Retalhos de luz no fim do tunel.

sábado, 3 de setembro de 2011

Naquele quarto frio, iluminado por uma pequena lamparina, parede construída de puro adobe, porta com tramelas, crianças desnutridas, amontoadas em pequenos colchões, vislumbra-se a figura angustiada de um homem trabalhador a espera de dias melhores e da realização de seu maior sonho: ter sua casa própria.

Anestesiado pela dor que pune as paredes estomacais pela falta ingestão de alimentos, aquele trabalhador possuído por uma impropriedade mundana corroída  pelas intempéries do tempo, ainda consegue assistir na sua pequena TV em preto em branco, os  sussurros, maledicências e descrições  metafóricas das sandices.  Assiste estupefato o ato onde um governador deixa o seu Estado em penúria, que mais    parece uma cena de filme de ficção, e em tom conspiratório, abandona o palácio pelas portas do fundo, mostrando uma desfaçatez absurda e curiosa que não se limitam a própria esfera de seu infortúnio político.
Não mais suportando estas decepções que a vida nos prega, tento corroborar a tentativa fajuta de escape de minha circunstância natural refutada pela aversão ontológica daqueles que escarnecem do eleitor, do trabalhador, do honrado, do honesto, do... Aqueles que se esbravejam diante das minhas minúcias; aqueles inescrupulosos desguarnecidos em seu próprio habitat, que fugidamente retroagem aos gêneses dos ritmos das marchas fúnebres. Tudo parece posar na personagem maculada dos observadores mais atentos, a figura de  um rosto-preguiça  sentado em poltronas de anos de maledicências, mostrando uma silhueta disposta ao ridículo.
Naquele rosto desguarnecido de qualquer compostura e respeito ao funcionário público estampado na primeira página do jornal, se vislumbra uma profunda abstração em forma de pintura de escárnio, tal como aquela dor que sobe por nosso estômago e que muitas vezes nos levam ao vômito.
Ainda bem que ele se foi. Hoje respiramos melhor a nossa dor e contraímos nossos músculos de moralidade e respeito à coisa pública. Retornamos a um novo tempo, tempo do trabalho, da recuperação do crédito    perdido, do pagamento em dia e  na certeza de que todos já se sentem felizes e capazes de visualizar retalhos de luz no fim do túnel antes mesmo que estas linhas sejam denotadas de melancolia e decepção.
 
VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA
Advogado, escritor e Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores.
E-mail: vdelon@hotmail.com

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