Estacionei
meu possante frente à Escola Paulo Teixeira de Mendonça, Vila Negrão de Lima,
que tempos idos cheguei a morar perto dela. Naquela linda manhã de outono
levava comigo alguns livros que ia devolver a um amigo vizinho da escola. Curioso,
resolvi adentrar e ao passar por uma sala de aula observei que havia bastante
silêncio, que não era comum naquela escola, afinal, tratava-se de jovens na
faixa etária de seis a onze anos de idade. Por instantes, fiquei observando
aquela calmaria até que uma voz conhecida cortou o espaço e aguçou meus
ouvidos. Era o professor Zezinho, meu sobrinho, que entusiasticamente ensinava
aos seus alunos, não acordes musicais, mas, como repensar as escolas, o ensino de
um ser e para o ser humano e como envolver as comunidades. Parei momentaneamente
perto da porta e observei atentamente as suas interessantes explanações; notei que
os alunos prestavam bastante atenção.
Durante
o tempo em que fiquei ouvindo os ensinamentos do professor Zezinho, observei
que um dos instrumentos para ensinar autocontrole é o mesmo que praticar a
exercício de um simples “sinal de trânsito” e ou mesmo fazer que se
interessassem pela aula, usando um método de aproximação professor e aluno, de
maneira respeitosa e cordial. Como simples observador, vi que ele nem precisava
usar método nenhum, pois de alguma forma já era tratado pelos alunos como
mestre. As peripécias que fez para conquistar aqueles adolescentes foram até
hilárias, até o seu nariz avantajado serviu como instrumento de conquista. Se
acha que é brincadeira ele até pensou em desistir em razão da indisciplina de
alguns alunos, mas o gosto de ensinar música falou mais alto e daí, sua luta em
prol do ensino moderno e com novos métodos passou a ser reconhecido por aqueles
adolescentes e colegas professores e com isso, veio à admiração.
Falando com “meus botões”, mas, atento à
sua apresentação quase teatral, concordei que a vida em família não mais
proporcionava às crianças uma base segura na vida, restavam às escolas como
único lugar para as quais a comunidade pode recorrer em busca de corretivos
para as deficiências da garotada no que se refere ao emocional e ao social.
Isso não quer dizer que as escolas, sozinhas, possam substituir todas as
instituições sociais que demasiadas vezes já estão ou se aproximam do colapso.
Mas, se concluirmos que toda a criança vai à escola, ela oferece um lugar um
lugar e as lições básicas para a vivência cotidiana, as quais, talvez, não
receberiam em outro lugar. A alfabetização moderna e com novos métodos,
incentiva o aluno a uma participação maior e efetiva no contexto escolar. Essas
escolas são substitutas de famílias falhas na socialização de crianças.
Entretanto, como disse o professor Zezinho, a quem carinhosamente chamo de
“Zezinho dos Teclados”, essa temerária tarefa exige duas grandes mudanças: que
os professores deva ir além de sua missão tradicional, e que as pessoas da
comunidade se envolvam mais com as escolas, principalmente as localizadas na
periferia da cidade. Os professores muitas vezes precisam sentir-se à vontade,
falar de seus sentimentos, e até certo momento, esquecer da matéria, o
quadronegro, o giz, no seu caso do Zezinho, os instrumentos e acordes
musicais, e voltar brincar, ser criança como elas, fazer da vida um pequeno
teatro, falar de sonhos e fantasias, tentar conhecer o âmago do aluno, para, a
partir daí, descobrir as deficiências e angústias que os cercam.
Naquela manhã ele parecia diferente,
compenetrado, encenava para os alunos com seu jeito brincalhão, cujos gestos
refletiam no olhar de cada um como se fosse uma magia, e entusiasticamente,
começou a falar das mudanças que deveriam acontecer nas escolas, com
implantação de novos métodos de ensino. Um ensino que pudesse aproximar pais,
alunos, professores e escolas, num mesmo objetivo, num mesmo desiderato: o
desenvolvimento intelectual do aluno, de forma compreensível e que esses
ensinamentos tivessem sequência no próprio lar. A maioria dos pais não
acompanha o aprendizado, não atendem os apelos da escola quando convocados para
discutirem assuntos de interesses de seus próprios filhos. Não obstante o
esforço de cada um - pai e professores – hão de se convir que não exista
sistema educacional capaz de superar as deficiências da família. O que os pais
têm de procurar é estimular intelectualmente seus filhos, orientá-los a
alcançar suas metas e seus anseios. Mesmo em família de baixo poder aquisitivo
os filhos se saem melhor na escola quando recebem esses estímulos. A escolha de
uma boa escola, uma melhor proposta pedagógica baseada nos valores familiares
tem muita mais probabilidade de dar certo do que aquela que funciona apenas
como “pinguela” para tentar compensar as falhas da educação familiar e é fato
que deveria acontecer com a escola moderna, mas, dada a precariedade, o mísero
salário e abandono da escola pelo poder público no Brasil tudo era apenas
utopia. Não querendo importuná-lo retornei ao meu habitat, pois não poderia
perder aquela linda manhã de outono.
Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 26 de junho de 2013.
Eu e o tio Zezinho conversamos sobre isso, e nessa conversa expliquei pra ele que comparava ele, e os professores que trabalham como ele, a parábola de Jesus Cristo sobre o semeador.Apesar das opiniões contrarias sempre vai existir a terra fértil que dará muitos frutos!
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