Calou-se uma voz e um som de viola.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Acordei. Dei uma espreguiçada para colocar os músculos no lugar e depois levantei devagarzinho. Era uma daquelas segundas-feiras bruta, mas para mim, um dia como tantos outros, onde a gente costuma achar que a vida simplesmente seguirá sem nenhum esforço. E também como de costume, tomei o gole de água e depois uma chuveirada. Escutei um assovio vindo da cozinha. Era um sinal que recebia todos os dias me alertando que o café da manhã estava pronto. Tomei o meu café com leite acompanhado de pão francês e saboroso pão de queijo. Calcei meu tênis, coloquei agasalhos apropriados e saí para dar minha caminhada diária no Bosque Vaca Brava,

Naquele dia o céu estava nublado, mas tudo me parecia no seu devido lugar e, como de rotina, desejava que meu dia tivesse mais de vinte e quatro horas. E é assim, estamos sempre querendo que o tempo se adéque ao nosso tempo, ao nosso modo de viver, no fundo mesmo, sempre pedindo que fosse possível realizar o que traçamos para aquele dia, livres e desembaraçados de qualquer culpa. 

Meu Deus! Quanta prepotência! Não somos senhores do tempo, aliás, somos incapazes de prever o que irá nos acontecer no dia seguinte. A vida tem seu próprio modus operandi, ela não estica as horas, apenas passa depressa, e nós, humanos, insistimos fingir não saber disso. Não sei se era pressentimento, mas naquele dia, a cada passo, o meu coração batia descompassado no peito, e, de repente, ao passar por uma banca de revistas um silêncio literalmente mortal me deixou de sobressalto. Na Capa de um jornal estampava em letras garrafais a notícia sobre a morte do meu querido amigo João Batista da Costa Meireles, o cantor sertanejo, mais conhecido como Jataí, de 54 anos, que fazia dupla com seu irmão Avaré. Fiquei atônito, mas naquele instante entendi que a morte não pede licença, ela chega, atravessa o nosso caminho e nos impede de seguir em frente, todavia, por instantes, o meu pensamento também ficara interrompido, e com o corpo paralisado, engoli seco e senti alguma coisa ficar entalada na minha garganta, que me sufocava e parecia sentir que tudo mudara de lugar. 

Quando sentimos esse silêncio fúnebre somos obrigados a aceitar que não temos o poder de controlar nada e que, por isso mesmo, podemos e devemos nos permitir seguir outros rumos, nos doar por inteiro e não pela metade, declarar nossa amizade várias vezes até que não sejamos mais capazes de cantar, tocar, sorrir com a alma, não adiar as coisas, pensar antes de agir ou falar para não magoar, libertamos dos extremos e valorizarmos o que é importante, mas sempre com a consciência tranquila de que tudo aquilo que nos importa de verdade é possível de aceitar, de se medir, de se usar... 

Cotidianamente a vida nos impõe suas próprias regras e nos coloca à prova. Surgem novas perguntas e somos obrigados a formular novas respostas. E ali, diante de um amigo que se foi para outra dimensão, querendo ou não, teremos que entender os desígnios de Deus e aprender a lidar com essa ida repentina, aceitar que a vida, e se não nos tornarmos responsáveis, passaremos por um fio muito tênue e que o amanhã pode nunca chegar. 


Muitas homenagens póstumas foram feitas, mas eu quero deixar registrado aqui meus sinceros agradecimentos ao Jataí e ao seu irmão Avaré por terem participado de alguns eventos meus, inclusive de um Encontro de Família, onde abrilhantaram com suas presenças cantando afinadamente e tocando magistralmente suas violas. Desde o princípio, durante e até no fim, a diferença estava na sua fé e na intimidade que tinha com Deus e porque cria nesse Deus de misericórdia, de amor e paz, e independentemente das circunstâncias, as trevas jamais serão capazes de sobrepujar a luz que iluminará o caminho de Jataí rumo aos céus, e a vida, na verdade, não chegará ao fim quando esse fio se partir, apenas se transformará para ganhar a eternidade.

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