Meus
olhos que pareciam auxiliados por uma poderosa lupa, foram vasculhando todas as
colunas de jornais na ânsia de alcançar um fato qualquer que pudesse definir
melhor a situação da saúde pública no Brasil e que até certo ponto parece
impossível. Todavia, ao manusear o Diário da Manhã deparei-me com um artigo do
meu amigo e médico Rui Gilberto Ferreira, Presidente da Associação Médica do
Estado de Goiás. Nas primeiras entrelinhas já o senti incisivo em defesa de sua
classe quando disse: “Se a saúde pública
brasileira fosse paciente da Presidente Dilma Rousseff, certamente estaria em
estado terminal. São diagnósticos e mais diagnósticos errôneos, com tratamentos
prescritos de maneira irresponsável e aleatória que não alcançam a realidade do
Brasil e colocam em risco milhares de vidas. Não faltam médicos no Brasil (...)
o que falta são políticas públicas voltadas para o fortalecimento do SUS, que
estimulam a migração e a fixação dos médicos nos vazios assistenciais no
interior e na rede pública”. Quando terminei de ler o texto do nobre amigo
me lembrei de várias pessoas doentes, desesperadas, quase desfalecidas, que
perambulavam pelos corredores dos hospitais públicos à espera de atendimento, situações
que pareciam imperceptíveis, diante dos olhares absortos e atônitos de outros
pacientes que se aglomeravam nas macas esparramadas pelos corredores sem um
atendimento digno e à espera de cirurgias; muitos olhares pareciam desinteressados
ou acostumados com aquela cena humilhante. Para mim que sou leigo, mas não marinheiro
de primeira viagem em se tratando de ser atendido em hospital público, era como
se estivesse apertando uma tecla do invisível para mostrar que saúde está um
caos e nem há espaço para ela em UTI.
A Presidente
Dilma disse que o preenchimento de vagas por estrangeiros trata-se de uma
medida emergencial para garantir a essa parcela de brasileiros seja atendida o
mais rápido possível, e ironicamente, enfatizou que a vinda desses médicos não
vai tirar emprego dos profissionais brasileiros e nem significa arriscar a
saúde da população. Não obstante esse discurso presidencial fora da realidade
há de se entender que além da falta de condições dignas de trabalho e de
material médico, não existe uma política que mantenha os médicos no interior do
país. Se derem essas condições e uma carreira, os médicos vão suprir a carência
onde ela exista. Feito isso e constatada insuficiência de médicos, então que
contratem estrangeiros, mas desde que sejam avaliadas suas competências,
revalidação dos diplomas para verificação da origem de sua formação
profissional.
Na minha
parca opinião entendo que a alegação de falta de médicos no Brasil é
equivocada. O que falta mesmo é melhor remuneração, motivação, condições para
exercer com dignidade a profissão, melhor distribuição, plano de carreira para
uma melhor segurança trabalhista, em fazendo isso, podem ter a certeza de que o
medico irá para o interior e ocupar os espaços vazios conforme diz o médico Rui
Gilberto Ferreira, Presidente da Associação Médica do Estado de Goiás.
A
população brasileira é que “paga o pato” com toda essa turbulência e
incompetência do governo federal e sem decisão convincente, o povo continua
morrendo nos corredores dos hospitais. O governo assustou com a movimentação
das ruas, mas não entendeu o recado do povo e quiçá, nada daquilo do que realmente
está acontecendo. Ao elaborar o
famigerado “Ato Médico” penaliza o estudante de medicina aplicando-lhe mais
dois anos de curso que nada mais é do que um projeto de escravidão, ainda mais em
se tratando de prestar trabalho obrigatório junto ao SUS, onde receberá uma
mísera bolsa do Governo Federal. Por que não exigir um estágio num hospital
particular de qualidade incontestável? Como o poder público vai colocar esses
formandos por dois anos em uma cidade do interior sem nenhuma estrutura
hospitalar, equipe médica, medicamentos, condições de diagnósticos e
terapêuticos para que ele possa exercer com profissionalismo o seu trabalho, além disso, tem
que ter condições adequadas de trabalho e um profissional com mais experiência
para supervisioná-lo com o fito de torná-lo um bom médico?
Quando
pensava em finalizar este texto o odontólogo e ortodontista Vinicius Rezende me
enviou uma mensagem e nela questionava sobre o porquê a sua profissão não
participou de nenhum movimento de rua. Esta é a mensagem: “Diante de tantas greves,
paralisações, revoltas, não vejo nenhum movimento do Conselho Regional de
Odontologia CRO - Goiás ou do nosso sindicato. Será que nem representatividade
nós Cirurgiões dentistas temos, ou a Odontologia é a "Ilhas Canárias"
das profissões brasileiras? Dentistas são queimados em seu local de trabalho,
planos de Saúde nos sugam; CAIS com consultórios odontológicos fechados, falta
de material na rede pública, empregos insalubres, profissão desvalorizada, sem
plano de carreira e sem igualdade de trabalho e salarial com outras profissões.
Clínicas populares fazendo verdadeiras atrocidades iatrogênicas e cobrando
preços absurdos para o custeio da clínica. Gostaria de uma explicação, se
alguém puder me ajudar?” E
aí resolvi inserir sua mensagem como forma de ajudar.
Por
fim, finalizo dizendo que a Constituição Federal de 1988 assegura a todos os
cidadãos o pleno direito à vida e à segurança, o direito à saúde ganha status
de garantia fundamental, sendo dever de o Estado prover nos termos dos
artigos. 196 a 200 e de acordo com as demais normas legais. Afirmo mais ser o
direito à vida o mais fundamental de todos os direitos, se é que existe
hierarquia entre eles, posto que seja essencial para a existência e exercício
dos demais. Tal conceituação abarca o pleno exercício da maternidade, de forma
responsável e segura, do que depende uma adequada atenção à mulher durante a
gestação e no momento do parto.
Ademais, de acordo
com o Código Civil em vigor, é sujeito de direitos todo cidadão desde a sua
concepção, ou seja, o dispositivo constitucional é garantia também ao
nascituro, cabendo ao Estado dispensar medidas de proteção tanto à gestante
quanto ao concepto. Para tanto, é mister que se desconstitua o mito de que o
direito à saúde tem como substância apenas no acesso único e exclusivo à
assistência médica, excluindo daí as demais políticas de prevenção, a
disponibilidade de recursos, a prestação na realização de exames e a qualificação
do corpo profissional, por exemplo.
Publicado no Diário da Manhã, edição do dia 17 de março de 2013
A questão da saúde pública no Brasil é um assunto de extrema urgência, há que se criar diretrizes que nos assegurem de uma saúde limpa e mais cautelosa com o povo brasileiro. Não é porque vamos fazer comparações com demais países do terceiro mundo, ou emergentes, que nos servirá de consolo. Porém é dever nosso cobrar por mais higiene, mais atenção médica, mais responsabilidade com pacientes, idosos, gestantes, feridos, crianças enfermas, etc. A higiene pública é uma condição da vida social, sem ela estamos fadados a degeneração humana, seríamos vítimas, presas fatais de ataques de diversos tipos de descuidos por parte do Governo. Orientações e disciplina médico-hospitalar, uma rígida fiscalização da classe médica que não seja pelos próprios médicos. Assim a saúde poderia obter melhoras em todos os seus aspectos. A higiene começaria na própria classe médica. Um conceito mais amplo que o de saúde pública, porque a higiene pública não se limita ao combate médico-social das doenças das massas, mas procura condições de melhoria da moralidade social, o enobrecimento do homem em sociedade.
ResponderExcluir(Fonte pesquisada: George Rosen, Da polícia médica à medicina social. Graal ed- Rio, 1979).