A vitória de Dilma ocorrida no Congresso Nacional onde se viu aprovada a PLN 36 que altera
a LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias pareceu até engraçada à maneira que fizeram para aprová-la, uma
palhaçada mesmo! Para mim que fui criado dentro dos princípios da honestidade,
seriedade e respeito à pessoa humana e à coisa pública, achei seriíssimo o que
aconteceu no plenário daquela Casa Legislativa. Artimanhas foram encenadas e no
palco, nada mais que uma grande demonstração de interesses pessoais e
partidários. O governo federal para sair vitorioso ofereceu através de emendas,
uma verba polpuda de R$ 740 mil reais para cada parlamentar, os quais, em razão
disso, chegaram ao cúmulo do absurdo de gritarem seguidas vezes em plenário:
coloca logo em votação Presidente! Para eles era só ganhar e pronto! Pronto é
claro para receber além da verba os cargos negociados com a Presidente. Ganhar
ou perder, eis a questão. Esta é a análise que ora faço. A derrota pode ser
analisada de forma inversa. Teve tempero melodramático, foi trágica, mas
alcançou o fundo da alma. Teve um impacto impressionante. Explico por quê: Nas
derrotas é que aparecem heróis e não é por acaso que em muitos romances e
filmes o enredo principal são sobre derrotados e não sobre vencedores. A
vitória que se obtém no dia a dia não basta; é preciso que o mundo as
reconheça, mas ela, na maioria das vezes, é contabilizada apenas como mera
estatística, já a derrota, vai para o mundo da literatura. Sim, os derrotados,
pessoas, partidos ou não, principalmente no caso ocorrido no Congresso
Nacional, passa a serem heróis nacionais e para nos escritores e poetas, heróis
literários. Os vitoriosos,
são aqueles que, mesmo com a derrota, saem por cima. E é isto o que sinto em
relação à votação no Congresso Nacional e a vitória de Dilma no último pleito.
Tanto num episódio como noutro, senti-me confortado e até me considerei vitorioso por não votar
nela. Explico: Não fui cúmplice e nem conivente com a corrupção que hoje se vê
confirmada com as denúncias que continuam chegando ao conhecimento público da
forma mais inusitada, nojenta e escabrosa. Faltaram aos vitoriosos além de
respeito ao povo brasileiro, darem uma lição de humildade.
Quanto
ao quadro político a que me propus a comentar, digo e reafirmo que quando um
grande debate termina, as faces dos vitoriosos compõem um quadro de histeria
insolente. No quadro político dos vencedores encontramos réplicas e mais
réplicas do mesmo sorriso. Um sorriso sarcástico que ancora na boca resquícios
de baba. Quanto ao semblante do quadro de derrotados observamos detalhes
diferentes. Tal como as impressões digitais, os rostos dos derrotados são
sempre diferentes uns dos outros. No quadro político perdedor não vemos
sarcasmos e nem histerias coletivas; vemos semblantes do dever cumprido; vemos
dramas individuais em conexão com seus partidos e simpatizantes; vemos dramas
pessoais e intransmissíveis, mas todos com os mesmo sentimentos de vitória,
pois sabem que lutaram até em último recurso em prol daquilo que entendia
correto e em favor de seu país, assim como, fazer entender aos que assistiam o
debate, que o histórico bastão empunhado pela PT, em parte, perdeu sua
identidade após estes doze anos de governo; ou pelo menos não é mais uma
identificação mais próxima como um dia já foi. Antes de assumirem o poder iam
às ruas falando em moral e ética, mas agora, além do famigerado “Mensalão”, a
Polícia Federal com a operação denominada de “lava jato” descobriu milhões em
depósitos feitos em bancos de outros países e o pagamento de propinas a
políticos do PT, PMDB, PP, conforme delação do próprio Diretor da Petrobrás
Paulo Roberto Costa, pessoa que sabemos ter sido íntima de Lula e Dilma. Aí
pergunto: Onde está à ética tão propalada pelos petistas antes de assumirem o
poder? Onde está à ética de muitos daqueles deputados e senadores que votaram a
favor da alteração da LDO e hoje estão sendo denunciados pelo Ministério
Publico Federal por receberem propinas da Petrobrás?
Naquela
noite tenebrosa, mas clara para milhares de telespectadores que assistiam ao
debate, viram líderes da oposição usar de palavras eloquentes para tentar
explicar que o PT passou a ser reconhecido como partido dos trabalhadores para
se tornar um partido da ordem, que governa para os capitalistas, com alguma
política social enganadora. Prova disso é que Dilma venceu apenas na faixa da
população que recebe até dois salários mínimos, composta da grande massa de
pobres urbanos e dos setores operários mais precarizados, principalmente os do
norte e nordeste. A contradição é que ainda na maioria dessas concentrações
operárias o PT segue dirigindo os sindicatos a partir da CUT.
Uma
das dificuldades que o partido deve cruzar no próximo governo é que perde
espaço onde poderia ter mais solidez, mais organicidade, já que o apoio dos
setores mais rotativos da economia e também dos pobres urbanos, é mais
pragmático, e tende a oscilar de forma mais rápida de acordo com as oscilações
da economia, que anda em franco declínio (“quem pode manter meus benefícios?”).
Questão com a qual o PT dialogou durante a campanha dizendo que Aécio cortaria
estes benefícios, mas ao custo de gerar ilusões que provavelmente não vai poder
cumprir.
Para um governo de mais crise, com recessão econômica e a
necessidade de ajustes econômicos que virão cedo ou tarde, a tendência é que
esse questionamento seja ainda superior, e pode atingir mais claramente também
a burocracia sindical dirigida pelo PT, que domina a CUT. Resta saber então
para onde será canalizado este questionamento. Por isso a necessidade de se
construir uma forte alternativa da classe trabalhadora, independente das
burocracias e patrões, enraizada no movimento operário, que retome os
sindicatos como ferramentas de luta. Se eu os convencer com essas poucas
palavras o meu fetiche pelos derrotados, então, entendo não ser assim tão
estranho quando penso, em certas vitórias, como no caso em tela, onde
senti que foram vencedores os derrotados.
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