O Ambientalista e o Idioma Verde (I)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Acompanhando de perto a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, denominada de Rio+20, realizada entre os dias 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, assim conhecida porque marcam os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), entendo, por mais que tenha existido confronto de ideias esta conferência deverá contribuir e muito para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. O objetivo da Conferência era a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes e foi daí que me veio à mente de elaborar este artigo, que será publicado em tópicos separados e que usarei de forma cronológica o idioma verde (ciclo de vida, desenvolvimento sustentável, ecologia, efeito estufa, externalidade, orgânico, passivo ambiental, pecuária, pegada ecológica, reciclagem, verde e responsabilidade social) por tratar-se de um tema bastante importante e salutar para o meio ambiente.
 
 
O ambientalista há décadas vem procurando não só mudar a consciência do ser humano, mas, também os modos de fazer negócios. Nesse ínterim reciclou a linguagem, alterando o sentido de velhas palavras e criando novas expressões. Construiu-se um glossário básico para melhor entendimento das conversas atuais muitas delas usadas na Rio+20. A primeira palavra chamada “ciclo de vida” foi criada de um produto oriundo de uma metodologia complexa que procura determinar seu impacto ambiental total “do berço à cova”, isto é, da matéria-prima ao descarte (ou reciclagem, quando houver), passando por manufatura, distribuição, uso e manutenção. Ela está para os métodos tradicionais dos relatórios de impacto ambiental como a física quântica está para a física de Newton. Já o adjetivo “sustentável” existe há séculos, mas, como termo corrente do vocabulário econômico e ecológico, a data que aparece em sua certidão de nascimento é 1987. O desenvolvimento sustentável foi o signo sob o qual transcorreu a Rio 92. Seu principal problema é, ainda hoje, ser uma daquelas belas ideias com as quais todos concordam, mas que se tornam um vespeiro na hora do desdobramento em medidas práticas. A atual pegada ecológica da humanidade aponta para um longo caminho à frente.
 
 
Outras palavras que passaram a estrear no dicionário do ambientalista foram ecologia e efeito estufa, a primeira criada para designar o nascente estudo das relações entre seres vivos e meio ambientes. Esse primeiro registro do elemento “eco” como formador de novos vocábulos dotados de uma aura ambientalmente correta, como em ecoturismo, ecodesign, ecoeficiência etc. Abusaram tanto do truque que um dos tiros acabou saindo pela culatra: nasceu o ecochato. A segunda, denominada de efeito estufa, há quem imagine que ele é um problema. Na verdade, trata-se de um fenômeno — proposto como teoria pelo físico francês Joseph Fourier em 1824 e mais tarde confirmado experimentalmente — que viabiliza a vida na Terra. Os gases do efeito estufa  devolvem à superfície do planeta parte do calor que, na ausência deles, se perderia no espaço. Ocorre que esse efeito vem se intensificando com a concentração crescente de dióxido de carbono, metano e outros gases na atmosfera, resultado da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. Como consequência, a temperatura média do planeta está em elevação. É um fato. Mas existem  entre os cientistas vozes relevantes que pedem cautela em torno dos reais efeitos do aquecimento global e de como o ser humano o provoca. Assinado em 1997, o Protocolo de Kyoto representou um primeiro passo diplomático no sentido de controlar a emissão global de gases do efeito estufa. O maior problema é que os Estados Unidos, um dos países campeões da poluição, não o ratificaram.
 
 
Quanto à palavra externalidade, trata-se de uma espécie de efeito colateral da geração de riquezas: um custo  ou benefício que a produção de determinado artigo acarreta para terceiros e que, pelas leis do mercado, jamais se refletirá no cálculo de  seu valor. Externalidade podem ser positivas ou negativas. No primeiro caso, um bom exemplo é um investimento eficiente em educação pública, que tem diversos tipos de impacto salutar na comunidade em torno da escola. A externalidade negativa mais típica é a poluição. Fórmulas legais como as do passivo ambiental têm se esforçado por “internalizar” tal custo, isto é, incorporá-lo à economia da produção.

Assim, ao finalizar este primeiro tópico, onde foram relacionados cinco idiomas verdes, chega-se à conclusão de que apenas o "possível" venceu a falta de consenso e de disposição para desembolsar recursos em nome do desenvolvimento sustentável, e a Rio+20 terminou sob críticas, de falta de ambição e à sombra da crise econômica internacional.

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