Sou romântico à moda antiga. Sempre fui, mas
não querendo contradizer os sentimentos do meu coração, encarava qualquer coisa
que o aprisionava mesmo sem perspectivas para melhorar seus batimentos, que
chamamos de cardíacos, assim como o seu comportamento dentro do meu peito. Ele
era até de certo ponto infantil, e às vezes, curvava-se diante qualquer coisa e
da intransigência firme de minha mente disciplinada. Disciplinada mesmo! Era
essa a regulação de meu cérebro sobre nós. Era uma queda de braço entre a
emoção e a razão, que me deixava desnorteado. Mas o meu coração pulsante às
vezes sobrepunha, pois o seu amor por mim era inconteste, como os sentimentos e as ações defensivas que moveu a
meu favor ao longo dos tempos. Seus atos dentro do meu peito nem questionavam meus
desejos, o meu estado de espírito e a paz que buscava sem o seu consentimento, e
às vezes, até o desobedecia, mas o impertinente cérebro possuidor de uma mente
sã intercedia e usava seus recursos para controlar tudo.
Em muitos
momentos da minha vida, como ocorre hoje, tudo ficou no auge da minha
felicidade. Um estágio legal para um sonhador, nunca imaginado por meu pulsante
e nem por mim. Mas era assim. Seus batimentos eram frenéticos dentro do meu
peito e me deixava de bem com a vida. Sabia que muitas pessoas gostavam de mim.
Eu tinha sonhos e a certeza de que ele compartilhava comigo, pois era também um
sonhador como eu. E assim vivíamos e vivemos como cúmplices:
eu, a minha mente e o coração. Se um dia seremos felizes para sempre? Sabemos
não! Eu não acreditava e nem acredito em contos de fada. Mas vivemos e
continuamos a viver e felizes, sim.
Bem, esse era o
meu sonho. Sonho que pouco a pouco e pelas mãos do destino quase foi destruído.
Um dia, precisamente no início de fevereiro de 2012, ele resolveu dar um susto
em mim e assustou mesmo! E foi numa
tarde chuvosa. Comecei a sentir uma grande dor no peito. Subi o elevador,
adentrei a sala do meu local trabalho, sentei-me junto à escrivaninha e senti
um estalo. Coloquei minha mão sobre meu peito. A dor veio intensa e sem pestanejar
perguntei ao meu coração o que ele tinha e porque estava tão acelerado dentro
de mim, que até me fazia transpirar. Não respondeu e fiquei um minuto em
silêncio, inquieto fiz a mesma pergunta e insisti com outra: - Por que se
atormenta dentro de mim? Aí ele me disse: - Estou assim porque não cumprira as
ordens médicas e isto me deixou infeliz, de certo modo impotente, mas queria
que fosse diferente. Continuou acelerado
e finalizou a conversa.
Fiquei em silêncio e depois caminhei pelo corredor
daquela Secretaria, suando muito e levando comigo a dor. O meu coração já meio
confuso voltou a me questionar: Agora se sentes tão pequeno não é? Estou
magoado com você porque me culpas! Angustiado, dei mais um passo e perguntei: -
O que será que eu te fiz para ter essa dor? Ele humildemente respondeu: - Você
sofre com as pessoas injustiçadas; preocupa-se demais com o seu trabalho, também
com as pessoas que o cercam, és atencioso, mas perfeccionista demais, procura
ser prestativo e na maioria das vezes, se decepciona... Você ama e depois sofre
e fala que a culpa é minha... Você espera por algo que não vem e fica triste...
Aí você chora e seu choro dói em mim... Acho que você precisa de ajuda para
esse seu coração sofrido... Ajuda boa! E saiba que as decepções misturadas com
estresse te prejudicam. Saia desta antes que seja tarde demais!
Não agüentando mais a dor questionei novamente o meu
coração: - Como assim, ajuda boa? Ele respondeu: - Porque a coisa boa estancará
essa sua tristeza, diminuirá as mágoas que teve de alguém e minimizará a
solidão... E ainda desejo que estes bons fluídos estejam com você nos dias
frios e nas noites vazias, assim como, nos dias de tempestade e nas horas que
você se sentir só... Que eles sejam tão grandes que possam envolver seu corpo
em um abraço cheio de ternura, de forma que se sinta seguro e amparado... Que a
ajuda venha de gente boa que te fará sentir o quanto você é especial e amado,
mesmo que você nunca tenha sentido esse amor, nem de seus entes queridos...
Precisa de gente boa ao seu lado, mesmo que não sejam eternos, afinal nada é
para sempre, todavia, que não sejam descartáveis... Pessoas que absorvam o seu
sofrimento e qualquer dor, ou a ferida que não se vê apenas se sente... Pessoas
que nunca venha decepcioná-lo. Pessoas verdadeiramente companheiras e sinceras,
que se importem realmente com você... Eu sou o seu coração e não quero pena,
somente amor... Amor de verdade. No entanto, é preciso que você também se ame e
prometa cuidar mais de mim, porque sou parte de você, e se sofres, sofro
também... Queria poder colocar você dentro de mim, secar suas lágrimas, ninar
você... Queria dizer-lhe que tudo vai passar, assim como, as decepções que você
teve durante sua vida, afinal você já sofreu tanto que não sei como ainda
consigo bater forte em seu peito! Mas saiba, para este coração ferido pelo
tempo, você é especial... Pena que algumas pessoas não percebam isso!
Foram
estas as últimas palavras proferidas naquele corredor e obediente, desci até o
térreo e uma ambulância do Corpo de Bombeiros me levou ao hospital. Era prenúncio
de um infarto. Tentava compreender porque o meu cérebro não me alertara e nem cobrara
qualquer atitude se somos dominado por ele, mas não o fez, não insistiu que eu
devia procurar um médico. Mas, convenhamos, era teimoso como eu, ou ele me fazia
de teimoso. Naquele dia senti um golpe duríssimo direto no meu coração, quase
tão duro quanto a um soco de pugilista e quase fui a nocaute. Foi um golpe duro
demais e meu coração quase não suportou.
Desde aquele dia durmo com o coração sem
sobressaltos e vou me acostumando com sua maneira, agora mais calmo, sem
qualquer alteração. Disse para ele que hoje sou acadêmico e me tornei imortal,
uma pessoa que não está sujeita à morte, ou seja, como os deuses imortais, ou
de forma figurativa, aquilo cuja lembrança permanecerá na memória dos homens:
glória imortal, o amor imortal. Pessoas que admiramos através dos séculos. Passados
quase dois anos de colado os cacos e desentupidas as artérias com a colocação
de algumas estentes, entendo que é o momento propício de retribuir o seu amor
para que ele nunca mais venha sofrer de novo. Mas, e agora, como vou
convencê-lo que sou imortal? E você, imortal ou não, já conversou com o seu
coração?
lindo essa crônica é a minha cara.
ResponderExcluirmuito lido msm parabens
ExcluirUm excelente texto, Só pessoa com uma sensibilidade enorme pra criar algo perfeito!!
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