Morrinhos é uma bela
cidade, mas bem que poderia ter sido chamada de Cidade dos Pomares, tanto era a
sua riqueza no plantio e cultivo de árvores frutíferas. As lendas que ouvia,
casos, causos e percalços da vida, uma delas vou contar nesta crônica. Então,
com o pensamento alhures sento em minha poltrona giratória, desligo o celular,
olho o monitor, dou uma pequena pausa e fico aguardando os flashes que guardei
na região recôndita do meu cérebro e que há muito tempo não o exercito para
essa finalidade, ainda mais pra falar de um caubói regional, excelente
boiadeiro, domador de cavalos, bravo, destemido, temido, assim como, dos meus
ídolos, ou personificação deles quando os via nas telas de cinema. À minha
frente o computador. Ligo-o. Penso. Forço a memória e os flashes em preto e
branco vão surgindo na velocidade da luz trazendo recordações de tempos idos.
Lembro-me bem de um
caubói regional, lá pelos anos 60, de nome Joaquim Cordão, que sempre trajava
uma calça de algodão, camisa xadrez, cinto grosso, de couro, chapéu Panamá
preto, botas, esporas e não se amedrontava quando tinha que enfrentar
adversidades que a vida lhe impunha e até de domar alguns cavalos de raça. Ele
possuía uma exímia pontaria e isso por si só, já trazia certo respeito por onde
passava. O seu jeitão de ser e o modo como fazia para transformar a sua própria
vida numa grande aventura virou lenda. Talvez seja em razão disso que lá pelas
bandas do Rio São Domingos dos Olhos D’água ele tenha sido apelidado pelos
moradores de “cowboy de Morrais City”, uma brincadeira dos moradores mais
afoitos e quiçá, por ter ele nascido em Morrinhos. Á época, todos o achavam
igualzinho aos caubóis, principalmente aqueles que nos encantavam nas telas de
cinema e que hoje não se vê mais, pois as cenas de hoje mostram o homem
passando ano todo andando quilômetros e mais quilômetros por estradas afora, algumas
solitárias, dirigindo uma caminhonete, um carro de passeio ou caminhão de carga
correndo atrás de reconhecimento, seja sobre o pó, asfalto ou nas chuvas das
arenas. Hoje vemos Cowboys e cowgirls apenas nos rodeios e festas de pecuária,
eles, jogando charme às moças, elas, aos azes dos rodeios, um estilo de vida
totalmente diferenciada dos caubóis antigos que causavam frisson quando
apareciam nas telas de cinema.
Desde a adolescência
Joaquim se achava um caubói, talvez influenciado por aqueles grandes ídolos e
personagens, tais como, John Wayne, Terence Will, Kirk Douglas, Steve MacQueen,
Burt Lancaster, Paul Newman, Gary Cooper, James Stewart, Clint Eastwood, John
Ford, Lee Van Cleef, Billy the Kid, Kid Colt, Zorro e até por Gordon Scott
(Tarzan), O sonho não era só dele, era meu também e todos os adolescentes
tinham os seus ídolos. De alguma forma aqueles ídolos nos fortaleciam, ajudavam
a gente vencer na vida, bater recordes, superar desafios e viver momentos de
glória. As rápidas explosões de ação de cada personagem, o perigo que ocorria
durante suas aventuras, a extraordinária perícia no manuseio do revólver e a
versatilidade do cavalo quarto de milha, faziam sucesso junto com o personagem,
bastava um assovio e o animal se aproximava. Isso fascinava a platéia.
Hoje, a tendência é
vermos uma geração de crianças e adolescentes viciando-se em vídeo game,
tablete, celular e outras parafernálias eletrônicas, sem falar no uso de
drogas, que os tiram do foco, de um futuro mais promissor e jamais seriam
nossos cowboys do futuro. Ademais os filmes de terror, a guerra, a violência
explícita, o terrorismo, não só alcançam pessoas de maior idade, como também
menores que saem atirando em colegas de escolas; filhos assassinando pais e
vice-versa, tudo isso gerado pela TV. É assustador! Maléfico! Estas cenas estão
trazendo distúrbios mentais para muitas crianças e jovens, que dominados por
algumas delas saem matando sem uma explicação plausível, sem pena ou dó
daqueles que encontram pela frente. Ser cowboy não é isso, Nos tempos do
faroeste, os caubóis e a gente galopava sem medo de ser feliz, contra o tempo e
corríamos mais rápido que o vento. Era como desafiar a lei da gravidade no
lombo de um animal feroz.
Joaquim era assim.
Hoje com seus oitenta anos passa o tempo sentado numa cadeira de balanço
observando calmamente alguns jovens correndo pela rua, descamisados e com a
calça caindo sobre a bunda. Não tem o estilo de caubói como ele e tantos outros
que cortavam o sertão afora, usando no coldre um revólver e ao lado uma
algibeira. Estava ali, inerte, recordando dos bons tempos, e depois me olhou de
soslaio, pedindo-me para escrever algo sobre os caubóis que encenavam nos
filmes de faroeste americano, que parecia irreal, mas tudo aos olhos de quem
assistia se transformava numa coisa espetacular, até real, e eu sabia como era
e como devia falar sobre tais personagens. Não menti porque quando adolescente
também fazia parte daquele mundo cinematográfico surreal. O problema não era
saber ou esquecer-se de um ídolo ou personagem, mas de alguma palavra que
pudesse não significar nada sobre a vida, o sentimento meu e o de Joaquim
Cordão.
Descobri que a
palavra inglesa cowboy, no Brasil foi aportuguesada (caubói e cobói). Portanto,
se acham que mencionei errado ao titular esta crônica, não é verdade, e não
houve propriamente um equivoco e sim uma derivação da palavra. Ao observar as
diferentes culturas da História da humanidade, nenhuma ficou cristalizada, pelo
contrário, houve trocas e variações que formaram novas culturas. No Brasil,
diversas línguas como o português, o castelhano, o francês e o inglês entre
outras se misturaram e formaram um jeito “abrasileirado” de falar. A palavra
cowboy oriunda do faroeste americano, no Brasil aportuguesou-se como caubói.
Todavia, deve-se entender que no âmbito da linguagem e da cultura, nada é
cristalizado. Ela se transformou com o passar dos tempos menos o Joaquim, o
caubói de Morrais City.
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