Quando
tomei posse na Academia Morrinhense de Letras, em um dos trechos disse: “vi o
asfalto chegar à Goiânia tatuando as ruas poentas e com pés descalços, gostava
de empurrar sobre elas um carrinho de madeira cheio de esterco, ou carregar uma
tabuinha com furinhos cheios de pirulitos que eu vendia para ajudar no sustento
da família, mas, rindo como se fosse feliz, como se fosse outro qualquer. Não
sei por que, mas o carinho do vento que cortava as ruas amenizava o meu coração-menino
e me deixava besta! Um ser vivente, livre como a um pássaro e voava em busca do
imaginário e de sonhos talvez impossíveis. Certo dia, cansado de catar gravetos
para abastecer o fogão a lenha, de jogar bolinhas de gude, de jogar fincas e
bolas feitas de meia que recheava de palhas de arroz e empinar pipas em dias
sem vento, mordi uma maçã do amor num parque de diversão e aí, lambi os beiços
e o seu sabor chegou ao coração. Achei que estava doente. Tão desacostumado com
a alegria, chorei de felicidade. Lágrimas doces. Não é coisa de poeta, eram
doces mesmo! Naquele dia até meu travesseiro chorou e molhou o lençol branco
onde fiz questão de derramar junto delas as minhas, que desciam mansas pela
minha face. Foi a primeira vez que me senti um “bitelão”. Não lembro mais do
rosto dela, mas sei que sua boca era perfeita demais e tinha os dentes
branquinhos como algodão.
Parecia
engraçado ou mentiroso talvez o discurso lido, mas não era. Quando falei de tudo o que fazia
quando criança, lembrei-me hoje da de “catador de graveto”. Hoje, mais letrado
e passando a conhecer melhor alguns significados, principalmente, daquelas onde
pessoas se esforçam para, pelo menos, achar uma brecha no endurecido muro do
coração para ficar a face a face com Deus; pessoas que lutam e intercedem; que
juntam lenha para que o fogo continue ardendo sobre o altar. Ah! Como Deus
procura por esses catadores de gravetos! Vi um texto bíblico, o de Ezequiel (Ez
22.30), que procura fazer entender esse significado: “busquei dentre eles um
homem que esteja na brecha perante mim por esta terra, para que eu não destruísse;
mas a ninguém achei” Veja então! Deus procurou um só homem e não achou, e nós
estamos vivendo estes mesmos dias de Ezequiel onde políticos fazem o que querem
e a maioria dos administradores públicos é corrupta; a igreja tão sonhada por
Jesus está dividida e muitos dos dirigentes falam mentiras e palavras que
venham agradar ou interessar somente o ego das pessoas sob os seus comandos.
Mas, hoje, quero falar dos servos,
homem e mulher, pessoas diferentes que agem na dificuldade, que lutam e são verdadeiros
catadores de gravetos se é que você me entende. Mas quais são as características,
o que podemos entender da palavra “catadores de gravetos”?
Deus muitas vezes permite tempestades
para que conheçamos que o Senhor é realmente Deus. Será que vivemos hoje numa
“tempestade” de pensamentos e porque estamos aqui na Terra? E qual o propósito
de tudo isso? Você entende o mistério
dessa palavra? Quando as “tempestades” se avolumam sobre a pessoa humana e você
se esquiva delas e até de uma pessoa que considera estranha sem lhe prestar
ajuda. Não está dando abrigo na “arca” de Deus e nesse instante pergunto: Onde
estão os pombos para soltar ao ar para sair à busca dos servos catadores de
gravetos e quando a tempestade passar, os “crentes corvos” vão e sequer voltam
para agradecer a Deus; porém as “crentes pombas” voam, observam o habitat dos corvos,
mas voltam para “Arca”; porque corvo se alimenta de qualquer coisa, qualquer
porcaria; pomba não; pomba sabe que na “Arca de Deus” tem pão, tem algo
infinitamente melhor. “Crente pomba” volta para agradecer com um testemunho no
bico, uma folha de oliveira como que dizendo depois de tanta tempestade: “Deus
é fiel!
E o pior, ou quer dizer melhor,
sei lá, quando a fonte seca, Deus ainda diz “levanta-te e vai”, e compadecido
da situação encontra alguém como você, catando os mesmos gravetos. E aí não
haverá “tempestades”, não haverá escassez de amor e fraternidade, porque os
dois, com o mesmo desiderato, estão catando gravetos para acender o altar do
Senhor Jesus. E podem ter a absoluta certeza: Deus tem negócio com catadores de
gravetos! Ele os conhece, sabe de suas lutas pela sobrevivência. E quantos
procuram catadores de gravetos para ouvir uma palavra de ânimo e de esperança? Quantos
estão priorizando Deus na tua vida? Certo dia, cansado do naufrágio, você acha
que o Apostolo Paulo foi descansar? Não! Paulo foi catar gravetos, ele queria esquentar
aqueles que estavam frios, (Atos 28.3) “E havendo Paulo ajuntado uma quantidade
deles e pondo-as no fogo, uma víbora, fugindo do calor, lhe acometeu a mão”.
Mas escute toda arma preparada contra ti não prosperará, o mesmo fogo que você
alimenta com a tua lenha, vai consumir as víboras que se levantarem na tua
vida. Deus sustenta de pé os catadores de gravetos!”Muitos estão esperando ver você
cair, mas acreditem Deus os irá surpreender, muitos vão mudar de opinião ao Teu
respeito, porque eles são sustentados pelo Senhor. Hoje, espiritualmente
falando, passei a entender o porquê da alegria quando catava gravetos para
acender o fogão a lenha de minha mãe. Então, por mais simples que for sua ação
em prol de uma pessoa carente é como você ver seu ato transformar uma grande fogueira começando com
pequenos gravetos.
Gostei muito,profundo e cheio de sentimentos.
ResponderExcluirObrigado.
ExcluirAdorei.... São palavras cheias de sentimentos que toca minha alma, no mais profundo do meu ser.
ResponderExcluirObrigado amiga.
ExcluirMarlena Ribeiro. Lendo esse texto. Vi-me diante de cada fato, pois vivi de certa forma algo parecido. No meu caso também catava gravetos para minha mãe, mas o diferencial era que eu vendia de porta em porta e nas escolas, doces de banana feitos por ela. No meu caso não podia sentir o sabor, pois se tirasse um apenas para comer no final fazia falta para comprar outros alimentos. Sempre ofertava a Deus os meus desejos e necessidades.
ResponderExcluirFoi assim que aprendi a encarar o sofrimento de frente. Debaixo de uma concepção de lutas que consegui vitórias, e ser uma pessoa diferente. Aprendi a compreender mais a vida. É mais espiritual, sabe? Eleva-nos acima do nível das coisas banais. De ter uma visão larga, de espírito superior, caráter forte e reto, vendo um motivo uma finalidade no conteúdo da vida. E na superioridade, largueza de coração, tolerância com os que erram. Nesse conteúdo estão às pessoas que Deus me confiou, por algum motivo não gostam de mim, outras que me ama sem questionar, simplesmente ama. A promessa para mim hoje é que vou cumprir aquilo que Ele me confiou.
Obrigado querida amiga missionária.
ExcluirAtualíssimo. Hoje me serviu de discernimento quanto à minha missão.
ResponderExcluirSou os gravetos...Se me cortaram sirvo ao Senhor como lenha ou brasa do altar, mas se o Senhor me regar renascerei e florescerei de novo; Nem que seja na vida eterna com o Pai.