Enquanto a bola rola...

domingo, 19 de janeiro de 2014



Ninguém ama uma bola pelas quantidades de gomos que ela tem caso contrário, os jogadores ao bater um pênalti, não a beijariam.  Mas querem ser simpáticos e acham que um beijo a faria desviar da barreira e pousar bem no canto onde a coruja dorme. O pior é que essa danada parece não gostar muito de goleiro! O amor dela não é chegado a fazer contas e não obedece à razão. No caso do jogador, o verdadeiro amor pela bola acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar e isto vem desde criança. Ninguém ama uma bola porque ela é educada, revestida de couro bom, de gomos pintados pra ficar mais bonita ao voar junto ao vento com um simples chute ou um toque sutil de Neymar, Lionel Messi, Xavi ou Cristiano. Esses são só alguns referenciais que ela exige, porque estes não a maltratam, ama-os pelos toques magistrais, pelo mistério, pela ginga, pela alegria que trazem aos estádios que outros não, e muitas vezes, provocam a ira e causam tormentas num campo de futebol.

Essa redondinha é amada até pelo som de um chute, pela maneira que gira no ar, que fazem nossos olhos ficarem extasiados pela beleza que se revela quando menos se espera e cai mansamente nos fundos de uma rede. É gol! Grita a torcida. Gol do adversário, mas que adversário? Ela pode transformar os gritos em vitória ou choro de uma derrota, mas, mesmo assim, todos amam essa petulante. O cronista em face da beleza do gol escreve sua crônica enaltecendo o jogador que marcou o gol, mas esquece que é ela a personagem principal e se emaranhou nas redes. Sem ela não tem grito de gol, nem vibração, nem tristeza. É como aquele que enaltece o jardineiro e esquece que a grama é que desviou a bola e prejudicou o goleiro. Mas convenhamos uma rés grama driblar a bola é demais! Parece coisa de roqueiros sem nenhum tom de chorinho. A bola gosta de grama boa, mas de praia também, pois lá tem a alegria do sol, o cheiro do mar e as meninas do voleibol. Ah, sem tem. Uai! Então, a bola tem um jeito de sorrir diferente que a deixa imobilizada a cada saque da moçada. O beijo delas é mais gostoso e mais parece um calmante; adora quando elas limpam com as mãos macias o seu couro e tiram as areias impregnadas nos gomos. Isso tem nome, não tem? É um amor cafajeste, pois leva bofetada de um lado e um beijo do outro em seguida, nem liga. Tudo faz parte de sua vida que não tem intriga. Ela não tem descanso, não recebe salários e de vez em quando ater muda de emprego. Está sempre cheia, mas de volta e meia, murcha, torna-se meio galinha principalmente quando vê um mocinho ou mocinha. Ela não tem a menor vocação para gata borralheira ou príncipe encantado, está sempre confusa, pois no mundo do futebol ninguém ainda definiu de qual sexo é, mas mesmo assim vai levando os chutes e bofetadas pelo mundo desportivo afora, mas feliz. Quando a mão de alguém toca na curvatura de seus gomos, ela se derrete toda, parecendo uma manteiga. Seu corpo (couro) é beijado e aí não resiste, sai girando no ar, fazendo curvas mirabolantes para que os poetas e cronistas possam em cada curva sonhar.

É bonita. É fato.  Seu couro é trabalhado com esmero, tem peso e medida certa e não pode engordar ou murchar. Nasceu para ser rebatida num comercial de TV e seu corpo tem que ter todas as curvas e gomos precisos. Independentemente de não ter emprego fixo, à vezes é adotada por um menino de rua ou um craque fenomenal; gosta de viajar, tem loucura por um campo de futebol, e no fim de uma partida, sei não! Parece que gosta de descansar numa rede de qualquer campinho de grama ou de chão. Ela tem bom humor, não cola na mão ou no pé de ninguém. Então, com um currículo como o dessa criatura eu te pergunto catatau: Por que tu és ainda uma perna de pau? 

Ah, é um amor essa bola, ela não enrola e nem amola. Quem dera o amor não fosse um sentimento, apenas uma equação matemática: ela redondinha + você craque de bola = dois apaixonados. Logo receberiam como prêmio, ela uma bola de ouro e você, o troféu de melhor jogador do ano. Mas é certo que não funciona assim. Amar não requer bola cheia ou reconhecimento prévio de atleta perfeito, nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm aos montões, bons jogadores e bons pais de família também têm muitos! Mas ninguém consegue ser do jeito da bola e nem da forma que o amor da sua vida é! Pense nisso! E enquanto a bola rola em qualquer campeonato, saia do chão, da grama ou do mato e saiba que pedir é a maneira mais eficaz de você merecê-la redondinha e recheada de amor. É a contingência maior de quem precisa viver feliz neste mundo de meu Deus!

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