Contrastes da vida

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Tem dia que tudo parece acontecer de forma inesperada. A gente vai até a janela e o céu parece estar menos azul, o sol escaldante teima em queimar o rosto das pessoas que andam pelas calçadas, os pássaros passam emudecidos, alçam vôos rasantes e desaparecem detrás das folhagens das árvores enquanto o vento também passa efêmero, sem trazer nenhum cheiro. Liguei o computador, abri a página de e-mails, cliquei no primeiro link e logo, como num passe de mágica, apareceu uma mensagem enviada pela amiga Ana. Uma cortina se abriu e a telinha do monitor foi mostrando lindas imagens: montanhas, lagos, rios, cachoeiras, castelos medievais construídos em cima de colinas, lindos palácios adornados por pedras preciosas, fotos pitorescas tiradas em várias partes do mundo, tudo, exceto os castelos e palácios, pareciam uma obra de arte que só Deus poderia ter construído. Nas imagens, apareciam pessoas correndo alegres pelos parques floridos, casais trocavam beijos à beira do lago, pescadores remavam apreciando o pôr do sol, pássaros cantavam em sintonia formando uma orquestra para saudar a natureza exuberante.

 Fecha-se a cortina, clico noutro link e outra se abre. Imagens começaram a aparecer, entretanto desta vez, contrastando com as anteriores. Percebi nelas que existiam outros protagonistas naquele teatro da vida. Foram aparecendo imagens de pessoas estiradas nas calçadas, crianças esqueléticas, desnutridas, sujas, maltrapilhas, bêbados, viciados em drogas, jovens se agredindo disputando um cachimbo recheado de crack. Imagens de meninos e meninas de rua peregrinando, sem rumo, pés descalços, em busca de um lugar melhor na sociedade. Crianças e adolescentes em casas abandonadas, em terrenos baldios, debaixo de pontes onde fazem delas suas moradias ou para se protegerem do sol escaldante e do frio da noite, outras, deparam com a violência das ruas e muitas vezes quedam-se diante dos olhos sisudos da lei, são presas, maltratadas e ao serem julgadas pela justiça dos homens não têm ninguém que possa defendê-las, compreendê-las e ampará-las de verdade.

Elas ou eles são como todos nós, apenas passageiros de um trem qualquer, que segue num comboio cheio de vaidades, enquanto nosso subconsciente vai traçando uma visão idílica de um mundo que muitas vezes é cheio de desventura. Ao ver essas pessoas amontoadas nas calçadas, debaixo das marquises, cobertas apenas pelo manto negro da noite, cheirando cola para enganar a fome, sem perspectivas de vida, nos fazem pensar como passageiros desse trem da agonia qual será o destino de cada um, assim, só nos resta aguardar a próxima estação e imaginar, se ao desembarcarmos, haverá recepção com bandas marciais, bandeiras a acenar e se, na última estação, todos os sonhos deles e nossos irão se concretizar, ou talvez, possamos perceber que não haverá estação como também não haverá lugar a chegar.

Precisamos repensar e refletir sobre tudo o que vem acontecendo com a pessoa humana, parar de contar os quilômetros percorridos de uma estação a outra e apreciar a viagem que muitas vezes fantasiamos em nosso subconsciente e não conseguimos enxergar que as coisas da vida são simples, cheia de essência e o detalhe é não perdê-la, para depois, termos a certeza que a última estação chegará, trazendo as responsabilidades e os pesos da vida, e quando forem abertas novamente as cortinas do tempo possamos constatar que estamos assistindo, diariamente, cenas de belezas de um lado e horripilantes de outro, imagens que nos mostram os contrastes da vida.

 VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA É advogado e escritor –  Membro da União Brasileira dos Escritores. E-mail: vdelon@hotmail.com  Autor dos Livros: Uma Pedra no Caminho; O Mistério do Morro do Além; e Espelho das Águas.

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