Naquele dia o rio não estava para peixe...

segunda-feira, 23 de julho de 2012


Sob um céu azul peguei a canoa e liguei o motor instalado na popa. Saí devagar rasgando com suavidade as águas daquele caudaloso rio em direção ao lado oposto. Daquele lado existiam belas praias, pois em razão da estiagem grande parte das margens ficava a descoberto, deixando uma imensidão de areias estupidamente brancas onde o povo se aglomerava. Encostei a canoa no embarcadouro e segui rumo à cabana coberta de folhas secas de coqueiros. Na areia, ao lado da palhoça, logo percebi a presença de Camila que me esperava ansiosamente e para mim, era um alívio vê-la ali, sóbria, nos eixos. Sua postura parecia ter-se desligado de sua adolescência e das paixões desenfreadas. Por instantes, fiquei observando a sua linda silhueta. Estava usando um biquine, sutiã azul e sobre os ombros, caíam seus cabelos dourados, enquanto os olhos eram protegidos por um óculo escuro. Pensei comigo mesmo: Este rio hoje parece estar para “peixe”. E que peixe!

Nunca tinha ido àquele rio. A sua fama atravessava fronteiras e isso me deixava ansioso para conhecê-lo. À esquerda da cabana via-se uma esplendorosa mata e ao longo da praia, uma imensidão de barracas fincadas na areia e à direita, um emaranhado de galhos que avançava vertiginosamente para dentro do rio. Era tudo efeito da seca que já castigava a região. Naquele momento nostálgico o sol da manhã já invadia aquele rincão, iluminando o rio e a praia, enquanto crianças, jovens e adultos saíam das barracas respirando um ar puro e recebiam a brisa aromática que vinha das matas que circundavam aquela região.

Foi um final de semana inesquecível, principalmente porque estava junto de Camila. Durante o dia banhávamos e algumas vezes pegávamos a canoa para tentar pescar. Iscas, enviamos muitas aos peixes, mas nada. O anzol sempre voltava vazio e nenhum peixinho sequer. Talvez os barulhos das lanchas e Jet Esks os espantavam. Desistimos. O rio naquele dia parecia não estar para peixe. À noite, ouvíamos músicas, ora dançávamos sobre a areia, sob a luz do luar; ora olhávamos o céu azul e displicentemente contávamos as estrelas, e só parávamos quando a lua era perturbada por nuvens negras que sombreava o local, fazendo-nos perder o controle e de certo modo, nos escondia durante aqueles momentos de prazer.

Dias depois, voltamos ao outro lado do rio. Despedimo-nos. Cada um seguiu o seu caminho.

Retornei à Capital. Revoltado em face de minha timidez, por não ter convencido Camila a me acompanhar, restou-me vê-la desaparecer no final da rua, e meneando as mãos, comecei fazer a contagem regressiva dos dias. A ansiedade de reencontrá-la naquele lugar aprazível deixava-me desconcertado, parecia que o meu coração ia estourar de emoção e saudade. Eu ainda era apenas um adolescente e nunca tinha sentido isso. Parecia um colegial ao rever os colegas no reinício das aulas.

Meses se passaram. Findo novamente o período chuvoso voltei ao Rio Araguaia. A lua clareava a areia. Um som vindo de uma barraca trazia mensagens de amor, enquanto meus pensamentos iam a voltavam na velocidade do vento e se deleitavam sobre a praia, onde a encontrei pela primeira vez e trocamos juras de amor eterno. O tempo passou e nada. O céu escureceu. Caíram pingos de chuva inesperados para aquele período e eles se esvaíram sobre a areia ainda quente. Um alerta. Era hora de retornar à minha barraca. Como aqueles parcos pingos de chuva os meus pensamentos também se esvaíram de minha mente e decidido, resolvi despachá-los no barco da saudade com o fito de manter visível sua imagem e quiçá, poder revê-la novamente naquele rio, mas, doravante, sem timidez, e tendo a certeza de que nesse dia o rio estará para peixe.

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