Semana
passada ao caminhar pelo bosque Vaca Brava resolvi sentar num banco de madeira sombreado
por uma gigantesca árvore centenária. Dei uma pequena pausa para refletir e
depois, olhei para o lago e vi sobre suas águas cintilantes raios de sol que
pareciam brincar com as sombras dos prédios que também sobre ele se refletiam. Pessoas
passavam caminhando pelo calçadão, crianças brincavam com seus cachorrinhos
sobre a grama e as mães carregavam em seus carrinhos com o semblante feliz. De
repente, um garotinho de cabelos loiros, lindo, de aproximadamente dois anos de
idade, se aproximou de mim com um sorriso nos lábios e estendendo a mão disse:
Bom dia! Segurei-lhe a mão e respondi: Bom dia! Com o semblante feliz Hugo quis
continuar ali, mas sua babá o chamou e ele se foi acenando com as mãos e eu
disse: Então tchau!
Ao ver aquelas cenas e o ato
espontâneo daquela criança, senti-me mergulhando naquelas águas mansas, certo
de que elas queriam me mostrar alguma coisa, e num repente, meu corpo imergia,
emergia, reagindo às intempéries impostas por aquela manhã quente. O vento
passava veloz e fazia desprender das árvores e das flores as folhas e pétalas
envelhecidas que saíam voando cambaleantes, como se fossem dançarinas de um
show sem palco e improvisado, para pousar mais adiante sobre a relva. Caracterizado
pelo espelho d’água, eu visualizava em vívidos detalhes, cenas mostradas dias
anteriores pela mídia: famílias destruídas, exposição em outdoors de
propagandas imorais, contra os bons costumes; realização casamento de
homossexuais pela igreja católica, pessoas injustiçadas, oprimidas, mulheres
agredidas, negros discriminados, trabalhadores explorados, agricultores em
desespero, pessoas sem teto ou um pedaço de chão para morar e plantar; guerras,
catástrofes, criminalidades, ditaduras espalhadas pelo mundo, corrupção, repressões
e tantas outras imbecilidades continuaram fluindo sobre o espelho das águas
deixando-me pensativo, atônito e sem forças para combater tantas injustiças. A
angústia me oprimia naquele momento de reflexão, e aí perguntei a mim mesmo:
Quantos anzóis ou redes serão precisos para que possamos pescar toda essa gente
sofrida, combalidas pelo câncer ou outras doenças infecciosas? Veio à minha
memória o triste desenrolar da vida de minha mãe Carolina, de minha tia Dulce, dos
amigos Antônio Souto e senhor Francisco Marinho, da dona Honorata, do menino
Adrian e tantos outros que foram para outra dimensão. Mas, enquanto o vento
acariciava o meu rosto, lembrei-me também de minha irmã Clotildes, do amigo
Waldir, do Ildeu Dornelas, este que, na semana passada, teve que ser internado às pressas
no Hospital Araujo Jorge. Veio também à minha memória a situação das minhas amigas
Erenita Soares, Andréia Teles, Maria de Lourdes Primo, esta também teve que ir
a São Paulo para tratar de câncer de mama. Gente, há tantas outras sofrendo do mesmo
mal. Pessoas que lutam pela vida e são possuidoras de uma fé imensurável que
são exemplos para todos nós.
Deus é
isto: a beleza que se ouve e se manifesta no silêncio. É foi aí que entendi a
razão daqueles minúsculos espelhos d’água insistir em querer me mostrar que eu estava
vivendo num mundo desigual. No mundo do absurdo, mas era verdade. Mas, o mundo
tão belo e rico que se estampava diante de meus olhos é claro que me mostraria
seus contrastes, como, essas doenças malditas e outros tipos, de certo modo
incuráveis que deixam pessoas desnorteadas, incapazes e com deficiência física.
Naquele instante queria que fossem apenas cenas represadas no meu
subconsciente, mas não eram, pois a televisão reprisa e mostram fatos novos
todos os dias: crianças e mulheres que se prostituem para sobreviverem; crimes
de pedofilia, chacinas, roubos seqüestros, corrupção, abuso do poder econômico
que oprimem os menos favorecidos. Isto realmente não é irreal ou utopia, é pura
realidade, uma realidade que se alastra como se fosse uma coisa natural
característica da própria espécie humana.
Diante
daquelas cenas captadas através da janela de minha alma, entendi que era
necessário resgatar da memória do tempo os bons fluídos, as riquezas e
criatividades produzidas por muitas pessoas cristãs, criteriosas, que pode
fecundar esses momentos de reflexão e ajudar a delinear e modelar novos
conceitos de vida em face do processo atual, uma vez que, às vezes, encontramos
preceitos e normas de comportamento que estão fora de época. O mundo se
globalizou então é importante que se recupere a moral dos homens e lhes dêem
condições de acompanhar as rupturas que a história maleficamente lhes impôs
durante milênios. De outra parte, entendemos que cada pessoa deve se tornar
sujeito de sua própria história, de sua própria libertação, transformando a sua
realidade com a finalidade de efetivar a justa liberdade coletiva, ainda que de
maneira deficitária.
Hoje, ao
ver a situação dessas queridas pessoas, de ver uma multidão perdida na
escuridão da vida sem a presença de Deus, preocupei-me sobremaneira, pois sei
que muitos deles perderem a sua ligação com a igreja na qual foram batizados.
Outros, sentindo-se excluídos pela sociedade, violentados moralmente e
impossibilitados de terem acesso aos bens necessários para a sua sobrevivência,
ficam frustrados e se deixam tomar pelo desânimo, deturpam-se as mentes e
deturpadas, partem para as formas mais fáceis de ganhar dinheiro, exemplificado
no tráfico de drogas, que tem levado muitos jovens ao crime e à morte
prematura. Alguns, sem a orientação eficaz, mudam de religião como se
estivessem trocando de roupa ou desesperançosos, tornam-se indiferente a tudo,
fato que a igreja deve procurar saber para obter uma resposta mais adequada
para combater os desafios aqui constatados.
Dando uma
pequena pausa para oração naquele local aprazível, conversava e pedia a Deus
por todas essas pessoas e me senti fortalecido, então, restou-me dizer a todos
eles e aos que lerem esta crônica, que vivam intensamente e agitem-se ao vento,
voem e encontre no infinito o amor e a paz, se é que ainda existe. Com o
coração em paz, deixei o banco sabendo que teria um longo dia, e certo que
naquele instante Deus estava comigo e ouviu no meu silêncio, pois senti subir
as cortinas do tempo onde ELE me mostrava um mundo renovado que não descia
mais pelos desfiladeiros insensatez. Não obstante isso, incapaz de merecer sua
presença ou de LHE pedir alguma coisa, pois ELE já fez e tem feito muito por
mim, e assim, deixei-me dominar pelas asas da imaginação que levaram
junto comigo, como poeira ao vento, os meus desejos, esperanças
e fé, onde, a cada dia, sei que deverei fazer um ensaio dramático para a
realização de uma última encenação no teatro da vida, para, quem sabe, em outra
dimensão, Deus possa entender o porquê do pedido que fiz no tocante a
recuperação da saúde destas pessoas que sofrem desse mal do século – o câncer e
procurar entender também o porquê da morte destes entes queridos, de forma que,
todos possam conhecer também minhas angústias e lamentações.
Empilhada em cantos escuros de minha alma, a soberba reflexão incorreta sobre quem sou, hão de entender possivelmente, pois, minhas abstrações se limitam a nada definir com profundidade, no entanto, como essas pessoas sofridas, eu e você, sabemos que amanhã tudo voltará à velha rotina: morte e vida; encontros e desencontros, tempestades e calmarias; lua e sol. Vozes sussurrando palavras doces e mentirosas impregnando em nossos ouvidos desacostumados com a realidade e padrões duros impostos por uma sociedade consumista. Nesse vetor, o tempo dita suas regras que são acopl
Por fim, mesmo
sentindo amparado pelas mãos de Deus, restou-me ir embora para ficar fora do
campo daquela visão que me angustiava. E na certeza de que Ele escutava as
minhas orações silenciosas, optei por voar nas asas da imaginação porque sabia
que Deus voava comigo para resguardar aquela força espiritual, a beleza do
lago, o verde das árvores centenárias, os cânticos dos pássaros; resguardar o
sorriso angelical daquela criança que se aproximou de mim e das outras que
brincavam sobre a grama; resguardar as palavras dos caminhantes soltas no ar,
assim como, a presença do improvável, do surreal e da imagem de todas as
pessoas amigas que se refletiam sobre as águas que, doravante, cristalizarei
eternamente em minha retina.
É bom reprisar o que é bom: Durante muitos anos
venho escrevendo artigos e crônicas com o objetivo de levar mensagens de
otimismo, perseverança e fé. Coisas simples que bastam apenas uma atitude.
Atitude que não devemos deixar para amanhã, e nesse caso, o amanhã não se fez
hoje. Eu ainda não aprendi tocar instrumentos musicais, nem nadar, mas,
felizmente, através da escrita, posso usar as asas de minha imaginação e aí,
viajo para onde quero, vou até o infinito, mesmo sabendo não ter fim. E no mundo da imaginação, nado, mergulho e
chego às profundezas, dedilho instrumentos que sempre sonhei tocar, canto nos
palcos da vida e sonho... Perdoem-me se avancei demais em algumas frases ou
palavras, talvez, elas podem parecer sem nexo, mas, para que este texto não,
pois quis mostrar a realidade em que vivemos e as usei dessa forma para tornar
esta crônica mais leve e interessante.
Haaa, meu amigo Poeta.... Falo sem sombras de dúvidas que suas palavras de fé e otimismo tem conseguido tocar o coração de muita gente, principalmente os dos menos favorecidos que sofrem com a exclusão social assim como eu.... Sinto-me desolada ao encontrar-me distante dos meus amigos, das pessoas que amo e fora do meu Estado para fazer tratamento desse maldito câncer..... A sociedade em que vivemos na maioria das vezes é injusta e cruel para conosco, sendo assim muitas vezes me pego viajando nas asas da indignação.... O que me motiva a continuar na luta e abraçar essa causa, são alguns poucos amigos que assim como você me apoiam e ajudam-me a respirar coisas boas me levando á acreditar que vou conseguir vencer esse gigante..... obrigada pelo carinho e por gastar seu precioso tempo citando meu nome em uma das suas belíssimas e preciosas Crônicas !!
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