Pausa para Reflexão.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Naquela manhã do último domingo depois de assistir da Santa Missa na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus sempre dava carona para a senhora Adriana e algumas de suas crianças, e no porta-malas, sempre um agrado para ajudar no sustento de sua numerosa prole, mas, naquela manhã, alguém se antecipou e se dispôs a levá-la até ao seu casebre a poucos quilômetros dali. Fiquei feliz, porque um jovem casal que iam levá-los prometeu construir um barracão mais aconchegante em outro lote, porque onde moram, fora construído num lote invadido, sem as mínimas condições de uma sobrevivência digna. Fiquei realmente feliz porque no dia seguinte ia postar o vídeo “Mensagem de Natal Solidário e no final do texto a proposta: “Adote uma Família Carente”. 

O desconforto daquela família não é apenas a moradia; um pequeno barraco sem a mínina estrutura ou condições de higiene; maior ainda é o desconforto de sentir medo, receio de doenças ou drogas invadirem sua casa. São oito filhos, todos de menor idade. Pessoas ou situações iguais as dela temos muitas, algumas postadas no vídeo. E aí questiono: Por que as coisas precisam ser assim? Dou uma pequena pausa no trabalho, penso, reflito e volto ao tempo de minha infância como se estivesse vagando no túnel do tempo, remoendo as minhas próprias lembranças, enquanto um amontoado de letras no monitor me esperava pacientemente para formatar este texto, talvez sem nexo.

Terminei de escrever e naquele domingo tentei postar o vídeo e nada. O Pen Drive parecia estar com algum problema. Abri o texto, mas o blog rejeitava como também rejeitava o link do youtube. Sem uma razão plausível, fiquei mais atento ao que estava acontecendo, principalmente quanto à montagem das cenas no vídeo, da música natalina e poesia de fundo. Como a pressa é considerada inimiga da perfeição, assim como a impaciência, resolvi deixar para o dia seguinte, segunda-feira, até porque tinha prometido ao Padre Luiz Augusto que postaria até o dia 25 de novembro, então, estava dentro do prazo. Parecia até competição para conseguir sanar o problema, mas com ajuda de amigos que entendiam do assunto, consegui postá-lo. Enquanto o vídeo ia girando as imagens, ficava refletindo sobre a solidariedade e adoção de uma família carente lá proposta: Era só aguardar o manifesto da comunidade e dos solidários internautas, o qual, depois postado, me deixou esperançoso de que ele não seria apenas curtido ou compartilhado. Acreditava que alguém do outro lado da telinha, se manifestasse para ajudar a Paróquia Santa Terezinha e as famílias carentes cadastradas, que recebem roupas, alimentos, assistência médica e acima de tudo, onde apreendem a rezar e entender o significado da palavra amor existente entre nós.

Por estar ainda compenetrado em minhas reflexões sobre o comportamento das pessoas nem percebi naquele dia a aproximação de um menino, de baixa estatura, franzino, maltrapilho, com uma touca na cabeça, descalço e visivelmente sem tomar banho há alguns dias. Ele ficou diante de mim e com voz rouca pede: “Moço, o senhor pode me dar alguma coisa?” Pode comprar para mim aquela empadinha ali? Estou com fome!

Ainda absorto e com o pensamento alhures, olhei complacentemente o rosto daquele menino, de olhar estatalado e profundo e aí não titubeei e nem avaliei direito a situação dele, mas logo percebi que se tratava apenas uma criança desnutrida. Ainda sem conseguir entender a situação dessas pobres crianças, talvez por causa da falta de compromissos de nossos governantes e de não quererem enxergar o óbvio; diante de um País desgovernado, eivado de vícios, corrupção e improbidades, naquele momento em que consegui dar uma pausa em minhas ações, estava tão claro o pedido daquele menino, porque estávamos no horário de almoço, e a única conclusão que consegui chegar era de que precisava dar algo a ele. Eu já tinha passado por esta situação quando criança e sempre alguém me estendia ás mãos. Naquele instante, frente à porta da igreja, o que estava mais perto da gente era justamente a gostosa empadinha. Comprei. Rapidamente e sem dizer uma só palavra ele pega a empadinha e a reparte ao meio com seu irmãozinho, também igualmente em condições precárias de higiene e vestuário, o qual rapidamente se vira e sai correndo, mas feliz.

Que exemplo de solidariedade e amor de irmão. Era apenas uma criança. Incontáveis pensamentos me vieram à mente. “Quem sou eu? “Quem somos nós? O que estamos fazendo em prol da comunidade sofrida? Que mundo é esse? E se nós estivéssemos no lugar daquela criança faríamos o mesmo? O que estamos pensando das outras pessoas? As coisas precisam ser diferentes... Será que se estendêssemos a elas mais amiúde as nossas mãos não teríamos mais tranquilidade e paz em nossos corações?”

Naquele domingo e nos dias que se seguiram, fui tomado por pensamentos diversos e diferentes do meu cotidiano. Hoje parei e dei mais uma pausa, mas o núcleo de minhas reflexões era a ação de renúncia e de amor de uma criança extremamente carente, dividindo com seu irmão um alimento certamente escasso em sua vida. “Será que conseguiríamos ter esse mesmo desprendimento com outros meninos carentes? Com nossos familiares? E com amigos ou pessoas estranhas?”

As lições apresentadas por aquela criança, que muito pouco disse, mas muito fez em poucos gestos, ficarão guardadas em minha memória para sempre. O exemplo daquele menino mostrou o que todos temos, e que igualmente revelaremos a nós mesmos mais cedo ou mais tarde: a percepção de valor da outra pessoa, tendo por base, entre outras coisas, a consciência de priorização da vida e de igualdade entre nós.

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