Em
todos esses anos que colaboro com o Diário da Manhã, como mero articulista, mas
divulgando-o ao mundo, jamais constatei publicações, notícias ou reportagens
que contrariassem a linha editorial do jornal. Argumentar, por exemplo,
que o DM mantém articulistas de "esquerda” “de direita” ou “progressista”
poder-se-ia dizer que é verdade este pensamento e por isso deve ser considerado
um veículo de opiniões plurais sem nenhum cinismo, tanto que criaram a página
Opinião Pública para as pessoas poderem se manifestar seus anseios e
pensamentos, criticarem, denunciarem, sejam através de artigos ou crônicas tudo
aquilo que lhes deixam indignados ou chocados. Ao voltar ao passado e falar da
ditadura ou do pensamento único nas redações, me refiro ao fato de que nenhum
jornalista, por mais gabaritado que fosse seria capaz de publicar uma matéria
que, de alguma forma, atingisse, mesmo que minimamente, amigos do patrão,
grandes anunciantes, ou mesmo que divergisse da ideologia política do dono do
jornal. No entanto, ainda acho que não existe na terra lugar mais democrático
que uma redação de jornal e isto eu observo quando visito o DM. O máximo que um
jornalista pode fazer é sugerir uma pauta, e se for agressiva, só vai adiante
se tiver a concordância do Editor Chefe. A reportagem investigativa hoje virou
coisa comum, pois são tantos escândalos, corrupção e denúncias que alimentam o
noticiário que estas caem no colo dos editores aos montes, cabendo a eles o
trabalho de direcioná-los sucintamente para que não encham páginas e mais
páginas de forma prolixa. Às vezes o repórter nem precisa checar as
informações, pois acredita piamente na "fonte". O fato é que,
felizmente, ainda existe no Brasil, mesmo capenga, a tão propalada
"liberdade de imprensa".
Hoje,
qualquer um que seja vítima de uma matéria publicada por um órgão de imprensa
tem de se ver às voltas com um sistema judiciário lento, custoso e quase sempre
bondoso com os poderosos, o que desestimula a maioria dos demandantes que
gostariam de ver a sua honra restituída. Não existe uma pessoa sequer no
Brasil que seja favorável à volta da censura na imprensa. Isso não
significa, porém, que as empresas de comunicação tenham carta branca para
publicar mentiras, calúnias ou boatos - obras de ficção, não notícias. Elas têm
um papel social que não permite esse comportamento. Da mesma forma, é inadmissível que em alguns estados
brasileiros existam emissoras de rádio e televisão de propriedade de
parlamentares, que as usam livremente para se eleger ou manter seus currais
eleitorais e formação cartéis. Regular a mídia é um imperativo de qualquer
democracia moderna e a sua regulamentação é necessária para coibir abusos
econômicos e para garantir que a informação seja um instrumento para o
desenvolvimento do país e não para mantê-lo mergulhado no atraso e na
ignorância.
Em
nosso país, como em todo o mundo, ocorrem também muitas injustiças ocasionadas
pela divulgação maldosa, apressada ou encomendada pelos meios de comunicação de
massa. O “furo” de reportagem não tem escrúpulos, poder-se-ia dizer. Muitas
vezes vidas são devassadas, a honra é enlameada, a moral é destruída e em nome
da liberdade de imprensa, chega-se a exterminar a liberdade individual do ser
humano, ou de um grupo que seja objeto da reportagem, ou de toda uma sociedade
que esteja assistindo impassível às inverdades ou deturpações. Eu disse
inverdades e deturpações!
Era
razoável que devia haver algum controle sobre a divulgação de reportagens pela
imprensa, esta em sentido amplo. Tinha e havia ética, dignidade, humanidade.
Mas como deveriam fazer se a hedionda censura à época era absolutamente
incompatível com os ideais democráticos tão sonhados pelo jornal? Como proibir
as empresas de jornalismo sem atingir os profissionais que lá exerciam suas
funções, que deram grande contribuição ao País ou continuam tentando dar para
alavancar democracia e o desenvolvimento social da nação? Caro leitor do Diário
da Manhã: Ninguém enxerga a verdade quando se faz ou finge ser cega; ninguém
escuta os anseios de um povo se fazendo de surdo; ninguém manipula o teclado da
vida cortando os dedos.
Dia
12 de março próximo quando o Diário da Manhã comemora seus 35 anos de fundação
que somados ao os 21 anos do Jornal Cinco de Março, que o antecedeu,
representam um marco na história do jornalismo goiano, assim como, a marca de
um jornal combativo que sempre lutou pela liberdade, é lógico que temos de
reverenciá-lo. E para abrilhantar toda essa trajetória o DM está homenageando
consagrados artistas goianos com publicação de suas obras diariamente num
caderno especial criado para esse fim. Com relação à luta das pessoas que
dirigiam o Jornal Cinco de Março, hoje sucedido pelo Diário da Manhã, desde
garoto sempre observei que foram densas as reflexões de maturidade histórica
daquele operoso jornal que se entrelaçava e continua entrelaçando com a história
daqueles que lutaram e lutam por uma sociedade mais justa, democrática, humana
e fraterna. Sabia e sou testemunho de que durante décadas foram derramadas
lágrimas e sofrimento, mas também, ocorreram momentos de grandeza e de
esperança. Eu realmente presenciei tudo isso. A luta desses baluartes do
jornalismo valeu à pena e eu como articulista deste valoroso jornal sou
devedor.
Nas suas páginas forem reprisadas notícias sobre a vida
política do Estado de Goiás e suas lideranças regionais que à época causaram
arrepios, mas hão de se observar com alegria, satisfação e respeito que mereceu
o Cinco de Março e merece o Diário da Manhã, pois o primeiro permitiu ao seu
sucessor a continuar na luta pela revitalização da história política mediante o
projeto de comemoração de seus 35 anos de fundação e 56 anos de luta pela
liberdade de expressão, que muitas vezes, o jornalista Batista Custódio, teve,
principalmente à época da ditadura, de correr atrás pessoalmente usando o seu
prestígio ou através de agentes políticos amigos, salvar vidas de jornalistas
perseguidos pela ditadura militar. Mas além dele quantos jornalistas viveram
com sacrifício e heroísmo aqueles funestos anos, que se empenharam em prol
daquele semanário de forma audaciosa, com coragem, perspicácia e inteligência,
cujo jornal para este simples escriba virou lenda. Destarte, se a liberdade de imprensa colide com os direitos
individuais, é importante que se alcancem o equilíbrio, de modo que nenhuma das
garantias seja obrigada a suportar, sozinha, as conseqüências da indevida
expansão da outra. Finalizo externando ao
Diário da Manhã meus parabéns pelos seus 35 anos de fundação e que somados ao
Cinco de Março alcançam 56 anos de luta insana em prol da solidariedade,
democracia e liberdade!
Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 18 de
fevereiro de 2015
Como sempre, nos surpreendendo através das letras, parabéns por tamanha dedicação meu amigo !
ResponderExcluirComo sempre, nos surpreendendo através das letras, parabéns por tamanha dedicação meu amigo !
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