Quando chego à Paróquia
Santa Terezinha do Menino Jesus já não fico mais surpreso e nem boquiaberto,
apenas sinto vir à minha memória a luta insana que travamos pela volta do Padre
Luiz Augusto. Ela vem na forma de um filme velho, cujas cenas vão passando em
preto e branco tendo como protagonista o mesmo ator, cujo altar fora improvisado
num ginásio de esportes distanciado a poucos metros da Paróquia visto que esta,
à época, mal cabia cem pessoas. Naquela primeira missa, compareceram mais de
quatro mil fiéis emocionando a todos e não era pra menos, pois se tratava do retorno
do padre Luiz Augusto, para nós, simplesmente, o “Paladino da Fé”. Hoje no novo rincão já foram
instalados lindos bancos de madeira e tem capacidade para mais de três mil
pessoas e nele são realizadas três missas diariamente. Ao ver os bancos
reluzentes e o povo bem acomodado, me lembro das cenas, hoje sem disfarces, e vejo
que ele não mais se confunde e nem mostra a preocupação que naquele ano trazia
em seu semblante, o medo de perder novamente o grande evangelizador e o novo
recanto ficar inacabado. Mas, à medida que o tempo foi passando, a cada tijolo
assentado, telhas ou ferragens colocadas, aquelas cenas iam se dissipando
também de minha memória embalada pelos sons inebriantes e dos cânticos entoados
pelos músicos ao lado do belo altar, mas ainda cheio de humildade, cujas cenas também
me fizeram recordar de um artigo escrito também naquele ano fatídico intitulado
“Santa missa no altar da humildade”, que hoje me faz viajar pelo mundo da
imaginação e mergulhar nas águas profundas, pois sabia que, quando eu emergisse,
teria a satisfação de que fizemos o certo, tomamos decisões sensatas e excluímos
as insensatas para caçoar o tempo que perdemos e poder neste instante rabiscar
no papel e passar para o monitor o meu sentimento, usando as cores rubras de um
coração ferido, mas com a certeza e em júbilo, poder acrescer nele a chama do
amor e a vontade de tentar esquecer as desavenças desse mesmo tempo que sempre
me cobrou precisão.
Muitos foram os fiéis
que ajudaram na construção do novo rincão e ele servirá como base e repouso
espiritual eterno, alicerçado pelos moradores do pequeno Setor Expansul em
Aparecida de Goiânia que começaram a participar das celebrações, assim como, de
outros bairros circunvizinhos que se ascenderam ao ouvir os clamores dos fiéis,
das músicas e das orações que eram levadas pelo vento e a cada celebração, sabíamos
que estavam pousando suavemente nos ouvidos sensíveis e ansiosos daqueles que
ainda relutavam em receber Jesus. Com bem disse o Padre Luiz: “A música, quem a canta, reza duas vezes. A arte evangeliza. Eu gosto de
garra, gosto de doação, quero que a pessoa entre na música. O teatro que nós
temos, tem música também. Tudo o que é arte é vida. É beleza”.
E como eu disse também num artigo publicado naquele ano: “As sementes da fé
plantadas pelo Padre Luiz na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus conta com
o irrestrito apoio de outro paladino, o Padre Cássio, e sei que elas jamais
serão efêmeras, porque já nasceram guarnecidas por um profundo sentimento de
gratidão, esperança, fé e amor em Cristo”. Sentimentos estes que guardarei na
região recôndita de meu cérebro, que hoje se espalham e me ensinam a segurar as
rédeas do tempo e continuar seguindo pela estrada da vida com retidão de
caráter, e saber no final, puxá-las no momento certo.
Todos os episódios que
presenciamos durante essa nossa longa batalha pela volta do Padre Luiz, uns
foram duros de suportar, mas trouxeram para cada um dos fiéis extraordinárias e
maravilhosas fontes de crescimento espiritual. Alguns temendo represálias se
recusaram a enfrentar aqueles desafios, mas tínhamos a certeza de que seus corações
não se aquietavam e se manifestavam em silêncio. Sem temer o peso e o cansaço, a maioria fez de
tudo para evitar confrontos, situações embaraçosas ou qualquer coisa que envolvesse
qualquer tipo de conflito injurioso ou difamatório a aqueles que torciam em
desfavor da volta do Padre Luiz às celebrações religiosas. Outros encararam pra
valer a situação e foram às ruas, mostraram à imprensa local e nacional a
insensatez que estavam cometendo contra o Padre; estes “carregaram pedras"
ao invés de evitá-las, negá-las ou esquivar-se delas, porque sabiam que estavam
levando a verdade, a grandeza espiritual e humana de um evangelizador convicto
que continua transformando, com ou sem tempo, o peso das pedras que hoje se
transformaram em peso de sabedoria.
Hoje o novo rincão é regado com águas puras,
cristalinas, que crescerá e sobreviverá ao homem sem fé, aos invejosos, ao
abrupto e terrenos inférteis, porque nele serão captado e geridos novos evangelizadores,
e quando vemos a nova estrutura arquitetônica mais parece um pequeno quadro
surreal. Mas é um sonho real e sei que a realidade dói quando o sonho tende a se
desfazer e possa trazer outro pesadelo, pois a inveja impera no coração de
algumas pessoas, não obstante sabermos que no mundo dos sonhos não termos
condições de afirmar se tudo poderá voltar a acontecer, se seremos felizes por
completo ou, quando um sonho reprisa um passado de luta e sofrimento, possamos
encontrar, mesmo assim, o caminho certo, que outrora ousamos percorrer usando a
sombra de nossos próprios sonhos. Mesmo no novo recanto às vezes demoraremos
encontrar a nós mesmos; encontrar no pároco a pessoa que nos acalentou e nos
fez encontrar o caminho de Cristo; demoramos retribuir a amizade a ele que
nunca pediu nada em troca, apenas o crescimento espiritual de todos e da
própria igreja. Ele quer ser apenas
amigo ou talvez, um benfeitor espiritual nada mais. Quantas vezes, mesmo com
sua orientação, tentamos alçar vôos bíblicos e entender o evangelho, mas à
frente, encontramos um lugar rodeado por muros intransponíveis, onde não se
consegue ver o que acontece do outro lado.
Sonhos que nos confundem e muitas vezes nem sabemos se ele foi real ou
imaginário. Tentamos destruir o muro, mas, vem o medo de encontrar do lado de
lá forças estranhas e poderosas. Tentamos achar o caminho que percorremos
noutros sonhos e, aí, Deus vem e nos guia por um caminho totalmente diferente,
mostrando-nos a realidade, o mundo medíocre em que vivemos, mas, mesmo assim, ELE
nos dá tranqüilidade, espanta o nosso medo e nos protege do mal que muitas
vezes nós mesmos criamos.
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