Simplesmente Cansei!

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Hoje levantei sem otimismo e não conseguia ver as coisas do modo que elas são. Senti-me cansado e ”p” da vida. Cansado de tudo, do mundo real, do palpável, do prático, do imaginário, do surreal. Cansei da visão fantasiosa sempre contrária ao mundo real. Cansei do trabalho maçante e de tudo aquilo que estressa; cansei de reclamar do errado e das coisas erradas, cansei daqueles que fazem denúncias vazias, caluniosas, difamatórias e não enxergam o seu próprio umbigo ou o umbigo do Órgão, Entidade ou Ministério em que trabalham. Cansei da escada tortuosa construída até aquele andar onde esperava alguém descer, apenas descer. Cansei de passar pelo mesmo trajeto onde passam os imprudentes que irresponsavelmente fazem zigue-zague com seus veículos na avenida. Cansei do bonito que a natureza mostra, mas sempre é desrespeitada; cansei da ilusão de beleza que se vê em cada rosto. Cansei, cansei mesmo! Cansei das mesmas notícias que são veiculadas diariamente nas telas de TV e das novelas que levam mau exemplo aos lares brasileiros. Cansei da leitura de páginas de jornal, das vozes de alguns radialistas e apresentadores que judiam de nossa língua portuguesa, as quais surfam nas ondas do rádio maltratando nossos ouvidos. Cansei das desgraças que são repetidas nessas parafernálias eletrônicas, onde uns copiam cenas de outros e outros, querendo ser mais engenhosos, encenam o mesmo ato criminoso só que usam apenas outras posições, fazem montagens inversas, destacam o choro em outros tons e destoa a comoção no verso e anverso da fita gravada. Destacam um surpreendente julgamento que ao final sabem que ele poderá tornar-se uma pizza, recheada de votos “pensados”, extraídos de códigos defasados que são descritos na plácida sentença que se o povo tiver juízo não aceitará. Cansei da forma em que retratam a comoção de um povo, do falso novo, do falso velho e principalmente, do anverso dos dois porque quando colocados inversamente são definidos pelo Aurélio como falsos. Cansei do que os olhos são capazes de enxergar perto ou à longa distância. De perto, tenho que usar óculos de grau, e isto me cansa; de longe, enxergo coisas que não deveria enxergar; coisas que não presta e aí me constranjo, canso.

Hoje eu quero é algo diferente que vai além daquilo que penso. Quero o poder da premonição, de ver o futuro, sem desfazer do presente. No teatro da vida quero a inversão de papéis entre atores e atrizes, sem que haja a inversão de valores e o texto na tela interpretado não vire realidade e a realidade mostrada, não vire sonhos amorais ou imorais, e se virarem, que sejam distante de minha realidade. Entendo que devemos respirar novos ares, ter novos hábitos, ideias, emoções, desejos, pensamentos, isto é tudo que quero. Quem sabe se isso vir a acontecer tudo possa ser diferente em relação ao que temos hoje, se não pudermos ter, então serei obrigado a desejar que o hoje renasça novamente.

Mas, quão difícil ser diferente e não cansar de tudo. Quando chegamos à casa a primeira coisa que ouvimos é o zunido do elevador, o tic-tac do relógio, a torneira que mesmo fechada insiste em soltar gotas fazendo barulho sobre um vasilhame, um som rouco: tum... tum..., nem paro para contabilizar os ruídos. É justo. Estou cansado. Nunca importei muito com o que acontecia ao meu redor, mas, hoje, dou atenção aos mínimos detalhes. É o cansaço. Quando sento à mesa e sirvo-me com um pouco de café adoçado com algumas gotas dietéticas e pão francês, então aí me acalmo. Ainda bem que a gota dietética é silenciosa.  Tomo o café e com um sorriso inacabado ligo a TV. Novamente aparecem as desgraças de ontem reprisadas hoje. Mudo de canal e lá vêm outras notícias e digo: espera ai! Eram as mesmas cenas do outro canal, e então percebo que a minha mente poderia estar atabalhoada. Aquela reprise não era real. Desligo a maldita TV. Vou ao quarto e olho no espelho para ver se estava apresentável, pois o trabalho me esperava. Mirei fundo nos meus próprios olhos que se arregalavam diante do espelho e vi-me vítima da rotina que eu mesmo criei. Eles também estavam cansados. Coloquei a gravata e sai. Pode ter sido só mais um dia ou poderá ser o último se pudesse prever o meu futuro, mas o que importa é que eu nada planejei.

Quando disse no preâmbulo que cansei do imaginário, não posso afirmar isso em relação aos amigos e amigas imaginários, pois eles são como os sonhos: estão com a gente aonde quer que estejamos; aonde a gente quer estar, e ninguém pode podá-los ou impedi-los de existir, pois só nós o vemos e acreditamos neles. Os amigos que me acompanham pelas ruas solitárias da vida nunca me deixam no meio do caminho e me impedem de ficar sozinho, porque somos pessoas que correm atrás de um propósito, de um desiderato para continuar andando em busca de um caminho cheio de luz, não só os iluminados pelos raios do sol ou pelo os da lua, mas também, em busca daquela luz que brota dos lindos olhos de alguém, alguém que nos espera diariamente e nunca nos cansará. À bem da verdade, acreditar no improvável, no impossível e no imaginário sempre foi meu norte. É bom viver no mundo dos sonhos, mas hoje eu cansei.

Realmente cansei. Parece que estou com uma grade em meus olhos. Uma grade embaçada que me impede de enxergar e de ver o óbvio. E assim sou obrigado a me manter parado, sem dar um passo à frente ou para trás, talvez por medo de cair num precipício que a própria vida constrói. Essa grade está repleta de memórias insolúveis, indecifráveis, uma grade que me isola do mundo, que impede meu coração de bater como antes batia. Tudo isso me fere. Neste lapso de tempo posso ter caminhado por estradas tortas e deitado sobre relvas sombreadas por galhos secos de árvores milenares, sem esperança de obter certezas e ouvir melodias tocadas e cantadas por alguém que não existia e que eu mesmo inventava. E olha que me preocupo com o vozerio de vozes e sons que vem das ruas, do zuído do elevador, de cada gota que cai da torneira, do chuveiro, do tic-tac do relógio ou dos noticiários dos jornais, rádios e TV, mas, tudo isto, não faz de mim um ser insensível, incapaz de enxergar o sorriso angelical de alguém ou as lágrimas que saem dos olhos da minha amada que dada a sua firmeza de espírito jamais as deixa cair ao chão. Leitor, não se deixe sangrar por essas palavras. Não se deixe sangrar mesmo, pois no fim a verdade sempre aparecerá, e as que tento expressar, pode ser apenas uma situação momentânea a mim postergada por alguma coisa surreal ou um ente estranho, que me cansou e fez com que eu criasse situações fantasiosas extraídas de um mundo que não se sabe se é ou não real. 

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