Diário de um sobrevivente.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Apenas um pedido de perdão...
 
 
JESUS, não é meu costume, mas hoje resolvi ir a uma balada. Antes de sair de casa fiz uma leitura bíblica e o sinal da cruz pedindo Sua proteção, pois o mundo está cheio de perigos, de gente maldosa e uma violência que se expande por toda a cidade. Em razão disso, ainda fiz questão de me lembrar de um anúncio televisivo que dizia: “Se beber não dirija” ou “Se dirigir não beba”. O meu pai insistentemente me pedia para que eu não tomasse bebida alcoólica, hoje, então, pela primeira vez obedeci. Não bebi Senhor Jesus! Posso dizer que senti orgulho de mim mesmo, e do modo que li o texto bíblico, o qual por incrível que pareça, deu a entender que mesmo se eu não bebesse correria algum perigo. Dizia: “Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.” Eclesiastes 3:20. Era prenúncio de alguma coisa que poderia acontecer. Entendo que fiz uma escolha certa, saudável, e no clube, bebi somente refrigerantes, ao contrário de alguns “amigos” que “encheram a cara” e ainda me diziam que eu era um tolo. E quanto à festa, finalmente acabou eu só sei que saí sóbrio, enquanto alguns saíram cambaleantes, dirigindo seus veículos sem as mínimas condições… Estavam totalmente bêbados. Tentei controlar a situação e até me propus a levá-los até as suas casas, mas, tudo fora em vão. Fui para o meu carro, certo que voltaria em paz, com a consciência tranquila, entretanto, nunca poderia imaginar o que estava me aguardando, algo que eu jamais poderia esperar. Nem bem alcancei o outro lado da rua o meu corpo sentiu um impacto violento. Fui atropelado por um carro e jogado sobre calçada, e depois, ainda com alguma percepção, ouvi um policial dizer: - O rapaz que causou este acidente estava bêbado e parece que era amigo deste jovem. A minha mente ia e voltava numa velocidade surpreendente e fazia lembrar-me do texto bíblico, enquanto via o rosto de Jesus que resplandecia diante da pequena luminosidade que contrastava com uma lâmpada de mercúrio, e sua voz branda não parecia distante… Meu sangue escorria por todos os lados e tentava com todas as minhas forças, suportar a dor. Ainda consegui ouvir os paramédicos dizerem: – Este jovem se não for atendido imediatamente pode morrer. Atordoado com tantos sussurros tinha a certeza de que o amigo que me atropelou não tinha a menor ideia da velocidade que empreendera ao seu veículo, afinal, estava dominado pela bebida, e agora eu é que sofria as consequências! Por que as pessoas fazem isso, perguntei a Jesus? Sabem que isto pode arruinar vidas, destruir famílias? Minutos depois senti a maca atravessar um enorme corredor e luzes passarem velozmente fazendo arderem meus olhos. A dor ia me cortando como se fossem milhares de agulhas grandes e afiadas… Eu clamava a Jesus! Pedi ao Teu espírito generoso que fizesse chegar mensagem espiritual aos meus pais, quebrantando-os para não se assustarem. Pedi a Jesus que transformasse meu pai numa fortaleza e que ele não sofresse, e à minha mãe, que escrevesse na minha lápide o amor que sentia por ela.
 
Como meu pai me alertou alguém naquele dia deveria ter dito também a aquele jovem que é errado beber e dirigir. Talvez, se alguém ou seus pais o tivesse alertado, eu não teria sido acidentado e não me tornaria deficiente.
 
A minha respiração estava ficando mais fraca e aí disse a Jesus: - Estou ficando com medo… E o seu rosto continuava lá resplandecente, atento a tudo e isto eu podia observar, mas, continuava murmurando: - Se estes são meus momentos finais Jesus, afirmo-lhe que ainda me sinto despreparado...! Mas, eu gostaria de poder abraçar o meu pai… Nunca fizemos isso. Então, enquanto estou estirado sobre esta calçada gostaria de poder pedir-lhe perdão e dizer-lhe, mesmo em razões de nossas desavenças, que eu o amo!  Eu o amo muito, muito mesmo! A dor aumentou e então desmaiei.
 
Dias se passaram. Acordei de um coma profundo e no portal de entrada do quarto logo avistei uma luz que indicava: UTI. As minhas pernas não se moviam, o rosto enfaixado e respirando por aparelhos, os braços presos numa parafernália eletrônica recebia soro controlando resquícios de vida. Ao lado da cama uma cadeira de rodas já me aguardava. E agora, pensei? O desespero tomou-me o corpo. Lembrei do acontecido e não conseguia apagar da memória nenhuma cena, mas, de repente recebi um abraço afetuoso do meu pai, como pedira quando estava extasiado e o corpo dormente naquela calçada. Meu pai com os olhos lacrimejados e fisionomia abalada, trasmitia angústia, desespero e dor; dos seus olhos saíam flashes como se fosse uma máquina fotográfica  mostrando bebuns e bebidas, e  não sei como, elas desapareciam a cada piscada como se estivessem sendo sugadas pela sua retina e amparadas pelo sôfrego globo ocular. Mas, uma conseguiu descer pelo seu rosto já carcomido pelas intempéries do tempo e caiu  sobre o lençol branco. E emocionado me disse: Carlos, meu filho, sabe que eu te amo muito! Me perdoe. Suas palavras acalentou meu coração e eu retribui aquele gesto abraçando-o carinhosamente. 

0 comentários:

Postar um comentário

 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions