A verdade
para mim é muito importante. Dificilmente minto e se minto, é para uma boa
causa, para não alvoroçar a vida de ninguém. Penso que para a grande parte da
humanidade também. Hoje, depois de ouvir uma mentira escabrosa, resolvi
esporá-la sem dó, principalmente quando vi que se tratava de sentimento
íntimo; merecia verdade daquele a quem foi confiado o assunto sigiloso. Naquele
ato a intimidade compartilhada significava transferência de algo profundo,
pessoal. Ninguém deve dispor dessa essência que não é sua, usando a mentira. O
pior é que
quando o mentiroso diz a verdade ninguém acredita, a perna da mentira encurta,
o mentiroso enrubesce mesmo sendo um exímio manipulador, bom ator, espontâneo,
eloquente, improvisador e criativo. Existem grandes mentiras e
outras pequenas, mas, como é possível mentira ter tamanho? Mentira é mentira e
de qualquer jeito que for contada causa estrago e algumas, até danos
irreparáveis. O hábito de mentir, quase sempre, tem início na infância e para
que alguns privilégios não fossem cortados, mentiam. Quantas mentiras
insignificantes, que sequer causavam danos. Eram pequenas inverdades que nem
todos escapavam, mas, eram corrigidas a tempo. Sejam mentiras grandes ou
pequenas, gordas ou magras, todas têm pernas curtas. Às vezes, nem é preciso de pernas fortes,
porque, como alguém disse não me recordo quando, que a mentira tropeça na
própria mentira.
Os mais novos mentem aos pais, principalmente à mãe, pois nunca revelam o verdadeiro ingrediente que provocou tamanha sujeira. Mentem sobre as companhias, sobre onde estiveram, sobre onde dormiram e sobre o que fizeram. Aos pais mentem sobre o que se passaram entre eles na calada da noite. Mas, como incriminá-los, infelizmente até os pais mentem. Mentem aos seus patrões, dizendo-se doentes para faltar ao trabalho, mas a sua doença é mundial: a preguiça.
Há
mentiras óbvias, há mentiras bem feitas, bem pensadas; há mentiras do momento,
há mentiras elaboradas até em papel rascunho, postadas na internet; há mentiras
que agradam e outras que não; há mentiras que são mentira mesmo, há mentiras
que pensam que são mentiras, mas, é verdade; há mentiras grandes, há mentiras
pequenas, há mentiras do povo, há mentiras dos políticos, há mentiras
engraçadas e há aquelas que nem piada tem; há mentiras inofensivas e há outras
muito nocivas. Há mentiras para todo o lado. São tantos tipos de mentiras que qualquer
uma pode ser apanhada, principalmente aquelas que têm a perna curta. Estas não
se vão muito longe não… Como disse Oscar Wilde: “A finalidade do
mentiroso é simplesmente fascinar, deliciar, proporcionar regozijo. Ele é o
fundamento da sociedade civilizada”.
Não é mentira, mas agora preciso finalizar minha
crônica, pois o espaço que o jornal me oferece é pequeno. Não poderia dizer ao
meu leitor que isto é uma mentira? Dizer que o meu personagem, que por ironia,
o pai o registrou como Gastão Pinóquio tem nariz pequeno? Se o nariz dele não
cresceu então não é mentiroso? E se eu lhe disser que isto é tudo verdade, mas
que pode ser mentira; mas se lhe disser que tudo é mentira, mas que pode ser
verdade. E agora? Até eu fiquei na dúvida! O meu Pinóquio tem nariz pequeno ou
não? Será que é verdade ou mentira? Será a verdade uma mentira, ou a mentira é uma
verdade? Mas, eu só sei que ela tem perna curta, então, apresse-se que ainda pode
apanhá-la antes que ela dobre a esquina da mentira e adentre na rua da verdade.
Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 05 de junho de 2013
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