Uma pausa para reflexão

segunda-feira, 26 de maio de 2014



Semana passada ao caminhar pelo bosque Vaca Brava resolvi sentar num banco de madeira sombreado por uma gigantesca árvore centenária. Dei uma pequena pausa para refletir e depois, olhei para o lago e vi sobre suas águas cintilantes raios de sol que pareciam brincar com as sombras dos prédios que também sobre ele se refletiam. Pessoas passavam caminhando pelo calçadão, crianças brincavam com seus cachorrinhos sobre a grama e as mães carregavam em seus carrinhos com o semblante feliz. De repente, um garotinho de cabelos loiros, lindo, de aproximadamente dois anos de idade, se aproximou de mim com um sorriso nos lábios e estendendo a mão disse: Bom dia! Segurei-lhe a mão e respondi: Bom dia! Com o semblante feliz Hugo quis continuar ali, mas sua babá o chamou e ele se foi acenando com as mãos e eu disse: Então tchau!

Ao ver aquelas cenas e o ato espontâneo daquela criança, senti-me mergulhando naquelas águas mansas, certo de que elas queriam me mostrar alguma coisa, e num repente, meu corpo imergia, emergia, reagindo às intempéries impostas por aquela manhã quente. O vento passava veloz e fazia desprender das árvores e das flores as folhas e pétalas envelhecidas que saíam voando cambaleantes, como se fossem dançarinas de um show sem palco e improvisado, para pousar mais adiante sobre a relva. Caracterizado pelo espelho d’água, eu visualizava em vívidos detalhes, cenas mostradas dias anteriores pela mídia: famílias destruídas, exposição em outdoors de propagandas imorais, contra os bons costumes; realização casamento de homossexuais pela igreja católica, pessoas injustiçadas, oprimidas, mulheres agredidas, negros discriminados, trabalhadores explorados, agricultores em desespero, pessoas sem teto ou um pedaço de chão para morar e plantar; guerras, catástrofes, criminalidades, ditaduras espalhadas pelo mundo, corrupção, repressões e tantas outras imbecilidades continuaram fluindo sobre o espelho das águas deixando-me pensativo, atônito e sem forças para combater tantas injustiças. A angústia me oprimia naquele momento de reflexão, e aí perguntei a mim mesmo: Quantos anzóis ou redes serão precisos para que possamos pescar toda essa gente sofrida, combalidas pelo câncer ou outras doenças infecciosas? Veio à minha memória o triste desenrolar da vida de minha mãe Carolina, de minha tia Dulce, dos amigos Antônio Souto e senhor Francisco Marinho, da dona Honorata, do menino Adrian e tantos outros que foram para outra dimensão. Mas, enquanto o vento acariciava o meu rosto, lembrei-me também de minha irmã Clotildes, do amigo Waldir, do Ildeu Dornelas, este que, na semana passada, teve que ser internado às pressas no Hospital Araujo Jorge. Veio também à minha memória a situação das minhas amigas Erenita Soares, Andréia Teles, Maria de Lourdes Primo, esta também teve que ir a São Paulo para tratar de câncer de mama. Gente, há tantas outras sofrendo do mesmo mal. Pessoas que lutam pela vida e são possuidoras de uma fé imensurável que são exemplos para todos nós.

Deus é isto: a beleza que se ouve e se manifesta no silêncio. É foi aí que entendi a razão daqueles minúsculos espelhos d’água insistir em querer me mostrar que eu estava vivendo num mundo desigual. No mundo do absurdo, mas era verdade. Mas, o mundo tão belo e rico que se estampava diante de meus olhos é claro que me mostraria seus contrastes, como, essas doenças malditas e outros tipos, de certo modo incuráveis que deixam pessoas desnorteadas, incapazes e com deficiência física. Naquele instante queria que fossem apenas cenas represadas no meu subconsciente, mas não eram, pois a televisão reprisa e mostram fatos novos todos os dias: crianças e mulheres que se prostituem para sobreviverem; crimes de pedofilia, chacinas, roubos seqüestros, corrupção, abuso do poder econômico que oprimem os menos favorecidos. Isto realmente não é irreal ou utopia, é pura realidade, uma realidade que se alastra como se fosse uma coisa natural característica da própria espécie humana.

Diante daquelas cenas captadas através da janela de minha alma, entendi que era necessário resgatar da memória do tempo os bons fluídos, as riquezas e criatividades produzidas por muitas pessoas cristãs, criteriosas, que pode fecundar esses momentos de reflexão e ajudar a delinear e modelar novos conceitos de vida em face do processo atual, uma vez que, às vezes, encontramos preceitos e normas de comportamento que estão fora de época. O mundo se globalizou então é importante que se recupere a moral dos homens e lhes dêem condições de acompanhar as rupturas que a história maleficamente lhes impôs durante milênios. De outra parte, entendemos que cada pessoa deve se tornar sujeito de sua própria história, de sua própria libertação, transformando a sua realidade com a finalidade de efetivar a justa liberdade coletiva, ainda que de maneira deficitária.

Hoje, ao ver a situação dessas queridas pessoas, de ver uma multidão perdida na escuridão da vida sem a presença de Deus, preocupei-me sobremaneira, pois sei que muitos deles perderem a sua ligação com a igreja na qual foram batizados. Outros, sentindo-se excluídos pela sociedade, violentados moralmente e impossibilitados de terem acesso aos bens necessários para a sua sobrevivência, ficam frustrados e se deixam tomar pelo desânimo, deturpam-se as mentes e deturpadas, partem para as formas mais fáceis de ganhar dinheiro, exemplificado no tráfico de drogas, que tem levado muitos jovens ao crime e à morte prematura. Alguns, sem a orientação eficaz, mudam de religião como se estivessem trocando de roupa ou desesperançosos, tornam-se indiferente a tudo, fato que a igreja deve procurar saber para obter uma resposta mais adequada para combater os desafios aqui constatados.

Dando uma pequena pausa para oração naquele local aprazível, conversava e pedia a Deus por todas essas pessoas e me senti fortalecido, então, restou-me dizer a todos eles e aos que lerem esta crônica, que vivam intensamente e agitem-se ao vento, voem e encontre no infinito o amor e a paz, se é que ainda existe. Com o coração em paz, deixei o banco sabendo que teria um longo dia, e certo que naquele instante Deus estava comigo e ouviu no meu silêncio, pois senti subir as cortinas do tempo onde ELE me mostrava um mundo renovado que não descia mais pelos desfiladeiros insensatez. Não obstante isso, incapaz de merecer sua presença ou de LHE pedir alguma coisa, pois ELE já fez e tem feito muito por mim, e assim, deixei-me dominar pelas asas da imaginação que levaram  junto comigo, como poeira ao vento, os  meus   desejos,  esperanças e fé, onde, a cada dia, sei que deverei fazer um ensaio dramático para a realização de uma última encenação no teatro da vida, para, quem sabe, em outra dimensão, Deus possa entender  o porquê do pedido que fiz no tocante a recuperação da saúde destas pessoas que sofrem desse mal do século – o câncer e procurar entender também o porquê da morte destes entes queridos, de forma que, todos possam conhecer também minhas angústias e lamentações.

Empilhada em cantos escuros de minha alma, a soberba reflexão incorreta sobre quem sou, hão de entender possivelmente, pois, minhas abstrações se limitam a nada definir com profundidade, no entanto, como essas pessoas sofridas, eu e você, sabemos que amanhã tudo voltará à velha rotina: morte e vida; encontros e desencontros, tempestades e calmarias; lua e sol. Vozes sussurrando palavras doces e mentirosas impregnando em nossos ouvidos desacostumados com a realidade e padrões duros impostos por uma sociedade consumista. Nesse vetor, o tempo dita suas regras que são acopl
adas pelos pólos magnéticos que se chocam em um espaço sem gravidade. 

Por fim, mesmo sentindo amparado pelas mãos de Deus, restou-me ir embora para ficar fora do campo daquela visão que me angustiava. E na certeza de que Ele escutava as minhas orações silenciosas, optei por voar nas asas da imaginação porque sabia que Deus voava comigo para resguardar aquela força espiritual, a beleza do lago, o verde das árvores centenárias, os cânticos dos pássaros; resguardar o sorriso angelical daquela criança que se aproximou de mim e das outras que brincavam sobre a grama; resguardar as palavras dos caminhantes soltas no ar, assim como, a presença do improvável, do surreal e da imagem de todas as pessoas amigas que se refletiam sobre as águas que, doravante, cristalizarei eternamente em minha retina.

É bom reprisar o que é bom: Durante muitos anos venho escrevendo artigos e crônicas com o objetivo de levar mensagens de otimismo, perseverança e fé. Coisas simples que bastam apenas uma atitude. Atitude que não devemos deixar para amanhã, e nesse caso, o amanhã não se fez hoje. Eu ainda não aprendi tocar instrumentos musicais, nem nadar, mas, felizmente, através da escrita, posso usar as asas de minha imaginação e aí, viajo para onde quero, vou até o infinito, mesmo sabendo não ter fim.  E no mundo da imaginação, nado, mergulho e chego às profundezas, dedilho instrumentos que sempre sonhei tocar, canto nos palcos da vida e sonho... Perdoem-me se avancei demais em algumas frases ou palavras, talvez, elas podem parecer sem nexo, mas, para que este texto não, pois quis mostrar a realidade em que vivemos e as usei dessa forma para tornar esta crônica mais leve e interessante.

1 comentários:

  1. Haaa, meu amigo Poeta.... Falo sem sombras de dúvidas que suas palavras de fé e otimismo tem conseguido tocar o coração de muita gente, principalmente os dos menos favorecidos que sofrem com a exclusão social assim como eu.... Sinto-me desolada ao encontrar-me distante dos meus amigos, das pessoas que amo e fora do meu Estado para fazer tratamento desse maldito câncer..... A sociedade em que vivemos na maioria das vezes é injusta e cruel para conosco, sendo assim muitas vezes me pego viajando nas asas da indignação.... O que me motiva a continuar na luta e abraçar essa causa, são alguns poucos amigos que assim como você me apoiam e ajudam-me a respirar coisas boas me levando á acreditar que vou conseguir vencer esse gigante..... obrigada pelo carinho e por gastar seu precioso tempo citando meu nome em uma das suas belíssimas e preciosas Crônicas !!

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