Peraltices de um escriba.

sábado, 28 de novembro de 2015

Quando o tempo me sobra ou me sobra tempo, procuro o meu computador instalado naquele quartinho de empregada que transformei em escritório. Na parede, além do antigo retrato de meus pais, pintado a óleo, pendurei todos os diplomas, certificados e títulos recebidos, e neste mês, recebi mais três e o jeito foi procurar um espaço pra eles. Considero todos de grande importância, principalmente o último que recebi na Universidade de Santiago do Chile. Perto deles, e principalmente, quando estou bem desperto, produzo melhor meus escritos e às vezes nem noto que estou em plena selva de concreto e asfalto. Do meu pequeno escritório, no 13.º andar, pode-se ver o pôr do sol e o nascer da lua mesmo com as persianas semi-serradas. Na parede, à esquerda, diplomas de várias entidades e Academias de Letras se destacam e eles são incentivos para continuar escrevendo. Sem pestanejar, vou à janela, livro-me das persianas e a uso como um mirante para visualizar as ruas, prédios e o longínquo horizonte. Encho os olhos de paisagens e na retina, impregno os meus sonhos.

Do alto, vejo um cachorrinho preso a uma fina corda que, inocentemente, deposita os seus restos de lixo na calçada e uma senhora, que deve ser “mãezinha” dele, nem liga, pois a calçada não é a dela e nem mora perto. Eu tive que rir, ri muito daquela situação vexatória e do rosto ruborizado da mulher quando o danado do cãozinho defecou bem mole sobre a calçada. Como ela iria colocar no saquinho de plástico? Senti-me culpado, pois devia ter entrelaçado os dedos para prender o cocô no orifício do bichinho. Ao ver aquela cena meus pensamentos foram e voltaram na velocidade da luz trazendo o meu tempo de criancice. No que tange a aquele cachorrinho é claro que veio à minha mente cenas do passado: cachorros fazendo suas necessidades, e a gente, inocentemente, sem maldade, entrelaçava os dedos indicadores e num repente, os excrementos do animal não fluíam mais, ficavam como que congelados entre o orifício e o espaço. Quanto à lembrança que tive de certo cachorrinho, infelizmente, não tive tempo de entrelaçar os dedos. Sorte dele, mas não da dona. Mas naquele tempo situação como esta aconteceu com uma senhora educada, de fino trato, que apenas ficou observando sorrateiramente o meu ato e nem se importou quando descruzei os dedos e juntos escutamos o gemido do canino e sair do orifício um excremento e “plaft”: o sólido foi atraído pela gravidade e se espatifou no chão.

Do alto, o sol veraneado de uma manhã de domingo me animava a tirar os óculos de grau para captar de modo natural, sem anteparos, o mundo que me rodeava. Esparsas nuvens, raios de sol e um bando de pássaros que brincavam de esconde-esconde nos arvoredos, por isso é que tomei a decisão de descer com a máquina para fotografar a beleza celeste e aqueles pequenos pássaros, mas quando cheguei à calçada, eles não estavam mais lá e o jeito era fotografar os raios de sol que retalhavam os prédios e, com certo cuidado, esgueirei-me pelos muros, sorrateiro, caviloso, dissimulado, para conseguir chegar a uma distância que julguei suficiente para localizar os pássaros e produzir com a máquina uma obra de arte: prédios, raios de sol e os pássaros com seus vôos rasantes.

Quando retornei ao escritório fui conferir as imagens e descobri que em três fotos não tinham os pássaros e nem prédios, e em outras três, apenas uma distinguia duas aves e um prédio, tornado-se um exercício de adivinhação. Descobri que não era um bom fotógrafo. Um caso à parte, mas impediu-me de postar no PC. Ah, para não me descontrolar dentro de minha “caixa de fósforos”, que é meu escritório, e não esquentar a “moringa”, fui até a uma pia e joguei um pouco de água no meu couro cabeludo, depois liguei o ventilador, respirei fundo e disse: As fotos não saíram boas, mas também não pisei em nenhum excremento de animal.

Mas vamos esquecer esses restos de animais que ficam nas calçadas e ao invés de placa no jardim pedindo aos donos para recolher os excrementos, vamos entrelaçar os dedos. Mas, voltemos ao que interessa: o meu pequeno e “aconchegante” escritório. Neste ambiente cercado por uma estante cheia de livros é que componho as minhas escrituras, converso com as pessoas amigas através da internet e escrevo minhas malfadadas crônicas. Sentado diante do computador massageando o teclado até formar um emaranhado de letras, às vezes recolho de meu pensamento que está bem distante algumas frases há tempo impregnadas em meu subconsciente, que me embaralham, mas teimoso, escrevo.

Todavia, o espaço que me reserva o jornal Diário da Manhã é pequeno, mas à vezes, até abuso, como faço neste texto. Então, o jeito é parar de escrever porque não gosto muito de lamúrias e nem vivo ancorado no passado, assim como, não me apoquento e nem me deixo ancorar nos fundos rochosos ou arenosos de minha massa cefálica, caso algum livro ou texto meu não sejam publicados. Escrevo por escrever. Amo escrever e às vezes pergunto a mim mesmo: Onde estão os amigos confrades, acadêmicos que quase não se comunicam? Eu estou aqui dialogando com o mundo, um simples escriba ou aprendiz de escritor, nascido no interior e crescido na periferia da Capital, que andou de pés descalços, camisa surrada, calças curtas, mas, hoje, dotado de uma curiosidade enorme, cheio de esperança e que continua buscando sonhos ilimitados. Posso dizer que me tornei um homem moderno, ajustado, tolerante, sem preconceitos, todavia, diante da parafernália eletrônica, seja em tempo frio ou quente, este acadêmico ou confrade que ora escreve é, como dizem os argutos: sumidouro de memórias, ah, isso realmente sou... Então, caros amigos e amigas, cuidem-se!




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