Diário da Manhã e Cinco de Março, 56 anos de liberdade.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Em todos esses anos que colaboro com o Diário da Manhã, como mero articulista, mas divulgando-o ao mundo, jamais constatei publicações, notícias ou reportagens que contrariassem a linha editorial do jornal. Argumentar, por exemplo, que o DM mantém articulistas de "esquerda” “de direita” ou “progressista” poder-se-ia dizer que é verdade este pensamento e por isso deve ser considerado um veículo de opiniões plurais sem nenhum cinismo, tanto que criaram a página Opinião Pública para as pessoas poderem se manifestar seus anseios e pensamentos, criticarem, denunciarem, sejam através de artigos ou crônicas tudo aquilo que lhes deixam indignados ou chocados. Ao voltar ao passado e falar da ditadura ou do pensamento único nas redações, me refiro ao fato de que nenhum jornalista, por mais gabaritado que fosse seria capaz de publicar uma matéria que, de alguma forma, atingisse, mesmo que minimamente, amigos do patrão, grandes anunciantes, ou mesmo que divergisse da ideologia política do dono do jornal. No entanto, ainda acho que não existe na terra lugar mais democrático que uma redação de jornal e isto eu observo quando visito o DM. O máximo que um jornalista pode fazer é sugerir uma pauta, e se for agressiva, só vai adiante se tiver a concordância do Editor Chefe. A reportagem investigativa hoje virou coisa comum, pois são tantos escândalos, corrupção e denúncias que alimentam o noticiário que estas caem no colo dos editores aos montes, cabendo a eles o trabalho de direcioná-los sucintamente para que não encham páginas e mais páginas de forma prolixa. Às vezes o repórter nem precisa checar as informações, pois acredita piamente na "fonte". O fato é que, felizmente, ainda existe no Brasil, mesmo capenga, a tão propalada "liberdade de imprensa". 

Hoje, qualquer um que seja vítima de uma matéria publicada por um órgão de imprensa tem de se ver às voltas com um sistema judiciário lento, custoso e quase sempre bondoso com os poderosos, o que desestimula a maioria dos demandantes que gostariam de ver a sua honra restituída. Não existe uma pessoa sequer no Brasil que seja favorável à volta da censura na imprensa. Isso não significa, porém, que as empresas de comunicação tenham carta branca para publicar mentiras, calúnias ou boatos - obras de ficção, não notícias. Elas têm um papel social que não permite esse comportamento. Da mesma forma, é inadmissível que em alguns estados brasileiros existam emissoras de rádio e televisão de propriedade de parlamentares, que as usam livremente para se eleger ou manter seus currais eleitorais e formação cartéis. Regular a mídia é um imperativo de qualquer democracia moderna e a sua regulamentação é necessária para coibir abusos econômicos e para garantir que a informação seja um instrumento para o desenvolvimento do país e não para mantê-lo mergulhado no atraso e na ignorância.

Em nosso país, como em todo o mundo, ocorrem também muitas injustiças ocasionadas pela divulgação maldosa, apressada ou encomendada pelos meios de comunicação de massa. O “furo” de reportagem não tem escrúpulos, poder-se-ia dizer. Muitas vezes vidas são devassadas, a honra é enlameada, a moral é destruída e em nome da liberdade de imprensa, chega-se a exterminar a liberdade individual do ser humano, ou de um grupo que seja objeto da reportagem, ou de toda uma sociedade que esteja assistindo impassível às inverdades ou deturpações. Eu disse inverdades e deturpações!

Era razoável que devia haver algum controle sobre a divulgação de reportagens pela imprensa, esta em sentido amplo. Tinha e havia ética, dignidade, humanidade. Mas como deveriam fazer se a hedionda censura à época era absolutamente incompatível com os ideais democráticos tão sonhados pelo jornal? Como proibir as empresas de jornalismo sem atingir os profissionais que lá exerciam suas funções, que deram grande contribuição ao País ou continuam tentando dar para alavancar democracia e o desenvolvimento social da nação? Caro leitor do Diário da Manhã: Ninguém enxerga a verdade quando se faz ou finge ser cega; ninguém escuta os anseios de um povo se fazendo de surdo; ninguém manipula o teclado da vida cortando os dedos.

Dia 12 de março próximo quando o Diário da Manhã comemora seus 35 anos de fundação que somados ao os 21 anos do Jornal Cinco de Março, que o antecedeu, representam um marco na história do jornalismo goiano, assim como, a marca de um jornal combativo que sempre lutou pela liberdade, é lógico que temos de reverenciá-lo. E para abrilhantar toda essa trajetória o DM está homenageando consagrados artistas goianos com publicação de suas obras diariamente num caderno especial criado para esse fim. Com relação à luta das pessoas que dirigiam o Jornal Cinco de Março, hoje sucedido pelo Diário da Manhã, desde garoto sempre observei que foram densas as reflexões de maturidade histórica daquele operoso jornal que se entrelaçava e continua entrelaçando com a história daqueles que lutaram e lutam por uma sociedade mais justa, democrática, humana e fraterna. Sabia e sou testemunho de que durante décadas foram derramadas lágrimas e sofrimento, mas também, ocorreram momentos de grandeza e de esperança. Eu realmente presenciei tudo isso. A luta desses baluartes do jornalismo valeu à pena e eu como articulista deste valoroso jornal sou devedor.

Nas suas páginas forem reprisadas notícias sobre a vida política do Estado de Goiás e suas lideranças regionais que à época causaram arrepios, mas hão de se observar com alegria, satisfação e respeito que mereceu o Cinco de Março e merece o Diário da Manhã, pois o primeiro permitiu ao seu sucessor a continuar na luta pela revitalização da história política mediante o projeto de comemoração de seus 35 anos de fundação e 56 anos de luta pela liberdade de expressão, que muitas vezes, o jornalista Batista Custódio, teve, principalmente à época da ditadura, de correr atrás pessoalmente usando o seu prestígio ou através de agentes políticos amigos, salvar vidas de jornalistas perseguidos pela ditadura militar. Mas além dele quantos jornalistas viveram com sacrifício e heroísmo aqueles funestos anos, que se empenharam em prol daquele semanário de forma audaciosa, com coragem, perspicácia e inteligência, cujo jornal para este simples escriba virou lenda. Destarte, se a liberdade de imprensa colide com os direitos individuais, é importante que se alcancem o equilíbrio, de modo que nenhuma das garantias seja obrigada a suportar, sozinha, as conseqüências da indevida expansão da outra. Finalizo externando ao Diário da Manhã meus parabéns pelos seus 35 anos de fundação e que somados ao Cinco de Março alcançam 56 anos de luta insana em prol da solidariedade, democracia e liberdade!

Publicado no  Diário da Manhã, edição do dia 18 de fevereiro de 2015

2 comentários:

  1. Como sempre, nos surpreendendo através das letras, parabéns por tamanha dedicação meu amigo !

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  2. Como sempre, nos surpreendendo através das letras, parabéns por tamanha dedicação meu amigo !

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