Carolina, a guerreira.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016


Ontem, 15 de novembro, comemoraram-se em todo o Brasil a Proclamação da República. Hoje, no entanto, mesmo sendo de suma importância essa data para os brasileiros, eu deixo de escrever aqui sobre este ato solene ocorrido há mais de cem anos. Se me permitem, quero é falar da saudosa Carolina que no dia 15 de novembro de 2011 se foi pra outra dimensão deixando além da saudade, uma história de vida exemplar, vivida nesta terra com muita honradez, humildade, garra e perseverança. A cada dia quando me lembro dela aprendo com meus erros ou acertos o quão é importante é saber que todo o dia vivo algo novo. Aprendo a vislumbrar o hoje e o dia de amanhã de uma forma diferente do de ontem e vivê-lo intensamente com muita paz e esperança, pois a vida é uma dádiva e cada momento vivido é uma bênção de Deus. Sei que ela passou dias difíceis naquele leito de hospital. Mas a vida é assim. Tem situações que parecem complicadas e custamos a entender. Pode ser incompreensível para muitos em se tratando de morte, não obstante sabermos que um dia ela virá com todo o seu mistério e que jamais será desvendado porque só Deus sabe o momento de subirmos ou descer os degraus da vida e nos mostrar o caminho da luz. Cercada de virtuosidades, dona Carolina deixou esta terra depois de uma luta intensa pela sobrevivência e ontem, quando se completou cinco anos de seu falecimento, senti-me novamente tocado pela dor e saudade restando-me a  reflexão e o desejo de lembrar-se do seu passado feito de muita garra, amor, sabedoria e virtude

Quais dos filhos não se lembrariam daquele pequeno ônibus onde ela, juntamente com eles, deixou a pequena cidade de Morrinhos, em busca de um novo lar, de uma vida melhor na Capital. Pela estrada de chão, esburacada, o ônibus seguia célere deixando para trás uma poeira fina que se esparramava com o auxílio do vento, apagando imagens de um passado como se nela tivesse sido impregnada a borracha do tempo, e lá dentro, sacudidos pela trepidação, outros passageiros também sonhavam com um mundo melhor, mas, receosos de não conseguirem alcançarem os seus intentos seguiam silenciosos. Pela fresta da janela passava o vento que acariciava o seu rosto triste, mas não impedia que sua mente contabilizasse os quilômetros emplacados estrada afora, e de forma sutil, seus olhos ainda tinham a sensibilidade de contemplar a natureza, cujos vales, serras e montes iam passando velozmente à medida que o veículo seguia rumo ao seu destino. O seu semblante jovem transpirava dor e saudade do esposo que falecera de forma trágica, no entanto, mesmo assim, soube manusear as rédeas do destino, frear e puxar  o cabresto que construiu usando cordas de ternura que acostava aos filhos, para, no momento certo, poder puxar, exigir ou se recusar, até de forma obstinada, qualquer coisa que lhe contrariasse ou entristecia seu coração.

Naquele ônibus, antes de afundar no seu mar de sonhos Carolina sabia que mais adiante, mesmo sem teto, não poderia se curvar diante das adversidades que surgiriam, pois teria que sustentar e agasalhar nove filhos,   talvez, fazendo faxinas em residências ou usando os carrinhos da vida para buscar peças de roupas em bairros distantes, lavá-las no tanque da integridade e pendurá-las no varal da vida sob um sol escaldante. Tempo em que talvez não tenha contabilizado; tempo que lhe consumiu o corpo e fez aparecer os     primeiros cabelos brancos protagonizados por este mesmo tempo.

Carolina viu os seus filhos crescerem imbuídos de responsabilidade, honestidade, dignidade e respeito ao ser humano. Carolina que mesmo doente se preocupava com tudo, cuidava de todos com esmero e carinho, servindo-se de modelo para seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos, fazendo-os entender que o amor faz gerar sorrisos e que amar significava querer mais e mais de uma pessoa. Ela foi assim: sempre procurou ensinar corretamente, de forma que todos pudessem compreender os seus próprios sentimentos, quando na verdade, poucos compreendiam e, muitas vezes, lhe pedia aquilo que não podia dar.

Ontem, 15 de novembro, quando se completou cinco anos de sua “passagem” para outra dimensão, ela continua pulverizando sobre todos que a rodeavam, o amor e virtudes. Foi com ela o sorriso angelical; foi com ela o jeito simples de fazer crochê e tapetes que eram montados com retalhos de tecidos multicoloridos; foi com ela a vontade férrea de viver; foi com ela a batuta que regeu, como um maestro, a vida de cada um de seus filhos, tudo embalado pela sinfonia de sua própria vida. Mãe Carolina, seus filhos reconhecem que você deixou um legado de carinho, amor ao próximo e virtuosidade, por isso é que todos a consideram uma guerreira.  Mãe desculpe por escrever este texto como se eu fosse um escriba, todavia, o fiz assim para poder registrar nos anais da história a sua vida e ao final dizer-lhe: Mãe Carolina, você foi uma guerreira, amparou os seus filhos, me transformou num homem justo, ensinou-me o caminho da retidão e a defender os injustiçados. Caros leitores, ao finalizar, eu não poderia deixar colocar uma frase que vi num calendário: “Há muita dor que precisa ser curada, há muito choro  sufocado, há muita injustiça para ser vencida. Em tudo isso, a certeza de que só Deus é a resposta. Deus não explica a dor, mas, na cruz, ressuscita a esperança e o amor”


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