O cego e o vaga-lume

terça-feira, 20 de novembro de 2012


Ninguém melhor que aquele cego sabia como fluir. Usava movimentos coordenados, sensitivos, ponteava sua bengala de alumínio sobre o chão com um propósito de achar o equilíbrio entre a luz e a escuridão. Também, ninguém melhor que o vaga-lume para entender o quão importante é para ele a noite e que todo seu ciclo começa justamente com a escuridão, assim como a noite é o começo do dia e dá lugar à sua luz, o outro ciclo vale somente para despertar o mundo ao amanhecer. Aqueles que enxergam, mas se mantém escuridão, não estão cônscios de onde estão, ou que existe uma presença de luz com que eles podem se conectar, mas, insensíveis, não conectam. É como se estivessem com os olhos vendados sem o real desejo e a coragem de tentar retirar a venda. Diferententemente do vaga-lume o cego vive a escuridão, mas está cônscio do lugar em que se encontra, não importa o lugar, seja dia ou noite; ele tateia paredes, ouve sons e vozes e sabe onde está; sobe escadas e ainda tem a sensibilidade de enxergar aquilo que a gente não vê. Como diz o ditado popular: “O pior cego é aquele que não quer ver”, porque ver o que é óbvio todo mundo consegue, e assim podemos afirmar que vivemos num mundo onde a aparência e o status contam muito. Mas, é pura ilusão! Uma satisfação temporária. Muitos não veem que os sentimentos são coisas mais preciosas e duradouras do que o egoísmo e a mesquinharia que estão embutidos na ambição de se dar bem a qualquer custo, mas que, como num flash sabem que pode desaparecer num pestanejar de olhos.

O vaga-lume desfaz toda essa teoria de cegueira humana, pois quer enxergar, não obstante tenha apenas a noite para testemunhar a sua luminosidade. A luz que sai do seu corpo na verdade, são “lanternas” que usa para iluminar o habitat onde circula. A luz que emite é contínua. Na lanterna torácica, a luz tem uma tonalidade esverdeada. Na lanterna abdominal, é amarelo-alaranjada. Então sob este prisma, a experiência vivida pelo cego e o vagalume precisa ser concluída com eficácia antes que possa haver um ensaio de luz e enseje uma progressão gradual da escuridão para que ela aconteça dentro de cada um de nós, de acordo com o nosso desejo e do nosso poder-viver na escuridão.

Certa noite, ao descer do ônibus, o cego perdeu o seu trajeto costumeiro e andou a esmo. Passou pelo mesmo caminho várias vezes. O vaga-lume observava aquele transeunte que manuseava uma vara com uma ponta de alumínio para se locomover e condoeu-se. Convocou outros vaga-lumes formando um verdadeiro exército e centenas de lanterninhas iluminaram a estrada. Sensitivo, que é peculiar aos cegos, contornou a estrada, voltou ao seu trajeto normal e em poucos minutos já estava abrindo o pequeno portão. Foi uma demonstração clara de que não queria ser “o pior cego” tão decantado pelos preconceituosos, que muitas vezes cegam-se diante do seu próprio mundo, tornam incapacitados, limitados ao ponto de não conseguirem repensar suas vidas ou falar sobre si mesmos. A ação dos vaga-lumes e o cego mostram quão poderosos podem ser a escuridão, uns temem a luz porque acreditam que se trocarem a escuridão pela luz, precisam também trocar o poder pela fraqueza. Outros nunca fazem essa escolha não obstante saber que esse é o seu papel na Terra, porque há os que precisam manter a escuridão, visto ser uma escolha que cada um pode fazer, e a escuridão precisa estar presente para equilibrar a luz. Cada um tem o seu contrato firmado com o destino, e o compromisso para o bem servir, e isto é pura verdade. 

Há pessoas que só escolhem a luz porque temem a escuridão. Há pessoas que adotam a paz e a quietude da luz, mas ignoram o seu poder, porque acreditam que o poder faz parte da escuridão. Entretanto, ambas as energias têm poder, mas, ditam normas e modos diferentes. O poder da escuridão é controlador e maléfico ao ser humano; o da luz é solidário e bondoso. A escuridão governa por meio do medo, endivida-nos com o mal e nos leva ao divã; a luz reina através da natureza divina que não exige dispêndio. Então, pode-se afirmar que, se a pessoa humana souber receber a verdadeira luz, se tornará poderosa e lhe permitirá brilhar como o vaga-lume faz no seu habitat.

Sabemos que a escuridão cumpre a sua finalidade, como o de fazer brilhar os vaga-lumes, as estrelas, a lua, as lâmpadas, os faróis e cada coisa no Universo. O seu propósito é alinhá-los internamente com o seu ego e assim a luz se expande para o seu espírito. A escuridão faz com que se lembrem das limitações e controle pessoal como aconteceu com aquele cego; a luz é ilimitada e os convida a render-se. Eu já me rendi. Então pergunto: Qual é a sua escolha mais poderosa? É essa que é a realização de cura e do desejo de totalidade da sua alma a cada momento, que pode ser escuro ou claro, ou ambos. Não julguem as suas escolhas e não seja como aquele que mesmo sabendo existir alguma coisa não quer ver, ou então, tente pelos menos permanecer com a consciência naquilo que deseja criar e deixe que as energias fluam, luz e escuridão, à medida de sua própria realidade, do jeito que sempre sonhou em viver na Terra, mas sabendo que o nosso Pai Celestial pede, a livre arbítrio, que você acolha essa luz em toda sua plenitude. 

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