O menino que queria ser imortal

sábado, 5 de outubro de 2013



Era um menino pobre de periferia que queria ser imortal como o super-homem. Via filmes, lia gibis, ficava deveras deslumbrado com aquele homem voando na velocidade da luz, vestido de um uniforme vermelho com uma insigne no peito e uma imensa capa a salvar o povo americano, só que o dos Estados Unidos. Mas, ele, naquele pequeno rincão queria ser imortal como aquele personagem americano, mas, dada a sua situação financeira não conseguiria aquela roupa e acreditava que sem ela não poderia voar. Pensava. Mas, sonhava em voar e alto, mesmo sendo um sonho impossível. E voou. Só que no mundo imaginário, mas voou e foi longe até o infinito, mesmo sabendo que ele não tinha fim. A escrita o fez voar e criar seus próprios personagens, alguns, imortais igual ao super-homem. Usando as asas da imaginação como forma de alertar o leitor percorreu também o céu de sua vida e durante o voo pode vislumbrar momentos de desespero em face dos desastres naturais provocados na terra pelo homem. E foi  através dessa viajem  imaginária, observando os erros e acertos em várias partes do mundo, não chegou a nenhuma conclusão satisfatória em relação ao ser humano, mas, imbuído do desiderato de bem informar aos seus leitores e de haver encontrado ao longo dessa “viajem” o amor e verem realizados alguns sonhos, às vezes com pesados  pedágios, e que, mesmo se usasse as asas da imaginação, sabia que iam dificultar ao homem alcançar outros sonhos e objetivos antes de chegar ao final da viajem.

 O corpo daquele menino tornou-se uma imensa livraria e seu cérebro um verdadeiro dicionário que foi colocado em estantes suntuosas formando junto com o tempo, um universo cheio do saber e aqueles que gostam de ler hoje fazem uso delas e às vezes, acreditam serem imortais como ele e fazer parte de sua história, mesmo sabendo ser surreal.

É comum vermos nas livrarias algumas pessoas para satisfazer seu ego comprarem livros apenas pela beleza da capa, sem pesquisarem o índice e conteúdo dos mesmos; muitas pessoas avaliam os outros pela aparência externa, pela capa física, sem considerarem a parte interna. Outras procuram livros com títulos bombásticos, sensacionalistas, histórias de terror ou romances profundos por mera indicação lobista. São assim as pessoas: existem aquelas que buscam sensacionalismos baratos, dramas alheios ou apenas um romance profundo ou rasteiro. Em síntese, posso dizer: Somos homens livros lendo uns aos outros. Podemos ficar só na beleza da capa ou aprofundarmos nossa leitura até as páginas vivas do coração. A capa pode ser interessante, mas é no conteúdo que brilha a essência do texto. O corpo pode ter uma bela plástica, mas é o espírito que dá brilho aos olhos. Também podemos ler nas páginas experientes da vida muitos textos de sabedoria. Depende do que estamos buscando na estante. Podemos ver em cada homem livro um texto espírito impresso nas linhas do corpo. Deus colocou sua assinatura divina ali, nas páginas do coração, mas só quem lê e entende o interior descobre isso. Só quem vence a ilusão da capa e mergulha nas páginas da vida íntima de alguém, descobre seu real valor, humano e espiritual e daí, todos nós possamos ser bons leitores e conscientes de estarmos lendo uma bela obra. É bom que nas páginas de nossos corações, possamos ler uma história de amor profundo; é salutar que em nossos espíritos possamos ler uma história imortal e que, ao abrir o livro e manusear as páginas possamos ler nas entrelinhas visualizadas no brilho dos olhos e na luz de um sorriso a graça da vida em todas as suas dimensões. E que, sendo bons leitores, possamos nos tornar imortais, possamos ser leitura interessante e criativa nas várias estantes da livraria de nossas vidas, pois somos homens livros que algumas vezes escondemos na região recôndita de nosso cérebro muitas sabedorias que não gostaríamos de serem expostas ou lidas. A capa amassa e as folhas podem rasgar, mas, ninguém amassa ou rasga as ideias e sentimentos de uma consciência imortal. O que não foi bem escrito em uma vida poderá ser bem escrito mais a frente, em uma próxima existência ou mais além... Mas, com toda certeza, a sua história ou daquele menino escritor que se tornou famoso e que foi para outra dimensão, cujas obras, de tão grandiosas, vivem após a sua morte, e claro, o tornou imortal, as quais foram publicadas pela editora da vida e colocadas na estante terrestre ou em qualquer outra estante que porventura existir.

Artigo enviado ao Diário da Manhã, para publicação no dia 09 de outubro.

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