Encostado no vão da janela observava as árvores enfeitarem as ruas acinzentadas
do cotidiano. Era fim do carnaval, mas não sei como, alguma coisa, talvez
extraterrestre, me forçava continuar vislumbrando ali do alto, melancólicos
despojos: as ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas que se
tornavam simples esqueletos; oscilando no ar farrapos de ornamentos sem
sentido, carrancas, magos, amarelos e encarnados, batidos pelo vento; torres
coloridas e desmesurados brinquedos que ainda se sustentavam de pé, intrusos, esquisitos,
anômalos, esparramados na rua entre as árvores e postes. Era o fim mesmo! Via-se
o luxo jogado no lixo! Acabou o artifício e muito dinheiro foi para o ralo;
esvaíram-se as mágicas, tudo voltou à realidade. Foram-se as batucadas
carnavalescas, mas, para a pessoa sensível, era possível ouvir os roncos de
barrigas famintas vindos dos morros e periferias da cidade. Antes e começar a
escrever agucei os olhos optando por usar mais a janela da alma, e sob o toque
do silêncio, sabia que ainda poderia enxergar alguns transeuntes fantasiados de
palhaços, levando seus pedaços de ilusões outrora esquecidas sobre as mesas de
bar, justamente na quietude das horas mortas que às vezes, dominados pela
bebida alcoólica nem se lembra quem foram. São tantas histórias
perdidas nos labirintos da memória que sequer enxergam as flores que circundam
os jardins que enfeitaram cada passo no crepúsculo da madrugada e extasiadas, procuram
retornar ao lugar do qual que nunca deveriam ter saído. Deixam os bares e
salões e com passos lentos e solitários, saem cambaleantes pelas calçadas,
enquanto o sol se desponta no horizonte clareando ruas e avenidas para que
pudessem seguir em frente sem titubear.
Á medida
que ia contabilizando os metros percorridos por aquelas pessoas, entendi que
cada passo poderia estar representando cada etapa de suas vidas, mas lembrando
que à frente poderia existir um abismo e serem empurrados pela mão invisível
e só diante desta situação se lembrariam de Deus. Debruçado sobre a janela continuava
observando os olhares vagos que, fixos na parede do universo, poderiam
tornar-se translúcidos e só a mão mágica do destino poderiam transformá-los numa
moldura estelar que pudesse enfeitar o céu antes do amanhecer. Ora, sabem que Deus
é o arquiteto do universo e que procura comunicar e se fazer presente em cada
momento de nossas vidas, numa demonstração de que somos amados, que vale a pena
lutar por uma vida nova, ser possível deixar o vício e ser feliz. É possível
mostrar para os dependentes químicos, para os viciados em drogas, internet e
até em televisão, o valor das coisas simples e da superação, porque Deus
se revela na simplicidade e nos ensina como superar tudo o que acontece no
nosso dia-a-dia. ELE se revela na beleza de uma flor, no cantar de um pássaro
que voa amparado pelo vento; se revela através de um rio que
desliza manso em seu leito levando as flores e folhas secas que se desprendem
dos galhos ribeirinhos ou no abraço e palavras sinceras de amigas e amigos.
A missão de cada um é restaurar vidas, temos uma grande responsabilidade, pois cada um que vem até nós nos foi confiado por Deus e aqueles que não foram que encontrem entre nós o apoio merecido, carinho e amizade verdadeira. Aqueles que são dominados pelo vício que procurem se desvencilhar desse mal e vivam intensamente. Aqueles que não forem que evitem situações e pessoas que possuem sinais do pecado. Valorizem seu corpo e prezem a saúde. Todos somos filhos de Deus. Somos livres e não nos deixemos escravizar por tudo aquilo que é maléfico a nossa saúde, através de propaganda ou cenas picantes, apresentadas até de forma inconseqüente pela internet ou TV.
Eu aprecio alguns programas de TV e a internet é importante para o mundo
moderno, entretanto, é importante e salutar que saibamos discernir somente
aquilo que venha acrescentar em nossas vidas e o que possa interessar a nossa
formação intelectual. Cada dia, milênios de evolução são esquecidos em nome do
fetiche tecnológico. Apetrechos fabricados ao menor custo e com baixa
capacidade científica passam a influir e servir-se de psicologia barata para
aliviar o desespero pós-moderno, cujas escolhas nos trazem um amargo na boca e
caminhos que se bifurcam num paraíso que fica cada vez mais distante, não
obstante sendo importante lembrar que nós somos frutos de nossas escolhas. Deus
quer que valorizemos nossas vidas e ainda dá-nos liberdade para fazermos nossas
próprias escolhas.
0 comentários:
Postar um comentário