VANDERLAN DOMINGOS
De repente, peguei uma bicicleta e sai pedalando.
Tinha que fazer parte daquela comitiva para sensibilizar as pessoas a se
exercitarem e cuidarem da saúde. O sol queimava meu rosto, o suor brotava entre
as células molhando minha camiseta azul, deixando-me exausto naquele dia em que
se comemorava não sei o quê. O corpo em chamas sentia mergulhar em águas
profundas. A estrada de chão, poenta, parecia derreter e as rodas da bicicleta
sofriam, exalando cheiro de borracha queimada, enquanto os reflexos incendiários
do sol me cegavam. Comi frutas e bebi água gelada no caminho com receio de
estilhaçar o gelo com os dentes e naquele momento, sequer senti a surpresa dos
competidores e dos fazendeiros que colhiam suas safras.
Alguém durante a
caminhada, não observei bem, me perguntou sobre o calor e vi que se
tratava de uma pessoa que não parava de esbravejar contra o tempo abafado e
quente. Outra, com a língua em forma de gravata, parecia querer abrir a
torneira do tempo para se esconder debaixo daquela água imaginária. Sem medo de
procrastinar em lume porque o calor era insuportável e que fazia latejar meu
cérebro prosseguia silencioso. E foi com esse propósito que me atirei naquele
passeio ciclístico que aquele grupo denominou de “Pedaladas Olino/Terezinha”, para
no final, encostar-me á sombra de uma árvore de jatobá que ficava à beira do
caminho. Não me assustei porque nestes dias de calor cardíaco, há dias não
conseguia me aquietar nem por segundos, pois o calor escaldante provocado pela
poluição desvairada me deixava desnorteado e exausto.
À sombra
daquela árvore olhei para o céu e vi a camada de ozônio proteger a terra dos
raios ultravioleta do sol, que são extremamente prejudiciais à nossa vida.
Esses gases são uma mistura de átomos de cloro e carbono, estão presentes no ar
poluído e são transportados até elevadas altitudes quando é bombardeado pelos
raios solares ocasionando a separação do cloro e do carbono. O cloro, por sua
vez, tem a capacidade de destruir as moléculas de ozônio. Basta um átomo de
cloro para destruir milhares de moléculas de ozônio (O3) formando um buraco,
pelo qual, os raios UV passam chegando a atingir a superfície terrestre. A
redução da camada de ozônio contribui para o efeito estufa e este é a elevação
da temperatura da terra, provocado pela introdução na atmosfera de excessivas quantidades de gases
estranhos. O principal agente causador do efeito estufa e o gás carbônico,
resultante da combustão do carvão, lenha e petróleo.
A cada pedalada recebia
um vapor tórrido. Parecia que estava diante de um forno. O vento acariciava meu
rosto com suas mãos quentes jogando ao ar as gotículas de suor que desciam de
minha face e se evaporavam rapidamente. Não foi difícil durante o trajeto
observar impactos ambientais previsíveis e imprevisíveis ocasionados por
confrontos diretos ou indiretos entre o homem e a natureza, pois, não muito
distante podíamos ver uma imensa fumaça negra que encobria o céu e me
asfixiava. Tratava-se de uma queimada provocada pelo próprio homem. E os desmatamentos
e a falta de água nas cercanias de Mineiros? E o buraco na camada de ozônio?
Será que tudo fazia parte daquele estratégico passeio com o fito de levar uma
mensagem ao ser humano de como preservar a natureza? Fazia sim, pois a cada
descanso dado ao pedal passava pela nossa mente os fenômenos naturais como
tempestades, enchentes, incêndios florestais por causa natural, terremotos e
outros, que apesar de provocarem as alterações no Planeta, não caracterizam
impacto ambiental.
Um exemplo de
impactos ambientais são aqueles gerados pelas atividades industriais e
veículos, que através das emissões gasosas de suas chaminés e canos de
escapamento provocam a chuva ácida, que nada mais é que a queima do carvão e de
combustíveis fósseis e os poluentes industriais lançam dióxido de enxofre (SO2)
e de nitrogênio (NO2) na atmosfera. Esses gases parecem ter combinado à surdina
com o hidrogênio presente na atmosfera sob a forma de vapor de água. O
resultado são as chuvas ácidas: as águas de chuva, assim como a geada, neve e
neblina ficam carregadas de ácido sulfúrico e/ou ácido nítrico. Ao caírem nas
superfícies, alteram a composição química do solo e das águas, atingem as
cadeias alimentares, destroem florestas, lavouras, atacam estruturas metálicas,
monumentos e edificações.
Ao sentir todo aquele
desconforto cai na real. Senti que ir ao trabalho de bicicleta não dava e muito
menos deixar o carro na garagem. Precisava ser franco e à sombra daquela árvore
frutífera milenar vi passar vários caminhões, indo e outros voltando, levando e
trazendo grande quantidade de perus, deixando para trás uma extensa poeira que
tirava o meu sossego. Mas, pensei: Ali está a salvação da maioria dos
produtores e fazendeiros daquela região. Bastava aumentar os galpões e a frota
de veículos, e quanto à avaliação da poluição e dos impactos causados, tendo
como alvo os usuários de bicicletas, entendi que naquele instante o que mais
importante era aquietar-me debaixo daquela sombra.
Os meus
pensamentos iam e voltavam na velocidade da luz e diante de tantas informações
captadas na região recôndita do meu cérebro não vi alternativa senão em
moldá-los assertivamente de forma que as ações governamentais sejam formadas
por um conjunto de procedimentos capazes de assegurar, desde o início, que se
faça um exame sistemático do trânsito, não importa o local, com propostas e
alternativas capazes de provocar resultados satisfatórios e seja apresentada
adequadamente ao usuário de bicicleta, assim como aos não usuários de forma
plausível, vez que eles são e continuarão sendo o público alvo que motivou e
continuarão motivando outras pedaladas trepidantes ou impactantes.
Descansado, prossegui
com as pedaladas. De repente me vi diante de um mata-burro. E inteligentemente,
desvie-me dele e abri um colchete ao lado e continuei. Uma porteira se abriu e
encostei a bicicleta no moirão. Uma vontade danada de fazer xixi me fez ir até
uma moita perto de um monjolo. Mas, por incrível que pareça, os outros
ciclistas ficavam me olhando e eu não conseguia desviar e nem escapar dos
olhares deles e delas, por mais que tentava. Mas, a vontade de urinar era muita
e foi tanta, que me fez acordar. Olhei entre as pernas e notei que a minha cama
estava enxuta. Era apenas um sonho. Graças a Deus! VANDERLAN DOMINGOS
DE SOUZA
Artigo publicado no Diário da Manhã, edição do dia 15 de maio de 2013
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