O crack que não driblou a morte.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Assustador ver cenas chocantes mostradas na televisão. Jovens sem rosto, sem destino, mais parecem espectros animalescos possuídos pelo demônio. As cenas horripilantes parecem filmes de ficção e eles, engolidos pela droga se arrastam pelas calçadas, depredam tudo que vêem, destroem seus próprios lares, sua família e até matam seus entes queridos para adquirir a maldita droga. Estes personagens que perambulam pelas calçadas são magros, esquálidos, sujos, e os rostos movimentam apenas um infinito de esgares, como se a câmara do olhar estivesse fora de foco para mostrá-los nas tevês, sempre anônimos, mortos-vivos, pesos-mortos por cobertores de lã, encolhidos nos cimentos frios dos becos da vida. As imagens focadas não mostram esses infelizes colocando um pedaço de pão ou um copo de leite na boca, mas, cachimbos infectos e até latinhas de refrigerantes que eles adaptam para “fumar” a famigerada droga. Maldita planta, que não cria, não dá, só tira e mata.

Lembro-me de um menino que mesmo nos campos de futebol de chão batido, fazia a bola rolar com maestria, cadenciava as jogadas para municiar os companheiros e possuía um chute desconcertante, certeiro. Era o artilheiro do time. Menino humilde, pés descalços que sonhava um dia calçar chuteiras coloridas e se tornar um Ronaldo, um Robinho, um Kaká... Entretanto ele não tinha sido preparado pela sociedade; nunca fora a escola e ou mesmo recebido apoio familiar e educação religiosa, pois nunca fora a uma igreja e nem sido forçado pelos seus pais, e talvez, não o tenha acompanhado em suas andanças pelos campinhos poeirentos que se espalhavam pelas periferias de uma grande cidade. Faltou amor, diálogo. Em muitas daquelas praças esportivas as drogas “rolavam” livres e nos becos e lotes baldios garotos e garotas se prostituíam e o pior, as drogas se espalhavam, e junto com elas as mais letais, mais baratas, pior que a naftalina das baratas cascudas, pior do que tomar água suja no leito das calçadas da vida. Ela se multiplica e transformam esses incautos, não mais apenas pobres, mas todos apenas lixos urbanos, humanos não-descartáveis, não-recicláveis. Em países como o nosso, onde certas coisas parecem não ter qualquer importância; a dignidade é apenas uma delas. É um confronto difícil e violento sair todo dia às ruas, pior ainda quando se vive numa grande cidade, como a nossa, e pouco se pode fazer. Você dá de cara com crianças vivazes obrigadas a mendigar pelos pais alcoólatras ou viciados. Dá de cara com gente velha, com fome, doente, feridas pelo corpo, faixas de publicidade no pescoço, muitas vezes mutilados de uma guerra apenas quixotesca. Nas esquinas, nas pontes e postes, dentro de caixas, atrás de muros, junto com os ratos de esgoto, ficam ali jogados os pacotes de lixo-gente. Muitos deles aprendem e sobrevivem com seus vira-latas como se estivessem sendo empurrados pela mão invisível do destino.

Agora vamos falar do crack, não daquele menino craque de bola que passou a ser usuário de droga; que não conseguiu ver a vida florescer e retirar dela os galhos podres para poder, pelos menos, conseguir driblar a morte. Menino que agonizava numa calçada sob o efeito da droga, mas também, com um tiro no peito Droga que o matou e que hoje continua se proliferando pelo mundo todo. Conhecida como Crack, que deriva da planta de coca, é resultante da mistura de cocaína, bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada, resultado em grãos que são fumados em cachimbos. O consumo do crack, hoje, é maior que o da cocaína, pois é mais barato e seus efeitos duram menos. Por ser estimulante, ocasiona dependência física e, posteriormente, a morte por sua terrível ação sobre o sistema nervoso central que gera, em razão disso, aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremores, excitação, maior aptidão física e mental.

Os efeitos psicológicos são euforia, sensação de poder e aumento da auto-estima. O que as autoridades constituídas têm que fazer? Em primeiro plano, a vontade política em resolver tal situação, não obstante constatemos que enquanto existir no Congresso Nacional os barbudos, os cabeludos e bigodudos que se perpetuam no poder; enquanto existir a política burra e populista que está aumentando a natalidade com bolsas-família, em nome de um socialismo de fachada, gastando milhões em propaganda para fazer você acreditar no que não vê; enquanto não existir uma base mínima de um trabalho coordenado, completo, que una saúde pública, assistência social, caridade, segurança e perspectiva, inclusive emocional em nada resultará. Em segundo plano, neste momento cruciante, todos precisam apoiar todos; todos por qualquer um. A liberdade individual, a possibilidade de escolha, existe, mas ambas têm, sim, limites.

Não adianta pegar esses infelizes, dar banho, lavar, secar, botar para coar, enfiar comida em suas bocas. Dar entrevistas. Dois minutos depois, em abstinência, eles voltam. Não adiante a sociedade empurrá-los de lá para cá: agora estão cada vez mais perto de nós, onde são mais danosos que pode soar como um alerta: os crackeiros agora estão chegando a Goiás, principalmente a Goiânia e já vimos na televisão que eles estão transformando esta Capital num teatro de horror, cujos personagens parecem ter saído de filmes de terror que protagonizam cenas inenarráveis que estão lotando de infelizes os gramados da vida mundana. Se a sociedade organizada não tomar providências urgentes; se os olhos por mais embaçados, marejados e míopes não verem, se seus ouvidos não escutar o clamor que vem das ruas; se todos os responsáveis continuarem empurrando com a barriga pode, de um lado, esta dependência química se proliferar de uma maneira assustadora, incontrolável e fazer fortunas para muitos, entretanto, do outro lado, vir destruir vidas, famílias e criar lixos humanos.

VANDERLAN DOMINGOS DE SOUZA.  É advogado e escritor – Membro da União Brasileira dos Escritores.   E-mail: vdelon@hotmail.com Autor dos Livros: Uma Pedra no Caminho; O Mistério do Morro do Além; e Espelho das Águas.


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