Catando gravetos

sábado, 8 de fevereiro de 2014



Quando tomei posse na Academia Morrinhense de Letras, em um dos trechos disse: “vi o asfalto chegar à Goiânia tatuando as ruas poentas e com pés descalços, gostava de empurrar sobre elas um carrinho de madeira cheio de esterco, ou carregar uma tabuinha com furinhos cheios de pirulitos que eu vendia para ajudar no sustento da família, mas, rindo como se fosse feliz, como se fosse outro qualquer. Não sei por que, mas o carinho do vento que cortava as ruas amenizava o meu coração-menino e me deixava besta! Um ser vivente, livre como a um pássaro e voava em busca do imaginário e de sonhos talvez impossíveis. Certo dia, cansado de catar gravetos para abastecer o fogão a lenha, de jogar bolinhas de gude, de jogar fincas e bolas feitas de meia que recheava de palhas de arroz e empinar pipas em dias sem vento, mordi uma maçã do amor num parque de diversão e aí, lambi os beiços e o seu sabor chegou ao coração. Achei que estava doente. Tão desacostumado com a alegria, chorei de felicidade. Lágrimas doces. Não é coisa de poeta, eram doces mesmo! Naquele dia até meu travesseiro chorou e molhou o lençol branco onde fiz questão de derramar junto delas as minhas, que desciam mansas pela minha face. Foi a primeira vez que me senti um “bitelão”. Não lembro mais do rosto dela, mas sei que sua boca era perfeita demais e tinha os dentes branquinhos como algodão.

Parecia engraçado ou mentiroso talvez o discurso lido, mas não era. Quando falei de tudo o que fazia quando criança, lembrei-me hoje da de “catador de graveto”. Hoje, mais letrado e passando a conhecer melhor alguns significados, principalmente, daquelas onde pessoas se esforçam para, pelo menos, achar uma brecha no endurecido muro do coração para ficar a face a face com Deus; pessoas que lutam e intercedem; que juntam lenha para que o fogo continue ardendo sobre o altar. Ah! Como Deus procura por esses catadores de gravetos! Vi um texto bíblico, o de Ezequiel (Ez 22.30), que procura fazer entender esse significado: “busquei dentre eles um homem que esteja na brecha perante mim por esta terra, para que eu não destruísse; mas a ninguém achei” Veja então! Deus procurou um só homem e não achou, e nós estamos vivendo estes mesmos dias de Ezequiel onde políticos fazem o que querem e a maioria dos administradores públicos é corrupta; a igreja tão sonhada por Jesus está dividida e muitos dos dirigentes falam mentiras e palavras que venham agradar ou interessar somente o ego das pessoas sob os seus comandos.

Mas, hoje, quero falar dos servos, homem e mulher, pessoas diferentes que agem na dificuldade, que lutam e são verdadeiros catadores de gravetos se é que você me entende. Mas quais são as características, o que podemos entender da palavra “catadores de gravetos”?

Deus muitas vezes permite tempestades para que conheçamos que o Senhor é realmente Deus. Será que vivemos hoje numa “tempestade” de pensamentos e porque estamos aqui na Terra? E qual o propósito de tudo isso?  Você entende o mistério dessa palavra? Quando as “tempestades” se avolumam sobre a pessoa humana e você se esquiva delas e até de uma pessoa que considera estranha sem lhe prestar ajuda. Não está dando abrigo na “arca” de Deus e nesse instante pergunto: Onde estão os pombos para soltar ao ar para sair à busca dos servos catadores de gravetos e quando a tempestade passar, os “crentes corvos” vão e sequer voltam para agradecer a Deus; porém as “crentes pombas” voam, observam o habitat dos corvos, mas voltam para “Arca”; porque corvo se alimenta de qualquer coisa, qualquer porcaria; pomba não; pomba sabe que na “Arca de Deus” tem pão, tem algo infinitamente melhor. “Crente pomba” volta para agradecer com um testemunho no bico, uma folha de oliveira como que dizendo depois de tanta tempestade: “Deus é fiel! 

E o pior, ou quer dizer melhor, sei lá, quando a fonte seca, Deus ainda diz “levanta-te e vai”, e compadecido da situação encontra alguém como você, catando os mesmos gravetos. E aí não haverá “tempestades”, não haverá escassez de amor e fraternidade, porque os dois, com o mesmo desiderato, estão catando gravetos para acender o altar do Senhor Jesus. E podem ter a absoluta certeza: Deus tem negócio com catadores de gravetos! Ele os conhece, sabe de suas lutas pela sobrevivência. E quantos procuram catadores de gravetos para ouvir uma palavra de ânimo e de esperança? Quantos estão priorizando Deus na tua vida? Certo dia, cansado do naufrágio, você acha que o Apostolo Paulo foi descansar? Não! Paulo foi catar gravetos, ele queria esquentar aqueles que estavam frios, (Atos 28.3) “E havendo Paulo ajuntado uma quantidade deles e pondo-as no fogo, uma víbora, fugindo do calor, lhe acometeu a mão”. Mas escute toda arma preparada contra ti não prosperará, o mesmo fogo que você alimenta com a tua lenha, vai consumir as víboras que se levantarem na tua vida. Deus sustenta de pé os catadores de gravetos!”Muitos estão esperando ver você cair, mas acreditem Deus os irá surpreender, muitos vão mudar de opinião ao Teu respeito, porque eles são sustentados pelo Senhor. Hoje, espiritualmente falando, passei a entender o porquê da alegria quando catava gravetos para acender o fogão a lenha de minha mãe. Então, por mais simples que for sua ação em prol de uma pessoa carente é como você ver seu ato  transformar uma grande fogueira começando com pequenos gravetos.

7 comentários:

  1. Gostei muito,profundo e cheio de sentimentos.

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  2. Adorei.... São palavras cheias de sentimentos que toca minha alma, no mais profundo do meu ser.

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  3. Marlena Ribeiro. Lendo esse texto. Vi-me diante de cada fato, pois vivi de certa forma algo parecido. No meu caso também catava gravetos para minha mãe, mas o diferencial era que eu vendia de porta em porta e nas escolas, doces de banana feitos por ela. No meu caso não podia sentir o sabor, pois se tirasse um apenas para comer no final fazia falta para comprar outros alimentos. Sempre ofertava a Deus os meus desejos e necessidades.
    Foi assim que aprendi a encarar o sofrimento de frente. Debaixo de uma concepção de lutas que consegui vitórias, e ser uma pessoa diferente. Aprendi a compreender mais a vida. É mais espiritual, sabe? Eleva-nos acima do nível das coisas banais. De ter uma visão larga, de espírito superior, caráter forte e reto, vendo um motivo uma finalidade no conteúdo da vida. E na superioridade, largueza de coração, tolerância com os que erram. Nesse conteúdo estão às pessoas que Deus me confiou, por algum motivo não gostam de mim, outras que me ama sem questionar, simplesmente ama. A promessa para mim hoje é que vou cumprir aquilo que Ele me confiou.

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  4. Atualíssimo. Hoje me serviu de discernimento quanto à minha missão.
    Sou os gravetos...Se me cortaram sirvo ao Senhor como lenha ou brasa do altar, mas se o Senhor me regar renascerei e florescerei de novo; Nem que seja na vida eterna com o Pai.

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