Halo Solar, um sinal Apocalíptico.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Há pessoas quando acordam para ir ao trabalho precisam de tempo para recuperar o prazer de se sentirem vivas. Antes de levantar espreguiçam-se na cama estalando os ossos impregnados na carne e em nervos adormecidos, deixando ao relógio a tarefa de eliminar os resíduos de mau humor ocorridos no dia anterior. Todo o corpo está em dissonância, até a respiração fica ofegante, precisando resgatar mentalmente alguma situação agradável para que o ato de levantar não se transforme numa tortura. Algumas vezes sinto isso, principalmente quando nos sentimos massacrados pela volúpia trazida pelo tempo quente e seco. Nestes primeiros dias de primavera, ao abrir a janela e olhar o céu azul, não se consegue receber lufada de perfume antes trazido pelo vento, e ao aspirá-lo sentimos cheiro de fumaça oriundas dos veículos, chaminés e capim queimado, que dificultam transformar o meu humor azedo num sorriso, deixando-me em desconforto e sem vontade de experimentar o gosto de mais uma manhã de primavera.
 
Mas, naquele dia com disposição para acolher o melhor, treinei meus olhos para as delicadezas que o mundo nos oferece. Olhei no espelho e fiz um exame diário de meu semblante, na tentativa de encontrar cicatrizes, pés de galinhas e olheiras que muitas vezes nos impede de ficar bem com a gente mesmo em determinados momentos. De um constante observar-se, exercício que resulta na descoberta de falhas de comportamento que podem ser evitadas, procurava sempre reagir com lucidez. Essa reação diária de lucidez é fruto das meditações que faço na tentativa de não reagir à violência com violência, seja ela de ordem física ou psíquica. Sinto-me mal toda vez que entro em conflito com alguém. Tenho horror a qualquer embate onde a agressividade seja a nota que conduz a discussão.
 
Ninguém está imune à inveja, mas não jogo cartas com ela. Não me interessa desafiá-la. Apenas a encaro de frente, como um inimigo mais fraco do que eu. Já vi pessoas próximas sucumbirem, mesmo sendo ricas interiormente, porque acreditavam que outros não mereciam o que tinham. Ficavam paralisadas diante de um falso fulgor alheio. Não percebiam que estavam sentadas sobre uma mina de ouro. Invejar é uma maneira de vestir a vaidade de modéstia.  Por isso, acordar nesta primavera e sentir o gosto das manhãs sempre foi para mim salutar; saborear o mamão, beber leite com café e mastigar um amanteigado pãozinho francês com gergelim; saber olhar o mundo com humildade e reverenciá-lo; entender que um dia a mais é um dia a menos na contagem de tempo de nossa existência é essencial; entender que devemos aproveitar cada minuto como uma criança que se delicia com uma  balinha de hortelã em sua boca sem se importar com o passar do tempo. Precisamos voltar a ser essa criança, nascendo quantas vezes for preciso e espreguiçar entre os lençóis embebidos por carinhos de mãe mulher.

Aquele dia parecia que seria diferente. Quando sai do elevador e pus os pés sobre a calçada senti um bafejo quente próprio de um planeta ameaçado. Nas calçadas pessoas estranhas cheias de dogmas se cruzavam, outras, paralisadas, como se fossem espectros humanos, estavam com os olhos voltados rumo ao céu. Com o pensamento alhures tinha que continuar, seguir o meu trajeto, com expectativas, é claro, de encontrar um mundo melhor e mais humano no dia seguinte ou, ser surpreendido por alguma coisa real ou surreal, um fenômeno qualquer, talvez vindo de outra dimensão ou do infinito universo de forma que pudesse servir de alerta aos seres humanos.

De soslaio, em pleno meio dia, também olhei para o céu coberto de nuvens enfumaçadas e foi difícil entender o segredo do universo. O sol, importunado com a refração de sua luminosidade em razão dos cristais de gelo em suspensão na atmosfera, tinha ao seu redor uma auréola colorida coberta por uma camada e ele parecia dizer: estou de olho nessa terra de desmandos! No dia seguinte pesquisei sobre o fenômeno. Constatei que há centenas de anos dizem tratar-se de um halo solar, cientificamente conside-rado como uma passagem do inverno para a primavera ocasionando por uma frente fria que atinge  grandes níveis, um fenômeno raro que deixou o povo boquiaberto, assustado e crente de que em face da poluição generalizada, tratava-se de mais um sinal apocalíptico.

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