O
Dia de
Finados é um adjetivo que
qualifica algo, alguém que finou ou que chegou ao fim, que está morto, mas
também foi criado para que, neste dia, honremos e lembremos-nos das pessoas que já faleceram, e para tanto, inicio este texto citando parte do poema escrito pelo padre Zuca
intitulado “O nascer para o além...”: “Há quem morra todos os dias. Morre no
orgulho, na ignorância, na fraqueza. Morre um dia, mas nasce no outro. Morre a
semente, mas nasce a flor. Morre o homem para o mundo, mas nasce para Deus”. É verdade! A cada dia aprendo a viver, aprendo que a morte é algo
inevitável, tão inevitável que às vezes, se for preciso, peço a Deus para, ao
invés de morrer, nascer de novo, como nascem às flores, os dias e noites.
Ninguém acostuma com a morte mesmo sabendo que está na terra somente de
passagem. Não tenho medo, mas não quero me acostumar e nem procurar entender
esse mistério que é a morte a não ser quando Deus entender ser o meu momento e
me enviar a passagem para que eu possa “viajar” para além de mais além.
O
Apóstolo Paulo certo dia perguntou a si mesmo: Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Com esta frase
bíblica ele quis apenas demonstrar que a fé raciocinada e praticada supera os
temores e angústias da grande transição, dando-nos a compreensão de que o
fenômeno chamado morte nada mais é do que o passaporte para a verdadeira vida.
É o conhecimento de tudo o que nos espera, e a disposição de lutarmos para que
nos espere o melhor. De outra parte, um dos maiores motivos de sofrimento no
além túmulo é o apego aos bens terrenos e muitas pessoas não aceitam as normas
estabelecidas pela aduana do túmulo, que não nos permite levar os bens
materiais no momento em que passamos para o outro lado. Isso demonstra que tais
pessoas ainda não entenderam que os bens materiais nos são emprestadas por Deus
como meio de progresso, e que os teremos que devolver, mais cedo ou mais tarde.
Já disse certa vez que é importante
refletirmos sobre tudo isso, não nos deixando possuir pelos bens dos quais
somos apenas usufrutuários. Um dos motivos de sofrimento dos que ficam, é o
fato de não terem se dedicado o quanto deviam àqueles dos quais se despedem.
Por isso, convém que, enquanto estamos a caminho, façamos de modo cadenciado
como qualquer dançarino o faz no seu palco, o melhor que possamos fazer aos
nossos entes queridos, para que o remorso não nos dilacere a alma depois. Sabemos que
nos deixará saudades, mas sentir saudade do que nos faz bem ameniza o coração;
sentir saudade de um ente querido que um dia fez-nos sentir vivo, nos acalenta
nos provoca sorrisos e até choros, mas é bom. Sentir saudades das conversas, de
sua voz ao longe nos chamando para saborear o café da manhã; sentir saudade dos
pequenos gestos, das grandes ações é inesquecível. Sentir saudade das histórias
contadas à beira do fogão de lenha enquanto os biscoitos eram fritos na panela
de ferro é gratificante, assim como, fazia bem o cheiro do mato verde e das
cores de flores do campo. Saudade que me é importante e que todo dia 15 de
novembro, data do falecimento de minha mãe Carolina, lembramo-nos com saudade.
Falta que dói, mas sei que nunca mais a teremos de novo.
Quase
impossível passar o dia de finados sem pensar nela, noutros entes queridos e na
própria morte. Estamos constantemente envolvidos por mortes naturais e
prematuras, causadas pelas doenças, pela violência, pelo trânsito, por falta de
recursos necessários à vida, por acidentes diversos... Mas hão de se convir que
a celebração de finados nos ofereça profunda reflexão sobre a vida presente e
futura, do hoje e do amanhã. Por mais que a humanidade queira saber e por
mais que a medicina e a ciência avancem, a vida futura sempre será uma
incógnita, uma incerteza. Mesmo diante dessa dúvida, a vida presente tem
de ser acolhida e vivida intensamente.
O único
tempo que temos certeza nos pertencer é o presente... O passado, que pode nos
deixar lições, já foi e não nos pertence mais, o futuro está nas mãos de DEUS.
Uma certeza inquestionável: um dia, mais cedo ou mais tarde, queiramos ou não,
teremos que passar pela transição... Ela não exclui religião, nem etnia, nem
gênero, nem riqueza e tem hora incerta, é implacável. Desde o nascimento,
estamos caminhando para ela, que nos aguarda com todo o seu mistério, mas nem
sempre nos conformamos com isso... O escritor israelense Amós OZ disse uma
pequena frase sobre morte que é hoje muito pertinente: "Nós vivemos até o dia em que a última pessoa que
se lembra de nós"... Ou seja, segundo ele, nós não morremos no dia
do nosso último suspiro, mas quando morre a última pessoa que carrega consigo
nossa lembrança...
Muito bom. Ótimo, inspirador. Pura reflexão. Parabéns pelo texto...
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