Santa Missa num Rincão Inacabado

terça-feira, 29 de maio de 2012

Quando cheguei à Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, fiquei surpreso, boquiaberto, e em certo momento, senti que estava assistindo a um filme velho, cujos atos já tinham sido encenados noutros recantos, tendo como protagonista o mesmo ator, cujo palco improvisado em galpões poderia atropelar o mais sensível ser humano e fazê-lo lembrar da luta insana que empreendera para o retorno do padre Luiz Augusto, o “Paladino da Fé”, de onde jamais deveria ter saído. As cenas disfarçadas de orgulho se confundiam com a preocupação dos fiéis cujos semblantes pareciam transmitir medo de perder novamente o grande evangelizador e o novo recanto mesmo inacabado. À medida que o tempo passava aquelas cenas iam se dissipando de minha massa cefálica, embaladas pelos sons inebriantes e dos cânticos entoados pelos músicos naquele altar improvisado, o qual me fez recordar de um artigo escrito anteriormente neste jornal intitulado “Santa missa no altar da humildade”, que me proporcionou mergulhar nas águas profundas e ao emergir, sentir a necessidade de rabiscar no papel, com cores rubras de um coração ferido pelo tempo, somente as decisões sensatas, excluindo definitivamente as insensatas, mas imbuído do desiderato de tentar esquecer as desavenças e o próprio tempo que sempre me cobrou precisão.

Há dias não comparecia à missa por razão de viajem e doenças em família. Entretanto, no último domingo, cansado das andanças sem fim, assim como, do atendimento precário que meus entes queridos e amigos receberam da rede hospitalar e em face da própria agitação da cidade grande, senti a necessidade de estar perto do povo de Deus que sempre se aglomerou naquela paróquia, e ao dobrar a quarta esquina de entrada da Vila Expansul, logo vislumbrei do lado esquerdo um galpão inacabado, lotado de crianças, jovens e adultos, situação que me deixou surpreso. Mas, ao reprisar as cenas passadas não foi difícil entender o porquê de tamanha força evangelizadora, pois, quando uma sociedade se une em busca de um ideal: a proteção e união da família, a oitiva do evangelho, a destreza do evangelizador e quiçá, presença de Deus na vida de cada um, tudo nos mostra que nada é impossível ou invencível, mesmo quando se luta contra o silêncio dos invejosos e/ou o uivo enganador das vozes que se escondem nos tímpanos teimosos. As pessoas que lá clamavam o nome de Deus para safarem-se das incertezas do cotidiano, dos males que afligem as famílias, das perseguições e invejas que rondam o benfeitor espiritual, são capazes de prosternarem-se até o cimento frio ou o chão poento, em humilde respeito, e ao levantar os olhos, sentirem o prazer de vê-lo no altar da humildade com a mesma tenacidade, sorridente, reconciliador e com seu coração jubiloso, continuar amparando aos menos favorecidos ou até pessoas abastada, minimizando-lhes a dor, a fome, a doença, a solidão, a ganância, a tristeza, e essas ações sociais e humanitárias estão se tornando um fato inovador capaz de conquistar os mais incautos dos homens e aumentar o número de fiéis católicos, como aconteceram noutros locais e ora vem acontecendo naquele rincão inacabado. Comenta-se que moradores do Setor Expansul que não iam às missas, hoje estão participando das celebrações, inclusive, alguns deles, até pertenciam às igrejas evangélicas da região. Quando recordo da luta que empreendemos em favor do retorno do Paladino da Fé, o nobre leitor poderia até achar que se tratava de um sonho ingênuo deste escriba, entretanto, diante daquele monumento inacabado, apinhado de gente, não pairou dúvida quanto à certeza de nossa luta e no final, saber que o sabor de nossa vitória era acalentado por valores espirituais que sempre nortearam esse extremoso sacerdote.


Muitos são os heróis do novo recanto e ele servirá como repouso espiritual eterno, alicerçados por um bairro que se ascendeu ao ouvir os clamores dos fiéis, as músicas e as orações que são levadas pelo vento e pousam suavemente nos ouvidos sensíveis e ansiosos dos moradores do Setor Expansul. As sementes da fé plantadas pelo Padre Luiz com o irrestrito apoio de outro paladino, o Padre Cássio, não serão efêmeras, porque já nasceram guarnecidas por um profundo sentimento de gratidão, esperança e amor em Cristo. Sentimentos que guardei na região recôndita de meu cérebro, que hoje se espalham e me ensinam a segurar as rédeas do tempo e seguir pela estrada da vida com retidão de caráter para, no final, saber puxá-las no momento certo. Regadas com águas puras, cresceram e sobreviveram aos abruptos e inférteis terrenos que captadas e geridas pelos sonhos, mais pareciam pequenos quadros pintados pelo Grande Arquiteto do Universo. Sei que a realidade dói quando no próprio sonho já se inicia a dor, não obstante sabermos que no mundo dos sonhos não temos condições de afirmar se somos felizes por completo ou, quando um sonho é reprisado possamos encontrar o caminho certo, que outrora ousamos percorrer usando a sombra de nossos próprios sonhos. Demoramos encontrar a pessoa que nos acalentou e nos fez encontrar o caminho de Cristo; demoramos retribuir a amizade a esse alguém que nunca pediu nada em troca.  Esse alguém que queria ser apenas amigo e nada mais. Quantas vezes tentamos alçar voos mesmo sem ter asas e encontramos um lugar rodeado por muros intransponíveis, onde não se consegue ver o que acontece do outro lado.  Sonhos que nos confundem e muitas vezes nem sabemos se ele foi real ou imaginário. Tentamos destruir o muro, mas, vem o medo de encontrar do lado de lá forças estranhas e poderosas. Tentamos achar o caminho que percorremos noutros sonhos e, aí, Deus vem e nos guia por um caminho totalmente diferente, mostrando-nos a realidade, o mundo medíocre em que vivemos, mas, mesmo assim, ELE nos dá tranquilidade, espanta o nosso medo e nos protege do mal que muitas vezes nós mesmos criamos

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