Era um menino pobre de periferia que queria ser
imortal como o super-homem. Via filmes, lia gibis, ficava deveras deslumbrado
com aquele homem voando na velocidade da luz, vestido de um uniforme vermelho
com uma insigne no peito e uma imensa capa a salvar o povo americano, só que o dos
Estados Unidos. Mas, ele, naquele pequeno rincão queria ser imortal como aquele
personagem americano, mas, dada a sua situação financeira não conseguiria
aquela roupa e acreditava que sem ela não poderia voar. Pensava. Mas, sonhava
em voar e alto, mesmo sendo um sonho impossível. E voou. Só que no mundo
imaginário, mas voou e foi longe até o infinito, mesmo sabendo que ele não
tinha fim. A escrita o fez voar e criar seus próprios personagens, alguns,
imortais igual ao super-homem. Usando as asas da imaginação como
forma de alertar o leitor percorreu também o céu de sua vida e durante o voo pode vislumbrar
momentos de desespero em face dos desastres naturais provocados na terra pelo
homem. E foi através dessa viajem imaginária, observando os erros e
acertos em várias partes do mundo, não chegou a nenhuma conclusão satisfatória em
relação ao ser humano, mas, imbuído do desiderato de bem informar aos seus
leitores e de haver encontrado ao longo dessa “viajem” o amor e verem
realizados alguns sonhos, às vezes com pesados pedágios, e que,
mesmo se usasse as asas da imaginação, sabia que iam dificultar ao homem
alcançar outros sonhos e objetivos antes de chegar ao final da viajem.
O corpo
daquele menino tornou-se uma imensa livraria e seu cérebro um verdadeiro
dicionário que foi colocado em estantes suntuosas formando junto com o tempo, um
universo cheio do saber e aqueles que gostam de ler hoje fazem uso delas e às
vezes, acreditam serem imortais como ele e fazer parte de sua história, mesmo
sabendo ser surreal.
É comum vermos nas
livrarias algumas pessoas para satisfazer seu ego comprarem livros apenas pela
beleza da capa, sem pesquisarem o índice e conteúdo dos mesmos; muitas pessoas
avaliam os outros pela aparência externa, pela capa física, sem considerarem a
parte interna. Outras procuram livros com títulos bombásticos,
sensacionalistas, histórias de terror ou romances profundos por mera indicação
lobista. São assim as pessoas: existem aquelas que buscam sensacionalismos
baratos, dramas alheios ou apenas um romance profundo ou rasteiro. Em síntese,
posso dizer: Somos homens livros lendo uns aos outros. Podemos ficar só na beleza
da capa ou aprofundarmos nossa leitura até as páginas vivas do coração. A capa
pode ser interessante, mas é no conteúdo que brilha a essência do texto. O
corpo pode ter uma bela plástica, mas é o espírito que dá brilho aos olhos. Também
podemos ler nas páginas experientes da vida muitos textos de sabedoria. Depende
do que estamos buscando na estante. Podemos ver em cada homem livro um
texto espírito impresso nas linhas do corpo. Deus colocou sua assinatura divina
ali, nas páginas do coração, mas só quem lê e entende o interior descobre isso.
Só quem vence a ilusão da capa e mergulha nas páginas da vida íntima de alguém,
descobre seu real valor, humano e espiritual e daí, todos nós possamos ser bons
leitores e conscientes de estarmos lendo uma bela obra. É bom que nas páginas
de nossos corações, possamos ler uma história de amor profundo; é salutar que
em nossos espíritos possamos ler uma história imortal e que, ao abrir o livro e
manusear as páginas possamos ler nas entrelinhas visualizadas no brilho dos
olhos e na luz de um sorriso a graça da vida em todas as suas dimensões. E que,
sendo bons leitores, possamos nos tornar imortais, possamos ser leitura
interessante e criativa nas várias estantes da livraria de nossas vidas, pois
somos homens livros que algumas vezes escondemos na região recôndita de nosso
cérebro muitas sabedorias que não gostaríamos de serem expostas ou lidas. A
capa amassa e as folhas podem rasgar, mas, ninguém amassa ou rasga as ideias e
sentimentos de uma consciência imortal. O que não foi bem escrito em uma vida
poderá ser bem escrito mais a frente, em uma próxima existência ou mais além...
Mas, com toda certeza, a sua história ou daquele menino escritor que se tornou
famoso e que foi para outra dimensão, cujas obras, de tão grandiosas, vivem
após a sua morte, e claro, o tornou imortal, as quais foram publicadas pela
editora da vida e colocadas na estante terrestre ou em qualquer outra estante que
porventura existir.
Artigo enviado ao Diário da Manhã, para publicação no dia 09 de outubro.
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