Não
vi, mas fingi que percebi essa tal festa de fantasia. Era o carnaval que
passava aqui na avenida, trazendo nada mais que um momento de alegria, mas me
contento, ou simplesmente, nem esquento de ver apenas na TV o povo dançando, ou
pulando, sei lá, e freneticamente. Meus olhos se fixam na multidão, meus
ouvidos ouvem sons que não se combinam e vozes que estão fora de ritmo ou
tom, os quais tentam mostrar encaixes musicais perfeitos entre os batuques, mas
para o povo pouco importava, pois na emoção, sequer notavam os bebuns com latas
de cerveja na mão, outras jogadas a chão, cenas impróprias, lixos aos montões,
e ainda, o descompasso musical, a pronúncia errônea das letras e a falta de
entonação. O que faz um cara como eu notar tudo isso e ainda enxergar, no meio
da multidão, uma garota serelepe, com roupa de anjo dançando abraçada com um
cara fantasiado de capeta. Será que existem explicações para esse tipo de
comportamento e qual o meu interesse em observar a menina fantasiada de anjo,
pulando feita doida com o “capeta”, cantando axé, sabe lá, em cima do trio
elétrico. Mas era tanta beleza que fiquei pasmo diante da TV. Fiquei reparando,
talvez ela nem se preocupasse com a sua estética apenas eu. Quanto a ela eu
também fingia que não a via. Bem que tentei, mas ela requebrava demais, era
tanto molejo que me esqueci em certos momentos de fingir e ainda era possível
escutar sua voz que ecoava no meio da multidão, todavia, só não entendia o que
ela cantava, nem a letra, nem qual música ou canção, mas me importava com
aquilo ou fingia que me importava. O tom de voz do seu amigo, o capeta, esse
sim, nem se fala, parecia coisa vinda de outro planeta. Quem assistiu pela TV
não venha dizer que não viu, sentiu ou fingiu não ter visto. Ora, um homem do
sertão como eu que gosta de um belo som de viola e violão jamais vai querer
ouvir axé, arrocha ou batucadas amalucadas de carnaval, que na verdade, há
muito vem detonando o verdadeiro samba canção. No entanto, quero que os foliões
me desculpem pela minha franqueza, pela falta de apreço que tenho dessa
cantoria e da minha frieza por não saber me apegar a esse tipo de dança, pois
além do Brasil estar passando por um momento financeiro difícil e saúde pública
precária, ao final desta festa só sobrarão apenas adereços, serpentinas e
mascarás esparramadas e sujando o chão.
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