Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Onde está a sombra de minha luz?

domingo, 31 de janeiro de 2016

Não é de hoje que fico encabulado quando vejo à inexistência de sombra da luz. Desde menino era curioso quando via a luz de uma vela não se refletir na parede, mas hoje, que já passei da idade dos contrários, chegando à idade do complementar, assim como, de entender essas coisas e olhá-las de outro modo é que, momentaneamente, comecei a lembrar dos tempos idos quando via alguém acender uma vela ou lamparina, olhava rumo à parede para constatar se a sombra da luz nela se refletia, mas nada acontecia deixando-me confuso. Recordei que aquela pessoa dizia algo contrário ao que eu pensava, no entanto, já era capaz de entender aquele contrário como complementar e ver crescer em mim consciência e compreensão, além da razão da não existência de sombra da luz. Todavia, hoje, sei que ao invés de rejeitar ou negar alguns elementos obscuros, ainda desconhecidos por mim, sou capaz de acolhê-los porque só assim tornar-me-ei mais inteiro.

Nem é questionável ir por outros caminhos, pois sabemos que é a sombra que dá relevo à luz. Acenda-se uma pequena vela num quarto escuro e verás. Quanto maior a vela, maior é o relevo. Quando amamos alguém, um dos sinais de amor verdadeiro é que amamos os seus defeitos, relevantes ou não. É fácil amar os defeitos de nossos de nossos filhos, netos ou entes queridos. O difícil é amar os defeitos de estranhos, principalmente se adultos.

A luz do amor não tem sombra a não ser que você o construa de outra maneira e o faça ser diferente. Dar a ela um enorme alicerce e o direito de experimentar de sua sombra a liberdade, isso seria bom, assim como, de experimentar a capacidade de amar o que é amável e de amar também, o que não é amável, porque essa luz pode estar sendo refletida na parede de sua vida. Dessa maneira passará de uma vida submissa para uma vida escolhida.

A luz que ilumina a nossa vida, pode não ter sombra e nem refletir-se na parede, mas vale pelo olhar benevolente que pomos sobre nela. Por exemplo: O olhar sisudo de um chefe nos enche de culpa, mas dependendo da sua decisão em relação a nós, podemos receber dele esse olhar benevolente, misericordioso e ao mesmo tempo, justo. Não precisamos de sombras, mas de luz sim, assim como, precisamos também desse olhar justo, porque todos nós temos necessidade de sentir esta luz verdadeira e de sermos amados. Por vezes, alguns olhares que encontramos são muito amorosos, muito doces, mas falta a eles a luz que tanto procuramos que pode até serem sombreados, mas verdadeiros.

Existem olhares que se colocam sobre nós que são plenos de verdade e justiça, mas sombreados, faltam-lhes a luz, a misericórdia e o amor. Existe um olhar integral do qual temos necessidade de nos enxergarmos tal e qual somos, porque a inexistência de luz é uma verdade sem amor, é inquisição, e o amor sem verdade, é permissividade.

Quando intitulei esta crônica: “Onde está a sombra de minha luz” o fiz com o propósito de abrir uma discussão, pois a luz pode ser você sendo refletido na parede e cada um que a ler, poderá formatar sua luz e entrar em particularidades que lhes são próprias, sentindo se existe em sua vida, em primeiro plano, a luz, ou alguém que pode suportar sua sombra sem julgá-la, apesar de não se mostrar complacente com ela. Eu acredito que todos nós temos a necessidade, pelo menos uma vez em nossas vidas dessa luz com o poder de refletir-se ou do tal olhar iluminado pousando sobre nós.

Com essa reflexão podemos mostrar nossa verdadeira face, nosso verdadeiro corpo, nossos desejos e medos. Podemos mostrar nossa verdadeira inteligência acoplada com nossos conhecimentos e nossas ignorâncias. Sob este olhar sem sombras, a nossa vida pode crescer e nos indicar onde está a sombra de nossa luz. Porque o olhar que nos julga e nos aprisiona diante de gestos que se refletem na parede, faz-nos ficar inertes, enquanto que o outro olhar nos impulsiona, diante das imagens, a dar um passo adiante e saber o que os outros têm de nós.




Calou-se uma voz e um som de viola.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Acordei. Dei uma espreguiçada para colocar os músculos no lugar e depois levantei devagarzinho. Era uma daquelas segundas-feiras bruta, mas para mim, um dia como tantos outros, onde a gente costuma achar que a vida simplesmente seguirá sem nenhum esforço. E também como de costume, tomei o gole de água e depois uma chuveirada. Escutei um assovio vindo da cozinha. Era um sinal que recebia todos os dias me alertando que o café da manhã estava pronto. Tomei o meu café com leite acompanhado de pão francês e saboroso pão de queijo. Calcei meu tênis, coloquei agasalhos apropriados e saí para dar minha caminhada diária no Bosque Vaca Brava,

Naquele dia o céu estava nublado, mas tudo me parecia no seu devido lugar e, como de rotina, desejava que meu dia tivesse mais de vinte e quatro horas. E é assim, estamos sempre querendo que o tempo se adéque ao nosso tempo, ao nosso modo de viver, no fundo mesmo, sempre pedindo que fosse possível realizar o que traçamos para aquele dia, livres e desembaraçados de qualquer culpa. 

Meu Deus! Quanta prepotência! Não somos senhores do tempo, aliás, somos incapazes de prever o que irá nos acontecer no dia seguinte. A vida tem seu próprio modus operandi, ela não estica as horas, apenas passa depressa, e nós, humanos, insistimos fingir não saber disso. Não sei se era pressentimento, mas naquele dia, a cada passo, o meu coração batia descompassado no peito, e, de repente, ao passar por uma banca de revistas um silêncio literalmente mortal me deixou de sobressalto. Na Capa de um jornal estampava em letras garrafais a notícia sobre a morte do meu querido amigo João Batista da Costa Meireles, o cantor sertanejo, mais conhecido como Jataí, de 54 anos, que fazia dupla com seu irmão Avaré. Fiquei atônito, mas naquele instante entendi que a morte não pede licença, ela chega, atravessa o nosso caminho e nos impede de seguir em frente, todavia, por instantes, o meu pensamento também ficara interrompido, e com o corpo paralisado, engoli seco e senti alguma coisa ficar entalada na minha garganta, que me sufocava e parecia sentir que tudo mudara de lugar. 

Quando sentimos esse silêncio fúnebre somos obrigados a aceitar que não temos o poder de controlar nada e que, por isso mesmo, podemos e devemos nos permitir seguir outros rumos, nos doar por inteiro e não pela metade, declarar nossa amizade várias vezes até que não sejamos mais capazes de cantar, tocar, sorrir com a alma, não adiar as coisas, pensar antes de agir ou falar para não magoar, libertamos dos extremos e valorizarmos o que é importante, mas sempre com a consciência tranquila de que tudo aquilo que nos importa de verdade é possível de aceitar, de se medir, de se usar... 

Cotidianamente a vida nos impõe suas próprias regras e nos coloca à prova. Surgem novas perguntas e somos obrigados a formular novas respostas. E ali, diante de um amigo que se foi para outra dimensão, querendo ou não, teremos que entender os desígnios de Deus e aprender a lidar com essa ida repentina, aceitar que a vida, e se não nos tornarmos responsáveis, passaremos por um fio muito tênue e que o amanhã pode nunca chegar. 


Muitas homenagens póstumas foram feitas, mas eu quero deixar registrado aqui meus sinceros agradecimentos ao Jataí e ao seu irmão Avaré por terem participado de alguns eventos meus, inclusive de um Encontro de Família, onde abrilhantaram com suas presenças cantando afinadamente e tocando magistralmente suas violas. Desde o princípio, durante e até no fim, a diferença estava na sua fé e na intimidade que tinha com Deus e porque cria nesse Deus de misericórdia, de amor e paz, e independentemente das circunstâncias, as trevas jamais serão capazes de sobrepujar a luz que iluminará o caminho de Jataí rumo aos céus, e a vida, na verdade, não chegará ao fim quando esse fio se partir, apenas se transformará para ganhar a eternidade.

O poeta que contou um causo de um caso ocorrido por acaso durante um ocaso.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Escutar de tudo na vida a gente já escutou e ainda continuamos escutando. Pessoas usam os meios de comunicação para dizer meias "verdades" ou inteiras mentiras com a mesma desenvoltura. Por mais que prestemos atenção na fala ou textos escritos geralmente não sabemos quem é que está falando sério. Neste mundo real as verdades são pedras preciosas entre nós, então, temos que observar o semblante do falante, aguçar o ouvido, prestar bastante atenção e tentar discernir o porquê e aonde o autor do texto quer chegar. Certo dia um poeta amigo me contou uma história que me deixou boquiaberto, e quanto a esse causo contado por ele quero cada um que tire as suas próprias conclusões... Como comprei um detector de mentiras no Paraguai acabei me tornando um caçador, por isso, particularmente, acho que o causo contado por ele é interessante, bem rimado, poético, mas pode ser uma grande mentira, no entanto, vamos ao ocorrido.

Certo dia, como de costume estava sempre no mesmo lugar e desta vez era mais um causo que ele contava de um caso ocorrido por acaso num final de tarde, quando ocorreu um belo ocaso no Vale dos Ipês. Disse ele que estava deitado numa rede manuseando seu laptop e de vez em quando voltava seus os olhos para o ocaso. Conversa vai, conversa vem, num repente, ouviu alguém que estava numa rede ao lado, contar um causo de uma mulher que teve um caso amoroso com um viajante que passou por aquela região por acaso. O caso podia ter acontecido com ou sem o ocaso, como também, com qualquer pessoa, mesmo considerando a impossibilidade do sol se pôr no horizonte, de circunstâncias que não precedesse à noite poente ou apenas uma aventura amorosa, desconcertante, indecente. Por acaso, disse-lhe que a mulher veio da região fria do ártico e o jovem viajante do quente oriente. Quando contava o causo parecia estar esperando o aparecimento de um crepúsculo como aquele que outrora tinha apreciado no Antártico e de outros causos amorosos pensados por ele premeditadamente.

Eu, um simples cronista, nunca tinha ouvido em falar do caso, mas, com um sorriso sarcástico aceitei ele continuar contando: Caro amigo seja como eu, minta, e se puder invente. Inclua qualquer fato no seu causo e não será mero acidente, mesmo se não conseguir ver o sol se pôr no oriente, ou o nascer da lua, no mesmo instante, no ocidente, mesmo assim, minta, invente. O causo do caso que eu ouvi foi por acaso e aconteceu diante de um lindo ocaso. Pode ser que a história não seja verdade e ser apenas uma estória. O causo sempre precede à noite e aí menos mal porque da minha rede podia enxergar o ponto cardeal. Você sabe dependendo do que a natureza nos oferece o ocaso pode ocorrer tanto no ocidente, no oeste, leste ou no poente, e se no seu inverso não existir pontos cardeais, invente. O contrário do ocaso é a linda alvorada, e ela nos traz a manhã, linda e incandescente, e com ela vai a nossa majestosa madrugada. O causo acontecido durante o ocaso pode significar decadência, fim ou um período que antecede esse fim, ou fim de um romance, ocorrido em Berlin ou na pequena Bom Jardim. O conto ou queda de algo importante é para nós, a indicação de um norte, além de nos mostrar que ele é sinônimo de ruína ou falta de sorte. Mas, antes que ele finalizasse o causo, recolhi minha rede e desviei minha visão do ocaso e procurei esquecer aquele caso. Deixei de ouvir outros causos contados por aquele poeta que falava de lindas mulheres e do viajante vendedor de vasos, e nada mais é do que causos de casos amorosos ocorridos lá por acaso.

Outro causo segundo assistiu o poeta, antes do ocaso, ele e seu tio montavam barraca à beira do lago em ponto estratégico no Vale dos Ipês, pois de lá costumavam ver cenas amorosas, anotavam tudo e prontas para se tornaram mais um causo. E não era por acaso que anotava em seu laptop as cenas inusitadas e o encanto que circundava aquele pedaço de chão. O local não podia ser vulnerável, pois era perigoso e poderiam ter surpresas desagradáveis, principalmente caso errassem na estratégia de bisbilhotar cenas alheias. Como ele e o tio eram caçadores de primeira viagem, por acaso nada lhe foram informados e nenhuma tática foi adotada antes do ocaso, deixando por conta do tio, o mais experiente, a incumbência da escolha do local mais apropriado para descrever as cenas que iria fazer parte de mais um romance ou apenas mais um causo a ser contado. E não era por acaso que o tio tinha a mania de inventar coisas, contar causos e lorotas, pois sabia que essa era a única maneira de informar ao poeta sobre as cenas que via à beira do lago. E também não foi por acaso que escolheu do outro lado uma árvore bem alta, cheia de galhos e teoricamente segura para ser o olheiro do poeta. E foi assim que, para contar mais um causo de amor, armaram o acampamento entre as forquilhas de uma torta e frondosa árvore milenar. O ocaso veio e a noite correu lenta, vez por outra o vento assobiava assustador, as folhas das árvores balançavam soltando sons estranhos e caiam sobre o capim seco que circundava o lago. O silêncio entre os dois era total, não se ouviu qualquer palavra; a respiração, antes ofegante, passou a quase nula, tal a preocupação em não fazerem barulho para não assustar o casal de namorados que se silenciaram dentro de uma pequena barraca iluminada apenas por um fraco lampião a gás.

Passou-se o ocaso e meu amigo poeta, caçador de primeiríssima viagem, ao ver gestos de um vai vem erótico que se refletia de dentro da barraca, estabanado que era, pulou da árvore, pegou um caderninho, sua máquina fotográfica e saiu correndo feito maluco em direção a ela, atravessando o lago num nado sem sincronismo e sem olhar para trás. A ansiedade era tanta que quando chegou perto da barraca, vendo que estava molhado e trêmulo, pisou em galhos secos e repentinamente parou. O casal, ao ouvir o barulho, olhou por uma pequena brecha na lona e perguntou: Que você quer cara? Ele, na maior cara-de-pau disse que estava correndo de uma onça, e como não a acertou, pulou da árvore e saiu correndo atrás dela até pular no lago.

É história de poeta ou de um poeta caçador de história. Ainda bem que não sou caçador de onças, apenas de mentiras e aquele causo, como os outros, foi demais!... Esse negócio de mentira não é comigo, mesmo sabendo que ao poeta ou romancista tudo pode. Agora, sou eu que vou contar um pequeno causo: Certa vez fui pescar e o motor do barco caiu lá no meio rio. Procurei incansavelmente, horas e horas até aparecer o ocaso... Não sei se foi sorte ou por um acaso, três dias depois o encontrei e minha maior surpresa foi verificar que o motor ainda estava funcionando! É verdade Té! Esses e outros causos são apenas histórias de caçador, às vezes medroso, às vezes valente, às vezes verdadeiro, às vezes mentiroso, no entanto, mais uma vez, ficou provado que mentira tem pernas curtas e, se não fosse o lago esse meu amigo poeta ainda estaria correndo ou sido devorado pela onça e eu, me vangloriando da potência do motor de meu barco.


É hora de escrever: Atenção! Claquete!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Sentei-me diante do computador. Fiquei pensando... Mentalmente fingi que estava escrevendo, mas de repente, acendeu uma lampadinha sobre a minha cabeça e depois ouvi: claquete! E qual a minha surpresa? Não apareceu diante de meus olhos aquele instrumento de identificação de tomada de cena, nem o título de minha crônica, número ou plano de ação, apenas uma voz que parecia vir de outra dimensão. E não devia aparecer mesmo porque até aquele momento fingia escrever, e com o pensamento alhures fingia um pouquinho, mas fingia. Esqueci da claquete, puxei o teclado, comecei a digitar e lançar no monitor um amontoado de letras. Nem inspiração, nem tampouco transpiração, mas não era conveniente ficar sem o dito fingimento, mesmo sendo um fingir mental, pois, talvez, sem ele, não existisse literatura. Não esquentem a “moringa” se evoco de novo a magia das letras e volto a falar sobre o fazer literário. É que poucas são as coisas tão semelhantes neste mundo de infinitas crenças. Mas falo mesmo é do fingir, que se entremeia entre o real e a palavra. Pode até ser um vício real, mas se torna necessário ao nosso mundo literário. E onde a palavra criou o real, o fingimento precedeu a palavra. Mas acreditem, não é só a palavra, dele também procede ao pincel e à mão que amolda. Podem me questionar à vontade, dizer o que quiserem, mas de certa forma o fingimento é imprescindível à arte e isto é fato. Para escrever ou fazer qualquer tipo de arte, é necessário fingir que se faz, ou fazer, fingindo. É preciso transfigurar a realidade, é preciso torná-la mais que essencial.

Quando começamos a criar alguma coisa à primeira atitude é de fingimento. Não, eu não sei se poderia chamar de atitude porque procuro me despir desta palavra quando estou escrevendo. Mas, pensando bem, o fingimento, em literatura, não é uma atitude. Embora ele exista contra nossa vontade, ou de nossa aceitação, não se dispõe ao nosso manejo. Quando a gente menos espera, ele já se instalou em nosso texto como a um posseiro. 

Aquilo que torna verdadeira a dor é pura verdade, pois a gente sente isso. Mas a verdade, na verdade, a gente não reconhece, não obstante encontramos mais verdade do que em si mesma. Dá pra entender? Complicado não! Para mim, sempre foi mais difícil entender o fingimento do que os cálculos dificílimos de alguns alquimistas. O que há em cima equivale ao que há em baixo e o que está em baixo é o mesmo de cima. Coisa de maluco não! Não se tratando de inspiração, nesse caso o fingimento não oprime como costuma acontecer com os que escrevem sob as bênçãos dos deuses da literatura ou mestres acadêmicos. Não sendo transpiração, o sentimento não nos confina, como atados ficam os que escrevem nas torres altas e inacessíveis das formas ideais. Eu prefiro ficar totalmente despido de fingimento e continuar como simples escriba.

Quando escrevo e reviso o texto, o meu sentir não está despido, está coberto, não com vestes suntuosas, mas com andrajos, talvez as mesmas de um escriba sentado em sua poltrona quase nu. É quem sabe... Mas não sou eu. No entanto, precisamente, aí pode estar atuando o fingimento. São os ornatos que desnudam e, talvez, na vida, também seja assim. Às vezes tenho que aceitar a opinião da maioria de que na literatura, que é uma vida mais real ou pelo menos mais densa do que ela, o fingimento é o germe da arte. Ou há fingimento sincero, ou não há arte. 

No mundo da literatura e ou mesmo das artes desdenha-se das exatidões da realidade, zomba-se da concreção do real, e só essa coisa fingida conhece o real e o concreto. Essa coisa interposta pode tomar várias formas: imagens e metáforas na literatura, talhos, fissuras e desmanches na pintura e na escultura, e a pior, descontinuidade no cinema. Pode assumir infinitas formas, mas será sempre uma espécie de desvio que não admite identidade absoluta entre arte e realidade.

Ah, ano passado quando escrevi a crônica: “O Escriba e a magia das letras e artes de Goiás”, descobri que era um simples andarilho no mundo literário, um iniciante das letras, um escriba. Descobri mais, agora sem nenhum fingimento, que o escritor é pertinente às suas ideias, ideais e maluquices. Ilustra os textos com coisas reais e surreais, cria sabores, faz até exalar aromas que extrai do improvável e transmiti imagens ao associar as palavras e nesse afã, procura ser original, contorna algumas regras impostas, como se estas fossem corredores imaginários, mas, notadamente, sem as desrespeitar, mas nunca deixando de ir mais longe, mesmo sem usar as asas da imaginação, alcançar o infinito. E quando as usa descreve o mundo de uma forma sutil e consegue transformar o ordinário em extraordinário e nesse ínterim, sem necessidade de se afirmar como intelectual gera empatia e faz com que todos vejam mundo de dentro para fora e depois de fora para dentro e por essas palavras, me sinto despido de fingimento.

O germe que rodeia a arte pode não ter nome, e nem sei se a corrói com o passar dos tempos, mas, para mim, ele se chama fingir ou se finge de corrosivo. A arte não é estritamente a dor ou a alegria do artista, nem se estreita no seu sentir. A arte não é o artista, e se o artista quiser fazer de si a sua arte, fatalmente a diminuirá. A arte, a arte mesmo, pressupõe a ação do fingimento e, porque se projeta, supera quem a criou. E como disse H. Pereira da Silva num provérbio: “A arte não mente, mas o artista sim, na maioria dos casos, é um grande mentiroso.”




Em 2016, por quem os sinos dobrarão?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016


Já estamos em 2016, então é hora de revermos nossas falhas, os caminhos tortuosos que trilhamos, e até daquela palavra mal empregada que acabamos ferindo uma pessoa amiga, estragando um relacionamento que já duravam meses, dias ou quiçá, anos. Em 2016, vamos deixar de lado nossos guarda-roupas ou adquirir veículos novos; vamos direcionar nossas vidas para a renovação do nosso espírito; vamos pegar a vassoura da vida e dar uma faxina geral nela e conseqüentemente, ampliar a nossa fé em Cristo; vamos rever tudo que aconteceu de ruim e anotar na agenda de nossa existência, e as palavras amor, paz, fraternidade, solidariedade e justiça, sejam usadas de modo que tudo possa vir diferente. Deus ao criar o homem colocou em sua mente uma multiplicidade de sensações e emoções capazes de despertar sentimentos variados – desde o prazer proporcionado pela contemplação da beleza, da harmonia e equilíbrio naturais, até do terror e impotência gerados por aqueles que passam fome, doentes e daqueles que não têm condições de cuidar da sua própria sobrevivência. Vemos diariamente meninos e meninas cheirando cola para enganar a fome, se prostituírem, cometerem chacinas, roubos, parecendo coisa irreal, mas se alastram pelos becos da vida como se fosse uma cena comum, natural, característica da própria espécie humana, que a tudo vê e assiste complacente através de jornais e imagens geradas pela TV.

Quando intitulei este artigo: “Em 2016, por quem os sinos dobrarão”, tirei de um filme antigo que assisti ainda jovem, mas que jamais saiu de minha memória e o fiz com  o intuito de homenagear todos os amigos que compartilharam comigo no FACEBOOK e que juntos, a cada manuseio do teclado do computador, procuramos resgatar da memória do tempo os bons fluídos, o amor ao próximo, a prática da solidariedade, a volta das riquezas e criatividades cristãs, que criteriosas, podem fecundar em novas reflexões e ajudar a delinear e modelar novos conceitos de vida em face do momento atual que vivemos, de forma que, cada pessoa continue responsável pela sua própria história, pela sua própria libertação, transformando a sua realidade de forma que se efetive a justa liberdade e amor, ainda que de maneira rudimentar.

Findo o ano de 2015 e diante de 2016, lembrei-me das palavras de carinho que recebi durante todo o ano. Algumas lembranças, nem sei como e nem porque me vi caminhando pelas ruas da cidade, sem chutar as folhas secas como de costume ou bisbilhotar as belezas circundantes. Olhava apenas o vaivém dos veículos e a falta de respeito às leis de trânsito e ao próprio ser humano. Cada carro que passava perto de mim, sentia uma dor no coração ao imaginar que a vida de cada uma daquelas criaturas sequer tinha tempo de pensar que existe vida além da morte e que poderia ter que prestar contas em outra dimensão do que faz neste mundo de expiação e provas. Sequer tinham tempo de observar os pedintes amontoados nas calçadas e uma criança maltrapilha, esquelética, sugando o seio de sua mãe que parecia doente. Um quadro que jamais apagarei da memória. Pouco mais à frente, um vento quente soprou manso e logo deparei com alguns jovens descontraídos que usavam colares, brincos, tatuagens, cabelos pintados em cores variadas, dando-se a impressão de estarmos em outro planeta. Fumavam e soltavam baforadas de fumaça que cheirava a “baseados” e nos refrigerantes, misturavam diminutas pedras de crack no afã de contemplar melhor a vida e de se “chegar às nuvens”, talvez numa nave criada pelas suas imaginações, sem destino, desvalida, sem volta.

Em 2015, ao quebrar os laços familiares, deixar de ajudar aos infortunados, aos doentes e àqueles que passavam fome, o homem quebrou também o elo da cadeia que o liga a harmonia, ao amor, a fraternidade, a fé e equilíbrio de forças assentes nas Escrituras, motivos relevantes que se não exercitados tornarão implacáveis e difíceis a mantença da sobrevivência humana, e na forma em que está banalizada, indiferente, que nos leva  passividade, não pode continuar em 2016. Ao final, deverão estar fundamentadas precisamente no amor, na caridade, para não ficarem à deriva, sem referência, para saberem por quem os sinos dobrarão no momento de chegada ou de partida, isto se não perderem a visão familiar tão sonhada por Josué (24:15): “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”.

Como disse no preâmbulo, já estamos em 2016, então é bom cada um agradeça a Deus por mais um ano vivido. No entanto, infelizmente, ainda observamos que o homem não se priva disso e nem se faz de rogado diante do que conquistou não cora de vergonha e nem vê  motivos para isso. A vergonha que não se aflora mais em seu rosto, mesmo diante do exibicionismo ou das declarações de intenções, compromissos político-sociais e promessas não cumpridas, sob a alegação de falta de tempo ou se fazendo de esquecido. Ao analisar as palavras ou promessas de algumas pessoas durante o ano de 2015, confesso que corei e sei que muitos que compartilharam comigo também coraram e sentiram cair sobre a sua cabeça à danada da carapuça. Eu, principalmente, por mais que me esforçasse ainda me senti em débito com a minha comunidade. Cheguei à conclusão também de que tinha fazer alguma coisa a mais em prol de nosso Planeta e fiz, viajando até para fora do País e o que não fiz, foi por mero capricho. A resposta a esse desafio que proponho a vocês está presa nos elos da imensa cadeia da vida, que se quebrados, deixarão todos em cárcere inseguro, e para saírem ilesos, difíceis serão as decisões que cada um terá de tomar.

Neste momento de reflexão, mesmo usufruindo das benesses de uma sombra e do sopro do vento que se desvencilha das árvores e acaricia meu rosto, comecei a entender realmente que não só a gente se encontra nessa maré de incertezas, como também a sociedade brasileira. A doença do egoísmo, da corrupção e a maldade humana dominam todo o sistema, onde, de forma excludente, não se consegue realçar a solidariedade como valor extremamente capaz de forjar um mundo mais humano e fraterno. É necessário que a perda progressiva do seu senso ético e o próprio individualismo como mal predominante possa ser retirada com a inserção do bisturi do amor, juntamente com a raiz da justiça, que está sendo corrompida dia a dia, possam tirar do sofrimento os mais fracos e indefesos. 

É possível que nestes últimos anos tenham aprendido com as pessoas mais experientes que se houver prazer em viver, que assim o faça, e que se fizeram o bem sem olharem a quem, então, vale à pena ter vivido. Pensando bem, esta é a mais pura verdade! Temos que tentar acompanhar a velocidade do vento, pois o tempo escorre entre dedos, passa tão rápido que ninguém consegue detê-lo. Ele nos ensina que devemos aproveitar o hoje e que ele deve ser mesmo o melhor de todos os dias, pleno, intenso, porque do amanhã pouco ou nada sabemos. Só Deus sabe! Podemos até programar este dia, mas, talvez, seja mais um compromisso que jamais poderemos cumprir. E é diante dos fatos narrados que chego à conclusão de que em 2016 os sinos dobrarão somente para aqueles que aprenderam a cuidar de si mesmos, de seus semelhantes e segurar o cajado espinhoso que carregamos em prol da defesa de nossas próprias vidas.


 
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