Ao ver a forma como aquela menina
manuseava o jornal já mostrava o seu dom jornalístico. Com apenas 12 anos, já
sonhava ser um Batista Custódio, um Alexandre Garcia, um Armando Nogueira, um
Paulo Francis, uma Rachel Sheherarade, uma Ana Paula Padrão, uma Silvia
Poppovic... Quando começava a ler, notei que ela nem se importava quem era o
autor da matéria ou da notícia estampada na página A sua fisionomia se
transformava e um sorriso meio maroto tomava conta de seu rosto de menina,
cheio de nuances e circunstâncias indescritíveis. Era até certo ponto
impaciente e lia com intensidade. Cada página que virava emitia sua opinião
anotando num caderno o que não lia e opinava o que pensava e logo, todos
percebiam que seus escritos materializavam seus pensamentos, e desde então,
escrever tornou-se a forma mais prática e sincera de expressar seus pensamentos
sobre o que ocorria no mundo, principalmente na área social e política, porque sabia
que a sua fala poderia sair alterada, embargada, mas a escrita não, porque ela
é cadenciada, pensada e ponderada antes de ser publicada.
Descobrira que tinha gosto pela leitura e sabia sobremaneira passar para o
papel. A sua escrita literária era repleta de frases ritmadas e quem lia
viajava junto com ela no mundo imaginário que criava. Daí começou realmente a
paixão pelo jornalismo. Já naquele tempo comecei a perceber também que quanto
mais triste ficava, mais escrevia, mas não havia assim tanta tristeza na sua
infância, e talvez, era a única pessoa que transformava a sua tristeza em um
rico texto. Em seu quarto, os cadernos, livros, canetas e um computador faziam
parte de seu mundo de sonhos. Então, lia, escrevia e digitava até dormir... E
sonhava...
Talvez ela tenha nascido com aquele sentimento jornalístico, pessoa que sofre
com o sofrimento dos outros, que não aceita injustiças, e aí, logicamente, sentia-se
um vazio imenso, a falta de algo que não sabe o que era. E com esses sentimentos
à flor da pele escrevia... Só restava escrever para colocar para fora suas
angústias e lamentos. Escrevia na esperança de que seu artigo alcançasse o
coração do mais exigente leitor. Apesar de não ser exatamente a profissional
que seu pai sonhava (a advocacia), curso que tentou concluir, mas o jornalismo
falou mais alto.
Era uma menina extremamente realista e viver de outro curso, era algo inviável.
Então, ao ler revistas, jornais e outras
publicações, descobriu que o jornalismo era o que mais se aproximava de seu
desiderato. Sabia que poderia escrever da forma que pensava e relatar fatos
ocorridos do seu jeito, mas sempre em respeito ao cidadão. Assim, seguiu
decidida até o vestibular, pois nunca teve dúvidas do que queria ser. Passou-se
a escrever artigos, crônicas, textos poéticos em jornais e diários, tomando
para si as dores do mundo. Sofria por famintos, por desabrigados, por torturados...
Percebia que o mundo não era um lugar seguro e precisava passar isso à
sociedade. Escrevia sobre suas breves e marcantes passagens. Sobre a sorte de
ter participado, mesmo que por tão pouco tempo, da trajetória de pessoas
importantes, tão queridas, tão especiais. O jornalismo lhe agradeceu por sua agilidade,
por ver seu trabalho pronto no mesmo instante, sem pestanejar. Não queria
escrever apenas sobre problemas, queria soluções.
Como uma lídima profissional nunca negou ser que era uma espécie de imã e
defensora incansável de pessoas que morrem cedo, que tem doenças graves, que
perdem membros e se tornam cadeirantes. Tinha amigos demais e ela adorava
conhecer mais e mais gente, de saber suas histórias e participar da vida delas.
Pensava que quanto mais pessoas ela conhecesse, mais amor recebia e doava. E
que se essas pessoas passassem por provas duras e árduas, estaria lá, sempre
que pudesse e até quando não pudesse. Isso para ela não era um fardo, era uma
dádiva! Ver a superação, a grandiosidade de algumas pessoas, fazer parte dessas
histórias e poder contá-las era uma honra, um privilégio para ela. Agradava-lhe realmente ler, observar e ouvir
notícias sobre o universo da política. Porém, enxergava tudo como se fosse uma
mera reprodução das opiniões que chegavam até ela, cheia de argumentos frágeis
e de contradições mascaradas com uma radicalidade agressiva... Não admitia ser
contrariada, até mesmo dos seus absurdos! Felizmente, essa sensação incômoda não foi suficiente para afastá-la de sua
vocação.
E o tal vazio que sentia na infância, hoje, talvez, esteja preenchido
porque se tornou uma excelente jornalista Mas, de alguma forma, a sua visão do
mundo, os seus pensamentos, seus exemplos, deveriam ser perceptivos por outrem,
com o mesmo ideal e esse ou outros, lutariam por um mundo melhor. No exercício
do jornalismo viu muita miséria, criminalidade, corrupção, dor, velhinhos
abandonados em asilos, crianças e adultos morrendo por falta de leito ou
morrendo no próprio leito. Mas nunca pensou que seria assolada pela maior de
todas as misérias: a falta de amor ao próximo e respeito ao ser humano como vem
ocorrendo no Brasil com a banalização da violência. Pessoas estão matando sem
dó, e ás vezes, apenas para ouvir o gemido do desafeto. Mas, não é essa sua
única batalha, quantas jornalistas como ela estão sendo amordaçadas, sofreram e
estão sofrendo com tudo isso? Conheço tantas e tantos, e como articulista deste
jornal, hei de voltar a comentar mais sobre isso, porque hoje, já sofri demais
com tantas injustiças e notícias nefastas.
Na minha adolescência
também dava as minhas pinceladas jornalistas criando até um jornal na minha
comunidade intitulado: Tribuna Comunitária. Entretanto, diferentemente dela,
formei em advocacia. Mas, viciado em escrever, tornei-me também escritor e
articulista do Diário da Manhã e aí,
tento escrever como ela, debruçando sobre letras e brincando com elas, vou
imaginando e quando menos se espera me sinto viajando pelo mundo da imaginação
na ânsia de levar ao leitor o melhor, como ela sempre o fez e faz. Procuro, às
vezes, escrever de forma sutil, sensível, poética, romântica, sempre com o
intuito de alcançar o coração das pessoas e afastar qualquer hipótese que
indique qualquer inaptidão minha.
Não tenhas dúvida meu amigo, você mexe e remexe com o coração de seus leitores justamente por saber usar sutileza e sensibilidade em suas ricas palavras... Parabéns!
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