Tempos
idos o processo de aprendizado era de certo modo arcaico. Sou do tempo em que
estava sendo aposentada a palmatória, uma espécie de colher de pau que tinha
uns furinhos na ponta. Mas, de qualquer forma os professores continuaram
rígidos e por simples deslize, o aluno ficava de castigo e dependendo da “arte”
era suspenso ou expulso da escola. Essa rigidez nunca me afetou, pois sempre
fui um aluno comportado e prestava bastante atenção às aulas. O saudoso
professor padre Otávio, de quem carrego boas lembranças, não usava a
palmatória, mas, um sininho que ficava em cima de sua mesa. Coitado do aluno
indisciplinado! Quando menos esperava aquela peça barulhenta era recebida pela
cabeça ou lombo do aluno, doía e não adiantava resmungar. O padre usava essa
ferramenta dentro da sala de aula e quando desfilávamos no pátio, uma varinha
verde, e o aluno que desobedecia a marcha, recebia uma varada nas pernas e esta
doía muito mais!
Naquele tempo, na sala de aula,
em muitos casos, saia-se da palmatória para o vácuo total de autoridade. O
modelo de ensino – alunos massacrados por professores tiranos que usavam a
régua para espancar quem errava a tabuada – tornou-se tão anacrônico quanto às
polainas. E não podia ser diferente. O problema é que o oposto desse modelo, o
não reconhecimento da autoridade do professor, tornou-se comum no Brasil, tanto
na escola pública quanto na particular – onde o aluno aprendeu a ver o educador
como um prestador de serviços, um funcionário que pode ser confrontado, questionado
e até injuriado, inclusive, quando faz corretamente seu trabalho, reprovando e
cobrando desempenho. Um
professor ameaçado fisicamente pode chamar a polícia ou abrir um processo, mas,
hoje, há outras situações inusitadas que vêm ocorrendo no Brasil. Os pequenos
desrespeitos cotidianos – como vemos na TV, alunos atirando em colegas dentro
da escola, outros portando armas de fogo e facas; alunas sacando da bolsa o
esmalte e a acetona para fazer as unhas durante a aula... – são os mais
assustadores. Não apenas porque mostram que os alunos, nossos futuros juízes,
médicos, professores... não têm a mínima noção do que estão fazendo ali, mas
porque uma instituição de ensino que permite que isso aconteça está mais
perdida ainda do que os alunos. No meu tempo de aluno, definitivamente não era
assim, pois o sininho, a varinha verde, o cascudo e a régua caíam frouxos sobre
nosso corpo.
Felizmente, hoje, mesmo com a falta de
estrutura física para lecionar com dignidade e de material, de um salário
irrisório e do total abandono da escola pelo poder público, entendemos que, em
razão da garra de muitos abnegados professores, o ambiente educacional está deixando
um pouco de lado o quadro negro e eles, para não deixar a “peteca cair”, estão a
aplicando novas metodologias com o auxílio da ciência e tecnologia, porque com
ela, sabem que pode promover sua própria capacitação e a do educando, para
adaptarem-se continuamente a novos conhecimentos; resolver problemas de forma
criativa, processar e disseminar informações, dominar e utilizar essas
tecnologias, e, desenvolver novos tipos de relacionamento com seus pares a
partir do trabalho cooperativo. Como o Brasil está passando por momento de
mudança é salutar que se engaje em prol do desenvolvimento educacional, cuja
metodologia tecnológica vem se tornando, de forma crescente, em importantes instrumentos
de nossa cultura, e a sua utilização, um meio concreto de inclusão e interação
no mundo.
E, quando se fala em integração dos
alunos “especiais”, apesar de estar aparentemente se falando do direito de
igualdade, na realidade está se atribuindo quase que exclusivamente a pessoa
com qualquer deficiência de aprendizado a responsabilidade por sua segregação.
Por consequência, fala-se, ainda, da necessidade de se alterar, ajustar, mudar
a pessoa com deficiência, para que ela possa, então, conviver com os demais de
forma integrada, o que por si só, caracteriza a desigualdade social. Igualmente,
há de se considera que um aluno apresenta necessidade educacional especial
quando tem dificuldades maiores que o resto dos alunos para atingir as
aprendizagens determinadas no currículo correspondente a sua idade e necessita
para compensar estas dificuldades, de adaptações curriculares em uma ou várias
áreas desse currículo, na utilização de recursos específicos, mudanças na
estratégia de ensino e alterações arquitetônicas, garantindo, desta maneira o
seu acesso à escola. E aí é que entra a intuição do professor e quiçá da
própria direção da escola, pois lidar com as diferenças e com o processo de
inclusão significa que a escola modifica-se para receber e manter o aluno no
processo educativo, apesar da diversidade.
Ora, sabemos que os usos dessa
deficiência foram submetidos à estrutura de poder que a utilizavam para
garantirem vantagens políticas. Toda a ajuda que lhes era oferecida infelizmente
tinha um interesse político por traz. Sua identidade enquanto sujeito histórico
foi construído mediante disputas de poder e luta contra a discriminação. Estão
dentro do contexto a que me proponho comentar, usando a frase “ir além do
quadro negro”, assim como, do giz, do apagador, do lápis, do papel, do
compasso, da régua, etc., que são recursos que devem ser acoplados, entendo também
que devem ser articulados com as novas tecnologias de informação e comunicação
– a internet, os softwares, o computador, as lousas digitais, os projetores
multimídia, os laptops, etc., pois estão dentro de um plano de trabalho ou até
mesmo de um projeto ambicioso que venha garantir uma aprendizagem significativa
e com autonomia dos alunos e dos professores mediadores desse processo.
A escola deve proporcionar ao aluno a
utilização de métodos que resolveriam os problemas de maneira mais prática e
segura, favorecendo a verificação dos resultados. Enfim, todos unidos em prol
de uma educação moderna e eficaz, podem contribuir significativamente para a
formação integral do indivíduo, fazendo com que o mesmo transporte para a
realidade o que aprendeu nas suas experiências. Embora a escola esteja abandonada pelo poder público, desmistificar
é importante para que todos os educadores possam enxergar o ensino além do
quadro negro, uma vez que a respeito dessa temática encontra-se muita resistência
e embora faça parte do cotidiano escolar, pouco se sabe a respeito.
Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 10 de julho de 2013
Me arrependo muito em não ter estudado no Colégio Dom Bosco. Minha mãe 'sempre presente', me pediu que eu fosse estudar lá quando eu era criança, mas por uma infelicidade de uma outra coleguinha que mentiu para mim, afirmando que lá os professores batiam na mão da criança com aquela palmatória, eu fiquei receiosa e fui para outra escola, 'Tia Emília'. Muito boa a escola, mas não tinha os costume de uma boa escola católica tal como a primeira. Grata pelo texto amigo Vanderlan. Aprendo muito com você. Abraços fraternais com ternura.
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