Há pessoas quando acordam para ir
ao trabalho precisam de tempo para recuperar o prazer de se sentirem vivas.
Antes de levantar espreguiçam-se na cama estalando os ossos impregnados na
carne e em nervos adormecidos, deixando ao relógio a tarefa de eliminar os
resíduos de mau humor ocorridos no dia anterior. Todo o corpo está em
dissonância, até a respiração fica ofegante, precisando resgatar mentalmente
alguma situação agradável para que o ato de levantar não se transforme numa
tortura. Algumas vezes sinto isso, principalmente quando me sinto massacrado
pela volúpia trazida pelo tempo quente e seco. Nestes últimos dias de verão, ao abrir a
janela daquele Hotel Resort e ver o sol nascer soberbo detrás do oceano, não
conseguia receber a lufada de perfume antes trazido pelo vento e ao aspirá-lo,
senti apenas cheiro de fumaça vindo de uma pequena chaminé, mas que jamais iria
transformar a minha felicidade num humor azedo, em desconforto ou sem vontade
de experimentar o gosto da última manhã de verão.
Mas, naquele
local aprazível, com disposição para acolher o melhor, treinei meus olhos para
as delicadezas que o mundo me oferecia. Antes de voltar à sacada, olhei no
espelho e fiz um exame diário de meu semblante, na tentativa de encontrar
cicatrizes, pés de galinhas e olheiras que às vezes nos impede de ficar bem com
a gente mesmo em determinados momentos. De um constante observar-se, exercício
que resulta na descoberta de falhas de comportamento que podem ser evitadas,
procurava sempre reagir com lucidez. Essa reação diária de lucidez é fruto das
meditações que faço na tentativa de não reagir à violência com violência, seja
ela de ordem física ou psíquica. Sinto-me mal toda vez que entro em conflito
com alguém. Tenho horror a qualquer embate onde a agressividade seja a nota que
conduz a discussão e ponto final!
Ninguém
está imune à inveja, mas não jogo cartas com ela. Não me interessa desafiá-la.
Apenas a encaro, como um inimigo mais fraco do que eu. Já vi pessoas próximas
sucumbirem, mesmo sendo ricas interiormente, porque acreditavam que outros não
mereciam o que tinham. Ficavam paralisadas diante de um falso fulgor alheio.
Não percebiam que estavam sentadas sobre uma mina de ouro. Invejar é uma
maneira de vestir a vaidade de modéstia. Por isso, acordar naquela manhã
de verão e sentir o gosto dela sempre foi para mim salutar; saborear o mamão,
beber leite com café, biscoito de queijo e mastigar um amanteigado pãozinho
francês com gergelim; saber olhar o mundo com humildade e reverenciá-lo;
entender que um dia a mais é um dia a menos na contagem de tempo de nossa
existência é essencial; entender que devemos aproveitar cada minuto como uma
criança que se delicia com uma balinha de hortelã em sua boca sem se
importar com o passar do tempo. Precisamos voltar a ser essa criança, nascendo
quantas vezes for preciso e espreguiçar entre os lençóis embebidos por carinhos
de mãe mulher.
De soslaio, antes do sol se pôr detrás do oceano, olhei para o horizonte coberto
de imensas nuvens esbranquiçadas que o circundavam e aí não foi difícil
entender o segredo do universo. Com a máquina em punho fotografava tudo, até um mosaico fincado no calçadão de Recife onde se via uma linda poesia escrita por
Manoel Bandeira: “A arte é uma fada que tramita e transfigura o mau destino.
Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta. Cada sentido é um dom Divino” Virei à
máquina rumo ao sol e o senti importunado com a refração de sua luminosidade em
razão dos cristais de gelo em suspensão na atmosfera que formava ao seu redor
uma auréola colorida coberta por uma camada e ele parecia dizer: estou de olho
nessa terra de desmandos! Daquele mosaico poético e antes do sol se pôr, consegui
tirar flashes incríveis de artes expostas em Recife, Olinda e outros fenômenos raros
que me deixaram boquiaberto, feliz e crente de que tudo que vira naquele
passeio turístico tinha valido a pena.
Hoje, dedilhando o
teclado do computador percebi o quanto ainda tenho a aprender em relação à arte
e cultura, mas, mesmo assim, me sinto abençoado e grato por fazer parte deste
mundo mágico, pois sei que encontrei nele o meu lugar e em algumas crônicas que
escrevo, sei que alcançam o coração de muitas pessoas, ajudam, orientam,
confortam e algumas até nos fazem aproximar
cada dia mais de Deus e vivermos no dia a dia a espiritualidade.
Você usa um vocabulário sem complexidade, percebo que te serve como inspiração até uma folha seca caída no chão, você desperta o gosto pela leitura em seus leitores de forma mágica, Parabéns!!!!!!
ResponderExcluirObrigado.
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