Carnaval e os escravos do vício

sexta-feira, 7 de março de 2014



Encostado no vão da janela observava as árvores enfeitarem as ruas acinzentadas do cotidiano. Era fim do carnaval, mas não sei como, alguma coisa, talvez extraterrestre, me forçava continuar vislumbrando ali do alto, melancólicos despojos: as ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas que se tornavam simples esqueletos; oscilando no ar farrapos de ornamentos sem sentido, carrancas, magos, amarelos e encarnados, batidos pelo vento; torres coloridas e desmesurados brinquedos que ainda se sustentavam de pé, intrusos, esquisitos, anômalos, esparramados na rua entre as árvores e postes. Era o fim mesmo! Via-se o luxo jogado no lixo! Acabou o artifício e muito dinheiro foi para o ralo; esvaíram-se as mágicas, tudo voltou à realidade. Foram-se as batucadas carnavalescas, mas, para a pessoa sensível, era possível ouvir os roncos de barrigas famintas vindos dos morros e periferias da cidade. Antes e começar a escrever agucei os olhos optando por usar mais a janela da alma, e sob o toque do silêncio, sabia que ainda poderia enxergar alguns transeuntes fantasiados de palhaços, levando seus pedaços de ilusões outrora esquecidas sobre as mesas de bar, justamente  na quietude das horas mortas que às vezes, dominados pela bebida alcoólica nem  se lembra quem  foram. São tantas histórias perdidas nos labirintos da memória que sequer enxergam as flores que circundam os jardins que enfeitaram cada passo no crepúsculo da madrugada e extasiadas, procuram retornar ao lugar do qual que nunca deveriam ter saído. Deixam os bares e salões e com passos lentos e solitários, saem cambaleantes pelas calçadas, enquanto o sol se desponta no horizonte clareando ruas e avenidas para que pudessem seguir em frente sem titubear. 

Á medida que ia contabilizando os metros percorridos por aquelas pessoas, entendi que cada passo poderia estar representando cada etapa de suas vidas, mas lembrando que à frente poderia existir um abismo e serem empurrados pela mão invisível e só diante desta situação se lembrariam de Deus. Debruçado sobre a janela continuava observando os olhares vagos que, fixos na parede do universo, poderiam tornar-se translúcidos e só a mão mágica do destino poderiam transformá-los numa moldura estelar que pudesse enfeitar o céu antes do amanhecer. Ora, sabem que Deus é o arquiteto do universo e que procura comunicar e se fazer presente em cada momento de nossas vidas, numa demonstração de que somos amados, que vale a pena lutar por uma vida nova, ser possível deixar o vício e ser feliz. É possível mostrar para os dependentes químicos, para os viciados em drogas, internet e até em  televisão, o valor das coisas simples e da superação, porque Deus se revela na simplicidade e nos ensina como superar tudo o que acontece no nosso dia-a-dia. ELE se revela na beleza de uma flor, no cantar de um pássaro que voa amparado pelo vento; se revela através  de um  rio que desliza manso em seu leito levando as flores e folhas secas que se desprendem dos galhos ribeirinhos ou no abraço e palavras sinceras de amigas e amigos.

A missão de cada um é restaurar vidas, temos uma grande responsabilidade, pois cada um que vem até nós nos foi confiado por Deus e aqueles que não foram que encontrem entre nós o apoio merecido, carinho e amizade verdadeira. Aqueles que são dominados pelo vício que procurem se desvencilhar desse mal e vivam intensamente. Aqueles que não forem que evitem situações e pessoas que possuem sinais do pecado. Valorizem seu corpo e prezem a saúde. Todos somos filhos de Deus. Somos livres e não nos  deixemos escravizar por tudo aquilo que é maléfico a nossa saúde, através de propaganda ou cenas picantes, apresentadas até de forma inconseqüente pela internet ou TV.
 

Eu aprecio alguns programas de TV e a internet é importante para o mundo moderno, entretanto, é importante e salutar que saibamos discernir somente aquilo que venha acrescentar em nossas vidas e o que possa interessar a nossa formação intelectual. Cada dia, milênios de evolução são esquecidos em nome do fetiche tecnológico. Apetrechos fabricados ao menor custo e com baixa capacidade científica passam a influir e servir-se de psicologia barata para aliviar o desespero pós-moderno, cujas escolhas nos trazem um amargo na boca e caminhos que se bifurcam  num paraíso que fica cada vez mais distante, não obstante sendo importante lembrar que nós somos frutos de nossas escolhas. Deus quer que valorizemos nossas vidas e ainda dá-nos liberdade para fazermos nossas próprias escolhas.

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