PEDALADAS TREPIDANTES

sexta-feira, 17 de maio de 2013



VANDERLAN DOMINGOS
De repente, peguei uma bicicleta e sai pedalando. Tinha que fazer parte daquela comitiva para sensibilizar as pessoas a se exercitarem e cuidarem da saúde. O sol queimava meu rosto, o suor brotava entre as células molhando minha camiseta azul, deixando-me exausto naquele dia em que se comemorava não sei o quê. O corpo em chamas sentia mergulhar em águas profundas. A estrada de chão, poenta, parecia derreter e as rodas da bicicleta sofriam, exalando cheiro de borracha queimada, enquanto os reflexos incendiários do sol me cegavam. Comi frutas e bebi água gelada no caminho com receio de estilhaçar o gelo com os dentes e naquele momento, sequer senti a surpresa dos competidores e dos fazendeiros que colhiam suas safras.
     Alguém durante a caminhada, não observei bem,  me perguntou sobre o calor e vi que se tratava de uma pessoa que não parava de esbravejar contra o tempo abafado e quente. Outra, com a língua em forma de gravata, parecia querer abrir a torneira do tempo para se esconder debaixo daquela água imaginária. Sem medo de procrastinar em lume porque o calor era insuportável e que fazia latejar meu cérebro prosseguia silencioso. E foi com esse propósito que me atirei naquele passeio ciclístico que aquele grupo denominou de “Pedaladas Olino/Terezinha”, para no final, encostar-me á sombra de uma árvore de jatobá que ficava à beira do caminho. Não me assustei porque nestes dias de calor cardíaco, há dias não conseguia me aquietar nem por segundos, pois o calor escaldante provocado pela poluição desvairada me deixava desnorteado e exausto.
       À sombra daquela árvore olhei para o céu e vi a camada de ozônio proteger a terra dos raios ultravioleta do sol, que são extremamente prejudiciais à nossa vida. Esses gases são uma mistura de átomos de cloro e carbono, estão presentes no ar poluído e são transportados até elevadas altitudes quando é bombardeado pelos raios solares ocasionando a separação do cloro e do carbono. O cloro, por sua vez, tem a capacidade de destruir as moléculas de ozônio. Basta um átomo de cloro para destruir milhares de moléculas de ozônio (O3) formando um buraco, pelo qual, os raios UV passam chegando a atingir a superfície terrestre. A redução da camada de ozônio contribui para o efeito estufa e este é a elevação da temperatura da terra, provocado pela introdução na atmosfera de excessivas quantidades de gases estranhos. O principal agente causador do efeito estufa e o gás carbônico, resultante da combustão do carvão, lenha e petróleo. 
     A cada pedalada recebia um vapor tórrido. Parecia que estava diante de um forno. O vento acariciava meu rosto com suas mãos quentes jogando ao ar as gotículas de suor que desciam de minha face e se evaporavam rapidamente. Não foi difícil durante o trajeto observar impactos ambientais previsíveis e imprevisíveis ocasionados por confrontos diretos ou indiretos entre o homem e a natureza, pois, não muito distante podíamos ver uma imensa fumaça negra que encobria o céu e me asfixiava. Tratava-se de uma queimada provocada pelo próprio homem. E os desmatamentos e a falta de água nas cercanias de Mineiros? E o buraco na camada de ozônio? Será que tudo fazia parte daquele estratégico passeio com o fito de levar uma mensagem ao ser humano de como preservar a natureza? Fazia sim, pois a cada descanso dado ao pedal passava pela nossa mente os fenômenos naturais como tempestades, enchentes, incêndios florestais por causa natural, terremotos e outros, que apesar de provocarem as alterações no Planeta, não caracterizam impacto ambiental. 
      Um exemplo de impactos ambientais são aqueles gerados pelas atividades industriais e veículos, que através das emissões gasosas de suas chaminés e canos de escapamento provocam a chuva ácida, que nada mais é que a queima do carvão e de combustíveis fósseis e os poluentes industriais lançam dióxido de enxofre (SO2) e de nitrogênio (NO2) na atmosfera. Esses gases parecem ter combinado à surdina com o hidrogênio presente na atmosfera sob a forma de vapor de água. O resultado são as chuvas ácidas: as águas de chuva, assim como a geada, neve e neblina ficam carregadas de ácido sulfúrico e/ou ácido nítrico. Ao caírem nas superfícies, alteram a composição química do solo e das águas, atingem as cadeias alimentares, destroem florestas, lavouras, atacam estruturas metálicas, monumentos e edificações.
     Ao sentir todo aquele desconforto cai na real. Senti que ir ao trabalho de bicicleta não dava e muito menos deixar o carro na garagem. Precisava ser franco e à sombra daquela árvore frutífera milenar vi passar vários caminhões, indo e outros voltando, levando e trazendo grande quantidade de perus, deixando para trás uma extensa poeira que tirava o meu sossego. Mas, pensei: Ali está a salvação da maioria dos produtores e fazendeiros daquela região. Bastava aumentar os galpões e a frota de veículos, e quanto à avaliação da poluição e dos impactos causados, tendo como alvo os usuários de bicicletas, entendi que naquele instante o que mais importante era aquietar-me debaixo daquela sombra.
      Os meus pensamentos iam e voltavam na velocidade da luz e diante de tantas informações captadas na região recôndita do meu cérebro não vi alternativa senão em moldá-los assertivamente de forma que as ações governamentais sejam formadas por um conjunto de procedimentos capazes de assegurar, desde o início, que se faça um exame sistemático do trânsito, não importa o local, com propostas e alternativas capazes de provocar resultados satisfatórios e seja apresentada adequadamente ao usuário de bicicleta, assim como aos não usuários de forma plausível, vez que eles são e continuarão sendo o público alvo que motivou e continuarão motivando outras pedaladas trepidantes ou impactantes.
     Descansado, prossegui com as pedaladas. De repente me vi diante de um mata-burro. E inteligentemente, desvie-me dele e abri um colchete ao lado e continuei. Uma porteira se abriu e encostei a bicicleta no moirão. Uma vontade danada de fazer xixi me fez ir até uma moita perto de um monjolo. Mas, por incrível que pareça, os outros ciclistas ficavam me olhando e eu não conseguia desviar e nem escapar dos olhares deles e delas, por mais que tentava. Mas, a vontade de urinar era muita e foi tanta, que me fez acordar. Olhei entre as pernas e notei que a minha cama estava enxuta. Era apenas um sonho. Graças a Deus!   VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA
 
Artigo publicado no Diário da Manhã, edição do dia 15 de maio de 2013
 

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