravam pela ribanceira até alcançar a parte do córrego Mandruvá, nome que deu origem ao sítio. Indiferente a tudo, as águas não viam as horas passar e tampouco tinha tempo para parar e ouvir as prosas contadas por Manoel Justino.



Carolina, a guerreira.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016


Ontem, 15 de novembro, comemoraram-se em todo o Brasil a Proclamação da República. Hoje, no entanto, mesmo sendo de suma importância essa data para os brasileiros, eu deixo de escrever aqui sobre este ato solene ocorrido há mais de cem anos. Se me permitem, quero é falar da saudosa Carolina que no dia 15 de novembro de 2011 se foi pra outra dimensão deixando além da saudade, uma história de vida exemplar, vivida nesta terra com muita honradez, humildade, garra e perseverança. A cada dia quando me lembro dela aprendo com meus erros ou acertos o quão é importante é saber que todo o dia vivo algo novo. Aprendo a vislumbrar o hoje e o dia de amanhã de uma forma diferente do de ontem e vivê-lo intensamente com muita paz e esperança, pois a vida é uma dádiva e cada momento vivido é uma bênção de Deus. Sei que ela passou dias difíceis naquele leito de hospital. Mas a vida é assim. Tem situações que parecem complicadas e custamos a entender. Pode ser incompreensível para muitos em se tratando de morte, não obstante sabermos que um dia ela virá com todo o seu mistério e que jamais será desvendado porque só Deus sabe o momento de subirmos ou descer os degraus da vida e nos mostrar o caminho da luz. Cercada de virtuosidades, dona Carolina deixou esta terra depois de uma luta intensa pela sobrevivência e ontem, quando se completou cinco anos de seu falecimento, senti-me novamente tocado pela dor e saudade restando-me a  reflexão e o desejo de lembrar-se do seu passado feito de muita garra, amor, sabedoria e virtude

Quais dos filhos não se lembrariam daquele pequeno ônibus onde ela, juntamente com eles, deixou a pequena cidade de Morrinhos, em busca de um novo lar, de uma vida melhor na Capital. Pela estrada de chão, esburacada, o ônibus seguia célere deixando para trás uma poeira fina que se esparramava com o auxílio do vento, apagando imagens de um passado como se nela tivesse sido impregnada a borracha do tempo, e lá dentro, sacudidos pela trepidação, outros passageiros também sonhavam com um mundo melhor, mas, receosos de não conseguirem alcançarem os seus intentos seguiam silenciosos. Pela fresta da janela passava o vento que acariciava o seu rosto triste, mas não impedia que sua mente contabilizasse os quilômetros emplacados estrada afora, e de forma sutil, seus olhos ainda tinham a sensibilidade de contemplar a natureza, cujos vales, serras e montes iam passando velozmente à medida que o veículo seguia rumo ao seu destino. O seu semblante jovem transpirava dor e saudade do esposo que falecera de forma trágica, no entanto, mesmo assim, soube manusear as rédeas do destino, frear e puxar  o cabresto que construiu usando cordas de ternura que acostava aos filhos, para, no momento certo, poder puxar, exigir ou se recusar, até de forma obstinada, qualquer coisa que lhe contrariasse ou entristecia seu coração.

Naquele ônibus, antes de afundar no seu mar de sonhos Carolina sabia que mais adiante, mesmo sem teto, não poderia se curvar diante das adversidades que surgiriam, pois teria que sustentar e agasalhar nove filhos,   talvez, fazendo faxinas em residências ou usando os carrinhos da vida para buscar peças de roupas em bairros distantes, lavá-las no tanque da integridade e pendurá-las no varal da vida sob um sol escaldante. Tempo em que talvez não tenha contabilizado; tempo que lhe consumiu o corpo e fez aparecer os     primeiros cabelos brancos protagonizados por este mesmo tempo.

Carolina viu os seus filhos crescerem imbuídos de responsabilidade, honestidade, dignidade e respeito ao ser humano. Carolina que mesmo doente se preocupava com tudo, cuidava de todos com esmero e carinho, servindo-se de modelo para seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos, fazendo-os entender que o amor faz gerar sorrisos e que amar significava querer mais e mais de uma pessoa. Ela foi assim: sempre procurou ensinar corretamente, de forma que todos pudessem compreender os seus próprios sentimentos, quando na verdade, poucos compreendiam e, muitas vezes, lhe pedia aquilo que não podia dar.

Ontem, 15 de novembro, quando se completou cinco anos de sua “passagem” para outra dimensão, ela continua pulverizando sobre todos que a rodeavam, o amor e virtudes. Foi com ela o sorriso angelical; foi com ela o jeito simples de fazer crochê e tapetes que eram montados com retalhos de tecidos multicoloridos; foi com ela a vontade férrea de viver; foi com ela a batuta que regeu, como um maestro, a vida de cada um de seus filhos, tudo embalado pela sinfonia de sua própria vida. Mãe Carolina, seus filhos reconhecem que você deixou um legado de carinho, amor ao próximo e virtuosidade, por isso é que todos a consideram uma guerreira.  Mãe desculpe por escrever este texto como se eu fosse um escriba, todavia, o fiz assim para poder registrar nos anais da história a sua vida e ao final dizer-lhe: Mãe Carolina, você foi uma guerreira, amparou os seus filhos, me transformou num homem justo, ensinou-me o caminho da retidão e a defender os injustiçados. Caros leitores, ao finalizar, eu não poderia deixar colocar uma frase que vi num calendário: “Há muita dor que precisa ser curada, há muito choro  sufocado, há muita injustiça para ser vencida. Em tudo isso, a certeza de que só Deus é a resposta. Deus não explica a dor, mas, na cruz, ressuscita a esperança e o amor”


Festa do folclore em Goiás

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Nos dias 17 e 18 de novembro, na Vila Cultural Cora Coralina, será realizado o 1.º Encontro das Comissões Municipais de Folclore com participação de várias cidades, sob a coordenação da Comissão Goiana de Folclore, presidida pela senhora Izabel Signorelli. Seja através do folclore ou não, sabemos que a arte é uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, jeito de vestir, harmonia, equilíbrio. A arte pode ser representada através de várias formas, em especial, na escultura, na pintura, no cinema, e principalmente, no que tange ao folclore, que é o tema do qual ora pretendo comentar. Sabemos também que há milhares de anos a arte foi se evoluindo e ocupando um importantíssimo espaço na sociedade, haja vista que algumas representações de artes são indispensáveis para muitas pessoas nos dias atuais. Esses trabalhos artísticos assim como o folclore, são capazes de nos deixar boquiabertos, sejam diante de telas, sejam através de trajes típicos, sejam através das danças e estilos musicais regionais, todos massageiam o nosso ego, trazendo pura magia e expressões surrealistas que nos deixam atônitos, encantados. Em seu artigo “O folclore avança em Goiás” o escritor Bariani Ortêncio disse: “O folclore é a sabedoria do povo. E esta sabedoria vem passando das pessoas simples que recebem dos seus ancestrais, de geração a geração, dos analfabetos até os instruídos. “E o folclore não fica só com o povo simples, sem instrução; chega à sociedade, às camadas cultas, influi e incentiva as letras e as artes”. È a mais pura verdade!

Muitas pessoas dizem não ter interesse pelo folclore ou por movimentos ligados a ele, porém o que elas não imaginam é que esta arte nada mais é que a tradição e usos populares, constituído pelos costumes e tradições transmitidos de geração em geração. Todos os municípios sejam de qualquer parte do Brasil possuem suas tradições, crenças e superstições, que se transmitem através das tradições, lendas, contos, provérbios, canções, danças, artesanato, jogos, religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas e dialetos característicos, adivinhações, festas e outras atividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo. A arte folclórica é praticada em todo o mundo, em diferentes culturas. Quando Bariani disse em seu artigo que o folclore incentiva as letras e outras artes, concordei plenamente, pois foi através dele também que me enveredei pelo mundo das letras, escrevendo crônicas, poesias e romances, sempre tendo nas entrelinhas de cada texto um pouco dessa arte milenar. É importante observar que essas coisas não se governam, elas tomam conta da gente e fazem a gente sonhar com o possível e o impossível.

Os artigos, crônicas e poesias escritas semanalmente em jornais por grandes escritores e articulistas, também é uma arte que muitas vezes nos trazem o espanto, um sentimento corriqueiro ou um acontecimento inusitado que pode abalar a sociedade em razão de sua contundência. Os escritores que escrevem no seu habitat gostam do silêncio porque ele o faz viajar no mundo da imaginação e o barulho, por menor que seja, os espantam, tiram deles a máquina imaginária que poderia trazer, no último flash, uma resposta plausível à sociedade. A Arte seja a pintura, a música, a dança, o cinema, de uma maneira geral é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida, já o folclore, vai mais além disso, pois ele é sinônimo de cultura popular e representa a identidade social de uma comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais, e é também uma parte essencial da cultura de cada nação.

A arte está em toda parte e, por mais simplórios que possamos ser, por mais embrutecidos que venhamos a ser, cada um de nós tem a noção da beleza e a arte atua em nossa vida, nas suas mais variadas formas. Todas elas são necessárias, porque é só através da arte que o homem inventa o mundo em que vive e todos nós estamos em maior ou menor grau, dependentes dela. Observem que o homem do sertão, que por si só, já é um artista por natureza, pois quando ouve o cantar dos pássaros sabe que já é época de acasalamento ou de alçar os primeiros voos ou quando se reúne em volta da fogueira para contar seus causos de saci, onça pintada, vampiros, quadrilha, festa junina, tudo é folclore, o qual nada mais é do que a reinvenção da vida através da beleza da arte.

Todos nós artistas sabemos que a arte trabalha com outros elementos que não a razão e emoção e quanto a isso devemos lembrar que o folclore não é um conhecimento cristalizado, embora se enraíze em tradições antigas, mas ele se transforma no contato entre culturas distintas, entre migrações, e hoje graças aos meios de comunicação principalmente através internet é que vemos expandir essa arte que pode ser vista ou vivida por pessoas que dizem desconhecer. Cabe a UNESCO orientar as comunidades no sentido de bem administrar sua herança folclórica, sabendo que o progresso e as mudanças que ele provoca podem tanto enriquecer uma cultura como destruí-la para sempre. A arte folclórica não quer agradar, ela não busca o agrado, ela busca um sentimento que nos tire do chão, que nos leve para um lugar onde não frequentamos em nossos dias comuns; ele nos entorta a cabeça, nos faz pensar, e às vezes, duvidar de tudo aquilo que presenciamos a olho nu. A vida, comum, não é o suficiente, deve-se procurar algo além dela, pois se ficarmos parado, mesmo que metaforicamente, é o primeiro passo rumo à morte e isso o artista não almeja. Se o artista optar apenas pela sobrevivência e não pela expressão máxima do que é o prazer pela própria vida de nada adiantará uma bela apresentação sobre um palco, ruas ou praças. E como disse Bariani Ortêncio: “Estudar o folclore é estudar o próprio povo, com tudo o que lhe diz respeito. É o exemplo, como vimos,  de tudo o que vem do passado, transmitido através das gerações”. Mais uma verdade dita pelo mestre, pois o folclore no eleva e nos transporta a um mundo surreal, e é graças a ele que nos escritores romancistas e poetas viajamos em busca do improvável e isto nos deixa encantados e fascinados pela vida.


O andarilho e os obstáculos da vida...

domingo, 30 de outubro de 2016

Andava devagar, não tinha pressa e nem onde pretendia chegar. À minha frente uma luz brilhava intensamente e como por encanto, se aproximou de mim numa velocidade incrível e nem dei conta de contabilizar quantos segundos, apenas a vi se chocar contra o vento, que mesmo frio, me fazia gostar de viver caminhando sem rumo naquela estrada que delineei, mapeei e nem me importei de colocar nela um final. O vento frio passava e acariciava o meu rosto, abri os braços e senti-me flutuar, mesmo sem o auxilio do vento.

A cada passo meu coração batia descompassado, e á medida que a luz se aproximava tudo se alegrava ao meu redor, e o clarão serviu para me alertar que tinha pedras pontiagudas no chão. A estrada, de tão fria e úmida parecia realmente não ter fim. Uma estrada de terra de chão batido, ladeada de imensos arvoredos, capins, e entre eles se viam pequeninas flores brotarem. De longe tinha a certeza de que o caminho que seguia talvez não fosse tão importante assim, pois o destino pertence a Deus - porém o mais importante era a viagem despretensiosa que fazia. Ah Sim! Não há prazer maior de que estar sempre de malas prontas, mas naquela caminhada estava sem elas, levava apenas uma mochila nas costas, como a um andarilho que põe o pé na estrada e se deixa levar por ela, seja retilínea, seja curva, seja longa, mas seguia para o seu bel prazer, sem se importar se ela tinha ou não um final.

Os meus olhos brilhavam ao ver os primeiros raios de sol iluminar a terra e a lua desaparecer soberba no horizonte poente levando a noite consigo. Eu estava tranquilo, sereno. O sol extremamente quente fazia desaparecer a névoa fria e úmida à minha frente e ainda levava o brilho cintilante como estivesse transpassando um tênue véu branco, e mais do que o suficiente para amenizar o frio que me abraçou durante a noite. Mas uma vez sentia o vento passar veloz e assobiar em meus ouvidos e emaranhar os meus cabelos como se tudo ao meu redor já fizesse parte da sofreguidão de um andarilho. Seguia sem rumo certo, cruzava com outros andarilhos, ora em estradas de chão, ora asfaltada, e sem pestanejar acenava pra eles e prosseguia, mas sempre com o olhar atento naquela estrada sem fim.

Têm momentos que alguns caminhos não nos levam a lugar nenhum; têm momentos durante a caminhada que não devemos esperar nada no seu final, mas não devemos parar de seguir e nem deixar de lutar. Levantar quantas vezes puder mesmo se o caminho estiver cheio de pedras e espinhos. Pesadelos têm e podem trazer medos que assombram a nossa vida, nosso caminho, mas desistir jamais. Estar escrevendo neste momento me fez lembrar a palavra apatia, então, o jeito foi parar e pensar se estava apático mesmo. Daí pairou um silêncio no meu olhar que me fez desinteressar em procurar o rumo que devia seguir. Entendi, porém, que não podia mais parar principalmente naquele instante quando eu me encontrei ou encontrei a mim mesmo. O impossível numa estrada deserta de encontrar alguma coisa que alimente nossa mente, alma e espírito é só uma questão de tempo, mas quanto a mim, foi importante relembrar dos momentos que andei, às vezes com pés descalços, assim como, dos locais e situações em que me encontrava e me obrigavam a parar. Chão batido e poeirento, asfalto quente, terrenos férteis e inférteis, ilusões, enganos e desenganos, viajem solitária sem se sentir na solidão, era a sina de um andarilho principiante. Cair e levantar durante a caminhada entre pedras pontiagudas e trilhas estreitas cheias de espinhos trazia medos que sempre assombravam, podia ser difícil, mas não tão impossível, pois ao caminhar por quaisquer estradas somos desafiados a vencer obstáculos e superar todos os tipos de atropelos que a vida nos impõe dia a dia. Mas para sermos vencedores, temos que ser otimistas e coragem suficiente para transpor obstáculos que encontremos pela frente para, ao final, transformar nossos sonhos em realidade.


Vida e Morte andam lado a lado.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Já lidei várias vezes e bem de perto com a morte. Todo o dia relembro-me dos momentos fatídicos, seja do primeiro acidente que sofri junto com outros amigos quando o veículo em que viajávamos capotou; seja durante as várias cirurgias que fiz com grau de risco muito grande, cujos desfechos provam que lidei de perto com ela, ou expressando melhor, ela é que esteve muito perto de mim... Sei que ela existe e isso ninguém pode negar e que, inevitavelmente, apesar de ser a maior inimiga da nossa existência, vida e morte andam lado a lado e o jeito é não vacilar, respeitando a Vida e encarando a Morte com naturalidade, mas sem subestimá-la e desrespeitá-la. A nossa vida pertence a Deus e só ELE pode tirá-la de nós e qual o momento de nos enviar a “passagem”. 

Já lidei de perto com a morte desde criança. Quantos entes queridos e amigos que se foram para outra dimensão, como a minha mãe, por exemplo, que deixou para os filhos e netos o legado de mulher guerreira e que fora levada pelo tempo, sem motivo, como se ela fosse uma simples folha seca... Era uma mulher sem realeza, que à noite, assim como nós, mesmo com os olhos embaçados, também debruçava na janela, sem nada a reclamar, sem expressar sorrisos, ou sem sentir-se dominada por um exército de gente que não procurou entender e nem saber que ela também sonhava. Quanto ao meu pai que faleceu ainda jovem e eu só tinha apenas cinco anos, então, nesse caso, não posso dizer que não cheguei a lidar com a morte. Lidei sim! Tenho uma vaga lembrança dele, inclusive, do dia em que o vi pela ultima vez com o corpo estirado no chão sendo queimado por fios elétricos de alta tensão. É vago, mas minha mente ainda relembra os  matos  verdes e capins que não resistiam e quedavam-se diante das labaredas elétricas. Devo confessar que nem chorei, porque os caríssimos leitores hão de compreender que era apenas uma criança e para mim aquilo era surreal, incompreensível. Parecia um filme de terror que a mim devia ser proibido. Diria até que o que senti era apenas uma forma heurística, uma verdade que não aceitava e que podia me inculcar ou quedar-me diante de um exercício de alquimia, mas era pequeno demais para entender aquilo, sobre o que é ser morte ou sobre a existência ou não de coisas filosofais. Era pequeno demais para entender aquela cena e compreensível os fantasmas não me perseguirem e não quererem me adotar. Achei esquisito como a morte se apresentou para mim pela primeira vez, daquele modo, ainda criança, de forma tão violenta e cruel. Eu era apenas um menino a ser lapidado que necessitava primeiro ser carbono, ter a temperatura elevada para me tornar valioso, pois a ausência nem sempre evolui para a saudade, mas em relação ao meu pai, as duas evoluíam sim. Foi uma experiência pela qual passei, mas que de uma forma mesmo vaga relembro, abraçando com minha irmã caçula como se tivesse acontecido à outro ser vivente e não em relação a mim.

É correto e entendível dizer que quando uma pessoa morre o mundo não morre com ele. A vida continua, é como se nada tivesse acontecido, é como se a Terra contabilizasse menos um ser vivo a habitá-la. Quando uma pessoa morre se de forma violenta, ou calmamente, na UTI de um hospital, em casa rodeada pelos seus familiares ou num beco frio e escuro, acredito que não seja difícil pra ela. Morreu e pronto! Mas existem pessoas que antecipam sua morte, quer por depressão, motivo vil, transtornos mentais ou psíquicos, suicida-se. Morte natural, acidental ou suicídio todos param de pensar, de respirar, de falar, de sentir... A morte não é difícil para os partem para outra dimensão, mas para os ficam sim. Para nós viventes o mundo não pára. O mundo não pára assim como a Terra também não, mas toda a vida dos que permanecem e assistem à partida de um dos seus entes queridos, pára, mas é compreensível. Para eles a vida pode parar, mas teimoso que sou e de ter vivenciado tantas mortes e sobrevivido a tantas em relação ao que passei, descobri através da escrita a fórmula mágica de entender tudo isso e de alguma forma levar mensagens de fé, otimismo, esperança e dias melhores às mais longínquas regiões do mundo. È importante salientar que enquanto milhões de seres vivos na terra deixam de respirar, outros milhões ou quiçá, bilhões nascem. Mas no meio desses milhões quando alguém próximo de nós morre tudo é diferente... Sentimos a dor da morte desse alguém que amamos é pesaroso, o coração dói e lágrimas saem. Por momentos, desejamos poder partir também ou imploramos para aquele que partiu para outra dimensão, volte.

Com o seu passamento derramamos lágrimas de pesar, mesmo que essa forma de expressão nos pareça pouca para tanta dor e sofrimento que sentimos. Vêm notícias que nos pegam de surpresa: a perda de entes queridos, mais uma pessoa amada, mais uma alma que se vai. Ouço pessoas amigas dizerem que perdeu uma avó, pais perderam mães, filhos em acidentes e vice versa. A TV ou em jornais noticiam que o mundo perdeu uma pessoa extraordinária, uma celebridade, no entanto, a vida continua. É horrível dizer isso, é doloroso, mas não temos alternativa para expressar palavras mais acalentadoras. É horrível sim perder alguém que foi tão especial para nós. É horrível não saber o que fazer para consolar a pessoa amiga que acabou de perder parte de si.

Mas acredito que todos nós temos uma alma. E que a morte não é o fim. Não verdadeiramente. Devemos acreditar que a alma dos avôs, dos pais e dos filhos que se foram está neste momento no Paraíso, felizes, talvez como nunca estiverem antes. Suas vidas foram desatadas e chegaram ao fim, mas todos irão continuar a viver no coração de cada um de nós. Não se vive para sempre, mas deve-se viver no coração das pessoas que os amavam. Uma pessoa nunca morre realmente se a mantermos viva em nossa mente e coração.



No topo do meu diminuto mundo.

domingo, 16 de outubro de 2016

A crônica é um texto curto que trata de fatos do cotidiano com lirismo, muitas vezes, acompanhado de frases de efeito, de reflexões e críticas. A crônica que ora escrevo eu a caracterizo como argumentativa, pois ela não se limita a retratar um fato, um local de pequenas dimensões, mas sim poder formular uma tese e me defender com argumentos precisos. Demonstrar que quando falo em “diminuto” não quer dizer que o meu mundo seja tão pequeno assim, apenas não quero apossar de outros que orbitam à minha volta. Nesta crônica que intitulei: "No topo do meu diminuto mundo", quero abordar o tema “como escrever para alcançar corações sofridos e sentimentos vários” e quiçá, talvez, usá-la como recurso para obtenção da fama e de como chegar ao topo. A tese apresentada por mim é de que: "ser famoso ou reconhecido na sociedade por qualquer pessoa é mais que um sonho: é uma exigência de nossa época. Cada um faz o que pode para se sobressair e deixar seu nome nos anais da história e isso ninguém pode negar. Quais seriam os argumentos que devo utilizar para sustentar minha tese? Você é contra ou a favor dessa prática?

De certa maneira, quer queiram ou não, todos nós queremos ver nossos nomes escritos por aí, nem que seja ter uma simples foto ou nome estampado em jornais ou revistas. Quanta gente não daria tudo para aparecer na televisão, participar de programas de auditórios que são assistidos por milhares de pessoas. Como já disse e repito: Ser famoso é mais que um sonho: é uma exigência da nossa época. Cada ser humano faz o que pode para se sobressair: uns praticam no futebol, atletismo, judô e tantos outros esportes, outros se destacam na matemática e física. Em política nem se fala. Ganhar as eleições é de menos, pois o negócio é aparecer uns segundinhos na propaganda eleitoral gratuita ou ver seus santinhos distribuídos nas ruas. Mas se a vida, por um lado, nos apresenta uma infinidade de caminhos a seguir, em muitos deles recebemos um “não” e até batem a porta em nossa cara. Mas convenhamos, existem as circunstâncias que são muito mais fortes que os nossos planos. Por exemplo: se você já estivesse com a idade avançada, filhos pequenos para criar, desempregada e surgisse uma oportunidade de emprego numa fábrica de cimento, dificilmente diria "não, obrigada. Trabalhar com produção de cimento não é a minha ambição na vida e tenho alergia a pó. Você finaliza e diz: Quero é ser veterinária e trabalhar com animais de estimação. Para o pessoal que tem o nome escrito na roupa e o símbolo da empresa no bolso nem ligam, pois o mundo não é esse, e os sonhos de liberdade e múltiplas escolhas que às vezes acreditamos ser, principalmente quando vivemos em um diminuto mundo, só a gente imagina como ele é.

O mundo que idealizamos talvez surreal, pode se tornar uma contradição em relação ao mundo real. É certo que ouvimos por todos os cantos: faça o que você quiser! Ouse, sonhe, vença e escolha seu próprio caminho! Seja original! Destaque-se no meio social em que vive! Noutros cantos, no entanto, encontramos todas as limitações da vida: quem tem estatura pequena jamais será jogador de basquete ou brilhará entre os grandes zagueiros de futebol; quem nasceu em uma favela dificilmente será diretor de uma multinacional ou se você é gordinho nunca será escolhido para praticar atletismo e terá dificuldade para se tornar modelo. Exemplos são muitos, por isso temos de fazer com que em nosso diminuto mundo nada disso aconteça, pois nele podemos tudo.

Quando era garoto já começava a perceber que meu futuro estava muito mais além do que a instalação de persianas ou da caixa de engraxar sapatos. Foi a primeira vez que usei um uniforme personificado e achava engraçado, pois todos liam o meu nome na etiqueta colada no bolso da camisa. Achava legal e até passei a gostar do meu nome, mas não da profissão, pois eu almejava coisa maior. Ao montar as persianas nas janelas de um prédio até me sentia nas alturas, no topo do mundo. Mas outros também se sentiam e a gente disputava espaços. Nos outdoors, me colocaram uma vez, no entanto fiquei de costas para as ruas. Ninguém via o meu rosto ou ficou sabendo que aquele profissional dependurado na escada era eu, mas de qualquer forma, me sentia feliz de estar naqueles outdoors, pois a mensagem dizia: Ouse como esse profissional! Faça bem feito e observe como ele faz! De certa forma, acho que foi a primeira vez que me senti no topo mesmo dependurado numa escada, pois é mais ou menos isso que um instalador de persianas ou qualquer outro profissional fazia ou ainda faz: conquistar durante alguns dias a fama aparecendo nos outdoors instalados nas ruas, avenidas e lotes baldios das grandes cidades. Pode ser que alguns terão dificuldade para chegar ao topo da sociedade, mas o seu nome sim basta você querer.


Por que voto em meu Xará?

segunda-feira, 10 de outubro de 2016


Hoje em dia o assunto política é discutido por pessoas de várias classes. Algumas completamente leigas discutem o assunto com a maior convicção, se acham certas e nem se preocupam em pesquisar a vida ou o modus operandi de cada candidato; pessoas que dizem não gostar de política tentam justificar porque votou nulo; pessoas brigam cada vez mais por partidos, mas sequer conhece a história deles, os seus antecedentes, qual a forma de governo, simplesmente brigam por eles, como se fosse uma torcida por um time de futebol. Pessoas brigam, perdem até amizade e os eleitos, adversários, se abraçam, depois negociam cargos com o mandatário maior, tudo para receber benesses e do outro lado, o executivo ter maioria no legislativo para aprovar o que quiser. Há também os que vendem, revendem ou trocam seus votos com a maior naturalidade e no final ainda se gabam espertos. Pobres coitados, sim, pobres! Não sabem o valor de seu voto, que ele pode mudar a história, o significado e a importância da política para sua cidade. Os vereadores oportunistas estão em galhos diferentes, mas quando eleitos o objetivo é um só, pular para o galho do vencedor, pois este lhe renderá mais. Criticam tudo: a educação, a saúde, a inflação, o desemprego, a bandidagem, a corrupção, o sistema prisional, o trânsito, e muito mais. O tempo passa, mas as frases de campanha continuam as mesmas. Poxa! É por isso que tudo continua o caos, do mesmo jeito quando foram eleitos em pleitos anteriores e voltam com as mesmas promessas. E o motivo de tantas críticas é que todo esse descaso e abandono o eleitor conhece de perto, conhece mesmo, mas também não faz nada para mudar, principalmente quando tem a ótima oportunidade, o seu voto, assim como, os políticos vigaristas que nada fazem para o desenvolvimento da cidade, ou quiçá, do Estado e ou mesmo o País. Dizem que existe o analfabeto político, esse tem a benesses do governo que lhe oferece tudo e também nada faz e além do mais, nem importa se em quem votou está roubando, pois o negócio é defender o seu quinhão e ele nem está nem aí para a sua cidade. A responsabilidade maior referente à administração de uma cidade é da sociedade, pois é a sociedade que elege seus administradores, e elegem por eleger, sem ter interesse, sem querer informar, sem conhecer. Isso gera cada vez mais desigualdades, desorientações, manifestações, insatisfações, dentre outras mil frustrações. É hora de se atentar, é hora de mudar. Escolher um candidato que seja bom gestor e administrador que mostrará resultados e não em um candidato que vive ou sobrevive somente de política ou de fazer politicagem.

Olhamos as propagandas políticas escritas e televisivas e constatamos que são os mesmos, uns com mais de quarenta anos em busca de mantença do poder e não da prestação de serviços à sociedade em que vive. É a tal falta de opção ou surgimento de novas lideranças. Mas quando surgem, os caciques que dominam os partidos há dezenas de anos simplesmente anulam essas lideranças. Há anos vivemos momentos de agonia na pura acepção da palavra. Nossa Goiânia, cidade bonita, fraterna, graciosa, mas mal administrada, é velada por cerca de mais de um milhão de eleitores que vêem na corja política dominante a falta de opção pela cidadania, pelo crescimento ordenado e pela educação, algumas das opções para as gerações futuras, entre outras necessidades de uma cidade que como se vê, está na mídia descambando para os assaltos, as chacinas, e para o crime organizado O que incomoda e me preocupa não é o grito dos inocentes, das pessoas estupradas, das que estão morrendo baleadas ou a facadas nas periferias; o que me incomoda são o silêncio dos bons, nas suas belas casas, condomínios fechados e apartamentos, na posição de observadores passivos, que nada ouve vê ou fingem. Buscar culpados para a situação em que se encontra Goiânia é a mesma coisa que olhar para os nossos bosques num domingo de sol. Têm muitos caminhantes... mas acredito nem todos são culpados. Ou talvez, uns mais, outros menos. Quanto a isso até eu me penitencio, mas procuro dentro dos meus limites não fazer parte do grupo do “silêncio dos bons”.

Certamente que me penitencio, pois quem tem um pouco mais de esclarecimento e educação pode e deve ter também, um pouco mais de culpa e muito mais vergonha. Nossa cidade chegou à mídia nacional e internacional por crimes violentos, tentativas de homicídios, atos que causam horror, inclusive entre menores, e muitos crimes que nos deixaram estarrecidos, que felizmente, permitiram que fossem descobertas suas trajetórias. Só os cegos, os irresponsáveis, insensíveis, não percebem que devem se aglutinar a um ou mais dos cidadãos bons de nossa cidade. É preciso que os bons comecem a se juntar, ainda que isso comece com poucos. Não podemos sim, e jamais nos contentar com o silêncio. Nestas últimas eleições já mudamos muita coisa, mas é preciso continuar a “limpeza”. É tempo de mudança. É tempo de reconstrução. O passado bom deve servir de exemplo e ficar nos anais da história e nas prateleiras de museus, o ruim, deve-se jogar no lixo.

Os indivíduos precisam ter no mínimo caráter, educação, experiência e vontade de fazer com que o Goiânia tenha o seu verdadeiro lugar na mídia, pois ela é uma das melhores cidades para se viver, povo receptivo, de uma beleza natural sem igual com praças e ruas arborizadas e detentora de um crescimento vertiginoso incomparável. Goiânia merece ter pelo menos a chance de ter desta vez um prefeito gestor que possa deixar a marca do seu trabalho, tirar o nome de nossa cidade das páginas policiais, que possa melhorar a saúde pública que o povo mais quer e que está um caos; implantar novos métodos educacionais e valorização da educação e do educador; dar novos rumos ao transporte coletivo, e quiçá, solucione de vez a vida do cidadão, enfim, devolvê-la para as páginas mais nobres da mídia como uma cidade desenvolvimentista. Então, quando eu intitulei este artigo “Por que voto em meu Xará”, nem me importo quem ou quais partidos o apóia, declaro meu voto porque sei que além pessoa de ilibada conduta, ficha limpa com queiram, é um bom gestor, competente, independente é mais profissional que político e aí tenho a absoluta certeza de que vai transformar Goiânia e levá-la para o lugar que merece no cenário nacional.

Às vezes a melhor resposta é o nosso silêncio.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

 “Palavras erradas costumam machucar para o resto da vida, já o silêncio certo pode ser a resposta de muitas perguntas”. (padre Fábio de Melo). Ao me lembrar desta frase preocupei-me e antes de começar a escrever procurei uma posição mais confortável para manusear o mouse. Acomodei-me na poltrona giratória, fiquei parado por alguns minutos, fechei os olhos e concentrei-me amparado pelo silêncio que orbitava à minha volta. Com a mente alimentada notei que a nossa vida também gira e nós nos tornamos um mero arrendamento provisório - pequenos parênteses entre dois insondáveis infinitos, mas antes que caluniem o meu silêncio e o meu escrito, respiro o ar que penetra pela janela e de forma arguta olho a lua soberba rodeada de estrelas num universo sem fim; ouço o meu próprio silêncio e me lembro novamente de outra frase dita por Pascal: "O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora". Novamente senti um baque na memória e tudo que orbitava ao meu redor continuava ali inerte, mas, pareciam rir de mim. Voltei à escrivaninha e olhei fixamente para o monitor e notei que ainda não havia nenhuma frase lá. Novamente, respirei fundo. Coloquei os dedos sobre o teclado e minha mão direita pousou sobre mouse e sem pestanejar manuseie-o para que o cursor me auxiliasse nas entrelinhas do silêncio que também pairava sobre o monitor. Silenciei-me e tudo que girava em minha órbita silenciou porque sabia que podia ouvir a voz de Deus e ELE me fazer enxergar o universo que eu vira através da janela onde pude atingir o ápice mais alto do pensamento que um ser humano pode alcançar. Todavia, parecia sentir que faltava algo aos seres humanos naquele momento de lucidez. Analisei a situação atual da humanidade, assim como, de que forma todos poderiam colaborar, mesmo alguns com tenra idade. Imaginei um mundo sem corrupção, sem ira, sem ódio sem inveja e sem maldade, foi difícil, mas imaginei. Só a honra de cada cidadão cumprindo seus direitos e deveres com serenidade e sempre em busca do bem comum poderia trazer paz. Pensei realmente na paz em plenitude que pode gerar e em como alcançá-la aplicando no dia a dia certas atitudes. Acreditava e ainda acredito que não seria tão difícil e de certa forma maravilhoso se fosse possível acontecer. Qualquer um pode colaborar com um comportamento honroso e só assim sentir-se-á que a vida terá sentido de verdade. Entendo que cada um tem que cumprir a sua parte e de alguma forma, proporcionar paz, pois em fazendo isso, todos verão a felicidade que isso traz.

Quando escrevo “às vezes” é como estivesse colocando nas entrelinhas um silêncio imenso e maravilhoso, carregado de um olhar complacente e sorriso enigmático, de pensamentos imperfeitos e frases sem sentido, sem nexo. Quando digo que “às vezes” a melhor resposta é o silêncio é porque vemos ocorrer no mundo um turbilhão de maldades, homens e mulheres mutilados em razão de guerras entre nações e facções; famílias inteiras soterradas, crianças retiradas de escombros... Aí não tem como ficar em silêncio e o grito de revolta vêm sem a gente perceber. Por favor, não queiras que eu compartilhe com vocês quando estiver assim. Quando me silencio ou me revolto em relação a uma resposta que não consigo dar é porque a minha mente está conturbada, cheia de piedade pelos que sofrem essas atrocidades, pelos orgulhosos, pelos vaidosos, pelos que não sabem olhar para cima e que só enxergam as miudezas da vida, pelos que se angustia por qualquer besteira, que na realidade, essas pessoas não sabem ser humildes. Mas, afinal, como podemos definir o silêncio dos que sofrem ou dos humildes? Quando a esta pergunta ninguém definiu melhor e sabiamente quanto o Sr. Emmanuel, guia de Chico Xavier: "Humildade é o reconhecimento de nossa pequenez diante do Universo". Melhor definição como esta não podia ter porque ele se colocava como a um grão de areia. A humildade de que se fala não deve ser confundida com servidão ou subserviência, pois ela é filha da sabedoria e é através do silêncio do saber que obtemos a melhor resposta. Olhar a vida com humildade e aprender escutar o seu silêncio é acordar para uma realidade: quanto mais crescemos, quanto mais nos elevamos, quanto mais nos conscientizamos da nossa diminuta condição diante do Cosmo, quanto mais vivemos olhando sem rumo, ora pra frente, ora pra trás, ora para os lados ou para o chão não conseguimos perceber a misteriosa grandiosidade que se encontra sobre suas cabeças.

A melhor resposta sobre tudo isso é mantermos em silêncio e refletir, assim como, a melhor atitude que devemos tomar diante do espetáculo do mundo é manter esse silêncio e regozijar, pois tudo é um mistério para nós. A verdade é que o infinitamente grande e o infinitamente pequeno se confundem e nos assustam. Às vezes nos espantamos com o espetáculo sideral e não nos lembramos que dentro dele há também um universo imenso, formado de trilhões de células, desconhecido também de todos nós. É preciso, vez por outra, olhar as estrelas no céu, a lua e o sol cumprindo suas rotas ou o universo em si e fazer uma reflexão sobre a nossa vida e a pobre e ridícula vaidade do ser humano.


 
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