Colocar no
papel coisas que observo principalmente no que tange ao convívio entre pessoas,
sempre fez parte da minha vida. Curioso, anotava tudo sobre uma pequena agenda,
impressões, raivas, dores, angústias e até alegrias; não sabia desabafar, o
papel e a caneta eram meus cúmplices, nunca parei e foi daí que resolvi me
tornar escritor. Tenho a certeza que ainda tenho muito a aprender e digo sempre
que sou um eterno aprendiz. Quantos contratempos e tormentas vividas, mas tudo
fez nascer em mim uma enxurrada de momentos poéticos, crônicas iluminadas e aí
passei a sentir mais a dor e alegria dos outros, registrava tudo, escrevia como
se esse “tudo” que colocava no papel fosse extirpado da minha alma. Não
entendia e não entendo porque sempre as coisas emotivas faziam e me faz
escrever mais, talvez o choro, o grito e a dor fossem embora na poesia, numa
obra ou crônica escrita, e quando as publicava, sentia que não me pertenciam
mais, alguém já se identificara com elas, ou apenas passava como uma escrita qualquer
entre tantas. Escrever é complicado eu sei. É delicado também e de uma
responsabilidade imensa, as palavras são armas, tanto na defesa quanto no
ataque, podem amenizar dores, acalentar pessoas, apaixonar-se e quiçá, capazes
de se transformarem numa guerra e é em razão disso que o escritor deve tomar
certo cuidado. Não saberia viver sem a escrita, sem as minhas poesias e
crônicas do cotidiano. Posso afirmar que em relação ao que escrevo hoje faço
com um coração bem mais leve, solto e amadurecido.
Confesso
que torço para que tudo continue assim. Seja numa festa de família, seja num
boteco qualquer ou num clube favorito. Sem nenhuma pretensão de criticar ou me
envolver publicamente para não atrapalhar um bate papo agradável,
despretensioso, especial para o momento dou uma pausa. Não é a toa que a
idealização de certo tipo de festa gera tanto fascínio. E foi o que aconteceu
comigo no último dia 27 de setembro, em Mineiros, quando me vi diante de cenas
incríveis, apaixonantes, criadas pela comissão organizadora do 3.ª Encontro da
Família Bandico, onde ela teve a preocupação de resgatar do passado à cultura,
a arte, a música e principalmente, a religiosidade e a família em si. Reviveram
a história de Hildebrando Alves de Souza, mais conhecido como Bandico, que em
1902, já com 17 anos de idade saiu da cidade de Sacramento em Minas Gerais na
companhia de seus pais Manoel Alves de Souza e Maria Salomé e se estabeleceram
em Mineiros e aos 22 anos de idade, casou-se com Dona Maria Francisca
Guimarães, com tinha apenas 17 anos de idade. Tiveram os filhos: Ibrantina,
Maria Salomé, Francisca, José, Valtercides, Miguel, Antônio, Manoel, Terezinha
e Joaquim. A bondosa e habilidosa matriarca Vovó Maria, mulher versátil, se
destacava no manuseio do tear, na tecelagem, corte, costura, plantio de horta e
exímia no forno e fogão a lenha e dali, saía o gostoso polvilho, a farinha de
mandioca e milho. Vovô Bandico, homem sensato, honesto, trabalhador faleceu em
virtude de um câncer aos 64 anos de idade, mas deixou um grande legado: a união
da família. Enquanto as filhas ajudavam a mãe, os filhos cuidavam da olaria que
produzia entre 800 a 1200 telhas por dia. Era, além do plantio de arroz,
feijão, milho e pequeno gado leiteiro, o único meio de sobrevivência dessa
grande prole, hoje integrada por 410 pessoas vivas.
Mas,
voltando ao que me interessou e muito, notei que aquele encontro tudo fora
feito de forma tão espontânea e especial que me deixou boquiaberto. Acredito
que espontaneidade e premeditação não andam juntas. É espontâneo exatamente
porque não se deve programar, e torna-se especial exatamente porque é
espontâneo. Programado e espontâneo ao mesmo tempo, foi aquele bonito gesto de
carinho de um grupo de crianças que saiu desfilando, umas carregando peças
antigas, algumas feitas por artesão, outras, além da imagem de Nossa Senhora,
os trabalhos manuais feitos pelas fiandeiras nos monumentais teares que ainda
sobrevivem às intempéries do tempo e vão passando de geração a geração. A cada
passo, as crianças iam colocando a postos, a enxada, o machado, o ferro a
carvão, a matraca, o berrante, o bule, o balaio, a peneira, o pilão, a panela
de barro, de ferro, as cabaças, o facão, a miniatura de um carro de boi, de um
monjolo, máquina de costura, peças de olaria, tecelagem e fiação. A cada
apresentação do grupo e a cada nova experiência trazida à nossa visão,
especialmente as não programadas, restou-me finalizar esta crônica, dizendo:
Abençoados foram os momentos em que resgataram a arte, a cultura, a música e a
coragem da família que, mesmo diante de tantos percalços sofridos, não se
deixou endurecer na estrada que Jesus os levou a trilhar.
Vanderlan Domingos, fiquei encantada com o seu artigo, com o destaque para o resgate da arte e da Cultura de maneira adorável de se ler. Apreciei cada frase retratando a história da família, da espontaneidade do momento, que se tornou tão especial. Li várias vezes e não me canso de admirar a sua forma de escrever. Parabéns e como integrante da Comissão da 3ª festa, quero te agradecer e dizer que o seu artigo no blog e no Diário da Manhã fechou com chave de ouro esse valioso momento de encontro, reencontro e conhecimento de integrantes da família Bandico.
ResponderExcluirLenilda Silva Brito Rezende
Gostei muito. Como diretor do Instituto Cultural Santuário da Arte em Goiás não podia deixar de ilustrar esse momento. Sempre à disposição e abraço
ExcluirAmigo encanta com seu texto, adorei amigo precisamos disso mesmo apoio cultural, vc se supera a cada texto escrito, parabéns amigo Vanderlan Domingos
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