No Reino da Utopia.

segunda-feira, 2 de junho de 2014



A utopia pode estar a poucos metros diante de nós, mas se damos um ela dá dois passos. Se duplicarmos os passos ela se distancia para além de mais além. Então, para que serve a utopia? Será aquilo que imaginamos como sendo perfeito, ideal, mas é imaginário? Será que não sabemos ao certo se é possível alcançar ou realizar? Será que ela pode ser almejada, ou ser apenas uma fantasia, um mito, uma quimera, um sonho ou simples teoria criada pelo homem. Em algumas situações não são bem assim. Com relação à pessoa humana, todas sonham possuir um pedaço de chão, mas nem todos conseguem. Desde o descobrimento do Brasil o índio tinha mais do que possui hoje. Na verdade, quase não tem mais, pois a civilização avançou demais e foi tomando seus quinhões de terra selva adentro. Diferentemente desses habitantes de florestas, as pessoas chamadas por esses selvagens de “homens brancos” e que vivem noutra selva - a de “pedras”, construídas por eles, muitas delas estão sem teto também, encontram-se abandonadas, algumas ocupam clandestinamente os espaços públicos e privados, não possuindo um pedaço de chão para nele construir um barraco, por mais simples que for. Uns cem números de habitantes são desabrigados pelas chuvas, pelos desmoronamentos, pelos incêndios, por outros eventos provocados pela natureza e até pela própria ação do homem, os quais, certamente, desejariam para reconstrução de suas vidas, apenas um pequeno pedaço de chão, porque para eles, um pedaço de chão é muito mais que ter onde morar. É ter direito a uma vida mais digna e melhor protegida. É poder plantar sementes e colher sonhos; é semear projetos e gerar filhos num solo fértil, tornando-se claro e notório, que tudo se frutificará em coisas prósperas e lhes darão alegrias no amanhã. Ter um pedaço de chão vai além de abrigar corpos. Aconchega. Conforta. Até na hora sinistra da morte precisa-se de um pedaço de chão. E nem nessas horas todos têm o privilégio de adquirir um espaço digno para sua última morada. Todos querem. Muitos sonham, mas nem todos conseguem um pedaço de chão... 

Repito: Até na hora sinistra da morte precisa-se de um pedaço de chão e nessas horas nem todos têm o privilégio de adquirir um espaço digno para sua última morada. E ao repetir essa frase, lembrei-me de tantas pessoas que são desalojadas de suas casas, de casebres, de barracos, sem a menor sensibilidade e amor ao próximo. Com essas nuances, surgiram as primeiras tentativas de mudança nesta nossa terra que chamo de Reino da Utopia. É como se ele vibrasse sobre os pés de pessoas insensíveis que colocam obstáculos para que não se encontre um novo eixo. Mas, o tempo não pode esperar, o sol se vai e logo vem escuridão, que descerá sobre o Reino escurecendo-o sem dó. É como se ele estivesse protegido por uma grande placa de aço, escura, pesada, sem fim. As pessoas parecem acordar de um sono profundo e algumas sentem seus corpos convulsionarem-se, retorcerem-se, curvarem-se em choro, expondo o que nem elas mesmas tinham conhecimento, um lado oculto, mas, felizmente, a escuridão esvaiu-se como num passe de mágica e o sol tomou o seu lugar para iluminar o caminho daqueles que partiram e partem para se despertarem em outra dimensão ao lado do Pai Celestial. 

Tem dia que não tenho motivos para sonhar, no entanto, há sempre um desejo ardente de aventurar num mar de sonhos quando vejo a arte ser pincelada ou massageada por mãos mágicas de alguns amigos, cuja beleza lá estampada ao ser colocada num pedestal ou fixada numa parede, às vezes, como leigo, as enxergo como se elas fossem apenas uma utopia, mas mesmo assim, ao tentar decifrá-las, uso as asas de meus sonhos e me apego a uma linha de pensamento imaginário, pois sei que eles nos dão aquilo que a realidade nos nega. Mas hoje, a Utopia de quem falo, está mergulhando em uma maldição indecifrável, o sol vermelho que beija a terra, todo poderoso, magnífico, absoluto e que faz recair sobre a cidade fachos de luz únicos, agora se curva novamente diante da noite. Fecha-se a cortina do tempo e diante daquelas cenas de construções devastadas, natureza arruinada e um vazio supremo, todos se sentem perdidos, cada qual procurando respostas, fugas de um pesadelo, não entendendo esses indivíduos que o Reino da Utopia adormece sobre um pedaço de chão, que vaga no espaço celeste, mostrando coisas mirabolantes, cidades efervescentes que iluminam todos os covis, dos quais, devíamos aprender a destruí-los, um a um; procurar extrair todos os nossos medos e receios, para posteriormente, termos uma vida digna e a chance de um dia voltarmos ao convívio de nossos entes queridos. Mas, é bom ficarmos precavidos, pois se o sinistro relógio tocar por doze vezes, anunciando meia-noite pode ser algo se apoderando de Utopia; podem ser estranhas criaturas saindo de seus covis para atacar aqueles que ali se acomodam, e aí, havemos de entender que nada mais é do que um jogo de sobrevivência, talvez por tempo determinado ou, até que aquele relógio utópico silencie-se diante das intempéries do tempo e ceda um pouco, de modo que os monstros sumam e cada um possa despertar do transe, voltar a viver um dia normal e entender que aquele pedaço de chão tão sonhado nada mais é do que uma utopia.

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