E não é que o cara era eu!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Bem tentei disfarçar, mas esperta me viu enxugando pequenas lágrimas que insistiam em escorrer de meus olhos.  Admito que o tempo em que convivemos, expomos nossos pensamentos e atitudes podem trazer certa confusão, e as mazelas da vida ocorridas dia a dia fazerem as pessoas pensarem na gente toda hora ou mesmo contar os segundos quando demoramos. No fundo, eu bem que tentei ficar todo o tempo sem querer vê-la e até dizia que já não sabia ficar sem ela, mas a roda-viva do cotidiano não permitia que eu demonstrasse, senão iria pensar que o cara era eu.

Caro leitor, desculpe-me, mas quando eu chego cansado das minhas labutas diárias, não vejo a hora de comer alguma coisa, tomar um banho e cair no sono, pois sabemos que no amanhã tem mais e dificilmente eu iria chamá-la no meio da noite para dizer-lhe que a amo, pois jamais pensava que o cara não era eu.

Sei que quando estou junto dela é uma delícia e que depois de tudo ainda deleitar-me em seu peito, acariciando-lhe os cabelos, falando-lhe de amor ou outras coisas que nos causam “calor”. O pouco tempo que nos resta, temos que dividi-lo com os filhos e netos e eles nunca desconfiam que devam dar um espaço para nós, se de manhã ou à noite, para ficarmos juntos, sorrirmos e ainda dizer: “Será que esse cara da música é eu?

Sabe, é difícil concorrer com o Roberto. Suas músicas e letras são tudo que eu gostaria de falar ou cantar pra ela, mas realidade é outra, no entanto, mesmo assim, aqui sobre as estantes da nossa sala vejo uma foto do dia em que, de hora em hora, lhe enviava buquês de rosas e do cantor que contratei para fazer-lhe uma serenata.

Queria dizer a ela tudo que está escrito na letra daquela música quando, por exemplo, toda manhã eu saía do quarto sentindo o cheiro de um café quente ou quando aos domingos pude acordar tarde sem me preocupar com o que ia ter para o almoço. Quero que ela saiba também que quando ouço a música estou pensando nela, bem como, quando escolho peças íntimas, perfumes, produtos de marcas em shoppings, e à noite, de alguma coisa que ela goste, e faço isso sem avisar. Então, aí sim, pode-se dizer que o cara da música sou eu.

Posso até demorar em trocar aquela lâmpada que ela me pediu, ou mesmo providenciar o conserto de tomada ou de uma torneira que estava pingando. Aí sim, esse cara então sou eu. Mas vamos aos fatos. Estou passando uns dias aqui em Aracaju e por felicidade cruzei com o Rei Roberto Carlos no saguão do Aeroporto. Ele veio a esta cidade para um show e aí tive a oportunidade de conversar com ele, e curioso que sou, fui logo perguntando: Roberto, quem é realmente o cara que o inspirou a compor a música intitulada: "Este cara sou eu". Ele olhou parta mim, deu um sorriso maroto e ágil como o ilusionista David Copperfield tirou uma foto de dentro do bolso do meu blazer cinza e mostrou-me. Da forma que fez até assustei, mas aguçando o olhar, dava pra notar que era um cara que estava bem vestido, e pelo jeito, bem quisto e de grande destaque na sociedade goiana. E da forma carinhosa que apontou o dedo para a foto e um sorriso maroto, notava-se que tratava de amigo pra todas as horas. Disse mais: “Esse cara aqui está sempre com as mãos estendidas aos mais carentes e aos que precisam de apoio”. Com o dedo em riste continuou: “Este cara sabe interpretar olhares, entender silêncios, compreender, perdoar erros, prevenir quedas; este cara sabe levantar-se, seguir de cabeça erguida e sempre com pensamento positivo; este cara sabe de onde vêm “tempestades” de onde vêm palavras que magoam e constrangem; este cara sabe quando se é humilhado; este cara sabe quando se escreve uma música, um artigo ou crônica importante e ninguém ouve, lê ou nem dá a mínima ao texto; este cara sabe, mas não se apoquenta com nada, pois tem sempre a cabeça erguida e ainda procura entender os porquês; este cara sabe secar lágrimas, conhecer e conviver com as pessoas tal como são; este cara sabe compreender onde elas tens estado e que as acompanha em teus lucros e fracassos, que celebra tuas alegrias, que compartilha tuas dores e jamais julga as pessoas por teus erros... Um cara que sente saudade, como você sente”. Roberto deu mais uma olhada pra mim e com o dedo ainda voltado para a foto, se aproximou e me entregou. Levei novamente um susto. Vi-me todo elegante sentado num baquinho usando um terno preto, com as mãos sobre as pernas e um sorriso largo. Realmente não acreditei. E não é que o cara era eu... 
Moral da história: Qualquer pessoa pode ser “o cara”, basta ser honesto, estar sempre com as mães estendidas, coração aberto, ajudar ao próximo, procurar olhar o mundo de outro modo e não apenas querer ser.

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