Naquela
manhã do último domingo depois de assistir da Santa Missa na Paróquia Santa
Terezinha do Menino Jesus sempre dava carona para a senhora Adriana e algumas
de suas crianças, e no porta-malas, sempre um agrado para ajudar no sustento de
sua numerosa prole, mas, naquela manhã, alguém se antecipou e se dispôs a
levá-la até ao seu casebre a poucos quilômetros dali. Fiquei feliz, porque um jovem
casal que iam levá-los prometeu construir um barracão mais aconchegante em
outro lote, porque onde moram, fora construído num lote invadido, sem as
mínimas condições de uma sobrevivência digna. Fiquei realmente feliz porque no
dia seguinte ia postar o vídeo “Mensagem de Natal Solidário e no final do texto
a proposta: “Adote uma Família Carente”.
O
desconforto daquela família não é apenas a moradia; um pequeno barraco sem a
mínina estrutura ou condições de higiene; maior ainda é o desconforto de sentir
medo, receio de doenças ou drogas invadirem sua casa. São oito filhos, todos de
menor idade. Pessoas ou situações iguais as dela temos muitas, algumas postadas
no vídeo. E aí questiono: Por que as coisas precisam ser assim? Dou uma pequena
pausa no trabalho, penso, reflito e volto ao tempo de minha infância como se
estivesse vagando no túnel do tempo, remoendo as minhas próprias lembranças, enquanto
um amontoado de letras no monitor me esperava pacientemente para formatar este
texto, talvez sem nexo.
Terminei
de escrever e naquele domingo tentei postar o vídeo e nada. O Pen Drive parecia
estar com algum problema. Abri o texto, mas o blog rejeitava como também
rejeitava o link do youtube. Sem uma razão plausível, fiquei mais atento ao que
estava acontecendo, principalmente quanto à montagem das cenas no vídeo, da música
natalina e poesia de fundo. Como a pressa é considerada inimiga da perfeição,
assim como a impaciência, resolvi deixar para o dia seguinte, segunda-feira,
até porque tinha prometido ao Padre Luiz Augusto que postaria até o dia 25 de
novembro, então, estava dentro do prazo. Parecia até competição para conseguir sanar
o problema, mas com ajuda de amigos que entendiam do assunto, consegui postá-lo.
Enquanto o vídeo ia girando as imagens, ficava refletindo sobre a solidariedade
e adoção de uma família carente lá proposta: Era só aguardar o manifesto da
comunidade e dos solidários internautas, o qual, depois postado, me deixou
esperançoso de que ele não seria apenas curtido ou compartilhado. Acreditava
que alguém do outro lado da telinha, se manifestasse para ajudar a Paróquia
Santa Terezinha e as famílias carentes cadastradas, que recebem roupas, alimentos,
assistência médica e acima de tudo, onde apreendem a rezar e entender o
significado da palavra amor existente entre nós.
Por
estar ainda compenetrado em minhas reflexões sobre o comportamento das pessoas
nem percebi naquele dia a aproximação de um menino, de baixa estatura, franzino,
maltrapilho, com uma touca na cabeça, descalço e visivelmente sem tomar banho há alguns dias. Ele ficou
diante de mim e com voz rouca pede: “Moço, o senhor pode me dar alguma coisa?”
Pode comprar para mim aquela empadinha ali? Estou com fome!
Ainda
absorto e com o pensamento alhures, olhei complacentemente o rosto daquele
menino, de olhar estatalado e profundo e aí não titubeei e nem avaliei direito a situação
dele, mas logo percebi que se tratava apenas uma criança desnutrida. Ainda sem
conseguir entender a situação dessas pobres crianças, talvez por causa da falta
de compromissos de nossos governantes e de não quererem enxergar o óbvio; diante
de um País desgovernado, eivado de vícios, corrupção e improbidades, naquele
momento em que consegui dar uma pausa em minhas ações, estava tão claro o
pedido daquele menino, porque estávamos no horário de almoço, e a única
conclusão que consegui chegar era de que precisava dar algo a ele. Eu já tinha
passado por esta situação quando criança e sempre alguém me estendia ás mãos. Naquele
instante, frente à porta da igreja, o que estava mais perto da gente era
justamente a gostosa empadinha. Comprei. Rapidamente e sem dizer uma só palavra
ele pega a empadinha e a reparte ao meio com seu irmãozinho, também igualmente
em condições precárias de higiene e vestuário, o qual rapidamente se vira e sai
correndo, mas feliz.
Que
exemplo de solidariedade e amor de irmão. Era apenas uma criança. Incontáveis
pensamentos me vieram à mente. “Quem sou eu? “Quem somos nós? O que estamos
fazendo em prol da comunidade sofrida? Que mundo é esse? E se nós estivéssemos no
lugar daquela criança faríamos o mesmo? O que estamos pensando das outras
pessoas? As coisas precisam ser diferentes... Será que se estendêssemos a elas
mais amiúde as nossas mãos não teríamos mais tranquilidade e paz em nossos
corações?”
Naquele
domingo e nos dias que se seguiram, fui tomado por pensamentos diversos e
diferentes do meu cotidiano. Hoje parei e dei mais uma pausa, mas o núcleo de
minhas reflexões era a ação de renúncia e de amor de uma criança extremamente
carente, dividindo com seu irmão um alimento certamente escasso em sua vida.
“Será que conseguiríamos ter esse mesmo desprendimento com outros meninos
carentes? Com nossos familiares? E com amigos ou pessoas estranhas?”
As lições apresentadas
por aquela criança, que muito pouco disse, mas muito fez em poucos gestos,
ficarão guardadas em minha memória para sempre. O exemplo daquele menino
mostrou o que todos temos, e que igualmente revelaremos a nós mesmos mais cedo
ou mais tarde: a percepção de valor da outra pessoa, tendo por base, entre
outras coisas, a consciência de priorização da vida e de igualdade entre nós.
0 comentários:
Postar um comentário