Brasil está na UTI

quarta-feira, 24 de abril de 2013


Nos últimos anos se tornou perceptível para mim por mais que a terra mudasse de posição ao girar em torno de seu eixo ou fazer seu círculo ao redor do sol nada me convenceu. Manuseando o globo terrestre exposto sobre a mesa, a cada continente via aparecer aglomerações de países de pequenas e grandes proporções, e nas descrições na Enciclopédia ao lado, observava diversidades de credos, raças, comportamentos e línguas diferentes, entretanto, todos sem distinção, possuíam uma beleza descomunal que me deixou com uma força espiritual surpreendente, sem medo de cair em desânimo ou depressão. Deus, onipotente, que tudo sabe e vê, parecia querer que eu digitasse no computador o que vem acontecendo com o mundo e principalmente com o nosso País e também falar das diferenças socioculturais, econômicas e políticas que, por mais que o sol ofuscasse meus olhos ao passar pelo quadriculado da janela, lá estava o Brasil, esplêndido, com o pendão da esperança e ocupando a maior área da América do Sul. A emoção de ver suas florestas deslumbrantes, a maior do mundo, com uma abundante fauna e flora, e os planaltos, as planícies, rios caudalosos, algum alimentando outros, me deixavam extasiado, mas preocupado com o dia de amanhã.

Meus olhos que pareciam auxiliados por uma poderosa lupa, foram vasculhando todos os espaços oferecidos pela natureza numa ânsia de alcançar um ponto qualquer, que parecia impossível, vi um homem moribundo que perambulava pela calçada, cuja escuridão era ofuscada por um aglomerado de lâmpadas vindas de uma churrascaria e aí, pude observar que lá de dentro saíam imagens de uma tela de TV e notícias assustadoras, que automaticamente iam passando, imperceptíveis, diante dos olhares absortos e atônitos dos clientes, que mais pareciam estátuas, desinteressados ou acostumados com aquelas informações jornalísticos reprisadas diariamente.  Para mim, que não era marinheiro de primeira viagem, era como estivesse apertando uma tecla do invisível que me mostrava à corrupção que vem assolando o nosso País.

Um abalizado comentarista político dizia que o principal responsável pela corrupção no Brasil não são as empreiteiras, mas, sim, a burocracia que impera nos órgãos públicos e se eficientes não existiriam empresas corruptoras. É lamentável o que se via no noticiário e colocadas nos camburões da polícia gente graúda, algemadas, que fraudaram licitações de obras públicas. A prática de desvio de dinheiro público, uma relação promíscua entre empresários e políticos, entre o Executivo, Legislativo e até o Judiciário, desencanta a gente e ajuda a reforçar o meu desinteresse, o meu desprezo e a vergonha que sinto em relação à classe política brasileira. É duro assistir a tudo isso e saber que a lei penal brasileira é incapaz e insuficiente para combater a corrupção.
São público e notório que é por intermédio das obras públicas que se desenrolam a maior fonte de corrupção no Brasil, embora se deva entender que a culpa não esteja somente em empreiteiras, mas no aparelho do Estado que está cheio de gente corrupta. Ademais, como se confirma nos noticiários, boa parte da classe política vive de contribuições, denominada de caixa dois das empreiteiras, criadas para suas campanhas políticas ou enriquecimento ilícito pessoal. Se o nosso País fosse perdulário, corrupto e ineficiente ou desburocratizado, com orçamento elaborado e executado de forma diferente, não apareceriam essas famigeradas empreiteiras corruptoras.

O dinheiro desviado pelo superfaturamento de obras e pela sonegação de impostos faz falta para investir em infraestrutura e saúde pública que está um verdadeiro caos no Brasil. Maracutaias como essas não apenas diminuem a arrecadação, mas também tem efeito devastador na criação de postos de trabalho. E no que tange a concorrência pública vemos um clima de insegurança, pois na prática, o que se nota, as que têm a maior chance de levar o contrato com o governo não é a empresa mais competitiva e competente, mas, sim, aquelas que têm lobistas inteligentes, perspicazes e que sabem “molhar” a mão da pessoa “certa”. A doença se espalha pelo afora e não encontramos na medicina o remédio capaz de estancar do nosso peito a dor corrupta e corruptora. Somente o povo brasileiro através do voto, unidos, segurando o pendão auriverde da esperança poderão tirar o Brasil da UTI. 

(Publicado no jornal Diário da Manhã - Goiânia - Goiás em 10 de abril de 2013)

1 comentários:

  1. Amo ser brasileira apesar dos pesares! O pensamento na humanidade é priortário, o resto é avareza e capitalismo esbravenjando sobre nossas civis cabeças pensantes... Abraço.

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