Jabulani e o drible da vaca

sábado, 3 de setembro de 2011

O sol penetrava por entre as folhagens dos pés de manga, abacateiros e bambuzais que circundavam aquele campinho de futebol. Os meninos dos bairros vizinhos iam chegando e se acomodavam como podiam esperando com entusiasmo o início do jogo que, de certa forma, já se espalhara por toda a cidade. Afinal, uma rádio da Capital vinha anunciando diariamente sobre a importante partida futebolística entre as equipes Oeste F.C e Ferroviário, cuja final seria decidida no campinho poeirento daquele bairro. O povo foi-se aglomerando debaixo das sombras daquelas árvores frutíferas, a maioria, para ver os seus filhos se deslancharem com a bola nos pés e desenharem seus sonhos naquele terreno batido, onde, dificilmente, a bola rolava sem trepidar, e quiçá    alguns daqueles jovens, num futuro próximo, serem convidados para treinar numa equipe de renome nacional, afinal, naquele dia tinha até “olheiros” de alguns clubes da Capital

Abriram-se as cortinas do espetáculo e o juiz vestido de calção preto e uma camisa surrada pelo tempo, sem grife, deu  inicio à partida. O centroavante Tição, do Oeste Futebol Clube de calção listrado e camisa azul celeste, chuteira velha rasgada na ponta mostrando o dedão, recebe a bola já decomposta pelo tempo e sem  perder a gravidade, rebate-a com o pé, com certa maestria, para mostrar aos companheiros o bom toque de bola, os dribles elástico e o da vaca que costumava dar durante os jogos, para, no final de  cada lance, mostrar aos   praticantes de futebol a arte de jogar e o impulsivo prazer de dar um chute certeiro rumo ao gol e vibrar ao ver a redondinha estufar a rede adversária.

A pequena ilustração elaborada acima reforça a afirmação que vemos hoje um futebol sofrível nos   gramados da África do Sul, onde lá chamam a redondinha de Jabulani. A partir do texto imaginem também cenas que todos têm presenciado naqueles magníficos campos de futebol: chutões por cima da meta e outros sem a menor direção; tropeções na bola; passes mal feitos e parece não ter intimidades com ela; violência desenfreada de muitos jogadores “pernas de pau”; cotoveladas propositais; lançamentos e toques de bola    imperfeitos para no final do espetáculo, todos culparem a bela Jabulani de suas ruindades dizendo que ela é uma bruxa e veio com defeito de fábrica trazendo no seu interior uma maldição fantasmagórica para azucrinar a vida dos  jogadores. O Brasil está fora da Copa, não é culpa da bola é ruindade mesmo!

A Jubilani é uma bola evoluída, de couro, com ar dentro, apenas sem gomos, mas, redondinha como as outras. Apenas parece ser mais patricinha, entretanto, se bem trabalhada como fazem os verdadeiros craques de bola, obedecerá e ajudará nas firulas dentro de campo. Quando é maltratada ela também dá suas fintas e os dribles da vaca (aquela jogada que faz menção de ir para um lado e sai para outro). Coitado dos goleiros!  A copa do mundo parece não estar com essa bola toda ou até perdido o rebolado. O rebolado, por exemplo, que é coisa mundial, não teria esse nome se não fosse a bola. Seria estranho ver uma mulata brasileira ou africana passar rebolando e alguém dizer: olha só que enquadramento, que piramidal, que paralelas, que  perfeição... Pois é, com rebolado ou sem rebolado a Jabulani está tão maluca e judiando tanto dos goleiros nos gramados africanos que pode virar frango.  Hoje, quando vemos a bola rolar, não importa se é sobre chão batido ou gramado, a verdade integral é ela. O futebol é paixão. Esse amor obstinado que me faz     sofrear o sono da fadiga para rememorar em câmara lenta um gol de letra (de calcanhar) que fiz a muitos anos naquele campinho poento.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA Advogado, escritor e Diretor do Dpto. Jurídico da UBE – União Brasileira de Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com

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