Família Bandico, resgatando a arte e a cultura em Mineiros.

domingo, 5 de outubro de 2014


Colocar no papel coisas que observo principalmente no que tange ao convívio entre pessoas, sempre fez parte da minha vida. Curioso, anotava tudo sobre uma pequena agenda, impressões, raivas, dores, angústias e até alegrias; não sabia desabafar, o papel e a caneta eram meus cúmplices, nunca parei e foi daí que resolvi me tornar escritor. Tenho a certeza que ainda tenho muito a aprender e digo sempre que sou um eterno aprendiz. Quantos contratempos e tormentas vividas, mas tudo fez nascer em mim uma enxurrada de momentos poéticos, crônicas iluminadas e aí passei a sentir mais a dor e alegria dos outros, registrava tudo, escrevia como se esse “tudo” que colocava no papel fosse extirpado da minha alma. Não entendia e não entendo porque sempre as coisas emotivas faziam e me faz escrever mais, talvez o choro, o grito e a dor fossem embora na poesia, numa obra ou crônica escrita, e quando as publicava, sentia que não me pertenciam mais, alguém já se identificara com elas, ou apenas passava como uma escrita qualquer entre tantas. Escrever é complicado eu sei. É delicado também e de uma responsabilidade imensa, as palavras são armas, tanto na defesa quanto no ataque, podem amenizar dores, acalentar pessoas, apaixonar-se e quiçá, capazes de se transformarem numa guerra e é em razão disso que o escritor deve tomar certo cuidado. Não saberia viver sem a escrita, sem as minhas poesias e crônicas do cotidiano. Posso afirmar que em relação ao que escrevo hoje faço com um coração bem mais leve, solto e amadurecido.

Confesso que torço para que tudo continue assim. Seja numa festa de família, seja num boteco qualquer ou num clube favorito. Sem nenhuma pretensão de criticar ou me envolver publicamente para não atrapalhar um bate papo agradável, despretensioso, especial para o momento dou uma pausa. Não é a toa que a idealização de certo tipo de festa gera tanto fascínio. E foi o que aconteceu comigo no último dia 27 de setembro, em Mineiros, quando me vi diante de cenas incríveis, apaixonantes, criadas pela comissão organizadora do 3.ª Encontro da Família Bandico, onde ela teve a preocupação de resgatar do passado à cultura, a arte, a música e principalmente, a religiosidade e a família em si. Reviveram a história de Hildebrando Alves de Souza, mais conhecido como Bandico, que em 1902, já com 17 anos de idade saiu da cidade de Sacramento em Minas Gerais na companhia de seus pais Manoel Alves de Souza e Maria Salomé e se estabeleceram em Mineiros e aos 22 anos de idade, casou-se com Dona Maria Francisca Guimarães, com tinha apenas 17 anos de idade. Tiveram os filhos: Ibrantina, Maria Salomé, Francisca, José, Valtercides, Miguel, Antônio, Manoel, Terezinha e Joaquim. A bondosa e habilidosa matriarca Vovó Maria, mulher versátil, se destacava no manuseio do tear, na tecelagem, corte, costura, plantio de horta e exímia no forno e fogão a lenha e dali, saía o gostoso polvilho, a farinha de mandioca e milho. Vovô Bandico, homem sensato, honesto, trabalhador faleceu em virtude de um câncer aos 64 anos de idade, mas deixou um grande legado: a união da família. Enquanto as filhas ajudavam a mãe, os filhos cuidavam da olaria que produzia entre 800 a 1200 telhas por dia. Era, além do plantio de arroz, feijão, milho e pequeno gado leiteiro, o único meio de sobrevivência dessa grande prole, hoje integrada por 410 pessoas vivas.

Mas, voltando ao que me interessou e muito, notei que aquele encontro tudo fora feito de forma tão espontânea e especial que me deixou boquiaberto. Acredito que espontaneidade e premeditação não andam juntas. É espontâneo exatamente porque não se deve programar, e torna-se especial exatamente porque é espontâneo. Programado e espontâneo ao mesmo tempo, foi aquele bonito gesto de carinho de um grupo de crianças que saiu desfilando, umas carregando peças antigas, algumas feitas por artesão, outras, além da imagem de Nossa Senhora, os trabalhos manuais feitos pelas fiandeiras nos monumentais teares que ainda sobrevivem às intempéries do tempo e vão passando de geração a geração. A cada passo, as crianças iam colocando a postos, a enxada, o machado, o ferro a carvão, a matraca, o berrante, o bule, o balaio, a peneira, o pilão, a panela de barro, de ferro, as cabaças, o facão, a miniatura de um carro de boi, de um monjolo, máquina de costura, peças de olaria, tecelagem e fiação. A cada apresentação do grupo e a cada nova experiência trazida à nossa visão, especialmente as não programadas, restou-me finalizar esta crônica, dizendo: Abençoados foram os momentos em que resgataram a arte, a cultura, a música e a coragem da família que, mesmo diante de tantos percalços sofridos, não se deixou endurecer na estrada que Jesus os levou a trilhar.


3 comentários:

  1. Vanderlan Domingos, fiquei encantada com o seu artigo, com o destaque para o resgate da arte e da Cultura de maneira adorável de se ler. Apreciei cada frase retratando a história da família, da espontaneidade do momento, que se tornou tão especial. Li várias vezes e não me canso de admirar a sua forma de escrever. Parabéns e como integrante da Comissão da 3ª festa, quero te agradecer e dizer que o seu artigo no blog e no Diário da Manhã fechou com chave de ouro esse valioso momento de encontro, reencontro e conhecimento de integrantes da família Bandico.

    Lenilda Silva Brito Rezende

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gostei muito. Como diretor do Instituto Cultural Santuário da Arte em Goiás não podia deixar de ilustrar esse momento. Sempre à disposição e abraço

      Excluir
  2. Amigo encanta com seu texto, adorei amigo precisamos disso mesmo apoio cultural, vc se supera a cada texto escrito, parabéns amigo Vanderlan Domingos

    ResponderExcluir

 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions