Quando falamos em dimensão
podemos afirmar que existem dois sentidos, um é o que se mede a extensão para
avaliá-la, ou pode ser o tamanho de um trabalho desenvolvido durante toda
uma existência ou um volume de uma coisa qualquer. No sentido espiritual
é a passagem de um plano inferior a um plano mais sublime, mais elevado. Desde
os primórdios da criação, o homem deseja desvendar estes mistérios, o seu
futuro e para essa consecução vem se valendo de alguns conhecimentos que
se perderam com as antigas civilizações e muitas vezes, vasculham
calhamaços de papéis corroídos pelas traças e já amarelados pelo tempo;
escritos hieróglifos ou outras coisas que lhe pareça útil para conseguir saber
os acontecimentos futuros. Nada em nosso mundo é imutável, nada é fixo, parado,
nem no futuro. Acreditando nas pessoas e tendo fé podemos alterar
muitas coisas, que seriam bem diferentes se não agíssemos dentro de alguma
conduta doutrinária, com amor, tolerância e humildade. Pedras e espinhos,
sempre haverá em nosso caminho que, por insensatez e desobediência, muitas
vezes nos mesmos as colocamos.
Certo
dia, na sede da União Brasileira de Escritores, já combalido pelo efeito de
remédios, deixou o computador e veio à minha direção, pára por uns segundos
diante de mim, toma impulso, me cumprimenta educadamente, mas sem balbuciar
nenhuma palavra. Senti sair de seus olhos um pedido de ajuda e era
compreensível para um bom menino. Conversamos sobre uma possível visita a um
amigo, o padre Luiz Augusto, que poderia ajudá-lo na sua recuperação, mas,
antes mesmo que fizesse contato com aquele evangelizador, na semana seguinte
fiquei sabendo de sua internação, mas uma vez se embrenhara na rasteira
alucinógena.
O fato irrompeu a sensação de estar “o
menino-pipa ou o grande urso” atravessando um sonho irreal, mas real, em se
tratando de um jovem indefeso, que não queria magoar ninguém e que tentava
enfrentar a floresta Cannibis, sem qualquer armamento à mão à procura de sua
própria salvação. A sua fantasia e a dominação da maldita droga, o fazia ultrapassar
a barreira da imaginação e atingia o surreal, o inimaginário, e disso não
conseguia safar-se. E hoje, enquanto escrevia esta crônica, vagou pela
lembrança duas crônicas minhas: “O crack que não driblou a morte” e “O Triste
fim de ítalo Pezão”, personagens que perambulavam pelas calçadas, magros,
esquálidos, sujos, e os rostos movimentavam apenas um infinito de esgares, como
se a câmara do olhar estivesse fora de foco para mostrá-los nas tevês, sempre
anônimos, mortos-vivos, pesos-mortos, cobertos por cobertores de lã, encolhidos
nos cimentos frios dos becos da vida, histórias extraídas de fatos reais que
pareciam ser a de Arthur, mas não era. Arthur era bem apessoado, convivia bem
com sua linda e amorosa família, mas a droga não respeita isso. Mas, em se
tratando de crack, Arthur foi e sempre será para nós um “crack, mas, crack da
bola, do Karatê e Judô; crack da expressão do carinho, do amor, da
fraternidade, da amizade, da bondade... E na seqüência de pensamentos que
invadem a minha alma, apuro a minha sensibilidade para lembrar-me de suas
travessuras, de suas histórias na região de Aparecida de Goiânia, do carinho e
amor de sua mãe e irmã. Nunca caminhara só, mas a droga se apoderou dele,
inverteu todas as razões e percepções possíveis e quando alguém usa,
dificilmente consegue sair dela. Mãe, pai e irmã sofrem, mas não têm culpa e
nem devem achar que são culpados. A culpa é da própria Administração Pública
brasileira que não dispõem de clínicas especializadas capazes de abrigar e
ajudar na cura desses cidadãos.
Sei que além de boa mãe, escritora, poetisa e
articulista do Diário da Manhã, Clara Dawn hoje, escreve e caminha no silencio
de seu próprio ser. Sei que perdeu o seu menino pipa ou o grande urso, mas Deus
deixou no seu colo outro urso, o pequenino Benjamim, mas com o mesmo sorriso, olhar
meigo e as mesmas peraltices. Parece curto e pontiagudo o cajado, talvez de
eficácia mais psicológica do que física que Deus deixou a ela, mas Deus sabe o
que faz. Mais tarde, numa dimensão qualquer, haverá certamente reencontro entre
mãe e filho, todos com espíritos renovados, sem medo de se encontrarem em áreas
descampadas e suas almas perderem a trilha. Até poderão continuar andando por
caminhos incertos ou tortuosos, mas tenho absoluta certeza que decifrarão o
caminho, disfarçado de amor em meio à vegetação ou campos floridos do paraíso,
pois desde criança aprendemos que quando perdemos o caminho o melhor é
retroceder, tentar achar o rastro inicial que Deus nos mostrou e do ponto onde
paramos ou de onde devemos partir para uma nova caminhada. Na procura da trilha,
por mais difícil for, a mãe amorosa sempre encontrará o seu Grande Urso.
O tempo passou, mas ficou a saudade. Sei que
debruça sobre essa saudade, mas enxergando melhor, tanto ao amanhecer quanto ao
escurecer e que a penumbra às vezes desperta a dor incontida no seu coração. Quando
o sol se despede, sei que espera a lua, que formam um semicírculo perfeito e
alaranjado no céu escuro de seu habitat, mas a saudade e o amor a consola,
então, é hora de você colher mais um cajado, agora mais lapidado e escutar o retumbar
que ecoa pela floresta que aliviará seu espírito e poderá enxergar o Senhor da
trilha abraçando forte o seu filho para no final, ampará-lo em seu colo.
0 comentários:
Postar um comentário