Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Santa Missa num Rincão Inacabado

terça-feira, 29 de maio de 2012

Quando cheguei à Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, fiquei surpreso, boquiaberto, e em certo momento, senti que estava assistindo a um filme velho, cujos atos já tinham sido encenados noutros recantos, tendo como protagonista o mesmo ator, cujo palco improvisado em galpões poderia atropelar o mais sensível ser humano e fazê-lo lembrar da luta insana que empreendera para o retorno do padre Luiz Augusto, o “Paladino da Fé”, de onde jamais deveria ter saído. As cenas disfarçadas de orgulho se confundiam com a preocupação dos fiéis cujos semblantes pareciam transmitir medo de perder novamente o grande evangelizador e o novo recanto mesmo inacabado. À medida que o tempo passava aquelas cenas iam se dissipando de minha massa cefálica, embaladas pelos sons inebriantes e dos cânticos entoados pelos músicos naquele altar improvisado, o qual me fez recordar de um artigo escrito anteriormente neste jornal intitulado “Santa missa no altar da humildade”, que me proporcionou mergulhar nas águas profundas e ao emergir, sentir a necessidade de rabiscar no papel, com cores rubras de um coração ferido pelo tempo, somente as decisões sensatas, excluindo definitivamente as insensatas, mas imbuído do desiderato de tentar esquecer as desavenças e o próprio tempo que sempre me cobrou precisão.

Há dias não comparecia à missa por razão de viajem e doenças em família. Entretanto, no último domingo, cansado das andanças sem fim, assim como, do atendimento precário que meus entes queridos e amigos receberam da rede hospitalar e em face da própria agitação da cidade grande, senti a necessidade de estar perto do povo de Deus que sempre se aglomerou naquela paróquia, e ao dobrar a quarta esquina de entrada da Vila Expansul, logo vislumbrei do lado esquerdo um galpão inacabado, lotado de crianças, jovens e adultos, situação que me deixou surpreso. Mas, ao reprisar as cenas passadas não foi difícil entender o porquê de tamanha força evangelizadora, pois, quando uma sociedade se une em busca de um ideal: a proteção e união da família, a oitiva do evangelho, a destreza do evangelizador e quiçá, presença de Deus na vida de cada um, tudo nos mostra que nada é impossível ou invencível, mesmo quando se luta contra o silêncio dos invejosos e/ou o uivo enganador das vozes que se escondem nos tímpanos teimosos. As pessoas que lá clamavam o nome de Deus para safarem-se das incertezas do cotidiano, dos males que afligem as famílias, das perseguições e invejas que rondam o benfeitor espiritual, são capazes de prosternarem-se até o cimento frio ou o chão poento, em humilde respeito, e ao levantar os olhos, sentirem o prazer de vê-lo no altar da humildade com a mesma tenacidade, sorridente, reconciliador e com seu coração jubiloso, continuar amparando aos menos favorecidos ou até pessoas abastada, minimizando-lhes a dor, a fome, a doença, a solidão, a ganância, a tristeza, e essas ações sociais e humanitárias estão se tornando um fato inovador capaz de conquistar os mais incautos dos homens e aumentar o número de fiéis católicos, como aconteceram noutros locais e ora vem acontecendo naquele rincão inacabado. Comenta-se que moradores do Setor Expansul que não iam às missas, hoje estão participando das celebrações, inclusive, alguns deles, até pertenciam às igrejas evangélicas da região. Quando recordo da luta que empreendemos em favor do retorno do Paladino da Fé, o nobre leitor poderia até achar que se tratava de um sonho ingênuo deste escriba, entretanto, diante daquele monumento inacabado, apinhado de gente, não pairou dúvida quanto à certeza de nossa luta e no final, saber que o sabor de nossa vitória era acalentado por valores espirituais que sempre nortearam esse extremoso sacerdote.


Muitos são os heróis do novo recanto e ele servirá como repouso espiritual eterno, alicerçados por um bairro que se ascendeu ao ouvir os clamores dos fiéis, as músicas e as orações que são levadas pelo vento e pousam suavemente nos ouvidos sensíveis e ansiosos dos moradores do Setor Expansul. As sementes da fé plantadas pelo Padre Luiz com o irrestrito apoio de outro paladino, o Padre Cássio, não serão efêmeras, porque já nasceram guarnecidas por um profundo sentimento de gratidão, esperança e amor em Cristo. Sentimentos que guardei na região recôndita de meu cérebro, que hoje se espalham e me ensinam a segurar as rédeas do tempo e seguir pela estrada da vida com retidão de caráter para, no final, saber puxá-las no momento certo. Regadas com águas puras, cresceram e sobreviveram aos abruptos e inférteis terrenos que captadas e geridas pelos sonhos, mais pareciam pequenos quadros pintados pelo Grande Arquiteto do Universo. Sei que a realidade dói quando no próprio sonho já se inicia a dor, não obstante sabermos que no mundo dos sonhos não temos condições de afirmar se somos felizes por completo ou, quando um sonho é reprisado possamos encontrar o caminho certo, que outrora ousamos percorrer usando a sombra de nossos próprios sonhos. Demoramos encontrar a pessoa que nos acalentou e nos fez encontrar o caminho de Cristo; demoramos retribuir a amizade a esse alguém que nunca pediu nada em troca.  Esse alguém que queria ser apenas amigo e nada mais. Quantas vezes tentamos alçar voos mesmo sem ter asas e encontramos um lugar rodeado por muros intransponíveis, onde não se consegue ver o que acontece do outro lado.  Sonhos que nos confundem e muitas vezes nem sabemos se ele foi real ou imaginário. Tentamos destruir o muro, mas, vem o medo de encontrar do lado de lá forças estranhas e poderosas. Tentamos achar o caminho que percorremos noutros sonhos e, aí, Deus vem e nos guia por um caminho totalmente diferente, mostrando-nos a realidade, o mundo medíocre em que vivemos, mas, mesmo assim, ELE nos dá tranquilidade, espanta o nosso medo e nos protege do mal que muitas vezes nós mesmos criamos

Mulher Amazona e a Máquina do Tempo

terça-feira, 22 de maio de 2012

Através da janela da alma ela costumava ver chuvas intermitentes deixarem as pastagens e os capins verdes, que se alastravam com uma rapidez impressionante alimentando o gado e trazendo esperança e aspirações aos fazendeiros daquela região. Muitas vezes, ainda com oito anos de idade, montava no cavalo Alecrim e saia a galope para campear gado ao lado de seu pai, e demonstrando destreza com a lida animal, segurava as rédeas e o animal lhe obedecia cegamente; galopava veloz, como a uma amazona; fazia curvas mirabolantes arranhando seu corpo e pés nos galhos das árvores, enquanto as patas do cavalo roçavam a relva úmida que já tomava conta da trilha feita sobre o chão batido. Seus cabelos castanhos e cacheados subiam e desciam com o toque do vento, enquanto o seu olfato recebia e armazenavam perfumes que vinham das flores tão abundantes naquele sertão goiano.


Hoje, ao reprisar aquelas cenas, deparo com um rosto maduro que há décadas entrou na moldura de meus olhos e se estabeleceu, mas que vez ou outra, a antevejo no espelho da vida. Quando adolescente, em razão do trabalho árduo no campo, achava que poderia lhe florescer sobre o corpo formas estabanadas, rudes, masculinizadas, no entanto, a natureza deixou-lhe em torno de si a sensualidade e fez de seus gestos algo sublime; é como o repouso de uma garça sobre o rio; é como o voo alinhado dos pássaros que cortam o céu azul ou de uma pétala de rosa que cai e é levada com suavidade pelo vento.


Mas aquela menina tornou-se adolescente. Largou a pradaria e deixou por lá as rédeas e cordas que ficaram somente na memória, cujos laços, hoje, são apenas imaginários e que só ela é capaz de lançar ao ar em momentos propícios para segurar, frear homens, mulheres e jovens errantes. Menina que também em lágrimas teve que desatar de seu corpo os laços familiares para encarar os estudos numa pequena cidade do interior. Esta pequena amazona que enfrentou um mundo novo, desconhecido, construído por carteiras escolares e uma disciplina medieval imposta por um colégio de freiras de uma cidade interiorana. Menina que continuou desatando os laços que a prendiam por detrás de um muro e, com as bênçãos dos pais, seguiu seu caminho para completar seus estudos e pela estrada de chão, esburacada, pegou o ônibus rumo a Capital em busca de um futuro melhor ou de seu próprio destino. A sorte estava lançada. Menina-adolescente que venceu obstáculos e a solidão imposta pela distância, às vezes amenizada pela presença constante de amigas vindas também do interior. Adolescente que se tornou mulher, namorou, casou e tornou-se boa esposa, mãe e avó. Avó que voltou a ser criança quando pega nos braços os netos, e feliz, rola-se no chão, brinca com coisas infantis, tudo no afã agradá-los e fazê-los rirem de suas palhaçadas. Ao passar pelos canteiros da vida soube regar com águas límpidas as sementes plantadas e a satisfação de vê-las produzir frutos recheados de amor, de moral, de carinho e ainda, de poder deixar nesse canteiro, um pedaço de seu quinhão de vida para ser doado aos menos favorecidos, igualitariamente, de forma que todos, indistintamente, pudessem continuar compartilhando de um mundo melhor e mais humano.


Mulher que mudou para sempre o sentido de minha existência, pois o amor quando é dedicado esmorece qualquer coração teimoso, em especial aquele que durante longos anos desacostumou-se dos aconchegos e, muitas vezes, nem chegou a ter colo. E foi naquele cursinho que iniciamos a jornada que a vida nos imporia. Lá ou fora, durante anos, debruçados sobre livros, cadernos, olhares de soslaios e carícias mais audazes, soubemos administrar diferenças, gosto e estilos. Mas, hoje, quando terminei de escrever o livro de crônicas e poesias que intitulei “Reprisando as páginas da vida”, claro que não poderia deixar incluir nele esta crônica e homenagear a menina amazona que há décadas deixou os laços paternos e não titubeou em aceitar o meu mundo e minha maneira de ser, mas sempre mantendo o equilíbrio, e no rosto angelical e atos, a mantença de uma meiguice racionalmente impossível. Tão doce que constrange minhas amarguras. O seu olhar castanho-claro sempre foi uma flecha extensiva, aquela de longo alcance que outrora vagou pela terra como se fosse um pássaro em busca de sua cara metade, para, num final de ano, em pleno solstício de verão, flechar-me para a eternidade.



Como bom observador, aprendi que a maior parte das lições dadas por ela e que o próprio tempo foi me mostrando paulatinamente, foi à bondade. Vi que cada ato dela planava sereno em suas ações e eu sentia que precisava continuar sendo uma pessoa boa, bom pai, bom marido e avô, leal, responsável, amado, seguro, respeitado e ter sempre Deus no coração, porque sem ELE, tudo se torna mais difícil. Mulher que para mim continua sendo aquela menina amazona, não obstante hoje saiba manusear um computador e a destreza de cavalgar na máquina do tempo, logicamente mais veloz, sem os percalços impostos pelas relvas e curvas. Sem rédeas e apenas com o apertar de um botão, sabe que poderá lançar ao mundo os seus laços repletos de meiguice cujas cordas são adornadas e levadas pelas asas da imaginação. Essas cordas tecidas pelas suas próprias mãos me enlaçam de forma sublime e com o passar do tempo vão se reforçando com as molduras do amor, ternura e sua dedicação peculiar. Mulher guerreira que todos chamam carinhosamente de Maria. 

Crônicas Vesejadas De Um Escriba Maluco

terça-feira, 15 de maio de 2012

Diz o ditado popular que todo ser humano tem um pouco de médico, poeta e louco. Neste caso posso dizer que não sou médico, mas como todo mundo faz, indico remédios para certos males, tento escrever algumas poesias e endoideço em face das mazelas que acontecem no cotidiano, então, talvez seja esta a razão, de não ter sido médico, nem poeta ou louco, apenas de tudo um pouco. Semana passada, escrevi sobre a corrupção e depois sobre a situação do homem atual, mas hoje, resolvi patentear o que tem no íntimo da alma do poeta Pedro Motta, que são seus versos. Então, atabalhoado, na eminência de desistir, mas, visando não contrariá-lo, mantive as rimas para não destruir sua essência, chegando à conclusão de que o nobre plebeu tinha razão quando escreveu: “Neste planeta terra somos o pior animal, loucos predadores da natureza e da vida; causadores de suas próprias feridas; homens sem Deus são o próprio mal, tem a carne perdida por falta de sal. O homem obriga a natureza que luta indefesa diante do tempo que a consome, das mudanças climáticas no ocidente, no oriente ou asiáticas; da terra que treme ante o malfeitor que não a defende, e diante de sua insignificância não a compreende, mesmo quando se vê diante das tempestades e das águas revoltas que descem com potência arrastando junto com lamaçal muitas vidas como advertência”

Li e reli. Como ambientalista, aprendiz de poeta, cronista tive a sensibilidade de observar o sol despontar sóbrio, reagir, castigar, interferir na vida de nosso planeta, mudar rotina, derreter gelo, alterar o clima e por fim, entender que era um aviso que vinha lá de cima. Guerras, criminalidades, destruições, tremores de terra, tempestades e vulcões; crises que ameaçam grandes potências tiram suas máscaras e pedem clemência. Os últimos dias estão chegando ao pódio, pois o amor esfria e dá lugar ao ódio, destruindo famílias, apregoando a traição e nas telinhas de TVs pornografia e corrupção. Versejo nesta crônica que o homem é pobre e besta, fera que vive a matéria, um depósito de lixo, vírus e bactéria; digo-lhe, toma tua cruz e siga o caminho de Jesus, pois é ELE que te salvará e o encherá de luz. Só ELE o libertará, cuidará de sua ferida; o amará e lhe dará vida; enxugará o teu pranto e no seu coração deixará o encanto e nele, fará a morada do Espírito Santo.

Não se espante com este escriba, aprendiz de poeta, meio atabalhoado, maluco, mas que recebe nos seus versos o sopro do vento que muitas vezes passa meio cafuzo, como a uma nuvem passageira que cai sobre um oceano; e nesse passo do descompasso raramente enxergamos o destino, pois tudo move passo a passo, são uns chegando e outros partindo; a cadência é assim, mesmo numa passarela sem fim, sem lado, alambrado e jardim.

O cronista, aprendiz de poeta e romancista é assim: sempre quer que o mundo seja seu mesmo quando insiste em manipular o inexistente; mesmo aos que se encontram tristes, sabe que logo estarão sorrindo, pois no placo da vida uns estão voltando e outros saindo; uns dizendo a verdade, outros mentindo, mas todos se gabando que só eles são capazes, sem nenhum mito, de enxergar o fim do infinito. São criaturas que vivem a perambular pela estrada da vida e se vangloriam em dizer que a felicidade se encontra em qualquer lugar.

Conversas telefônicas e o seu valor probante.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso foi criada a Lei nº. 9.296, de 24 de julho de 1996, que regulamentou o inciso XII, parte final, do Art. 5.º da Constituição Federal, que preceitua sobre a interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, desde que seja observado o disposto da citada Lei, dependendo para sua consecução, de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.


Os princípios básicos de não admissão da interceptação acontecem quando ocorrer às hipóteses da não existência de indícios razoáveis da autoria, participação em infração penal, à prova puder ser feita por outros meios disponíveis ou o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção, todavia, em qualquer destas hipóteses, tudo deve ser esclarecido com clareza, com indicação dos meios a serem empregados, além da preservação do sigilo da diligência, gravações e transcrições respectivas.


Pois bem, partindo desta premissa e no afã de enaltecer e reportar o excelente artigo do renomado jurista e Juiz Federal Dr. Ali Mazloum, resolvi escrever e fazer uma análise das conversações telefônicas no que tange a atuação da Polícia Federal em relação à Operação Monte Carlo. Se tivermos como base a Lei acima mencionada há de se chegar à conclusão que essas conversações não têm nenhum valor como prova, mas somente um meio de obtenção de provas. Ademais elas têm que ser materializadas e até o presente momento não foram como reportou o meu amigo Dr. Adel Feres através de seu E-mail. Diz ainda o nobre colega advogado, a seu ver, que o vazamento de escutas telefônicas segundo a mídia tinha a intenção de atingir a imprensa, especialmente a revista Veja e o Governador de Goiás. Concordei também quando ele disse que Lula apadrinhou a criação da CPI sem atentar para o fato de que o Ministério Público já investigava os personagens, mas ainda não dispunha de provas para indiciar qualquer ação criminal que seja, obrigando-o, destarte, a abrir o inquérito sem as provas necessárias e convincentes, baseando apenas em indícios.


O Lula, afoito como sempre foi, mais uma vez deu um tiro no pé e o sangue que esguichou respingará em seu próprio Partido, porque nas conversações até agora produzidas e divulgadas pela imprensa provam que a quadrilha não tinha acesso à revista Veja e que a influência sobre o Governador Marconi era exercida através do Senador Demóstenes, o que não deixa de ser natural por serem aliados, mas, como é de conhecimento público, anos atrás ele era até adversário político.

Disse o nobre jurista e Juiz Federal Dr. Ali Mazloum em seu artigo intitulado “O valor de uma conversa telefônica”: “Para o direito, a espetacularização de uma operação policial não muda conceitos. Nesse sentido, a classificação do crime material, formal e de mera conduta se revela importante mecanismo de valoração da prova. Assim, por exemplo, uma conversa telefônica envolvendo cocaína não comprova o tráfico de drogas. Falta a materialidade do delito. A partir das conversas cabe à polícia diligenciar com o fito de apreender a droga. “O diálogo não é a prova, apenas um meio para a sua obtenção”. “A interceptação como meio de prova, serve apenas para nortear o trabalho policial, na mais que isso”, reafirma o jurista. Então conclui-se que em relação a Operação Monte Carlo, as conversas captadas, quando fazem referência a uma terceira pessoa, nem de longe indicam o envolvimento desse terceiro, que fica injustamente ilhado, sem amparo em lastros investigativos, continuando no âmbito da lei exposta, sendo apenas uma conversa, nem mais nem menos. Destarte, nos crimes materiais, a consumação só ocorre com a verificação do evento natural, conforme acima explicitado. Os direitos fundamentais, como a presunção de inocência, a ampla defesa, o devido processo legal, são utilizados como estandarte, atrás do qual, se a lei não for respeitada, vigerá verdadeiros métodos de incrível injustiça, com tratamentos degradantes, desiguais e julgamentos sumários.


Por fim disse o ilustre Juiz que as escutas telefônicas, utilizadas parcimoniosamente, constituem instrumentos de extrema valia no processo de produção da prova, mas não podem ser transformadas em rótulos de culpa colados na testa dos interlocutores. Neste momento em que todos querem ser juízes e carrascos ao mesmo tempo, é importante, como alertou ao bom e mau ouvinte: “que é preciso não só reservar um dos ouvidos para ouvir o outro lado, como também é indispensável conhecer corretamente as provas dos autos, se é que elas existem”.

As Autênticas Caras Pintadas e os Baderneiros de Plantão

quarta-feira, 2 de maio de 2012

No dia 16 de agosto de 1992, ano em que os estudantes brasileiros foram grandes protagonistas nas lutas sociais do País, milhões de jovens brasileiros tomaram as ruas das Capitais com a cara pintada e vestindo roupas negras, como luto contra a corrupção do governo do então presidente Fernando Collor. Aquele domingo, mais tarde, ficaria conhecido como o “domingo negro” e aqueles grupos de jovens que, apesar de distantes clamavam pela justiça e pelo impeachment de Collor saíram vitoriosos. Naquele período ficaram conhecidos como “Caras Pintadas”. O movimento estudantil dos Caras Pintadas teve sua primeira reunião em 29 de maio de 1992 e as manifestações públicas aconteceram entre agosto e setembro daquele ano.
 
 
Um dos eventos considerados como estopim foi o chamado confisco da poupança, que obrigou todos os cidadãos brasileiros a emprestarem todas suas economias aplicadas em poupança que excedesse os Cr$50.000,00. O governo prometia que devolveria o dinheiro emprestado em um prazo mínimo,  entretanto não ocorreu. A situação ficou fora de controle depois que Pedro Collor de Mello, irmão de Fernando Collor, apresentou diversos documentos que indicavam roubo de dinheiro público, enriquecimento ilícito, tráfico de influência e corrupção. Em entrevista concedida à revista Veja, Pedro Collor citou seu irmão e Paulo César Farias (PC Farias) como cabeças-chave do esquema. O circo    estava armado e as entidades civis do país se reuniram para iniciar o “Movimento pela Ética na Política”.
 
 
No final do mês findo ao participar do protesto contra a corrupção, cujo ato foi realizado no dia 21 de abril de 2012, assisti emocionado, jovens voltarem às ruas com caras pintadas, expressando suas  revoltas contra a impunidade, a sonegação, a lavagem do dinheiro, a contravenção, a violência, os crimes de colarinho branco, os esquemas de poder paralelo e outros males endêmicos que acabam por substituir o Estado e até confrontá-lo, como é o caso do jogo do bicho e caça-níqueis que se tornaram  uma escandalosa  cumplicidade que precisa acabar mesmo sabendo que no Brasil nada se apura de verdade e tudo acaba em pizza. A corrupção maior como se pode ver em jornais e na TV, tem origem nas licitações e isso deixa o povo estupefato, indignado. São obras superfaturadas e bilhões de reais são despejados nas contas de empresas que estão atreladas aos governos. É a famosa troca de favores. Ganham a licitação e depois devolvem em forma de “bônus” alguns milhões àqueles que as beneficiaram quando da “apresentação de propostas” para realização de obras ou serviços. O caso “Cachoeira”, por exemplo, que teve a participação de empreiteiras, arrumou tantos adeptos que agora ficou difícil saber quem não faz parte do esquema. Que se cuidem os responsáveis pelas licitações e as empreiteiras que se beneficiaram com a construção de obras de vulto como os estádios, as reformas de aeroportos e construção de rodovias!
 
 
Mas, voltemos ao manifesto contra a corrupção, ocorrido no dia 21. Quando participei do movimento no ano passado já fiquei bastante decepcionado. Muitas entidades públicas, privadas e organizações não governamentais, participaram da caminhada apenas para fazer propaganda de suas próprias siglas, esquecendo do objetivo principal que era mostrar a corrupção que imperava em todos os Estados brasileiros. Faixas, cartazes e nomes das entidades eram divulgados durante a passeata e seus trabalhos alardeados através de aparelhos de som. O manifesto ora realizado Goiânia, ocorrido no mesmo dia em todas as Capitais brasileiras, foi para mim mais uma decepção. Durante a passeata pude observar pessoas pichando paredes, agredindo policiais que davam cobertura ao próprio evento, quebravam vidros das viaturas em total desrespeito ao patrimônio público; depredava tudo que via pela frente; outras com microfones nas mãos, diziam palavras de baixo calão para caluniar somente ao Governador e aí pensei com meus botões: Este ato público por si só já está corrompido. Uma forma de protesto criado a nível nacional para combater a corrupção não poderia ocorrer dessa forma, mas em Goiânia, para muitas pessoas, não parecia ser o objetivo primordial, pois, no uso do microfone, algumas até tentavam disfarçar dizendo que a passeata era democrática, a nível nacional, todavia, ao retornar o microfone a outro participante, incentivava e demonstrava sua euforia detonando de forma injuriosa e grosseira a pessoa do Governador. Como membro do movimento goiano de combate a corrupção sempre pautei minhas ações pela seriedade e respeito a qualquer ser humano, e advogado que sou, sei que qualquer pessoa, seja José Dirceu, Demóstenes Torres, Agnelo Queiroz, Sérgio Cabral, Rubens Otoni, Leréia, Sandes, Jovair, Iris, Maguito, Marconi e outros peixes graúdos e miúdos citados ou não, têm o direito constitucional da ampla defesa e lhe sejam assegurados pela Justiça os ritos normais, não os da imprensa ou de grupos partidários, assim como aqueles que vêm das ruas e redes sociais.
 
 
Faixas e cartazes carregados pelos manifestantes, como da primeira manifestação no ano passado, apareceram novamente, algumas de partidos que fazem oposição ao governo, o que me pareceu naquele momento tratar-se de um fato isolado, mas, era visível que muitos se infiltraram e aproveitaram do   movimento com o objetivo somente de macular a honra de Marconi Perillo esquecendo do seu próprio umbigo. E ato prejudicou as ações democráticas dos autênticos “caras-pintadas” que ali participavam e reivindicando seus direitos de cidadão, respeitando a lei do bom senso, o cuidado com o patrimônio  público e aos policiais que estavam lá para organizar e manter a segurança dos manifestantes. As pessoas que infiltraram no movimento não verificaram a própria sujeira impregnada na torrinha (poleiro) do PT, deixada por políticos corruptos cujos nomes foram citados no famoso “Mensalão”, e hoje, na Operação Monte Carlo, e nesta, um deles, inclusive, até recebeu R$100 mil de propina, tudo filmado e gravado, sem esquecer é claro, da ligação do governador petista do Distrito Federal. Depois disso e de tantas outras mazelas como acreditar nesses baderneiros de plantão ou em outra coisa qualquer quando vemos indicados para a CPI Mista do Congresso Nacional políticos como José Sarney, Renan Calheiros, Jáder Barbalho e Fernando Collor, que no passado, foram execrados pelo próprio PT e acusados de corrupção.

Por fim, é de bom alvitre salientar ainda que o PT ao tentar se desvencilhar do “Mensalão”, e da “Operação Monte Carlo”, afundará ainda mais em sua própria lama, avermelhada de corrupção, e dificilmente voltará falar em ética como aconteceu com o Senador Demóstenes Torres. Ninguém em sã consciência, do PT ou não, insistirão em dizer que são éticos, estes velhos e resistentes bordões que  vinham sendo alardeados por todos através da imprensa. Como tudo na vida é incerto e tudo aquilo que se faz no Brasil é feito em terreno não sedimentado, podem ter a certeza caro leitor que mais coisas  virão à tona, portanto, além de ficarmos preparados para novas surpresas devemos construir nos quintais de nossa vida um poleiro cheio com varas resistentes para que elas possam sustentar os grossos excrementos que possivelmente virão das CPIs.

 
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