Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Minutos de reflexão.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Preocupado com o ano que se aproximava, sentei-me à beira daquele rio, sem anzol, sem iscas, sem nada. Nada mesmo! Apenas ele, a natureza e eu. Ele nem era piscoso e há muito não atraía pescadores. Mas era um local aprazível, encantador, sempre me sentia bem quando ia lá. Próprio para meditar ou refletir. Naquele dia levei comigo apenas o pensamento e este, sem se importunar com os cânticos entoados pelas araras, ia e voltava na velocidade da luz, tão veloz que meus olhos jamais podiam imaginar e aí, restou-me apenas manter meus olhos fixos sobre as águas que recebiam cintilantes raios de sol, e depois, curvar o meu rosto sobre os joelhos e refletir. Em certo momento, ao trazer de volta alguns pensamentos que retornavam de um mundo incógnito comecei a refletir: “Deus é isto. Deus é beleza que se ouve e se manifesta no silêncio”. Quanto mais desciam águas pelo leito íngreme entendia o motivo daqueles minúsculos espelhos d’água se debater sobre ele. Tudo ali parecia orquestrado pela natureza que tentava me convencer que eu vivia num mundo desigual. No planeta do absurdo, e o pior que era verdade. Mas o mundo tão belo e rico que se estampava diante de meus olhos era bastante clarividente, infelizmente, ele mostrava seus contrastes longe dali: doenças que se alastram e algumas incuráveis, que deixam as pessoas desnorteadas tornando-as deficientes ou incapazes para o trabalho. Mas ali diante dos meus olhos era tanta beleza que jamais imaginaria outras coisas impostas e às vezes, achava serem apenas cenas represadas no meu sub consciente, mas não eram. Como contestar isso se os meios de comunicação mostram fatos novos todos os dias como: crianças e mulheres que se prostituem para sobreviverem; crimes de pedofilia, chacinas, roubos seqüestros, corrupção, abuso do poder econômico que oprimem os menos favorecidos. Isto realmente não é irreal ou utopia, é pura realidade, uma realidade que se alastra como se fosse uma coisa natural característica da própria espécie humana.

Ultimamente tenho pensado demais. E pensar, sentado naquele barranco, era melhor que qualquer conceito e vivenciá-lo seriam o máximo; seria uma forma tão natural e tranqüila quanto o correr das águas daquele rio. Sabemos muito bem que não há fórmulas mágicas para a felicidade principalmente que se vê um ano novo chegar. Mas arrisco a dizer que um de nossos principais desafios talvez seja a maneira como a gente se aceitou ou chegamos a aceitar as derrotas e vitórias ao longo desses anos. Sobre isso, se me permitem, gostaria de dizer: o jeito como muitos buscam a felicidade. É um tema bem abrangente e pessoal. Espero que eu possa contribuir com meus pontos de vista. Primeiramente, observo aqueles que são mais receptivos às bênçãos que a vida tem a oferecer. Vejo neles uma relação de opinião própria, inclusive acreditam que suas vidas poderiam melhorar, entretanto, a princípio estão satisfeitos e felizes com o que têm. Em suma: “o que vier é lucro”, diriam. O que seria pouco para muitos, para esses já é o suficiente. 

Em outra análise estão os seres em transição, quando tudo está para vir a ser, em constante processo de construção. Não prevalece uma correspondência de valores, vínculos de felicidade. O contraditório disso é que essas pessoas demonstram ser infelizes. E aí hei de concordar. Mas, se observamos as causas de suas ações, essa busca de um mundo idealizado comprova que desejam e lutam por se sentirem felizes. O problema é que podem atolar profundamente nessa fase. Nota-se, principalmente, entre indivíduos que ainda não aprenderam a dosar as suas ambições, sejam elas quais forem: materiais, intelectuais ou espirituais.

Por fim, o que eu diria uma síntese dos dois primeiros, presente entre aqueles que encontraram um meio-termo sobre o qual alicerçaram seus desejos e sonhos. Melhor, uma estratégia pessoal do bem viver. Que não significa que são acomodados. O contrário. A diferença é que adquiriram mais sabedoria para definir as suas escolhas. Têm plena consciência da multiplicidade de caminhos e estão satisfeitos com os caminhos que escolheram, ou os caminhos que devem seguir. Nada é impositivo conseqüência ou reação da vida, mas uma opção perfeitamente possível e otimista.

Alguém realmente feliz deseja partilhar os seus momentos com as pessoas a sua volta. Quando adquire uma espiritualidade a ponto de ser menos egoísta, deixando de enxergar aquilo que é bom apenas para sua própria vida a fim de colaborar com a felicidade alheia. Nesse momento é que compreendemos o verdadeiro sentido da felicidade. E é essa felicidade que soa tão natural em tudo que fazemos quando paramos por uns minutos para refletir seja ou não na beira de um rio.



Deixando o vento me levar...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Se na infância fui ou não como outros meninos, não me lembro bem, minha memória é meia vaga, mas sei que nunca enxergava o mundo como os outros viam, mas os outros também não enxergavam o que eu via. Desde pequeno eu já via o bonito e o lado poético das coisas, assim como via quando o vento que soprava ou assoviada; sabia que rumo tomava e a suavidade com que levava consigo as folhas secas para, depois, sairmos voando, sem rumo. Nada mais triste era levar comigo folhas mortas e saber que mais adiante poderíamos nos separar dada a força do vento e a fragilidade delas. Quanta vez amparando minhas mãos no pequeno muro daquele quintal, com o olhar entristecido como a de um poeta aprendiz, senti-me como a própria folha, e aí não via à hora do vento passar e quando passava sentia-o triste também, pois não conseguira levar até a janela de minha amada o perfume das ressequidas folhas, o cheiro gostoso de jasmim ou das pétalas das rosas que rolavam pelo chão. Se ela pelos menos pudesse enxergar a folha, ou o meu olhar marejado detrás do muro, perdido no meio dos raios solares que se confundia com as cores, mas bastava um simples gesto dela para me fazer renascer e a vida faria de nós um elo, pois sabia que ainda havia esperança. Esperança em um mundo melhor, mais justo, humano e fraterno, onde, talvez, por descrença, o vento ao passar por algumas estações devia ter ficado angustiado, sentimental e viu que não havia elo nenhum. Talvez entendesse que minhas angústias, paixões e sentimentos não podiam ser levados por ele, apenas eu. Eu apenas para ser mais claro. O vento não tinha culpa.

O vento não tinha culpa e não podia saber a origem de tudo que corroia a nossa alma, e às vezes, não me interessava saber de onde ele vinha, mas quando passava acariciando o meu rosto o meu coração acordava para a alegria. O vento foi meu cúmplice e tudo o que amei, ele sabe que amei sozinho. Sabe fui um sonhador. Assim, na minha infância, nas garras da tormentosa vida, ergui-me, no bem, no mal, de cada abismo, a encadeei-me, o meu mistério. Prendi-me a sete chaves. Aquietei-me num recanto só meu. Às vezes quando deixava o vento me levar sei que vinha recheado de cheiro das verdes matas, que trazia a calmaria dos rios e o canto dos pássaros; sei que se ungia nas fontes da vida e veloz, descia da rubra escarpa da montanha beijando o sol, para depois afagar meu rosto com suavidade, me envolvendo em outonais clarões dourados; livrando-me dos relâmpagos vermelhos que o céu inteiro incendiava; dos trovões, das tempestades, das nuvens que se alternavam e traziam escuridão. Só no amplo azul do céu puríssimo, como a um anjo e ante meus olhos, levava em seu colo a pequena folha seca e as pétalas de rosas que se desalinhavam no chão. Folhas caídas e pétalas, mas que conhecem todas as estações da vida e os motivos que as fazem ficarem assim, mortas, jogadas, espalhadas pelos terrenos férteis e inférteis, simplesmente ao léu, pisadas por pés apressados e levadas por ventos que não eram os meus. Ficava entristecido a cada estação do ano, e não suportava ver a manhã seguinte, quando não via as folhas, pétalas sobre as calçadas, jardins floridos e sem saber para onde teriam ido. Eis a vida, acho que a vida é assim, penso eu, e por isso, mesmo caminhando sóbrio sobre terrenos férteis, entendia que devia deixar o vento me levar também.

Tendo-se razão ou não, assim é na vida. O vento não te levará e nem a sua casa se fores firme e construí-la sobre a rocha; o vento de sua vida será verdejante como a uma densa mata; o vento de sua vida não o sugará da terra se tiveres alicerçado com amor, então, sendo sua vida assim construída, suportará não somente o vento manso, mas também os vendavais, ventanias, tempestades, que poderá até balançar sua estrutura, mas se sua vida for bem regrada não será fácil você cair, sentir o impacto, e não se desmanchará em pó tão facilmente. Podem vir primaveras, verões, outonos e invernos, mas se os homens tornarem-se apenas folhas aí sim deverá temer qualquer ventinho que não tardarão chegar. Assim é a vida..., mas nos anos que virão entendo que não será tão necessário renovar apenas guarda-roupas ou comprar veículo novo, mas sim, deixar que o vento nos leve para renovar o nosso espírito e ampliar a nossa fé em Cristo; deixar que ele nos ensine a dar uma faxina em nossas vidas; deixar que possa revermos tudo que aconteceu de ruim e anotarmos na agenda de nossa existência, as palavras amor, paz, fraternidade, solidariedade e justiça para que tudo possa, daqui por diante, ser diferente. 

Vaidoso, sou, mas não sou egoísta, nem prepotente ou arrogante e no passo da fuligem, da folha seca, de algo quase inexistente, tomo o meu destino e procuro ser humilde. Absolutamente humilde. Sabes por quê? Explico: Porque sei que sou a folha que voa mansa amparada pelo vento; porque não sei quantas primaveras, verões, outonos, invernos terei; quanta tarde passarei no jardim de minha existência; quanta força advinda de vento poderia suportar. Resta-me então pedir ao meu Pai Celestial que jamais deixe a janela do universo fechada para mim. Pode acontecer que as folhas, as pétalas, assim como eu, percamos nossas forças numa manhã ou tarde e quando chegar ao entardecer não estarmos todos caídos enfeitando o leito. Estranho é vermos o tempo passar, trazer o entardecer e não ser compreendido que havia um sentimento profundo entre eles e que o trem da ventania poderia levá-la intempestivamente junto com aquelas passageiras estendidas no meio desse tempo. Você, caro leitor, um dia, também será passageiro desse trem ventania e pelo ar será levado em direção à rua onde mora sua amada, mas como não terás destino, quem sabe se o vento se perde na curva e o arremessará fazendo-o entrar por outra janela, vê-la no seu quarto, deleitando-se na cama.

E quando você chegar e antes de apreciar a lua, contar as estrelas e sonhar com os mistérios da noite, certamente ficará observando a sua amada e assim como eu começará a escrever alguma coisa numa pequena folha de papel. Talvez escreva: Ah, se pudesse ser levado ao vento igual às folhas e pétalas, então meu destino seria igual a elas, que são apenas folhas ao vento, mas no nosso mundo imaginário sabemos que são apenas folhas, mas amadas pelo vento. E eu usando as asas de minha imaginação estarei bem ao lado da janela, voando baixo, esperando que ela me veja, me segure, me carregue, me aconchegue em seu colo, para depois, me guardar dentro do seu diário, como uma folha que não precisa de vento.




Quando a vitória é dos derrotados.

domingo, 14 de dezembro de 2014

A vitória de Dilma ocorrida no Congresso Nacional onde se viu aprovada a PLN 36 que altera a LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias pareceu até engraçada à maneira que fizeram para aprová-la, uma palhaçada mesmo! Para mim que fui criado dentro dos princípios da honestidade, seriedade e respeito à pessoa humana e à coisa pública, achei seriíssimo o que aconteceu no plenário daquela Casa Legislativa. Artimanhas foram encenadas e no palco, nada mais que uma grande demonstração de interesses pessoais e partidários. O governo federal para sair vitorioso ofereceu através de emendas, uma verba polpuda de R$ 740 mil reais para cada parlamentar, os quais, em razão disso, chegaram ao cúmulo do absurdo de gritarem seguidas vezes em plenário: coloca logo em votação Presidente! Para eles era só ganhar e pronto! Pronto é claro para receber além da verba os cargos negociados com a Presidente. Ganhar ou perder, eis a questão. Esta é a análise que ora faço. A derrota pode ser analisada de forma inversa. Teve tempero melodramático, foi trágica, mas alcançou o fundo da alma. Teve um impacto impressionante. Explico por quê: Nas derrotas é que aparecem heróis e não é por acaso que em muitos romances e filmes o enredo principal são sobre derrotados e não sobre vencedores. A vitória que se obtém no dia a dia não basta; é preciso que o mundo as reconheça, mas ela, na maioria das vezes, é contabilizada apenas como mera estatística, já a derrota, vai para o mundo da literatura. Sim, os derrotados, pessoas, partidos ou não, principalmente no caso ocorrido no Congresso Nacional, passa a serem heróis nacionais e para nos escritores e poetas, heróis literários. Os vitoriosos, são aqueles que, mesmo com a derrota, saem por cima. E é isto o que sinto em relação à votação no Congresso Nacional e a vitória de Dilma no último pleito. Tanto num episódio como noutro, senti-me confortado e até me considerei vitorioso por não votar nela. Explico: Não fui cúmplice e nem conivente com a corrupção que hoje se vê confirmada com as denúncias que continuam chegando ao conhecimento público da forma mais inusitada, nojenta e escabrosa. Faltaram aos vitoriosos além de respeito ao povo brasileiro, darem uma lição de humildade.

Quanto ao quadro político a que me propus a comentar, digo e reafirmo que quando um grande debate termina, as faces dos vitoriosos compõem um quadro de histeria insolente. No quadro político dos vencedores encontramos réplicas e mais réplicas do mesmo sorriso. Um sorriso sarcástico que ancora na boca resquícios de baba. Quanto ao semblante do quadro de derrotados observamos detalhes diferentes. Tal como as impressões digitais, os rostos dos derrotados são sempre diferentes uns dos outros. No quadro político perdedor não vemos sarcasmos e nem histerias coletivas; vemos semblantes do dever cumprido; vemos dramas individuais em conexão com seus partidos e simpatizantes; vemos dramas pessoais e intransmissíveis, mas todos com os mesmo sentimentos de vitória, pois sabem que lutaram até em último recurso em prol daquilo que entendia correto e em favor de seu país, assim como, fazer entender aos que assistiam o debate, que o histórico bastão empunhado pela PT, em parte, perdeu sua identidade após estes doze anos de governo; ou pelo menos não é mais uma identificação mais próxima como um dia já foi. Antes de assumirem o poder iam às ruas falando em moral e ética, mas agora, além do famigerado “Mensalão”, a Polícia Federal com a operação denominada de “lava jato” descobriu milhões em depósitos feitos em bancos de outros países e o pagamento de propinas a políticos do PT, PMDB, PP, conforme delação do próprio Diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, pessoa que sabemos ter sido íntima de Lula e Dilma. Aí pergunto: Onde está à ética tão propalada pelos petistas antes de assumirem o poder? Onde está à ética de muitos daqueles deputados e senadores que votaram a favor da alteração da LDO e hoje estão sendo denunciados pelo Ministério Publico Federal por receberem propinas da Petrobrás?

Naquela noite tenebrosa, mas clara para milhares de telespectadores que assistiam ao debate, viram líderes da oposição usar de palavras eloquentes para tentar explicar que o PT passou a ser reconhecido como partido dos trabalhadores para se tornar um partido da ordem, que governa para os capitalistas, com alguma política social enganadora. Prova disso é que Dilma venceu apenas na faixa da população que recebe até dois salários mínimos, composta da grande massa de pobres urbanos e dos setores operários mais precarizados, principalmente os do norte e nordeste. A contradição é que ainda na maioria dessas concentrações operárias o PT segue dirigindo os sindicatos a partir da CUT.
Uma das dificuldades que o partido deve cruzar no próximo governo é que perde espaço onde poderia ter mais solidez, mais organicidade, já que o apoio dos setores mais rotativos da economia e também dos pobres urbanos, é mais pragmático, e tende a oscilar de forma mais rápida de acordo com as oscilações da economia, que anda em franco declínio (“quem pode manter meus benefícios?”). Questão com a qual o PT dialogou durante a campanha dizendo que Aécio cortaria estes benefícios, mas ao custo de gerar ilusões que provavelmente não vai poder cumprir.

Para um governo de mais crise, com recessão econômica e a necessidade de ajustes econômicos que virão cedo ou tarde, a tendência é que esse questionamento seja ainda superior, e pode atingir mais claramente também a burocracia sindical dirigida pelo PT, que domina a CUT. Resta saber então para onde será canalizado este questionamento. Por isso a necessidade de se construir uma forte alternativa da classe trabalhadora, independente das burocracias e patrões, enraizada no movimento operário, que retome os sindicatos como ferramentas de luta. Se eu os convencer com essas poucas palavras o meu fetiche pelos derrotados, então, entendo não ser assim tão estranho quando penso, em certas vitórias, como no caso em tela, onde senti que foram vencedores os derrotados.



Indignado e chocado igual a um pinto!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Terça e quarta-feira findas ao assistir a TV Senado, fiquei indignado com as manobras do Presidente da Casa Renan Calheiros para aprovação da PLN 36 que altera a LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias. Em primeiro ato, negou pedido de trinta e seis parlamentares da oposição e de alguns da situação que pediram a abertura das galerias do plenário; em segundo ato, além da arrogância que lhe é peculiar, cinismo e falta de respeito aos eleitores brasileiros que presenciaram ele atender apenas um pedido, por sinal, de uma deputada petista que pediu a retirada dos manifestantes porque se sentia ofendida, e Renan, de forma ditatorial determinou aos seguranças que retirasse as pessoas da galeria que assistiam ao debate, o que foi feito com agressividade e covardia. Uma senhora de setenta e nove anos foi agredida brutalmente e de forma covarde. O presidente foi obrigado a encerrar a sessão, a qual teve continuidade no dia seguinte e sob suas ordens, fecharam-se todas as entradas e nenhuma pessoa pôde ter acesso ao Congresso Nacional – a casa do povo. Fiquei deveras indignado!

A lei em discussão que neste momento que escrevo ainda está inconclusa, mas se aprovada, concederá uma anistia à Presidente Dilma pelo não cumprimento da meta fiscal. Na realidade, os partidos da situação votaram pela aprovação de uma lei que nada mais é do que uma fraude à fiscalização para evitar que a presidente venha responder por crime de responsabilidade fiscal. O exemplo que a chefe do Executivo dá aos brasileiros é o pior possível, pois não haverá mais Lei de Responsabilidade Fiscal. Ninguém vai ter mais autoridade de cobrar de um prefeito ou de um governador que cumpra também os seus percentuais mínimos de investimento em saúde e educação. Por que a presidente pode descumprir e o Congresso Nacional dar a ela esta anistia, e os prefeitos respondem inclusive criminalmente se não cumprirem as suas metas? Disse Ronaldo Caiado em seu pronunciamento: “Se esta Lei for aprovada, os governadores e prefeitos, virão na esteira do mal feito”. “É a contabilização da propina”. “É a desoneração mais as obras do PAC transformando propina em investimento”. “Os deputados e senadores que votarem a favor desta Lei está conivente com a corrupção”. É verdade! Não falou mais que a verdade!

Caro leitor, estamos vivenciando um caos político, econômico e social. Partidos se vendem em troca de emendas parlamentar e cargos públicos para seus comandantes e apaziguados. Quando usamos da escrita ou da fala, não bastam somente críticas e reclamações porque elas podem se transformar em autopromoção, principalmente se insistirmos em ficar de braços cruzados. Importante é que saiamos em busca de informação, e se constatarmos que algum ato político nefasto interferiu em nossos direitos que acionemos a justiça na forma da lei. Seja individualmente ou em grupos, mas é fundamental que manifestemos concretamente a nossa insatisfação, e não nos resignar ante os obstáculos! Não adianta resmungar e calar! Um país jamais será democrático se não nos permitir agir conforme o procedimento legal que o rege, e um povo jamais será livre e soberano se não for capaz de obter civilizadamente a justiça. Já disse várias vezes e repito: A pior cegueira de um governo ou de uma parte da sociedade que não vê, ou finge não enxergar; surda, ou finge não ouvir; muda, mas que não admite ser; mentirosa, porque engana a si própria que se diz cega e que não deveria se dobrar ao poder aquisitivo lícito ou não de alguns. A sociedade brasileira deve ser igual para todos, independentemente de sexo, raça, classe social, religião ou região; não importam se são brasileiros nascidos no sul, centro, norte ou nordeste. O importante que é que não nos curvemos à tirania de pseudo-populistas e ditadores disfarçados que se autodenominam democráticos, e que se dizem conhecedor dessas dificuldades que não vivencia.

O importante também é que avaliemos o rumo das coisas sem perdermos o foco na imprescindibilidade de garantir a todos os mesmos direitos, já que deveres obrigatórios têm que cumprir. Que a corrupção de toda espécie que contamina o Brasil seja punida de maneira igualitária, sem direito a imunidades parlamentares ou o que quer que se assemelhe. Não podemos permitir mais vergonha e desonra a esta nação! Que a justiça seja feita baseada na coerência exigida para cada caso. Não importa se roubaram um milhão ou um tostão. Importa sim que se penalize da forma estabelecida sem privilégios calcados em propinas, delações premiadas e agrados financeiros. Estou indignado e chocado igual a um pintinho, mas sei que esta indignação vai exigir que eu continue lutando e não venha cruzar os braços. Vou valer do que me é de direito e continuar cumprindo aquilo que for dever. Serei justo, pois é isto que o Brasil espera de mim!


Existem senhas para mortes encomendadas ou premeditadas?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que nos espera no mundo espiritual. O título desta crônica parece meio estranho, mas assim o fiz no intuito de alertar as autoridades quanto aos temores vividos pela sociedade de um modo geral e inibir os constrangimentos e medos que a perturba dia a dia. De forma racional e sem querer interferir na sensibilidade de cada um, quis também, com ela, esclarecer acerca da sobrevivência da alma e a forma do descerramento da cortina codificada que separa esses dois mundos: o bem e o mal. Quando se fala do mal ou mundo do crime, este não precisa de senha e nem é preciso agendar, entrar em fila, contar com a sorte, acordar cedo e pegar senha para ser morto. Será que existem senhas? A possibilidade de recomeço e de viver está disponível o tempo todo, na maior parte dos casos. Mas não é tão bem assim. Tem lá seus mistérios que somente a polícia cabe desvendar. Há casos de existência de senhas ou códigos que vêm sem embrulho, apenas com a ordem de matar. E os cumpridores da ordem soltam bravatas e matam apenas para ouvir o gemido do desafeto. Não mostram nenhum constrangimento. Ficam tranqüilos como se fosse normal o ato criminoso que cometeram. Curtem a façanha criminosa, riem para as câmaras, debocham, desdenham da polícia e esta ao soltar o menor infrator ou criminoso sem o fragrante delito, crítica a nossa frágil lei penal.

Tenho acompanhado com a máxima atenção o aumento dos crimes cometidos por menores, tráfico de drogas, estupro e assassinatos. É comum nestes crimes a constatação de que tem o mesmo resultado, independentemente de idade do infrator, e a total impossibilidade de fazer com que o criminoso pague pelos seus crimes. O menor estupra, espanca, trafica, mata é protegida pelo Estatuto do Menor e da Adolescência. A polícia prende a justiça manda soltar. O povo pede o fim da impunidade, leis mais severas, mas os políticos continuam sentados em seus gabinetes refrigerados e nenhuma providência toma, alguns, ainda, dizem que esta Lei é de “primeiro mundo”. Grande besteira! No primeiro mundo o menor criminoso é julgado como adulto e punido de acordo com o crime cometido. Lá, no verdadeiro primeiro mundo, um assassino é um assassino. A maioridade penal nesses países varia entre 7 a 14 anos, e aí pergunto: será somente o Brasil que está certo ou é o primeiro mundo que está errado?

Quantos tiveram mortes anunciadas, encomendadas ou premeditadas pelos seus desafetos? Muitos eu creio e isso vem ocorrendo diariamente. Basta ler os jornais ou assistir a TV. E quando falo em senhas e códigos, que são palavras previamente convencionadas entre as partes como forma de reconhecimento, que não é a situação em comento, em todo caso, me fez lembrar de certo menino, o Ítalo Pezão, pertencente à classe média baixa, de cabelos longos caídos sobre o ombro; usava uniforme impecavelmente limpo, mochila jeans surrada e no seu semblante, a imensa solidão que o precedia. Era silencioso até nos passos. Não discutia, não falava com ninguém. Algumas vezes, com o olhar absorto, ficava parado à beira do alambrado olhando o vazio. Não era um aluno bom, nem ruim. Passava sempre nas matérias, mas não fazia trabalhos em grupo. Não se misturava com ninguém… No esporte, principalmente o futebol, que praticava no chão batido, era diferente, sentia-se no seu habitat. Lá ele fazia a bola rolar com maestria, cadenciava as jogadas para municiar os companheiros e possuía um chute desconcertante, certeiro. Era o artilheiro do time. Lá podia sair um pouco do seu silêncio, balbuciava algumas palavras, mesmo sabendo que todos ouviam o seu silêncio. Antes de cada jogo, à beira do campo, sonhava um dia calçar chuteiras coloridas e se tornar um Ronaldo, um Neymar, um Kaká, um Lionel Messi... Pura ingenuidade. Em nosso país onde paira a corrupção generalizada, onde acontecem coisas que nos deixam indignados, onde parece não ter importância ser honesto e dignidade é uma mera retórica, sabia ser difícil. E é realmente difícil, pois vivemos diante de um confronto social difícil e violento quando saímos às ruas, e pior ainda, é quando se vive numa grande cidade, como a nossa, onde pouco se pode fazer. Você dá de cara com crianças maltrapilhas que são obrigadas pelos pais viciados e paupérrimos a mendigar. Nem precisamos andar muito pela cidade e logo damos de cara com gente de todas as idades, passando fome, doentes, drogadas, algumas com feridas esparramadas por todo o corpo, faixas de publicidade no pescoço, às vezes, mutilados de uma guerra apenas quixotesca. Nas esquinas, nas pontes e postes, dentro de caixas, atrás de muros, junto com os ratos de esgoto, ficam ali jogados os pacotes de lixo-gente. Muitos deles aprendem e sobrevivem com seus vira-latas como se estivessem sendo empurrados pela mão invisível do destino.

A história de Ítalo Pezão é ficcional, mas extraída de fatos reais e se existir crime idêntico, é mera coincidência. Mas é fato. O jovem além calado era arredio, sorumbático. Possuía olhos castanhos profundos e penetrantes que substituíam as palavras. Ele dava medo, às vezes. Todos tinham pena, muita pena, dele. Olhavam para ele e viam nele somente tristeza. O olhar profundo lembrava desesperos, parecia pedir socorro, mas ninguém durante sua existência tinha parado para escutá-lo. Esta é a pior cegueira da sociedade que não vê, ou finge não enxergar; surda, ou finge não ouvir; muda, mas que não admite ser; mentirosa, porque engana a si própria. Quanta vez esperou que alguém lhe estendesse a mão, quanta vez olhou para quadro negro tentando decifrar o significado por trás de cada palavra ali exposta pelo mestre; quanta vez leu e releu na esperança enxergar um gesto cordial, uma frase qualquer que pudesse significar que a sociedade não estava fingindo de cega ou de surda. Nada. Ítalo se viu tão solitário assim como suas idéias se tornaram incompreensíveis.

Certo dia, num campinho de periferia, por insistência de uns “amigos”, cheirou pela primeira vez o pó, depois cocaína e crack. Tornou-se um viciado. A droga o deixava meio maluco e suas pupilas dilatavam, ficava excitado e suava intensamente. Começou aí a decadência do menino bom de bola; sua vida deixou de florescer e conseqüentemente, veio à dificuldade de retirar dela os galhos podres para poder sobreviver com mais dignidade e escapar dos percalços nefastos que o vício lhe impôs. Infelizmente não conseguiu. Certo dia, ao denunciar um traficante que o perseguia por não pagar uma pequena quantidade de “pedras” de crack que comprara, recebeu como recado a sentença de morte. E foi numa manhã primaveril. Eu como de costume, peguei o jornal e logo vi estampado na capa em letras garrafais à notícia sobre a morte de um jovem e que seu corpo fora encontrado num beco escuro: Era o de Ítalo Pezão. Se fora um crime premeditado ou encomendado, para a polícia não havia dúvidas. Ele recebeu vários tiros à queima-roupa, e no peito, um recibo de quitação, cuja assinatura fora substituída por uma caveira, símbolo da morte. Senha, código ou não, a data e hora de sua morte ficou registrada naquele pedaço de papel.



 
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