Os meninos imortais

quarta-feira, 17 de setembro de 2014



Simplesmente humildes. Durante décadas batalharam arduamente pela sobrevivência. Cada um usando o seu próprio fulgir para alcançar um nível social mais elevado e a profissão almejada, e nessa labuta diária, todos conseguiram seus intentos e nenhum deles fugiu ou negaram suas origens. Nasceram na cidade de Morrinhos conhecida como cidade dos pomares, que não só produziu árvores frutíferas, como também sementes da sapiência, da escrita, da arte ou, tradicionalmente falando, da Literatura. Quantos escritores desta cidade se sobressaíram no cenário goiano e nacional: muitos. Então, contaminados pela sapiência de um passado literário, esses jovens começaram a sonhar e de um dia tornarem-se imortais, como o super-homem. Eram como nós, crianças comuns e nem nasceram em berço de ouro, como era também comum, verem filmes, lerem gibis, ter o gosto por revistas em quadrinhos, gosto que outrora tínhamos e ficávamos deveras deslumbrados com aquele homem voando na velocidade da luz, vestindo um uniforme vermelho com uma insigne no peito e uma imensa capa a salvar o povo americano, só que o dos Estados Unidos. Mas, esses “meninos” como nós também, neste pequeno rincão, queriam ser imortal como aquele personagem americano, mas, dada a situação financeira de cada um não conseguiriam aquela roupa que acreditavam que sem ela não poderiam voar. Pensavam assim. Mas, sonhavam em voar e alto, mesmo sendo sonhos impossíveis. E voaram. Só que no mundo imaginário, mas voaram e foram longe, até o infinito, mesmo sabendo que ele não tinha fim. A escrita os fez voar e criarem poesias incomuns e seus próprios personagens, alguns, imortais, igual ao super-homem. Usando as asas da imaginação como forma de agradar o leitor percorreram também o céu de sua vida e durante o voo puderam contar durante a trajetória os momentos de angústias e dores que passaram e sentiram. E foi  através dessa viajem  interplanetária através da imaginação, observando os erros e acertos em várias partes do mundo e do seu próprio habitat, não se chegou a nenhuma conclusão fática em relação ao ser humano, mas, imbuídos do desiderato de bem informar aos seus leitores e de haver encontrado ao longo dessa “viajem” o amor e verem realizados alguns sonhos, às vezes pagando pesados  pedágios, é que, mesmo se usassem as asas da imaginação, sabiam que iam dificultar ao homem alcançar outros sonhos e objetivos antes de chegar ao final.

Os corpos desses jovens literatos tornaram-se uma imensa livraria e o cérebro um verdadeiro dicionário que foi colocado em estantes suntuosas formando junto com o tempo, um universo cheio do saber e aqueles que gostam de ler e hoje fazem uso delas, às vezes acreditam serem imortais como eles e quiçá, fazerem parte da história mesmo sabendo ser surreal.

É comum vermos nas livrarias algumas pessoas que para satisfazerem seus egos compram livros apenas pela beleza da capa, sem pesquisarem o índice e conteúdo dos mesmos; muitas pessoas avaliam os outros pela aparência externa, pela capa física, sem considerarem a parte interna. Outras procuram livros com títulos bombásticos, sensacionalistas, histórias de terror ou romances profundos por mera indicação lobista. São assim as pessoas: existem aquelas que buscam sensacionalismos baratos, dramas alheios ou apenas um romance profundo ou rasteiro. Em síntese, posso dizer: Somos homens livros lendo uns aos outros. Podemos ficar só na beleza da capa ou aprofundarmos nossa leitura até as páginas vivas do coração. A capa pode ser interessante, mas é no conteúdo que brilha a essência do texto. O corpo pode ter uma bela plástica, mas é o espírito que dá brilho aos olhos. Também podemos ler nas páginas experientes da vida muitos textos de sabedoria. Depende do que estamos buscando na estante. Podemos ver em cada homem-livro um texto espírito impresso nas linhas do corpo. Deus colocou sua assinatura divina ali, nas páginas do coração, mas só quem lê e entende o interior descobre isso. Só quem vence a ilusão da capa e mergulha nas páginas da vida íntima de alguém, descobre seu real valor, humano e espiritual e daí, todos nós possamos ser bons leitores e conscientes de estarmos lendo uma bela obra. É bom que nas páginas de nossos corações, possamos ler uma história de amor profundo; é salutar que em nossos espíritos possamos ler uma história imortal e que, ao abrir o livro e manusear as páginas possamos ler nas entrelinhas visualizadas no brilho dos olhos e na luz de um sorriso a graça da vida em todas as suas dimensões. E que, sendo bons leitores, possamos nos tornar imortais, possamos ser leitura interessante e criativa nas várias estantes da livraria de nossas vidas, pois somos homens livros que algumas vezes escondemos na região recôndita de nosso cérebro muitas sabedorias que não gostaríamos de serem expostas ou lidas. A capa amassa e as folhas podem rasgar, mas, ninguém amassa ou rasga as idéias e sentimentos de uma consciência imortal. O que não foi bem escrito em uma vida poderá ser bem escrito mais a frente, em uma próxima existência ou mais além... Mas, com toda certeza, a história desses jovens escritores Wander Oliveira, Antônio Ávila, José Henrique Machado e Robison José da Silva, que se tornaram imortais no último dia 19 de setembro e de tantos outros baluartes da literatura Morrinhense que lutam pelo engrandecimento da Academia em respeito a aqueles que já se foram para outra dimensão, de cujas obras, tão grandiosas, vivem e viverão após as suas mortes e que os tornaram imortais, as quais foram e serão publicadas pela editora da vida e colocadas na estante terrestre ou em qualquer outra estante que porventura existir.

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